Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade
Clic sobre o livro (download gratuito). LEIA E DÊ SUA OPINIÃO

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Artigo de Paulo Kliass

DEBATE ABERTO   (Fonte: Carta Maior)
Maria da Conceição: o retorno da mestra

O diagnóstico da professora é agudo e preciso. A continuidade desse modelo é arriscado e potencialmente explosivo. A política monetária em que o Banco Central oferece a maior taxa de juros do planeta é um suicídio em termos econômicos, além de promover uma grande injustiça social.
Paulo Kliass

Por ter completado 80 anos no mês de abril passado, o ano de 2010 foi recheado de homenagens à economista Maria da Conceição Tavares. Palestras, debates, publicação de livros e textos da professora, enfim, um conjunto de eventos para celebrar uma data especial, para uma pessoa ainda mais especial. Economista com uma visão crítica do pensamento conservador e militante política comprometida com a causa democrática e a defesa dos interesses da maioria do povo, Conceição sempre proporcionou o Brasil com suas análises e propostas perturbadoras e radicais do fenômeno econômico e social, pois vai justamente em busca das raízes daquilo que pretende estudar.

A mais recente cerimônia para festejar tal fato ocorreu em mesa realizada durante a 1ª Conferência sobre o Desenvolvimento, patrocinada pelo IPEA, em Brasília, no dia 26 de novembro. Solicitada a falar sobre o tema “Macroeconomia e desenvolvimento”,a mestra aproveitou o momento para abordar também o tema da conjuntura atual e as opções de política econômica para o Brasil enfrentar a crise. A exposição da professora veio se somar às declarações e depoimentos que ela tem dado ao longo dos últimos meses.

O retorno da mestra ao centro do debate tem sido essencial para aqueles que procuram saídas alternativas ao receituário econômico ortodoxo. Isso porque ao longo dos últimos anos, Conceição acabou optando por uma espécie de “silêncio forçado”. Apesar de muitos não concordar com tal opção política, não é muito difícil compreender a escolha da professora. Considerada como uma das principais formuladoras de temas econômicos no interior do PT, Conceição era vista por parte dos analistas como uma das pessoas que jogariam um papel estratégico no governo, quando Lula ganhou as eleições ainda lá em 2002.

No entanto, a roda da história tomou outros rumos e o presidente eleito optou por Palocci, Meirelles, a “tchurma” do setor financeiro e toda a ortodoxia que marcou a política econômica na maior parte de seus 8 anos de governo. No início, Conceição ainda buscou uma reflexão crítica, apontando alternativas ao que considerava uma opção equivocada da equipe de Lula. Porém, à medida que sentia se consolidar a opção conservadora no interior do governo, ela optou por um “voto de silêncio” e não mais criticava publicamente a condução da economia sob as regras do modelito neoliberal.

Porém, como que por uma triste e trágica ironia, foi necessário o surgimento de uma crise internacional mais profunda, com as proporções que vimos a partir de 2008, para que as visões alternativas de natureza estruturalista e heterodoxa se impusessem no debate das opções de política econômica. Seja no interior dos países mais ricos, seja no plano das relações econômicas internacionais, seja até mesmo no debate a respeito de alternativas para o Brasil. À falência do receituário neoliberal, foram sendo trazidos para os próprios meios de comunicação assuntos até então considerados como pecaminosos e proibitivos: “desenvolvimento econômico”, “política industrial”, “necessidade da presença do Estado na economia”, “necessidade de regulação da atividade econômica”, “incapacidade do mercado em encontrar sempre as soluções mais eficientes”, entre tantos outros temas até então relegados às profundezas de um “index prohibitorum”.

E Conceição, para além de discorrer sobre sua vinda de Portugal para o Brasil, sobre sua participação nos governos progressistas anteriores ao golpe de 64, sobre suas experiências com a CEPAL de Raul Prebisch e Celso Furtado, sobre sua intimidade com o tema do desenvolvimento, também tratou do momento atual. E ofereceu a todos os presentes na mesa da Conferência suas propostas para que o Brasil consiga atravessar o momento da crise externa, com o menor risco de sofrer conseqüências negativas. E aí, o menu dos pontos a serem tratados não apresenta muita novidade: risco do setor externo deficitário, perigo da continuidade da atual política cambial da nossa moeda valorizada, prejuízos da política monetária de juros elevadíssimos, necessidade de estabelecer maior controle sobre os movimentos do capital especulativo.

O diagnóstico da professora é agudo e preciso. A continuidade desse modelo é arriscado e potencialmente explosivo. A política monetária em que o Banco Central oferece a maior taxa de juros do planeta é um suicídio em termos econômicos, além de promover uma grande injustiça social. Transfere renda orçamentária para os setores mais privilegiados do País, ao tempo em que limita recursos para as despesas essenciais na área social. Além desse caráter perverso da política de juros elevados, ela assegura alta rentabilidade ao capital especulativo do resto do mundo, que para cá se dirige em grande quantidade. O ingresso desse tipo de recursos em moeda estrangeira, por sua vez, pressiona o mercado dito “livre” do câmbio. Uma elevada oferta de dólares em nosso mercado interno promove uma valorização artificial do nosso real frente à moeda norte-americana e demais moedas estrangeiras.

Com isso nossas exportações ficam prejudicadas e as importações de bens estrangeiros ficam estimuladas. O resultado é a redução do superávit na Balança Comercial. E uma preocupação crescente no Balanço de Pagamentos, que começa a ficar perigosamente deficitário. A previsão do próprio BC é de um rombo de US 50 bilhões para esse ano que se encerra. Para tanto contribui, entre outros fatores, a redução dos valores dos investimentos diretos estrangeiros e o aumento das remessas para o exterior na forma de juros e lucros.

Enquanto a maior parte dos chamados “especialistas do mercado” retomam a cantilena da “necessidade imperiosa” de redução dos gastos públicos e da necessidade de elevar ainda mais (!!!) a taxa de juros na próxima reunião do COPOM, a professora confirma as alternativas há muito tempo apresentadas pelos economistas que procuramos fugir da lógica dos interesses puramente financistas. Tanto mais que nas últimas semanas tem-se aprofundado um sentimento e um conjunto de medidas que estão sendo corretamente resumidos na classificação de uma “guerra cambial” em escala planetária.

Cada país ou região tenta resolver a crise sob seu ponto de vista e não há solução negociada. E o fracasso da recente reunião do G-20 na Coréia demonstrou que não há alternativa a ser acordada entre os países mais ricos no curto prazo. A China mantém sua moeda indexada ao dólar norte-americano. Os Estados Unidos promoveram uma emissão de sua moeda no valor de US$ 600 bi, que será absorvida pelos agentes econômicos e logo em seguida direcionada aos países em desenvolvimento. A taxa de juros SELIC continua a fazer do Brasil um dos locais de maior rentabilidade no mundo. Mais dólares para cá, maior valorização cambial. Assim, o mecanismo da chamada “liberdade cambial” fica ainda mais perverso para nossa economia, em termos de emprego e crescimento da indústria nacional. Com a enxurrada das importações, reforça-se o movimento da desindustrialização.

O caminho passa, nos ensina Conceição, pelo estabelecimento de regras de controle na conta de capitais. O Brasil não pode aceitar passivamente pagar a conta pelas medidas protecionistas adotadas pelos países mais ricos. Ou seja, devemos adotar medidas de auto proteção, sim! A primeira delas seria a exigência de um período mínimo de permanência do capital estrangeiro que para cá deseja se dirigir, bem como a elevação dos impostos sobre os mesmos, para reduzir a atratividade das aplicações de caráter puramente especulativo. A diminuição desse volume de recursos externos deve reduzir a tendência à valorização do real frente ao dólar. Caso contrário, o governo deve adotar outras medidas com tal objetivo.

Além disso, ao contrário de cortar despesas de custeio, as reduções no orçamento do governo federal devem ser nos gastos financeiros. Para tanto, a medida deve vir no sentido da redução da taxa de juros SELIC e na ação sobre as instituições financeiras para reduzir seu “spread” e oferecer juros mais baixos para o tomador final. Com isso, haverá redução no volume de despesas de natureza financeira, aliviando o conjunto das contas fiscais.

Finalmente, a mestra lembra aos analistas que os próprios manuais de economia e as experiências de política monetária em outros países oferecem o mecanismo do depósito compulsório para se conter um eventual excesso de demanda e evitar a retomada do processo inflacionário. Ou seja, se houver algum risco de que tais medidas estimulem demasiadamente o nível de consumo, o governo pode obrigar os bancos a elevarem ainda mais seus níveis de depósito obrigatório junto ao Banco Central, o que gera menos recursos monetários na sociedade. Com isso, mantém-se algum grau de equilíbrio no setor real, sem que a sociedade no seu conjunto seja obrigada a pagar a conta por meio de aumento nas despesas públicas, que ocorreria caso houvesse um aumento ainda maior da já elevada taxa de juros SELIC.

Para finalizar, cabe agradecer à professora por seu retorno ao debate e por suas análises e sugestões sempre tão preciosas para os que não se deixam enganar pela retórica dos defensores dos interesses da banca e do sistema financeiro. Com isso,podemos dizer que existem sim alternativas a serem implementadas em termos de política econômica. Basta haver vontade política.

Obrigado, Conceição!

Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A Verdade da Irmã África

    O tempo da África é agora
   
        Por Sanhay Suri, da IPS
    


Madri, Espanha, 26/11/2010 - É inquestionável que a África está cheia de pobreza e doenças, mas esta imagem esconde outra realidade: o continente cresce mais de 5% ao ano, em média, afirmaram ativistas africanos na capital espanhola. Este segundo rosto é pouco conhecido e menos admitido, enfatizaram em um seminário organizado pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID) e a agência de notícias Inter Press Service (IPS).

Malaui doa atualmente milho aos países mais pobres, e vende seu excedente nos mercados mundiais, disse em um discurso o arcebispo Njongonkulu Ndungane, presidente da African Monitor, uma organização não governamental com sede na Cidade do Cabo, durante o encontro. "Este êxito ocorre depois que o governo de Malaui ignorou as recomendações de algumas agências de financiamento quanto a não subsidiar os fertilizantes e outros insumos agrícolas", acrescentou. Trata-se de um êxito entre muitos.

As próprias histórias de fracasso estão se convertendo em histórias de sucesso, disse Njongonkulu. A África ainda tem a menor expectativa de vida e a maior pobreza estendida, mas "a boa notícia é que estamos revertendo muitas destas tendências, e é por isto que nos atrevemos a afirmar que o tempo da África chegou", prosseguiu. Njongonkulu destacou vários fatos positivos. A pobreza extrema chegou ao seu ponto máximo no final dos anos 1990, com mais de 58%, mas em 2005 havia caído para menos de 50%.

O Banco Africano de Desenvolvimento colocará no próximo ano US$ 10 bilhões em projetos de infraestrutura, apesar de o Banco Mundial dizer que a África precisa de US$ 93 bilhões anuais em estradas, água e eletricidade. Onde recebe US$ 40 bilhões anuais a título de assistência, arrecada US$ 400 bilhões mediante bônus, remessas e outros mecanismos financeiros.

Isto é o melhor, mas não é tudo. Njongonkulu admite aquela imagem dominante da África e os fatos que a sustentam. A corrupção poderia ser a maior. "Em 2008, a fuga de capitais ilícitos da África subsaariana foi de US$ 96 bilhões. É escandaloso", afirmou. Por um lado, as nações africanas se comprometeram a gastar 20% de seu orçamento em agricultura, mas apenas 10% está sendo aplicado. Não ajuda o fato de os doadores terem entregue menos de 60% do prometido.

"É necessária uma mudança de modelo nos meios de comunicação, porque o progresso da África não está sendo informado", disse na reunião Themba James Maseko, presidente do Sistema Governamental de Comunicação e Informação da África do Sul. Muitos países europeus têm poucos imigrantes procedentes da África, e a única imagem que têm as crianças que crescem nesses países é a de um continente afetado pela pobreza e pelo conflito, acrescentou.

Por outro lado, a África tem de fazer a sua parte, e criar liderança e indústrias, em lugar de exportar matéria-prima, avaliar a fuga de cérebros, garantir a sustentabilidade ambiental e combater a corrupção.

Inevitavelmente, em uma reunião sobre a África realizada na Espanha surge a questão dos imigrantes africanos na Europa. "Ao longo da história sempre houve imigração ilegal. As pessoas sempre emigraram em busca de uma vida mais feliz. E também há migrações dentro da África", disse Cherif Sy, presidente do Africa Editors Forum. "Não falemos destas pessoas como se fossem gado", acrescentou.

Em lugar de depender da mídia, evitá-los pode ajudar, sugeriu Javier Bauluz, repórter fotográfico ganhador do Prêmio Pulitzer. Os povos não se conhecem entre si e, em lugar de dependerem dos meios de comunicação, deveriam participar de programas de intercâmbio entre África e Europa, afirmou. Medidas deste tipo em nível escolar podem levar a um melhor entendimento ressaltou.

Transmitir essas ideias foi o objetivo da reunião, destacou o diretor-geral da IPS, Mario Lubetkin, em seu discurso de encerramento. Tratou-se "de ouvir a nova realidade africana, que pode ser ouvida de um modo novo, com dignidade, sem medo, inclusive sem temor de estar equivocado ou de cometer erros", acrescentou. Agora há "uma África emergente em um Sul emergente, que não está somente no futuro, mas também no presente", disse. O continente africano "está se unindo ao dinamismo de Brasil, China e Índia", ressaltou.

A capacidade da África, e particularmente da África do Sul, ficou clara na Copa do Mundo da Fifa deste ano. "Muitos disseram que seria um fracasso, mas os fatos demonstraram o contrário. Os meios de comunicação, centrados no futebol, não conseguiram transmitir as dimensões do que a África do Sul e a África conseguiram ao organizar o campeonato. Foi um marco", disse Mario Lubetkin.

O diretor-geral da IPS afirmou que às vezes os meios de comunicação ajudam a aprofundar o "afropessimismo". A reunião abriu as mentes para um novo "afro-otimismo", não como um exercício de relações públicas, mas como uma perspectiva para compreender a África, acrescentou. Na reunião de Madri também foi apresentado o novo site africano da IPS. Envolverde/IPS
(Fonte: Carta O Berro..........................................................repassem)

domingo, 28 de novembro de 2010

Poemas de Alípio Freire

Rapsódia de ordem política e social

(Fonte:Carta O Berro..........................................................repassem)

  

Alipio Freire: Rapsódia de ordem Política e Social Na edição deste final de semana do suplemento Prosa, Poesia e Arte, o Vermelho publica uma série de poemas do escritor e jornalista baiano Alipio Freire. Os sete poemas que compõem esta edição fazem parte de um livro que será lançado no próximo ano: "Rapsódia - De Ordem Política e Social".
Alipio Freire nasceu em Salvador-BA, em 1945, e vive em São Paulo desde 1961. É jornalista, escritor, artista plástico, roteirista e diretor de cinema e vídeo. Graduou-se na Escola de Jornalismo Cásper Líbero (1964-1966), onde participou de diretorias do Centro Acadêmico daquela Faculdade, do qual foi presidente durante o ano de 1966. Militou na organização clandestina Ala Vermelha (1967-1983), ficando preso de 31 de agosto de 1969 a 2 de outubro de 1974.

Colabora com a imprensa popular, sindical e de esquerda e participou da fundação, dirigiu e editou diversas publicações nessa área. Pertence aos conselhos editoriais das revistas "Fórum", "Teoria & Debate" e "Revista Sem Terra"; dos jornais "Correio da Cidadania" e "Brasil de Fato", e da Editora Expressão Popular. Colabora com diversas publicações - jornais, boletins, revistas, sites etc. - sindicais, de movimentos populares e da esquerda.

Coordenou - juntamente com Izaías Almada e J. A. de Granville Ponce, o livro "Tiradentes - um presídio da ditadura" (Scipione Cultural - 1997), e tem textos publicados em diversos livros e coletâneas. Em dezembro de 2007 lançou o livro de poemas "Estação Paraíso", pela Editora Expressão Popular - SP.


Poemas encadeados


Da luta armada ou Da violência justa
Em memória de Luiz Gama e Luiza Mahin

No Brasil o ordenamento jurídico do escravismo
considerava:

Todo senhor que matar seu escravo
em qualquer circunstância
o fará sempre em legítima defesa.

O abolicionista Luiz Gama
retrucou:

Todo escravo que matar o seu senhor
em qualquer circunstância
o fará sempre em legítima defesa.

NB*
Assim reza o mais legítimo proceder contra todo tirano.

Em qualquer circunstância.


De poetas e de pedras

As pedras não falam
mas quebram vidraças

nos ensina o poeta Sérgio Vaz
- colecionador de pedras.

Para os melhores poetas do povo
resistir é fundamental.

Ainda que nem sempre palavras sejam suficientes.


As pedras e os caminhos

Dos diálogos com Bob Dylan e Sérgio Vaz

As pedras do caminho nunca as deixem para trás.

Recolham uma a uma
e guardem com todo cuidado

de modo a preservar cada aresta
cada reentrância cada saliência

de modo a preservar peso e volume.

Ajam como zelosos colecionadores de preciosidades.

Mais adiante
teremos muitas vidraças a enfrentar.

Vidraças blindados mísseis metralhadoras e fuzis não se vergarão às nossas simples palavras.

Daí então
as pedras falarão por nós.


Dos poemas de pedra
Dos diálogos com a poeta Lara de Lemos

Cantarei versos de pedras.

Dos poemas de pedra
Dos diálogos com a poeta Lara de Lemos

Cantarei versos de pedras.

Não quero palavras débeis
para falar do combate.

Assim escreveu a poeta Lara de Lemos
que conheceu como poucos o caminho das pedras.

Lara sempre teve consciência de que
somente enquanto pedras
seus versos atingiriam seus objetivos.


Das pedras e do seu momento exato

Não atiremos pedras precipitadamente.

Avaliemos o alvo preciso
para evitar fogo amigo;

Avaliemos a dimensão do nosso exército
e a dimensão do exército inimigo;

Avaliemos o momento correto
e preparemos cuidadosamente a hora adequada

Façamos enfim todo um estudo balístico para o arremesso
de modo a garantir que nossas pedras jamais tenham efeito bumerangue.

NB
Mas se mesmo com todos esses cuidados errarmos
nosso gesto terá sido legítimo.


Romance sonâmbulo
Dos diálogos com Federico García Lorca e
Fernando Pessoa

A metafísica dos ideais abstratos
me indica como caminho
a negociação e a paz entre as classes
na disputa dos seus interesses e poder.

Mas nesta vida em que sou meu dono
(e não sou meu sono)
a crua objetividade dos fatos
e o seu desenrolar em História
prontamente me fazem acordar
dos meus sonhos de sonâmbulo.

NB
- Camaradas quero morrer com decência
(com os bolsos cheios de pedras).


Ad astra per aspera
Dos diálogos com Armando Cavalcanti e
Klecius Caldas

Não pode alcançar os astros
quem leva a vida de rastros
quem é poeira do chão.

- Afirma nosso cancioneiro popular

O poeta concorda
E subscreve

NB
... por fim traduz o título um tanto pedante:

Rumo às estrelas
mesmo com dificuldade.

(Apenas um provérbio latino
popular em sua época).


* NB ou "Nota Bene" é uma expressão latina que deu em português ao Note Bem (NB)





sábado, 27 de novembro de 2010

Apropriação Indébita: como os ricos estão tomando nossa herança comum?

Artigo de Ladislau Dowbor


(Fonte: Carta O Berro..........................................................repassem) 

  

  Hoje 95% do milho plantado nos EUA é de uma única variedade, com desaparecimento da diversidade genética. O livre acesso às composições de Heitor Villalobos será a partir de 2034. Isto está ajudando a criatividade de quem? Patentes de 20 anos há meio século atrás podiam parecer razoáveis, mas com o ritmo de inovação atual, que sentido fazem? Já são 25 milhões de pessoas que morreram de Aids, e as empresas farmacêuticas proibem os países afetados de produzir o coquetel. Há um imenso enriquecimento no topo da pirâmide, baseado não no que estas pessoas aportaram, mas no fato de se apropriarem de um acúmulo historicamente construído durante sucessivas gerações. O artigo é de Ladislau Dowbor.

  
  Gar Alperovitz and Lew Daly ? Apropriação Indébita: como os ricos estão tomando a nossa herança comum ? Editora Senac, São Paulo 2010, 242 p.

  A concentração de renda e a destruição ambiental constinuam sendo os nosso grandes desafios. São facetas diferentes da mesma dinâmica: na prática, estamos destruindo o planeta para a satisfação consumista de uma minoria, e deixando de atender os problemas realmente centrais. Como explicar que, com tantas tecnologias, produtividade e modernidade, estejamos reproduzindo o atraso? Em particular, como a sociedade do conhecimento pode se transformar em vetor de desigualdade?

  O prêmio Nobel Kenneth Arrow considera que os autores de ?Apropriação indébita: como os ricos etão tomando a nossa herança comum?, Gar Alperovitz e Lew Daly, ?se baseiam em fontes impecáveis e as usam com maestria. Todo mundo irá aprender ao ler este livro?. Eu, que não sou nenhum prêmio Nobel, venho aqui contribuir com a minha modesta recomendação, transformando o meu prefácio em instrumento de divulgação. Mania de professor, querer comunicar o entusiasmo de boas leituras. E recomendação a não economistas: os autores deste livro têm suficiente inteligência para não precisar se esconder atrás de equações. A leitura flui.

  A quem vai o fruto do nosso trabalho, e em que proporções? É a eterna questão do controle dos nossos processos produtivos. Na era da economia rural, os ricos se apropriavam do fruto do trabalho social, por serem donos da terra. Na era industrial, por serem donos da fábrica. E na era da economia do conhecimento, a propriedade intelectual se apresenta como a grande avenida de acesso a uma posição privilegiada na sociedade. Mas para isso, é preciso restringir o acesso generalizado ao conhecimento, pois se todos tiverem acesso, como se cobrará o pedágio, como se assegurará a vantagem de minorias?

  Um argumento chave desta discussão, é naturalmente a legitimidade da posse. De quem é a terra, que permitia as fortunas e o lazer agradável dos senhores feudais? Apropriação na base da força, sem dúvida, legitimada em seguida por uma estrutura de heranças familiares. Uma vez aceito, o sistema funciona, pois na parte de cima da sociedade forma-se uma aliança natural ditada por interesses comuns.

  Na fase industrial, um empresário pega um empréstimo no banco ? e para isso ele já deve pertencer a um grupo social privilegiado ? e monta uma empresa. Da venda dos produtos, e pagando baixos salários, tanto auferirá lucros pessoal como restituirá o empréstimo ao banco. De onde o banco tirou o dinheiro? Da poupança social, sob forma de depósitos, poupança esta que será transformada na fábrica do empresário. Aqui também, vale a solidariedade dos proprietários de meios de produção, e o resultado de um esforço que é social será em boa parte apropriado por uma minoria.

  Mudam os sistemas, evoluem as tecnologias, mas não muda o esquema. Na fase atual, da economia do conhecimento, coloca-se o espinhoso problema da legitimidade da posse do conhecimento. A mudança é radical, relativamente aos sistemas anteriores: a terra pertence a um ou a outro, as máquinas têm proprietário, são bens ?rivais?. No caso do conhecimento, trata-se de um bem cujo consumo não reduz o estoque. Se transmitimos o conhecimento a alguém, continuamos com ele, não perdemos nada, e como o conhecimento transmitido gera novos conhecimentos, todos ganham. A tendência para a livre circulação do conhecimento para o bem de todos torna-se portanto poderosa.

  A apropriação privada de um produto social deve ser justificada. O aporte principal de Alperovitz e de Daly, neste pequeno estudo, é de deixar claro o mecanismo de uma apropriação injusta ? Unjust Deserts ? que poderíamos explicitar com a expressão mais corrente de apropriação indébita. Ao tornar transparentes estes mecanismos, os autores na realidade estão elaborando uma teoria do valor da economia do conhecimento. A força explicativa do que acontece na sociedade moderna, com isto, torna-se poderosa.

  Para dar um exemplo trazido pelo autor, quando a Monsanto adquire controle exclusivo sobre determinada semente, como se a inovação tecnológica fosse um aporte apenas dela, esquece o processo que sustentou estes avanços. ?O que eles nunca levam em consideração, é o imenso investimento coletivo que carregou a ciência genética dos seus primeiros passos até o momento em que a empresa toma a sua decisão. Todo o conhecimento biológico, estatístico e de outras áreas sem o qual nenhuma das sementes altamente produtivas e resistentes a denças poderia ter sido desenvolvida ? todas as publicações, pesquisas, educação, treinamento e ferramentas técnicas relacionadas sem os quais a aprendizagem e o conhecimento não poderiam ter sido comunicados e fomentados em cada estágio particular de desenvolvimento, e então passados adiante e incorporados, também, por uma força de trabalho de técnicos e cientistas ? tudo isto chega à empresa sem custo, um presente do passado? (55). Ao apropriar-se do direito sobre o produto final, e ao travar desenvolvimentos paralelos, a empresa canaliza para si gigantescos lucros da totalidade do esforço social, que ela não teve de financiar. Trata-se de um pedágio sobre o esforço dos outros. Unjust Deserts.

  Se não é legítimo, pelo menos funciona? A compreensão do caráter particular do conhecimento como fator de produção já é antiga. Uma jóia a este respeito é um texto 1813 de Thomas Jefferson:

  ?Se há uma coisa que a natureza fez que é menos suscetível que todas as outras de propriedade exclusiva, esta coisa é a ação do poder de pensamento que chamamos de idéia....Que as idéias devam se expandir livremente de uma pessoa para outra, por todo o globo, para a instrução moral e mútua do homem, e o avanço de sua condição, parece ter sido particularmente e benevolmente desenhado pela natureza, quando ela as tornou, como o fogo, passíveis de expansão por todo o espaço, sem reduzir a sua densidade em nenhum ponto, e como o ar no qual respiramos, nos movemos e existimos fisicamente, incapazes de confinamento, ou de apropriação exclusiva. Invenções não podem, por natureza, ser objeto de propriedade.? (1)

  O conhecimento não constitui uma propriedade no mesmo sentido que a de um bem físico. A caneta é minha, faço dela o que quiser. O conhecimento, na medida em que resulta de um esforço social muito amplo, e constitui um bem não rival, obedece a outra lógica, e por isto não é assegurado em permanência, e sim por vinte anos, por exemplo, no caso das patentes, ou quase um século no caso dos copyrights, mas sempre por tempo limitado: a propriedade é assegurada por sua função social ? estimular as pessoas a inventarem ou a escreverem ? e não por ser um direito natural.

  O merecimento é para todos nós um argumento central. Segundo as palavras dos autores, ?nada é mais profundamente ancorado em pessoas comuns do que a idéia de que uma pessoa tem direito ao que criou ou ao que os seus esforços produziram?.(96) Mas na realidade, não são propriamente os criadores que são remunerados, e sim os intermediários jurídicos, financeiros e de comunicação comercial que se apropriam do resultado da criatividade, trancando-o em contratos de exclusividade, e fazem fortunas de merecimento duvidoso. Não é a criatividade que é remunerada, e sim a apropriação dos resultados: ?Se muito do que temos nos chegou como um presente gratuito de muitas gerações de contribuiçoes históricas, há uma questão profunda relativamente a quanto uma pessoa possa dizer que ?ganhou merecidamente? no processo, agora ou no futuro.?(97)

  As pessoas em geral não se dão conta das limitações. Hoje 95% do milho plantado nos EUA é de uma única variedade, com desaparecimento da diversidade genética, e as ameaças para o futuro são imensas. Teremos livre acesso às obras de Paulo Freire apenas a partir de 2050, 90 anos depois da morte do autor. O livre acesso às composições de Heitor Villalobos será a partir de 2034. Isto está ajudando a criatividade de quem? Patentes de 20 anos há meio século atrás podiam parecer razoáveis, mas com o ritmo de inovação atual, que sentido fazem? Já são 25 milhões de pessoas que morreram de Aids, e as empresas farmacêuticas (o Big Pharma) proibem os países afetados de produzir o coquetel, são donas de intermináveis patentes. Ou seja, há um imenso enriquecimento no topo da pirâmide, baseado não no que estas pessoas aportaram, mas no fato de se apropriarem de um acúmulo historicamente construído durante sucessivas gerações.

  Nesta era em que a concentração planetária da riqueza social em poucas mãos está se tornando insustentável, entender o mecanismo de geração e de apropriação desta riqueza é fundamental. Os autores não são nada extermistas, mas defendem que o acesso aos resultados dos esforços produtivos devam ser minimamente proporcionais aos aportes. ?A fonte de longe a mais importante da prosperidade moderna é a riqueza social sob forma de conhecimento acumulado e de tecnologia herdada?, o que significa que ?uma porção substantiva da presente riqueza e renda deveria ser realocada para todos os membros da sociedade de forma igualitária, ou no mínimo, no sentido de promover maior igualdade?.(153)

  Um livro curto, muito bem escrito, e sobretudo uma preciosidade teórica, explicitando de maneira clara a deformação generalizada do mecanismo de remuneração, ou de recompensas, que o nosso sistema econômico gerou. Trata-se aqui de um dos melhores livros de economia que já passaram por minhas mãos. Bem documentado mas sempre claro na exposição, fortemente apoiado em termos teóricos, na realidade o livro abre a porta para o que podemos qualificar de teoria do valor, mas não da produção industrial, e sim da economia do conhecimento, o que Daniel Bell qualificou de ?knowledge theory of value?. A Editora Senac tomou uma excelente iniciativa ao traduzir e publicar este livro. Vale a pena. (www.editorasenacsp.com.br)

  (1) Citado por Lawrence Lessig, The Future of Ideas: the Fate of the Commons in an Connected World ? Random House, New York, 2001, p. 94

  (*) Ladislau Dowbor, professor de economia e administração da PUC-SP, é autor de Democracia Econômica e de Da propriedade Intelectual à Sociedade do Conhecimento, disponíveis em http://dowbor.org

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

As Estórias dos Cachorros de Dona Pandá

Novelinha em capítulos


Capítulo 1
 
Dona Pandá quer contar estorinhas de seus cachorros. Quando lhe lembrei de sua promessa de seguir os itens relevantes (aqueles do quadro), ela me garantiu que vai terminar de falar desses 12 itens, mas quer também contar uns causos de suas ferinhas.
Então, vocês já sabem, nada segura essa jovem sexagenária em termos de falação e lá vamos nós.

Há uma boa senhora que cuida de cães enjeitados e os leva para a Rodovia Bunjiro Nakao, perto de Vargem Grande, ficando lá todos os finais  de semana, na busca de um lar para os seus protegidos. Ela aceita donativos para ajudar na compra de rações e outras despesas.

Dona Pandá foi lá e havia muitos filhotes: um, com três meses, todo preto, grande para a idade, muito magro e com um rabo comprido e fino, bem feio. Ele virou de frente para Dona Pandá, balançou e abaixou a cabeça, olhando-a com os olhos pidões. Estava escolhido.
A procura passou, em seguida, a ser por uma fêmea. Na gaiola ao lado, uma cadelinha gorduchinha, de apenas um mês, conquistou imediatamente o lugar.
Bem em frente de onde estavam as gaiolas dos cães da senhora Ana, havia uma loja de ração. Lá foram comprados os objetos de primeira necessidade: os comedouros, coleiras, guias para passeios, ossinhos e petiscos e ração especial para filhotes. Enquanto Dona Pandá fora comprar esses itens, a cadelinha estava sendo cobiçada por uma família, cujo pai chegou a sugerir uma troca, mas a escolha já estava sacramentada.

Dona Pandá e Vanderlei, seu auxiliar, levaram os pequenos para o carro. Ela disse: - Ele vai se chamar Bei, igual ao cachorro da minha infância. - A que o rapaz logo retrucou: - Então, ela se chama Bia - . Bei e Bia formaram um belo casal de  cachorros mestiços, cruzamento de pastor com alguma outra raça de grande porte.

No dia seguinte, antes de sequer terem tempo para a visita ao veterinário, Bei apresentou um quadro preocupante, vomitava e evacuava sem parar. Dona Pandá não titubeou, colocou-os no carro e rumou para São Paulo, onde conhecia uma veterinária extremamente competente, Dra Pao, cuja clínica fica na Rua Cerro Corá, no Bairro da Lapa. O diagnóstico foi terrível: parvovirose.

Dra Pao e sua equipe de veterinárias não pouparam esforços na tentativa de salvar o filhote. Seguindo sua orientação, Dona Pandá levava os cachorrinhos às 7hs. Bei ficava até as 19hs e Bia, após receber a aplicação de remédios e nutrientes auxiliares para evitar que fosse contaminada, retornava à casa. A médica optou por esse esquema para que o cãozinho sentisse o afeto da família e da companheirinha. O acerto dessa opção ficou demonstrado numa noite quando Bei, muito mal, entregou os pontos, abandonou. Dona Pandá, auxiliada por seu filho, cuja energia, ao lidar com animais, é extraordinariamente positiva, colocou Bei em seu colo e começou a acariciá-lo e a falar baixinho com ele. Bia foi se chegando, encostando-se no companheiro, enfiava a cabecinha por baixo dele como a lhe persuadir a lutar pela vida. Passaram a noite tendo a certeza de que perderiam o pequeno. Houve um momento em que Bia resmungou, fungou ou gemeu ou os três, o certo é que Bei abriu os olhinhos e, em seguida, pareceu descansar. Ela também se encolheu e dormiu. A partir daí houve uma melhora crescente, embora demasiada lenta.

Bei ainda estava sob a ameaça de grande perigo quando Dona Pandá teve que viajar rapidamente porque sua mãe também caíra gravemente enferma. Os cachorrinhos ficaram sob os cuidados do filho e da nora de Dona Pandá. Acontece que também eles têm duas cachorras que, na chegada dos filhotes, foram levadas para outro lugar, evitando qualquer contato, pois essa doença é perigosamente contagiosa. Por orientação da Dra. Pao, tudo era esterilizado com cloro, inclusive as solas dos sapatos. As roupas infectadas pelo contato com o cachorrinho foram descartadas. O casal de cuidadores dos filhotes teve um trabalhão para dar conta dos quatro - dois em cada lugar - até Dona Pandá poder retornar e assumir a função.

Bei recebeu alta da clínica e, juntamente com sua dona e a companheirinha, voltou para a chácara, onde o esperava nova aventura perigosa.


Capítulo 2

Dona Pandá tem o hábito de ler antes de dormir. Vai para a cama, senta-se bem confortável e pega um dos seus livros de cabeceira – ela está sempre com uns três livros iniciados – e vai intercalando a leitura com algumas reflexões. Isto significa que quanto mais instigante o autor, mais sua leitura demora a se completar. Numa noite, lá pela uma hora, seu pensamento, que havia saído do livro para perambular em outras plagas, foi rudemente interrompido pelo gemido de Bia. Preocupada. Dona Pandá abriu a porta de seu quarto, que dá para uma sacada de onde pode ver boa parte do quintal e vislumbrou uma sombra masculina correndo com algo no colo. Desceu correndo a escada de seu quarto e ao chegar na varanda – quarto de dormir dos cachorrinhos – encontrou a cadelinha chorando com um “galo” enorme na cabeça e o Bei era o algo no colo do ladrão. Em desespero, Dona Pandá saiu correndo para ver se conseguia ver o cachorrinho. Estava a uns 100 metros da casa quando se lembrou de que lá estava dormindo uma amiga, visita do final de semana. Se a intenção do ladrão era tirar a dona da casa e ter a porta aberta, havia conseguido seu objetivo. Voltou, então, e encontrou a amiga já na varanda, assustada com o barulho. As duas, depois de percorrerem boa parte da chácara, pegaram o carro e foram andar pela redondeza ainda na esperança de que o ladrão, percebendo uma possível perseguição, abandonasse  o animalzinho. Nada viram.

Na manhã seguinte, nossa persistente senhora novamente percorreu as cercanias da chácara, perguntando pelo cachorrinho para quem encontrava pelo caminho.
- Bom dia. Você viu um cachorrinho de três meses, preto com um rabo muito feio? – Normalmente depois da resposta negativa, ela acrescentava: - Você avisa por aí que é um animal doente. Ele teve uma doença muito ruim, ainda não se recuperou e o pior é que é muito contagiosa. Pega só de encostar no cachorro e pode até matar. Ele ficou 10 dias no soro e ainda corre perigo.Gastei uma nota preta na clinica veterinária.

 A informação era bem intencionada, porém não tão verdadeira. Ela dava a entender que o cachorro havia tido uma doença muito contagiosa inclusive para os humanos. A parvovirose é de fato muito contagiosa para os animais.

A cadelinha acompanhava a dona na sua tristeza. É possível que esse episódio tenha sido responsável por algumas características atuais  da Bia, dengosa e voluntariosa, pois passou o dia no colo, com bolsa de gelo na cabeça e massagens no pescoço.Foi um dia tétrico na chácara.
À tarde, por volta das 17h, uma vizinha veio contar que havia descoberto quem roubara o filhote. Em seguida, ele apareceu vindo pelo fundo da chácara, mostrando a vulnerabilidade da cerca que deveria proteger o terreno. Aí está outra consequência desse episódio. Bei ficou sabendo de duas coisas, cujas consequências foram, no mínimo, bastante trabalhosas. A cerca era mais fraca que ele e havia um pântano no terreno vizinho que passou a ser o seu lugar do desejo  e também da Bia, pois eles são ótimos na socialização de informações. Bom, essas são outras aventuras.


Capítulo 3


Após a recuperação dos três - Bei da tétrica parvovirose, Bia do “galo” na cabeça e Dona Pandá do grande susto –, a veterinária Cláudia Barbosa, cuja clínica fica no bairro vizinho, foi chamada para vacinar  os dois novos moradores da Chácara. Foram meticulosamente examinados e vacinados. Cláudia confirmou o que a Pao já avisara: Bei ficou com o sistema imunológico comprometido. Este fato não amenizou a gravidade de suas traquinagens, pois cresceu bastante, com muita força e agilidade, acompanhado nessas características e em quase tudo por sua companheira.
Um belo dia, Bei demonstrando ter aprendido o caminho do ladrão, desapareceu levando – se não foi a tiracolo – a tirarabo Bia. Dona Pandá e seu ajudante procuraram por toda a chácara, chamando os dois. Somente depois de todos os vizinhos das outras chácaras terem ouvido muitos gritos, os fugitivos foram detectados.  Os narizes dos dois humanos detectaram primeiro a presença dos sujismundos antes que seus olhos pudessem vê-los. O cheiro pestilento, parecido com o de carniça, espalhava pelo ar e os pelos pretos adquiriram uma cor de barro  escuro, pegajoso, nojento. Eles haviam passado para o terreno do vizinho e se enfurnado no brejo de barro podre. Foram direto para debaixo da mangueira de água fria, aqueles dengosos que só tomavam banho quente! Banho com muito xampu, várias vezes, e ,ainda assim, as toalhas ficaram sujas e pouco perfumadas. Cachorros para o canil e humanos para a cerca a fim de tampar o buraco por onde os primeiros haviam fugido.


Uma nova cerca foi implantada logo após a casa, com o objetivo de separar a parte mais usada da chácara daquela por onde os bichinhos,que não estavam mais tão inhos, fugiram.


Dois dias após o término da  cerca, pela manhã, ao abrir a porta de seu quarto que dá para uma varanda, Dona Pandá viu, do outro lado daquela que deveria ser a segurança da sua tranquilidade, o Bei. Ela desceu correndo, abriu o portão e percebeu que não havia visto a Bia. O cachorro, em vez de passar o portão em direção do canil, seguiu no sentido contrário. Dona Pandá simplesmente o acompanhou, pressentindo que não iria gostar dos próximos minutos. Enquanto gritava Biiiaaa, viu a cadela do outro lado, no terreno vizinho, ou seja, no brejo.  Estava imunda e toda feliz se esbaldando no lamaçal mal cheiroso, seu lugar de desejo  e também da Bia, pois eles são ótimos na socialização de informações. Bom, essas são outras aventuras.


Capítulo  4


O cotidiano da chácara começa às 8 hs quando os cachorros são convidados a ir para o canil a fim de descansarem do árduo trabalho noturno. Dona Pandá abriu a porta que dá para uma varanda multiuso, onde os cães têm suas camas e, às vezes, até dormem, e lá estava Bei todo coberto com os horríveis espinhos de algum ouriço. O cachorro demonstrava um grande sofrimento, babava e olhava para sua dona com os olhos tristes e desesperados. Dona Pandá absorveu todo esse desespero, pegou um alicate e começou a tirar os espinhos. O cão gemia e começou a empurrá-la com a pata, procurando fugir. Na total ignorância, Dona Pandá só pensava em livrá-lo daquele sofrimento e continuou a arrancar os espinhos, no 14º, Bei, que é um animal de porte grande, rosnou e a empurrou 


Como já vimos, nossa jovem sexagenária não é de desistir e continuou na dolorosa tarefa até que um pedaço de sua orelha direita ficou dependurado, quase arrancado pelos afiados dentes do Bei. Ela levou muito susto  e, enfim, conseguiu perceber que estava fazendo alguma bobagem estúpida. Levou o cachorro para o canil e foi lavar a orelha, colocou uma gaze para segurar o sangue e ligou para o veterinário. Este, entendendo a gravidade das circunstâncias, chegou rapidinho e levou Bei para sua clínica, explicando que esses espinhos são retirados somente com anestesia. . Eles têm uma espécie de anzol na ponta e ao serem puxados, ferem mais, causando fortes dores. Disse mesmo que Bei devia gostar muito de Dona Pandá para tolerar a retirada de 14 espinhos e só arrancar um pedacinho de sua orelha. 
  
Bia ficou quietinha o tempo todo, deitada,  num canto. Parecia sentir as dores do companheiro e olhava toda temerosa para o veterinário. Ela, por duas vezes, apareceu com um espinho na bunda, mostrando que sabe quando fugir. Infelizmente, porém não consegue passar sua sabedoria para o macho que não admite invasores de qualquer tipo, tamanho ou natureza em seu território, ainda que o custo seja a cara cheia de espinhos.


Dona Pandá insistiu para o veterinário fazer um curativo na sua orelha e, como resposta, foi repreendida: “Você já fez uma grande besteira e quer que eu faça outra maior ainda. Precisa é de um cirurgião”. O moço estava bravo!


Lá foi nossa metediça velhinha em busca de um hospital. Ela concordou em pular essa parte que é bem pouco corriqueira. Resumindo, recebeu alguns pontos e teve que, durante, 15 dias, ir diariamente fazer curativo, no Posto de Saúde.


Depois de ver outras vezes Bei cheio de espinhos, Dona Pandá resolveu fazer mais uma cerca. Separou  600m² ao redor da casa, onde nõo há nenhuma árvore frutífera e passou a deixar os cachorros presos nesse espaço, durante a noite. Sua fantasia fica cada vez mais fantasiosa.


sábado, 20 de novembro de 2010

Conceição Evaristo - Poemas da recordação e outros movimentos




20 de novembro: Dia da Consciência Negra
Fonte:Carta "O Berro"............................repassem
Ricardo Riso *
Adital 
 
Hoje não é nenhum absurdo nem exagero afirmar que Conceição Evaristo é a principal voz feminina da nossa literatura afro-brasileira. Por isso, devemos celebrar o lançamento de "Poemas de recordação e outros movimentos", pela editora Nandyala, em 2008, antologia poética que reúne poemas do passado e inéditos dessa mineira de Belo Horizonte, nascida em 29 de novembro de 1946.


Desde os anos 1970 radicada no Rio de Janeiro, formada em Letras, Mestre em Literatura Brasileira pela PUC/RJ e Doutora em Literatura Comparada pela UFF/RJ, Evaristo teve sua estreia literária em 1990, na série Cadernos Negros, publicação anual editada pelo Grupo Quilombhoje com o intuito de lançar escritores afro-brasileiros, projeto iniciado em 1978.

A partir daí, a poeta começou a ter seus textos, que navegam entre a poesia, o conto e o romance, em diversas antologias nacionais e estrangeiras. Individualmente, publicou os seguintes romances: "Ponciá Vicêncio" (2003 e já na segunda edição) e "Becos da Memória" (2006).

A obra de Conceição Evaristo conduz-nos a um profundo mergulho na memória que navega entre as recordações individual e coletiva, "a memória bravia lança o leme:/ Recordar é preciso". Logo somos banhados pelas "águas-lembranças" de Evaristo que se posiciona como mulher negra e da comunidade negra em geral para transformar em poesia as suas "escrevivências". Estas são motivadas pelas lembranças familiares, formadoras do binômio vida-poesia, destacando-se a convivência com a mãe, "mulher de pôr reparo nas coisas,/ e de assuntar a vida", e que "me ensinou,/ insisto, foi ela,/ a fazer da palavra/ artifício/ arte e ofício/ do meu canto/ da minha fala", o aprendizado oral pelos provérbios, "quando se anda descalço/ cada dedo olha a estrada", e também do contato frutífero com a Tia Lia que "temperando os meus dias/ misturava o real e os sonhos/ inventando alquimias./ (...) Houve um tempo/ em que a velha/ me buscava/ e eu menina/ com os olhos/ que ela me emprestava,/ via por inteiro/ o coração da vida".

O cruel desenvolvimento das adversidades pelas quais passam as mulheres negras através dos tempos, configurando a dor e as experiências de injustiças sociais, são demonstrados no poema "Vozes-Mulheres", no qual o sujeito lírico retoma as dores sofridas pela bisavó no passado de violenta escravidão, como ecos na memória de "lamentos/ de uma infância perdida". Relembra a submissão sofrida pela avó ainda escrava diante da "obediência/ aos brancos-donos de tudo", recorda os ecos das dores de sua mãe "no fundo das cozinhas alheias/ debaixo de trouxas/ roupagens sujas dos brancos". Até chegar no tempo presente, na sua voz que ainda "ecoa versos perplexos/ com rimas de sangue/ e/ fome", para atingir a consciência madura de sua filha, voz que "recorre todas as nossas vozes" e que se quer livre: "Na voz de minha filha/ se fará ouvir a ressonância/ o eco da vida-liberdade".

A condição feminina aparece com frequência em seus poemas. Em "Do fogo que em mim arde" a coisificação da mulher é combatida: "Sim, eu trago o fogo,/ o outro/ não aquele que te apraz"; conduzindo à metapoesia e à afirmação de um sujeito feminino pleno: "Sim, eu trago o fogo,/ o outro/ aquele que me faz,/ e que molda a dura pena/ de minha escrita./ É este o fogo/ o meu,/ o que me arde/ e cunha a minha face/ na letra-desenho/ do auto-retrato meu". Portanto, verifica-se a rigidez de um sujeito lírico que possui a força de dar a vida, por fim, dar movimento ao mundo e que diz: "Eu fêmea-matriz/ Eu força-motriz/ Eu-mulher".

Ao posicionar-se como negra e ao fazer literatura com cariz afro-brasileiro, torna-se inevitável apresentar temas que não integram o cânone e são excluídos por ele, tal como a denúncia do racismo presente em nossa sociedade que a ordem estabelecida insiste em negar e persiste com a mentira de que vivemos em uma democracia racial. Os poemas de Evaristo invocam este e outros assuntos referentes ao nosso cotidiano de cidadão negro e o poema "Meu Rosário" é um excelente exemplo por tratar da religiosidade híbrida brasileira - "Nas contas de meu rosário eu canto Mamãe Oxum e falo/ padres-nossos, ave-marias" -, a discriminação permanente que o negro é submetido em uma cerimônia cristã - "As coroações da Senhora, em que as meninas negras,/ apesar do desejo de coroar a Rainha,/ tinham de se contentar em ficar ao pé do altar/ lançando flores" -, escancara o subemprego dos nossos pares - "As contas do meu rosário fizeram calos/ nas minhas mãos/ pois são contas do trabalho na terra, nas fábricas,/ nas casas, nas escolas, nas ruas, no mundo". Entretanto, permanecem os "sonhos de esperanças" e a transformação do verbo em poesia - "E neste andar de contas-pedras,/ o meu rosário se transmuta em tinta,/ me guia o dedo,/ me insinua a poesia".

Intertextualizando com Carlos Drummond de Andrade, para nós negros há sempre incontáveis "pedras no meio do caminho". Para suportar e superar "a áspera intempérie/ dos dias", necessita-se assumir "a ousada esperança/ de quem marcha cordilheiras/ triturando todas as pedras/ da primeira à derradeira", "moldando fortalezas-esperanças" para sobreviver diante de tantas desigualdades e perseguições ao nosso povo, principalmente aos jovens, vítimas constantes da violência policial e demonstrada com sutileza pelo sujeito lírico: "E pedimos/ que as balas perdidas/ percam o rumo/ e não façam do corpo nosso,/ os nossos filhos,/ o alvo". Fatos recorrentes que revoltam, o incômodo por séculos de opressão não segura mais a língua metamorfoseando a conjungação dos verbos: "E não há mais/ quem morda a nossa língua/ o nosso verbo solto/ conjugou antes/ o tempo de todas as dores". Sendo assim, o sujeito lírico atua como agente de mudança da História e propõe o seu grito de liberdade: "E o silêncio escapou/ ferindo a ordenança/ e hoje o anverso/ da mudez é a nudez/ do nosso gritante verso/ que se quer livre".

Devemos frisar que o poeta afro-brasileiro é um partícipe ativo - e por sinal, incômodo - da presença negra na literatura brasileira, assim como possui plena consciência da necessidade de uma revisão crítica da História oficial que minimiza o passado de séculos de escravidão e a exclusão social que se perpetua para a maioria de nossos pares na contemporaneidade. Só resta ao sujeito lírico cumprir seu papel e assumir essa condição, ou seja, denunciar "o que os livros escondem,/ as palavras ditas libertam. E não há quem ponha/ um ponto final na história".

Com isso, os poemas de Conceição Evaristo possuem o predomínio temático das diversas e urgentes questões afro-brasileiras e também da mulher, todavia, sua poesia navega com desenvoltura pela metapoética, demonstrando reverência ao verbo poético, transbordando lirismo e emocionando as retinas: "Quando eu morder/ a palavra,/ por favor/ não me apressem,/ quero mascar,/ rasgar entre os dentes,/ a pele, os ossos, o tutano/ do verbo,/ para assim versejar/ o âmago das coisas".

E é assim "crivando buscas/ cavando sonhos/ aquilombando esperanças/ na escuridão da noite" e cosendo "a rede/ de nossa milenar resistência" que a poesia de Conceição Evaristo insiste na defesa inquestionável dos negros, persiste com as denúncias às condições discriminatórias sofridas por nós e amadurece em sua estrutura estético-formal. "Poemas da recordação e outros movimentos" mostram um verbo depurado de uma autêntica artífice da linguagem, marcando a sua posição destacada na construção de uma literatura afro-brasileira autônoma, para além de configurar a inclusão do nome de Conceição Evaristo entre o que vem sendo produzido de melhor qualidade na literatura brasileira contemporânea.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Alimentos Orgânicos



Em 17 de novembro de 2010 13:20, Associação Ipê <associacaoipe@gmail.com> escreveu:
 


Conheça algumas características dos alimentos orgânicos:


· Características dos alimentos orgânicos
- Possuem 20% a menos de água e por isso os nutrientes estão mais concentrados.
- São menores do que os convencionais porque não recebem aditivos. (nem sempre, depende da cultura e disponibilidade de nutrientes)
- Em compensação, têm sabor e coloração mais acentuados.
- São, em geral, cerca de 30% a 40% mais caros do que os convencionais (em alguns locais e dependendo da cultura, os orgânicos têm produção tão maior que a convencional, que os preços são mais baratos para o consumidor). 


· Como são produzidos
- São produzidos através de um sistema que busca manejar de forma equilibrada o solo e demais recursos naturais: água, plantas, animais etc. 

- Os agricultores não utilizam agrotóxicos, herbicidas, hormônios de crescimento ou qualquer substância química. 
- O solo é adubado com esterco animal e não sofre ação química.
- Compostagem e rotação de cultura são técnicas empregadas para evitar a erosão do terreno. 


· Quais são seus benefícios
- Os alimentos são mais saborosos já que não recebem substâncias químicas. 

- São também mais nutritivos, com alto teores de minerais.
- Rios e lagos juntos às plantações orgânicas não sofrem poluição por produtos químicos, o que se traduz em benefício para as populações que são abastecidas por esses mananciais.
 


Conheçam a Petição Orgânica:

"NON TOXIC HEALTHY FOOD"
(llink para assinar)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Dona Pandá continua com a palavra


   Capítulo 4                                                                          

Telefone

Dona Pandá se lembra das dificuldades colocadas pela concessionária telefônica quando da aquisição de sua linha. Embora sua chácara esteja a cerca de 60 quilômetros da Capital Paulista, não há telefones fixos convencionais pela vizinhança. 

Feito o pedido à concessionária, o engenheiro foi visitar o local e constatou a impossibilidade de se instalar o telefone solicitado. Nossa boa velhinha não se deixou vencer e, como já havia consultado a empresa e obtivera a afirmação da possibilidade da linha, insistiu, insistiu até conseguir a visita do técnico encarregado de fazer as instalações. Este, percebendo que não escaparia da vontade férrea que Dona Pandá  tinha de se comunicar por telefone, acabou dando a dica da antena.
Vejam só. Para o telefone chegar até a chácara de Dona Pandá, a concessionária teria que puxar o fio por uma distância de um quilômetro, ou seja desde a casa com telefone, mais próxima. Fio está caro e essas empresas fizeram a opção pelo lucro fácil, ficando bem atentas quando querem lhe impor um serviço duvidoso. O segundo técnico explicou tudo direitinho. Se Dona Pandá insistia tanto, melhor seria comprar uma antena especial e aceitar a linha WLL. Curiosa, Dona Pandá quis saber que linha era essa tal de WLL. Acabou descobrindo que era uma tecnologia que nascera antes da senhora sua avó. Sem outra opção, a linha vovozinha foi aceita.

Comprada a antena especial, o telefone foi instalado. Trata-se de um aparelho comum que se liga a uma estação transmissora e esta, com o auxílio da poderosa antena,  capta o sinal da torre transmissora. A estação é, na realidade, um pequeno aparelho ligado à energia elétrica.  No manual está dito – o técnico confirmou – que a WLL comporta a instalação de Internet.                                                                    
Você, que está comprando a chácara de muitos sonhos, fique, pois, preparada(o) para brigar por uma linha telefônica. A solução que o pessoal dos bairros rurais vizinhos encontrou é o celular. Dona Pandá acabou descobrindo que, no próprio município, há uma forte diferença no tratamento dado pelo poder público aos bairros produtores e aos turísticos, povoados pelas chácaras de recreio. O poder aquisitivo do produtor agrícola – aquele que paga impostos e depois paga mais impostos – não é comparável ao do proprietário de imóvel de lazer.

Internet

Você viu que a tal linha telefônica WLL prometia a comunicação de dados, ou seja, a internet. De fato, no Manual do Usuário do equipamento (Estação Terminal de Acesso-ETA), há as indicações para se configurar o computador para a internet e o fax. Então, você aprecie a situação em que Dona Pandá se viu metida, analise a de sua chácara escolhida e conclua se terá que enfrentar a eficiência das multiconcessionárias, ou se a região, onde sua eleita está, é melhor servida ou, ainda, se internet não está marcada no seu quadro de itens relevantes.
Dona Pandá sempre gostou de escrever ou melhor de ditar textos para blog, romance, contos etc. Outra característica sua é a crença nas palavras... dos outros. Ela acredita no que ouve e, claro, nenhum esperança que venha, um dia, aprender. Vai morrer sendo enganada. Agora, sou eu a digressionar. 
Voltemos ao assunto da internet. Nossa  crédula senhora tentou configurar seu pecezinho e nada. Chamado, o técnico instalador já avisou que só entendia de telefone. Rede não era com ele. Ao final, chegaram dois especialistas em computação  que afirmaram não ser a telefonia sua praia e sugeriram o encontro regional dos especialistas: Dona Pandá deveria chamar o técnico da telefonia. Depois de desencontros para vida nenhuma botar defeito, o encontro se mostrou impossível. As agendas dos especialistas são demasiadamente concorridas e as estimativas mostraram que, em meados do ano 2025 DC, as respectivas agendas dos entendidos em internet e do encarregado de assistência telefônica estariam coincidentemente com horários livres. Avaliando a situação, Dona Pandá consultou 15 advogados sobre a possibilidade de enviar para um lugar no Velho Continente, que poderia ser justo o país de origem, a concessionária telefônica. Infelizmente os juristas negaram qualquer saída.  Os especialistas em informática se condoeram e foram tentar a configuração. Seguiram o manual que Dona Pandá lia em voz alta. Quando nada mais havia para ser lido, por uma inspiração excepcional, um dos rapazes fez algo que jamais alguém irá descobrir, sobretudo o próprio autor da façanha e...configurada estava a internet no PC da Dona Pandá. A velocidade dessa conexão, nem ganhando um chocolate, você irá desconfiar, 190 kb/s!!! Ninguém jamais poderá dizer que Dona Pandá não tem paciência. Ela a exercitou durante dois anos.
Depois desses anos e de muitas outras tentativas, a pertinaz senhora conseguiu uma conexão melhorzinha e que até é chamada de banda larga, apesar de sua estreiteza.  É via um modem parecido fisicamente com o 3G. Também precisou de uma antena que tem 10 m de fio e foi levantada a seis metros de altura a partir do nível do computador.  Como você deve ter deduzido, a conexão acelerada é outro sonho de consumo de Dona Pandá.