Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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terça-feira, 13 de agosto de 2013

O lado mais sujo da Monsanto

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Para impor seus produtos em todo o mundo, empresa mobiliza agências de espionagem norte-americanas, vigia cientistas e dispara ataques cibernéticos

Por Marianne Falck, Hans Leyendecker e Silvia Liebrich, no Süddeutsche Zeitung | Tradução: Regina Richau Frazão | Imagem: Eric Drooker

O grupo americano Monsanto (1) é um gigante no agronegócio – e é o número um na área da controvertida tecnologia genética “verde”. Para seus opositores, a Monsanto é um inimigo assustador. E continuam acontecendo coisas intrigantes que fazem o inimigo parecer ainda mais aterrorizante.
No mês passado, a organização europeia protetora do meio ambiente “Amigos da Terra” e a Federação para meio Ambiente e Proteção à Natureza Deutschland (BUND) quiseram apresentar um estudo sobre os efeitos do herbicida glifosato no corpo humano. Os herbicidas que contêm glifosato são carros-chefes da Monsanto. A empresa fatura mais de dois bilhões de dólares somente com o agente Roundup. Os “herbicidas Roundup”, assim sustenta a Monsanto, “têm uma longa história de uso seguro em mais de 100 países”.
Quando os vírus atacaram seus computadores, os ativistas se indagaram: será que estamos vendo fantasmas?
Entretanto existem também pesquisas alegando que o agente possivelmente cause prejuízos a plantas e animais; e o estudo mais recente demonstra que muitos moradores de grandes cidades vivem com o veneno no próprio corpo, sem terem conhecimento disso. Como tantas outra coisas relacionadas a esse assunto, é discutível o que exatamente o pesticida é capaz de provocar no organismo humano.
Dois dias antes da publicação do estudo em dezoito países, um vírus paralisou o computador do principal organizador, Adrian Bepp. Houve ameaça de cancelamento das entrevistas coletivas em Viena, Bruxelas e Berlin. “Surgiu pânico”, lembra Heike Moldenhauer da BUND. Os ativistas do meio ambiente viram-se correndo contra o tempo.
Moldenhauer e seus colegas tinham feito diversas especulações sobre os motivos e a identidade do misterioso agressor. A especialista em tecnologia genética do BUND acredita que o principal objetivo do desconhecido fornecedor do vírus tenha sido “gerar confusão”. Não há nada pior para uma pesquisa do que cancelar uma coletiva da imprensa. “E nós ficamos nos perguntando se estávamos vendo fantasmas”, diz Moldenhauer.
Não há nenhum indício de que Monsanto tenha sido o fantasma, ou que tenha algo a ver com o vírus. O grupo sustenta que não faria algo assim. Preza “agir com responsabilidade”: “hoje em dia é muito fácil fazer uma afirmação e de difundi-la”, diz a Monsanto. Dessa forma, prossegue “periodicamente são feitas afirmações duvidosas e populistas que denigrem nosso trabalho e nossos produtos, carecendo de qualquer abordagem científica.”
Os críticos do grupo têm outra visão. Ela tem a ver com a espessa trama tecida ao redor do mundo pela Monsanto, cujos entroncamentos estão localizados nos serviços secretos norte-americanos, nas suas forças armadas, em empresas de segurança privadas e, é claro, também junto ao governo dos EUA.
Um número expressivo de críticos da Monsanto relata ataques cibernéticos regulares, praticados com gabarito profissional. Também os serviços secretos e o serviço militar gostam de contratar hackers e programadores. Estes são especialistas em desenvolver cavalos de tróia e vírus para penetrar em redes de computadores alheios. O ex-agente da CIA Edward Snowden chamou atenção ao nexo entre as ações dos serviços de notícias e as movimentações da economia. No entanto, esta ligação perdeu força diante das demais denúncias.
Alguns dos poderosos defensores da Monsanto entendem bastante do assunto da guerra cibernética. “Imagine a internet como uma arma que está sobre a mesa. Ou você a pega, ou seu concorrente irá fazê-lo, mas alguém será morto”, foi o que disse Jay Byrne em 2001, quando era chefe de relações públicas na Monsanto.
É comum empresas lutarem com métodos escusos em função daquilo que consideram como seu direito, como sendo o certo. Porém, os termos “amigo ou inimigo”, “ele ou eu” já denotam linguagem de guerra. E numa guerra é preciso ter aliados – por exemplo, aqueles instalados no serviço secreto.
São conhecidos os contatos da Monsanto com o notório ex-agente secreto Joseph Cofer Black, que colaborou na formulação da “lei da selva”, na “campanha anti-terror” de George W. Bush. Ele é especialista para trabalho sujo, da linha dura. Trabalhou para a CIA durante quase trinta anos, sendo inclusive o chefe “antiterrorista”. Mais tarde seria o vice-presidente da empresa de segurança particular Blackwater, que mandou milhares de mercenários para o Iraque e o Afeganistão.
Pesquisas mostram como são estreitos os laços da direção da empresa com o governo central em Washington e com representações diplomáticas dos EUA no mundo inteiro. A Monsanto tem auxiliares eficazes em diversos lugares. Antigos colabores da corporação ocupam altos postos nos EUA, em departamentos governamentais e ministérios, em federações da indústria e universidades. Por vezes, são relações quase simbióticas. De acordo com informações da organização anti-lobby Open Secrets, no ano passado 16 lobistas da Monsanto ocuparam cargos de alto nível no governo norte-americano e em agências reguladoras.
Para a empresa, trata-se de ocupar novos mercados e em vender alimentos a uma população mundial que cresce em ritmo alucinante. A engenharia genética e as patentes relacionadas com plantas desempenham um papel importante nesse contexto. Nos Estados Unidos, o milho e soja geneticamente modificados representam 90% dos cultivos — e este percentual cresce de modo constante também no resto do mundo.
Apenas no mercado europeu, nada acontece. Diversos países da União Europeia (UE) têm muitas restrições com relação ao futuro da Monsanto, o que visivelmente desagrada ao governo dos EUA. No ano de 2009, Ilse Aigner, Ministra da Alimentação, Agricultura e Proteção ao Consumidor da Alemanha, filiada ao Partido da União Social-Cristã, havia banido o tipo de milho MON810 também dos campos alemães. Ao viajar logo depois para os Estados Unidos, foi interpelada pelo colega americano Tom Vilsack, com respeito à Monsanto. O político, do Partido Democrata, havia sido governador no estado federal Iowa, de característica rural, e logo tornou-se adepto dos transgênicos. Em 2001, foi eleito pela bioindústria como “governador do ano”.
Infelizmente, não há registro da conversa entre Vilsack e Aigner. Dizem que foi controvertida. Um representante do governo federal alemão descreve o tom do diálogo da seguinte forma: houve “esforços maciços de forçar uma mudança de rumo dos alemães com respeito à política genética” . A fonte da informação não quis se pronunciar sobre o tipo dos “esforços maciços”, nem sobre a tentativa de “forçar” alguma coisa. Isto não se faz entre amigos ou parceiros.
Graças a Snowden e ao Wiki-Leaks, o mundo pode imaginar o que acontece entre amigos e parceiros, quando o poder e o dinheiro estão em jogo. Dois anos atrás, o Wikileaks publicou despachos diplomáticos, que incluíam detalhes sobre a Monsanto e a engenharia genética.
Em 2007, por exemplo, o então embaixador norte-americano em Paris, Craig Stapleton, sugeriu ao governo dos EUA que elaborasse uma lista suja dos países da União Europeia que estivessem dispostos a proibir o plantio de sementes geneticamente modificadas por empresas norte-americanas. O teor da mensagem secreta: “A equipe parisiense sugere propor uma lista de medidas de retaliação que irá causar dores à Europa”. “Dores”, “retaliação” – a rigor, essa não é exatamente a linguagem da diplomacia.
A luta pela autorização do famoso milho geneticamente manipulado MON810 na Europa foi conduzida pela Monsanto com muito trabalho de lobby – e ao final, a empresa perdeu por completo. O produto foi banido inclusive dos mercados prestigiados da França e da Alemanha. Uma aliança entre políticos, agricultores e pessoas relacionadas às igrejas recusou a engenharia genética nas plantações, e os consumidores não a querem em seus pratos. No entanto, a batalha ainda não terminou. Nas negociações iniciadas nos mês passado entre os EUA e a UE, sobre um tratado de “livre” comércio, os Estados Unidos esperam, entre outras coisas, uma abertura dos mercados para a tecnologia genética.
Com o Tratado de Livre Comércio, EUA querem
abrir o mercado de transgênicos na Europa
Fazer lobby por uma empresa nacional no exterior é algo visto como dever cívico, nos EUA. Há muito, as mais significativas entre os dezesseis agências de inteligência norte-americanas entendem seu trabalho como apoio aos interesses econômicos norte-americanos no cenário mundial. Alegando combater o terrorismo, não somente espionam governos, órgãos públicos e cidadãos, mas também empenham-se — do seu modo muito peculiar — a favor de interesses econômicos do país.
Alguns exemplos:
> Várias décadas atrás, quando o Japão ainda não era uma potência econômica, surgiu nos Estados Unidos a pesquisa “Japão 2000”, elaborada por um colaborador do Rochester Institute of Technology (RIT) Através de uma “política comercial temerária”, assim dizia o estudo, o Japão estaria planejando uma espécie de conquista do mundo, e os perdedores seriam os EUA. A segurança nacional dos Estados Unidos estaria ameaçada e a CIA deu o grito de guerra.
> Na competição global, a economia norte-americana tinha que ser protegida dos “dirty tricks”, os truques sujos dos europeus, declarou o ex diretor da CIA James Woolsey. Por esta razão, os “amigos do continente europeu” estariam sendo espionados: os Estados Unidos são limpos…
> Edward Snowden esteve certa vez pela CIA na Suíça, e há dias relatou a maneira como a empresa teria tentado envolver um banqueiro suíço na espionagem de dados bancários. A União Europeia permitiu aos serviços norte-americanos examinar em profundidade os negócios financeiros de seus cidadãos. Segundo dizem, o objetivo é secar as fontes financeiras do terror. Os meios e os fins, entretanto, são altamente discutíveis.
Na Suíça que anteriormente foi palco de muitas histórias de agentes, desenrolou-se um dos episódios que tornaram a Monsanto particularmente misteriosa: em janeiro de 2008, o ex agente da CIA Cofer Black viajou para Zurique para encontrar-se com Kevin Wilson, na época, o responsável pela segurança para questões globais. A pergunta, a respeito do que os dois homens estariam falando, ficou no ar. Certamente os assuntos eram os de sempre: opositores, negócios, inimigos mortais…
O jornalista investigativo Jeremy Scahill, autor da obra sobre a empresa de mercenários Blackwater, escreveu em 2010, no jornal semanal americano The Nation, sobre esse estranho encontro em Zurique. Tinha recebido documentos vazados, a respeito do assunto. Deixavam claro que a Monsanto estava querendo se defender contra ativistas que queriam destruir suas plantações experimentais; contra críticos que se posicionavam contra a empresa de modificação genética. Cofer Black era, para todos os efeitos, a pessoa certa: “Vamos tirar as luvas de pelica”, havia declarado após os ataques de 11 de setembro, conclamando seus agentes da CIA a livrar-se de Osama bin Laden no Afeganistão: “Apanhem-no: quero a cabeça dele dentro de uma caixa”. Mas ele também entende muito do outro negócio do serviço secreto; aquele que opera com fontes de acesso público.
Efeitos tardios da guerra: muitas crianças vietnamitas sofrem pelo uso do "Agent Orange", mesmo décadas depois.  -    FOTO: ROLANDSCHMID/BLOOMBERG
Efeitos tardios da guerra: muitas crianças vietnamitas sofrem pelo uso do “Agent Orange”, mesmo décadas depois. – FOTO: ROLANDSCHMID/BLOOMBERG

Ao encontrar-se com Wilson, dirigente de segurança na Monsanto, Cofer Black ainda era vice na Blackwater, cujos clientes eram, entre outros, o Pentágono, o Departamento de Estado, a CIA, e logicamente, empresas particulares. Mas em janeiro de 2008 houve muitos tumultos, pois 17 civis foram assassinados no Iraque por mercenários da empresa de segurança, e alguns homens da Blackwater chamaram atenção de funcionários do governo iraquiano devido a atos de suborno. Acontece que Cofer Black, na época, era também o chefe da empresa de segurança Total Intelligence Solutions (TIS), uma subsidiára da Blackwater, e que, apesar de sua reputação menos devastadora, contava também com “experts” excelentes e versáteis…
De acordo com as próprias informações, a Monsanto fez negócio, na época, com a TIS e não com a Blackwater. Era inquestionável que a Monsanto fora abastecida pela TIS, com relatórios sobre as atividades dos críticos – as quais poderiam representar um risco para a empresa, seus colaboradores ou seus negócios operacionais. Fazia parte tanto coletar informações sobre ataques terroristas na Ásia quanto escanear páginas da internet e blogs. A Monsanto frisava que a TIS, obviamente, só tinha usado material de acesso público…
Isso corresponderia aos métodos de Cofer Black. Então – nada de ações escusas.
Costumava haver boatos frequentes de que a Monsanto quisera assumir o controle da TIS, objetivando a sua segurança geral. E hoje surgem novos rumores, segundo os quais o grupo estaria avaliando a possibilidade de assumir a empresa Academi, que formou-se após reorganizações da antiga Blackwater. Será que os rumores procedem? “Em geral, não discutimos os detalhes do nosso relacionamento com os prestadores de serviço – a não ser que essas informações já estejam disponíveis ao público”, foi a única resposta da Monsanto.
Toda empresa possui a sua própria história, e da história da Monsanto faz parte um assunto que queimou sua imagem não apenas junto aos hippies: no passado, a Monsanto esteve na linha de frente dos produtores do pesticida “Agente Laranja”, utilizado até janeiro de 1971 na guerra do Vietnã pelos militares norte-americanos. Os constantes bombardeios químicos desfolhavam as florestas para tornar o inimigo visível. Os campos eram envenenados para que o vietcong não tivesse mais nada para comer. Nas áreas pulverizadas multiplicou-se por dez o número de nascimentos de crianças com anomalias; nasciam sem nariz, sem olhos, com hidrocefalia ou fendas no rosto – e as forças armadas dos EUA asseguravam que o produto da Monsanto seria tão inofensivo quanto a Aspirina.
Será que na guerra, tudo é permitido?
Principalmente na moderna guerra cibernética?
Chama atenção o fato de que alguém esteja dificultando, hoje, a vida dos críticos da Monsanto, ou que alguma mão invisível esteja interrompendo carreiras. Mas, quem é esse alguém? São alvos de ataque cientistas como a australiana Judy Carman, que, entre outros, tornou-se conhecida com pesquisas de produtos transgênicos. Suas publicações são questionadas por professores, os mesmos que tentam minimizar a importância dos estudos de outros críticos da Monsanto.
Mas o assunto não se resume a escaramuças nos círculos científicos. Pois diversas páginas da internet onde Carman publica suas pesquisas, tornam-se alvo de ataques cibernéticos e, segundo impressão de pesquisadora, são sistematicamente observadas. Exames do IP de seu site demonstram que não apenas a Monsanto acessa regularmente essas páginas, mas também diversos órgãos do governo norte-americano ligados às forças armadas. Entre outros, o Navy Network Information Center, a Federal Aviation Administration e o United States Army Intelligence Center, um órgão do exército para o treinamento de soldados em tarefas de espionagem. O interesse da Monsanto nessas pesquisas pode ser observado, também no caso de Carman. “Mas não entendo, por que o governo americano e o exército mandam me observar“, diz ela.
Coisas estranhas aconteceram também com a GM Watch, uma organização crítica da engenharia genética. A colaboradora Claire Robinson fala de ataques cibernéticos constantes à página desde 2007. “Toda vez em que aumentamos a segurança do site, nossos oponentes tornam-se mais tenazes e seguem novos ataques, ainda piores”, explica. Também neste caso não se acredita em coincidência. Em 2012, quando o cientista francês Eric Séralini publicou uma pesquisa bombástica sobre os riscos à saúde representados pelo milho transgênico e o glifosato, o site da GM Watch foi atacado e bloqueado. Isso se repetiu quando foi publicado o posicionamento do órgão europeu de inspeção alimentar, a EFSA. Em ambos os casos, o momento foi habilmente escolhido: no exato instante em que os editores tentavam publicar os textos. Não foi possível determinar quem estava por trás dos ataques.
A própria Monsanto, como já foi dito, faz questão de frisar que opera “com responsabilidade“.
No entanto, é fato que a empresa tem muitos interesses em jogo. Trata-se de projetos legislativos, e em especial, das negociações em curso, relacionadas ao Tratado de “livre” comércio entre EUA e UE. Os capítulos sobre Agricultura e Indústria Alimentícia são particularmente delicados. Os norte-americanos têm como meta a abertura dos mercados europeus para os produtos até então proibidos. Ao lado das plantas transgênicas, estão incluídos aditivos controversos e a carne bovina tratada com hormônios. As negociações certamente ainda vão se arrastar por alguns anos.
O assunto é polêmico e as negociações serão duras. Por isso, o presidente Barack Obama apontou Islam Siddiqui como chefe das negociações agrícolas. Como especialista, trabalhou durante muitos anos para o ministério de Agricultura americano. Mas, o que poucos sabem na Europa: de 2001 a 2008 ele representou, como lobista registrado, a CropLife America, uma associação industrial que representa os interesses de produtores de pesticidas e produtos transgênicos. Entre eles, é claro, a Monsanto. “A rigor, a UE não poderia aceitar tal interlocutor, devido a seus interesses, opina Manfred Häusling que representa o Partido Verde no parlamento europeu.
Englentich, a rigor. No médio-alto alemão, esta palavra (eigentlich) sinificava “servil”, o que não seria uma má descrição do cenário atual — onde os políticos europeus, e em especial os alemães, revelam uma atitude de surpreendente aceitação, diante do fato de serem espionados com regularidade por órgãos norte-americanos.

1. A Monsanto é o a maior empresa agrária do mundo, e também a que lidera a engenharia genética. Em 2012, o grupo ampliou seu faturamento em 14%, em comparação ao ano anterior, chegando a 13,5 bilhões de dólares. O lucro subiu 25%, atingindo dois bilhões de dólares. No mundo todo, a empresa emprega 21.500 trabalhadores e tem filiais em mais de 50 países. Sua fundação data de 1901, pelo norte-americano John Queeny em St. Louis, no estado de Missouri. O nome foi uma homenagem à família de sua esposa. Primeiro, Queeny produziu o adoçante sacarina. Em pouco tempo, o fabricante de bebidas Coca-Cola passa a fazer parte de seus clientes. Logo depois da I Guerra Mundial, a Monsanto entrou no ramo dos produtos químicos. Sua ascensão foi rápida. Em 1927, ingressou na bolsa de valores, e ampliou sua atuação no setor químico, incluindo adubos e fibras sintéticas. Investiu até mesmo na indústria petrolífera. Depois da guerra do Vietnã, a Monsanto passou a focar mais intensamente o setor agrário, o desenvolvimento de herbicidas e em seguida a produção de sementes. Nos anos oitenta, a biotecnologia foi declarada seu alvo estratégico. O próximo passo foi a modificação consequente para uma empresa agrícola – e os outros segmentos foram deixados de lado.

Nossa fonte: Outras Palavras

sábado, 10 de agosto de 2013

De Arrimo a Estorvo

                                                    “...que nada nos limite,                        que nada nos defina, que nada nos sujeite,                        que a liberdade seja a nossa própria                              substância.” (Simone de Beauvoir)

Dona Pandá foi visitar a amiga Bastiana que está fazendo as malas para uma grave mudança. Esteve por lá algumas horas e voltou silenciosa, não quis comer, nem andar com os cachorros. Tomou uma chuveirada e se retirou para seu quarto. Passou uma semana com meias palavras. Parecia estar fechada. Seu rosto ficou marcado por rugas novas, vincando sua expressão numa carranca feia, pura expressão de um sofrimento de alma. Agora, disse precisar escrever. Como é seu hábito, contou-me o quê e como quer escrever. Ela praticamente dita, mas sua paciência pequenininha a leva logo embora, dizendo:
            - você sabe o que é para escrever, depois eu olho. –
Lá vamos nós nesta tentativa difícil. Não tenho certeza de que conseguirei dar o tom certo. Embora eu tenha sentido a tristeza imensa de Dona Pandá por sua amiga, há também uma revolta, uma raiva, uma impotência diante do inexorável. Pareceu-me que a Bastiana está com um sentimento diferente. Nela a tristeza tomou conta, não dando lugar a outros sentimentos. O receio de Dona Pandá é que possa haver sequelas, como descrença e perda da vontade de vida.
Bastiana acaba de fazer 70 anos. Sua preocupação com a saúde praticamente se resume ao esqueleto, é portadora de osteoporose. Tem uma vitalidade ignorante de preguiça. Costuma dizer que só se lembra das sete décadas vividas quando olha no espelho e, quase sempre, se assusta. Desde os 17 anos é responsável por sua vida física, financeira, emocional e mental. Liberdade e privacidade são dois valores relevantes e defendidos com muito zelo. Reconhece que seus três casamentos tiveram os laços desatados, sobretudo por ela, dando poucos créditos aos respectivos companheiros nas separações. Mora numa chácara que comprou há 17 anos. Transformou um terreno inóspito no lugar do seu retiro, onde convive com o que plantou em toda sua vida. Continua plantando, mas acha que seu tempo agora é mais de colheita. Cuida de seus cachorros, de plantas e escreve. As duas atividades – o cuidar e o criar – são colheitas do terreno preparado nesses anos por suas opções. Gosta e cultiva a solidão. No entanto, Bastiana me corrigiria, dizendo que gosta de estar só, mas não é solitária e quando sente vontade de papear com determinado amigo, rapidinho corre atrás do objeto de sua saudade. Cultiva algumas amizades antigas, preciosas. Poucos vêm visitá-la. Todos estão bem presentes, com intensa troca de mensagens e telefonemas. Há também, quando a estrada está intransitável para os carros urbanos dos amigos, alguns almoços no meio do caminho.
Dona Pandá é uma dessas amizades de muitos anos. Gosta de dizer que já comeu, pelo menos, dois sacos de sal junto com a amiga. Bastiana pediu demissão de seu último emprego e veio morar na chácara, convencendo Dona Pandá a fazer o mesmo. Tornaram-se vizinhas e parceiras em algumas atividades. Bastiana é escritora e ajuda a amiga em suas incursões literárias. O caminho inverso é feito mais na área da terra. Dona Pandá gosta de descobrir novos tratamentos para as plantas. Gosta mais ainda de repassar suas descobertas e a amiga-vizinha é sua principal receptora.
As duas amigas têm muitas afinidades, além de uma história de vida semelhante. Acham que Bastiana possui um diferencial privilegiado. Tem uma família muito especial. Suas irmãs, que moram nas terras do Serrado Goiano, são pessoas de qualidades excepcionais, unidas, solidárias, generosas. Além de ter o filho e a nora que pediu ao Universo. Dona Pandá confessa despudoradamente que, neste aspecto, inveja a amiga.  Ambas são mulheres que batalharam muito pela liberdade. A vida que têm, hoje, é fruto dessas batalhas.  Planejaram suas vidas para desfrutarem uma velhice tranquila no meio do mato, o lugar de origem. Ao se mudarem para suas chácaras, trabalharam duro para conseguir a emoção do cheguei ao meu lugar. Esta é a expressão que usam ao falar de suas moradas.
Dona Pandá encontrou sua amiga bem esquisita. Bastiana não estava de mau humor, mas tinha dificuldade de falar. Abria a boca e gaguejava. Começava a falar emboladamente, como se quisesse e, ao mesmo tempo, não contar algo grave. Ao final, como era de se esperar, tratava-se do seu amigo predileto, um jovem senhor. Ele e sua linda mulher chegaram para o almoço semanal.   O rapaz começou, então, a se mostrar preocupado com a segurança da setentona. Disse que iria colar alguns pedaços de lixa na calçada ao redor da casa para evitar escorregões. Como ele é muito criativo, sobretudo quando se trata de desenhos e música, já estava bolando recortes que deixariam as calçadas bem bonitas. Depois outras preocupações foram explicitadas: as varandas precisavam ser reformadas, a escada demandava uma grade.  Bastiana estava achando até engraçado tantos cuidados logo após seus 70. Estranhando o fato de não ser consultada, pensou, em determinado momento, como seria se resolvesse dar uma faxina na casa do amigo.
O final do dia foi a frase que expressou a preocupação máxima do rapaz com a segurança da anfitriã. Ela deveria se mudar para junto das irmãs, retornar a Goiás. Bastiana não falou com tranquilidade de sua emoção.  Lembrou-se do pai que se sentia extremamente culpado por ter, seguindo o conselho médico, tirado o avô da fazenda onde ele sempre morou. O avô viveu (?) até os 90 anos na cidade. Não teve o enfarto vaticinado caso continuasse a trabalhar na fazenda, mas perdeu a memória, a alegria. Passou anos sentado, alheio à vida preservada. 
Bastiana ficou  espantada por não ser compreendida em suas convicções, em sua  maneira de viver e de valorar a vida. O sentimento maior é a tristeza e junto foi apresentada à solidão.
Dona Pandá se revoltou, sentiu muita raiva do inexorável. De um lado, a velhice com suas exigências, sua desarmonia entre o físico e o emocional-intelectual e do outro, a juventude desmemoriada e presunçosa.  Bastaria a lembrança honesta de uma época quando os cuidados com a fragilidade da idade eram dados com a observância da primazia emocional.
Já é desgastante o enfrentar dos mais variados procedimentos da sociedade. Alguns, embora reconhecidamente necessários, não conseguem deixar de humilhar pela distinção negativa. Na fila do banco, os olhares e resmungos impacientes; na carteira de motorista, o aviso pleonástico de que se trata de maior de 65 e, em tantos outros lugares, onde a idade é vista com irritação e, muitas vezes, intolerância e preconceito. Os velhos, como todas as pessoas, não são todos iguais, sentem e têm necessidades diferentes, mas o espaço conquistado talvez seja uma constante para todos.
Neste instante, chegam atrás de mim, para ler o texto, Dona Pandá e a amiga. Bastiana  sorri e, procurando minimizar o acontecido, explica que, curada a ressaca, está mesmo fazendo as malas. A acolhida das irmãs, quando lhes foi contada a possibilidade de sua ida para o Serrado Goiano, foi tão gostosa, quanto estimulante.  

O retrato de um país no romance O Cortiço de Aluísio Azevedo

É como romancista social que melhor se afirmou o talento de Aluísio. É o escritor apaixonado, o artista combativo, pondo a nu os problemas sociais e morais da realidade brasileira do seu tempo: o preconceito de cor, os preconceitos de classe, a ganância de lucro fácil – e todas as injustiças e misérias decorrentes. Mais do que o indivíduo, é a sociedade que lhe interessa. Mais que miniaturista da alma, é o pintor de amplos murais. E é na pintura um verdadeiro impressionista: colorido vivo, tons fortes e quentes. Mostra preferência pelos tipos vulgares e grosseiros, pelos ambientes sujos e situações deprimentes – é o artista procurando acordar a consciência do leitor da sociedade comprometida nas injustiças.

O impacto da industrialização, como sabemos, promoveu a centralização urbana em escala nunca vista, criando novas e terríveis formas de miséria – inclusive a da miséria posta diretamente ao lado do bem-estar, com o pobre vendo a cada instante os produtos que não poderia obter. Essa nova situação logo alarmou as consciências mais sensíveis e os observadores lúcidos, gerando uma série de romances que a denunciam. Aluísio foi o primeiro dos nossos romancistas a descrever minuciosamente o mecanismo de acumulação do capital. No seu romance, está presente o mundo do trabalho, do lucro, da competição, da exploração econômica visível, que dissolvem a fábula e sua intemporalidade.

Antonio Candido conta que no final do século XIX era corrente no Rio de Janeiro o ditado humorístico: “Para português, negro e burro, três pês: pão para comer, pano para vestir, pau para trabalhar”. O crítico literário explica que, para o brasileiro livre daquele tempo, com tendência mais ou menos acentuada para o ócio, favorecido pelo regime de escravidão, o português se nivelaria ao escravo porque, de tamanco e camisa de meia, parecia depositar-se (para usar a imagem usual da época) na borra da sociedade, pois “trabalhava como um burro de carga”. A diferença consistia em que: “enquanto o negro escravo e depois liberto era de fato confinado sem remédio às camadas inferiores, o português, falsamente assimilado a ele pela prosápia leviana dos ‘filhos da terra’ podia eventualmente acumular dinheiro, subir e mandar no país meio colonial”.

No romance, o português João Romão não se distingue, inicialmente, pelos hábitos, da escrava Bertoleza: “empilhando privações sobre privações, trabalhando e mais a amiga como uma junta de bois”. Mas João Romão era o proprietário do cortiço, do qual vai tirando os meios que o elevam no fim do livro ao andar da burguesia, pronto para ser comendador ou visconde.

Bertoleza, apesar de ser explorada até a exaustão por seu companheiro, era feliz, pois vivia iludida na sua falsa liberdade. Ela só compreendeu a sua posição e a sua condição de “animal de trabalho” com a transformação do companheiro. “E Bertoleza bem que compreendia tudo isso e bem que estranhava a transformação do amigo. Ele ultimamente mal se chegava para ela e, quando o fazia, era com tal repugnância, que antes não o fizesse. A desgraçada muitas vezes sentia-lhe cheiro de outras mulheres, perfumes de cocotes estrangeiras e chorava em segredo, sem ânimo de reclamar seus direitos. Na sua obscura condição de animal de trabalho, já não era o amor que a mísera desejava, era somente confiança no amparo de sua velhice quando de todo lhe faltassem as forças para ganhar a vida”.

No momento em que enriqueceu e que foi aceito como futuro marido da filha de Miranda, o negociante português, proprietário do sobrado vizinho ao cortiço, João Romão quis se livrar da escrava Bertoleza. Ele sentia-se atrelado à “negra dos diabos, e não conseguia arredar logo de sua vida aquele ponto negro: apagá-lo rapidamente, como quem tira da pele uma nódoa de lama!” João Romão se via como alguém que lutara muito e que estava prestes a ver seus sonhos ambiciosos se desfazerem no ar.

João Romão contou com a ajuda de Botelho para se livrar de Bertoleza. Saudosista, o velho Botelho, na sua juventude, fora um comerciante de escravos, profissão da qual muito se orgulhava. Foi com muita decepção e raiva que tomou conhecimento das ideias da época sobre abolição. Sempre que podia vociferava, classificando os abolicionistas e os partidários da Lei Rio Branco de “cáfila de salteadores”. O Brasil, em sua opinião, só tinha uma serventia: “enriquecer os portugueses, e que, no entanto, o deixara, a ele, na penúria”.

O final do romance seguiu uma forma crítica, apontando os “abolicionistas de ocasião”, como refere a historiadora Marília Conforto. João Romão denunciou Bertoleza aos seus antigos donos, que vieram até a venda resgatar a escrava fugida.

Ao ver seus antigos donos e pressentir o que estava para lhe acontecer, Bertoleza se suicida. João Romão, então livre da sua “nódoa de lama”, lucrou novamente com a moribunda instituição escravista. Nesse momento (o do suicídio de Bertoleza), parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinha de casaca, trazer a João Romão o diploma de sócio benemérito. Ele mandou que um empregado os conduzisse para a sala de visitas!

(*) Mestre em Direito. Doutoranda em Letras. Analista Tributário da Receita Federal do Brasil


Bibliografia:
Azevedo, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Expressão Popular, 2011.
Candido, Antonio. De cortiço a cortiço. In: Azevedo, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Expressão Popular, 2011.
Conforto, Marília. Faces da personagem escrava. Caxias do Sul: EDUCS, 2001

Nossa fonte: Vermelho

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Nota de solidariedade aos camponeses de São João da Barra

Compartilhando

As atrocidades provocadas pela CODIN e pela LLX, na expulsão dos camponeses de suas terras, estão deflagrando processos depressivos tanto aos que efetivamente perdem suas terras ou estão sob ameaça de perdê-las.

Movimento dos Pequenos Agricultores

O Estado do Rio Janeiro vive um intenso processo de desagriculturalização e de desrespeito aos direitos fundamentais daqueles que produzem alimentos. Em São João da Barra, na região do Norte Fluminense, a construção do Complexo Portuário do Açu, obra financiada com recursos públicos do BNDES, está realizando a expulsão de 1500 famílias camponesas para a instalação do "Distrito Industrial de São João da Barra". 90% das terras agricultáveis da região onde será instalado o empreendimento foram desapropriadas pelo Decreto 41.915/RJ do Governador Sérgio Cabral.

As atrocidades provocadas pela Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio de
Janeiro (CODIN) e pela LLX, na expulsão dos camponeses de suas terras, estão deflagrando processos depressivos tanto aos que efetivamente perdem suas terras ou estão sob ameaça de perdê-las. Até o momento, tivemos conhecimento de três mortes de camponeses relacionadas às ações terroristas do Estado e da LLX.

Hoje, dia 01 de agosto, recebemos a noticia do falecimento Sr. José Irineu Toledo, camponês que nasceu na Comunidade de Água Preta, em São João da Barra, onde trabalhou ao longo de toda sua vida em sua pequena propriedade, por meio da qual sustentava sua família por meio da produção de alimentos. Não por trágica coincidência, nos momentos em que amigos e parentes velavam seu corpo, a CODIN, amparada pela Policia Militar, realizava a desapropriação da pequena propriedade de terra do Sr. José Irineu Toledo, mostrando a verdadeira cara do Estado e do Porto do Açu que destroem a vida dos camponeses que produzem alimentos.

Neste sentido, o Movimento dos Pequenos Agricultores vem a público expressar sua solidariedade à família de Sr. José Irineu Toledo e a todos os camponeses, ameaçados pela CODIN e pela LLX, e reafirmar nossa disposição de lutar juntos a eles em defesa da vida e de seus direitos.

Movimento dos Pequenos Agricultores

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Começa hoje o Festival de Cinema de Locarno


7/8/2013 13:19
Por Rui Martins, de Locarno



Dose Dupla, com Denzel Washington, abre hoje ä noite o Festival de LocarnoCom dez filmes falados em português, quatro deles em competição internacional, a lusofonia tem um bom lugar dentro do Festival Internacional de Cinema de Locarno, que começa hoje, na Suíça, com um filme de ação americano, Dose Dupla, dirigido pelo cineasta islandês Baltasar Kormákur, com Denzel Washington (foto), sobre um tema bem atual – espionagem e infiltração de agentes secretos num país estrangeiro.

Durante muitos anos, Locarno foi um festival mais para cinéfilos, com filmes vindos do cinema independente de países emergentes, mas agora está a mudar – não renegou seu passado porém abriu a porta para o grande público, trazendo o glamour ou a atração de astros e estrelas. Mas, em lugar do tapete vermelho para Faye Dunaway, Victoria Abril, Anna Karina, Christopher Lee, tem um microfone para, num encontro interativo, conversarem com o público. E para os amantes do classissismo hollywoodiano, Locarno tem uma retrospectiva de 49 filmes de George Cukor.

Porém, não houve lugar para os Palop, os países africanos de língua portuguesa.

Carlo Chatrian, o italiano novo diretor de Locarno, não achou nenhum bom filme africano. Só uma coprodução francoargelina de Karim Mussaoui, Les Jours d´Avant , contando uma história de amor ao sul de Argel.

Os lusófonos são representados pelo Brasil e Portugal, ambos na competição internacional das longas-metragens com Educação Sentimental, de Júlio Bressane, e E Agora ? Lembra-me, de Joaquim Pinto. E, na competição das curtas-metragens, com Tremor, de Ricardo Alves Jr., e Versalhes, de Carlos Conceição.

Há um homenagem póstuma ao realizador português Paulo Rocha e a presença de João Pedro Rodrigues, com o filme O Corpo de Afonso, e da dupla João Rui Guerra da Matta com João Pedro Rodrigues no filme Mahjong.
 Rui Martins, de Locarno, convidado pelo Festiva

Nossa Fonte: Correio do Brasil

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Como a falsa “austeridade” europeia está contaminando o mundo




Dois estudos indispensáveis revelam: políticas de corte de direitos sociais e serviços públicos já atingem maior parte do planeta, interessam a um pequeno grupo e ameaçam democracia

Por Antonio Martins (em seu blog)

Três dados muito eloquentes sobre o fracasso das políticas de ”austeridade fiscal” estão sendo divulgados no início desta semana. Em Portugal, tornaram-se públicos os planos do governo para reduzir em 10% o valor das aposentadorias. Na Espanha, missão do FMI, em visita ao país sugeriu o que chamou de “ambicioso pacto social”: os trabalhadores na ativa aceitariam cortar seus salários, também em 10%, para tornar a produção nacional “mais competitiva”. Ataques aos direitos sociais vêm se sucedendo pelo menos desde 2011, no Velho Continente, mas a cada dia parecem mais inúteis — ou, o que é mais provável, visam outros objetivos, que não os declarados. Números divulgados hoje revelam que a economia italiana viveu, entre abril e junho, o oitavo trimestre seguido de recessão, algo nunca antes visto na história daquele país… Engana-se, porém, quem julga que a obsessão por tais políticas é característica apenas da Europa.

Em março deste ano, duas organizações internacionais voltadas ao exame crítico das políticas econômicas (Initiative for Policy Dialogue e South Center) publicaram conjuntamente o relatório A Era da Austeridade [The Age of Austerity]. Ele pode ser lido aqui e revela que:

a) Houve uma mudança drástica, por volta de 2010, nas políticas adotadas pela maior parte dos governos em relação à crise financeira aberta em 2008. Numa primeira fase, adotou-se, corretamente, ações para ampliar o investimento público. Mas há três anos, elas vêm sendo revertidas. Em sua grande maioria, os Estados continuam a usar recursos públicos para salvar instituições financeiras amaçadas. Mas reverteram as as políticas de criação de empregos e a expansão de serviços públicos. Isso foi possível porque, até o momento, foi possível vender às sociedades a ideia de que aposentadorias dignas, ou serviços de Saúde eficientes, são “gorduras” a ser cortadas — mas os ganhos da oligarquia financeira, não! China, principalmente e a maior parte da América do Sul, em menor escala, são exceções à regra.

b) Oitenta por cento da população do planeta, ou 5,8 bilhões de habitantes já vivem sob políticas de “austeridade”. E elas são mais fortes entre os países em desenvolvimento (onde, em média, a relação entre investimento público e PIB caiu 3,7 pontos percentais) do que entre os “desenvolvidos” (queda de 2,2 pontos).

Que explica a adoção de políticas que reduzem os negócios e, à primeira vista, os próprios lucros dos capitalistas? É algo a ser examinado com atenção, mas ao menos dois elementos devem ser levados em conta:

> Construiu-se nos últimos anos, a partir de argumentos ideológicos, uma fraude teórica. Difundiu-se a ideia de que a elevação dos investimentos públicos gera déficits; e que, segundo modelos estatísticos indesmentíveis, estes reduzem a produção de riquezas. Trata-se de um argumento já desmascarado pelos fatos, conforme demonstra nosso colaborador Álvaro Bianchi.

> Esta manipulação interessa, objetivamente, a uma subclasse social: a aristocracia financeira, o 1% (ou menos da população) que extrai sua riqueza dos rendimentos pagos pelo Estado, na forma de juros. Quem a analisa é o filósofo Patrick Viveret, aqui. Embora reduzidíssimo, este grupo tem imenso poder sobre os governos, o mundo político em geral e a mídia. A ele importa que os Estados gastem cada menos com serviços públicos (e mais consigo mesmo…). A ele interessa, sobretudo, esvaziar a democracia, para que as atuais políticas sejam irreversíveis.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

MÍDIA NINJA


Mídia de massa vs. massa de mídias


 
Luciano Martins Costa  
                          Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 6/8/2013

A Folha de S. Paulo foi o único dos jornais de circulação nacional a reservar um espaço para a participação de representantes do coletivo Mídia Ninja no programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, exibido na segunda-feira (5/8). Ainda assim, o texto é apenas um relato burocrático de parte das perguntas e respostas, com um título que falseia o que foi o evento.

“Idealizadores do grupo Mídia Ninja negam vinculação partidária”, diz o título da Folha na edição de terça-feira (6). No subtítulo, logo abaixo, pode-se ler: “Ao Roda Viva, Pablo Capilé e Bruno Torturra admitem captação de recursos públicos”.

Trata-se de um artifício primário de manipulação de informação, uma vez que esses dois tópicos compuseram uma parte irrelevante do programa e haviam sido extensivamente esclarecidos pelos dois entrevistados. A afirmação negativa é uma maneira tosca de insinuar ser verdadeiro aquilo que está sendo desmentido.

Seria o mesmo que publicar um texto com o título: “Jornais negam que tenham feito operação ilegal com dólar na compra de equipamentos gráficos”. Ora, se alguém quiser insinuar que a imprensa tradicional deve favores a determinado grupo político, essa seria uma forma de dar um ar de veracidade a essa especulação. O mesmo seria dizer que “tal grupo de comunicação nega que defende fulano porque em seu governo recebeu ajuda generosa do BNDES”.

No caso do Mídia Ninja,o texto da Folha demonstra ainda que o jornal não entendeu ou não admite a possibilidade de se construir uma mídia sem dono, horizontalizada, com uma diversidade tão grande de lideranças que se torna difícil classificá-la segundo os parâmetros tradicionais.

Os dois jovens foram provocados por alguns dos experientes entrevistadores, em sequências de perguntas que teriam desconcertado qualquer um. Mas responderam com segurança e clareza, enfrentando questões polêmicas como o financiamento público de ações culturais e simpatias partidárias pessoais.

Uma das lições mais interessantes passadas aos telespectadores foi a afirmação de que, mesmo composto por ativistas que simpatizam com esta ou aquela corrente política, o movimento tem um caráter amplo e democrático. Eles não omitem seu posicionamento político, que, na falta de melhor expressão, é definido como “de esquerda”, mas dialogam com qualquer grupo.

O mito da imparcialidade

Essa é provavelmente a diferença essencial entre a “mídia de massa” que marca o jornalismo como indústria e a “massa de mídias”, que identifica o jornalismo ativista das redes sociais.

O entrevistado Pablo Capilé foi muito claro ao se referir ao ambiente hipermediado como uma “massa de mídias”, na qual o jornalista se engaja em uma atividade que, segundo Bruno Torturra, pode ser definida como “midiativismo”. Esse foi um dos pontos mais interessantes do programa, porque permite ao telespectador, eventual leitor de jornais, raciocinar sobre a natureza da mídia tradicional e o que pode vir a ser a “massa de mídias”.

A imprensa clássica que conhecemos também é midiativista, mas seu engajamento não está necessariamente a serviço da sociedade, ou, pelo menos, não costuma contemplar a complexidade social e política do país. Como dizia o falecido diretor responsável de O Estado de S. Paulo, Ruy Mesquita, os jornais se dirigem prioritariamente, quando não exclusivamente, a uma elite econômica, intelectual e política.

Ao afirmarem, sem constrangimento, que a Mídia Ninja está engajada em um projeto progressista, inclusivo e “de esquerda”, os dois entrevistados fazem desvanecer a fumaça da falsa imparcialidade da imprensa. Mais especificamente, o que os jovens midiativistas deixaram claro, como fonte de reflexão para os telespectadores da TV Cultura, foi que o mito da imparcialidade pode ser superado pela prática da multiparcialidade.

Ou seja, a imprensa tradicional finge uma isenção e uma objetividade que supostamente justificam sua existência quando, na verdade, não passam de uma farsa; enquanto o midiativismo em rede declara sua condição de ação política e comunicacional afirmativa, apoiada em uma visão de mundo progressista.

Essa diferença mostra, por exemplo, como os midiativistas dão voz até mesmo aos anarquistas agregados no grupo chamado Black Bloc, durante as manifestações que ocupam as grandes cidades brasileiras, tentando compreender suas razões, mesmo discordando do uso da violência e do vandalismo nos protestos.

Essa e outras questões estão fora do alcance da mídia tradicional, porque ela tem como objetivo interpretar o fenômeno, para justificar sua crença numa determinada ordem social, e não compreendê-lo.

A polêmica se estende ao infinito, e só a inteligência complexa e heterogênea das redes sociais pode permitir que ela avance pela sociedade adentro.

Intervenção na RedeTV!

Por Beto Almeida  para Correio do Brasil - de São Paulo



O Sindicato dos Radialistas de SP, que denuncia e comprova as irregularidades, vai além e pede ao Governo que casse a concessão da REDETV


Ironia da história: quanto mais os governos Lula e Dilma tenham evitado tomar medidas fortes, fugindo de possíveis rupturas, para democratizar a comunicação, mais o desenrolar do processo político tem colocado diante deles oportunidades e desafios novos para avançar nesta área em que o campo popular leva uma surra por dia das elites. Em 2003, em crise, a Globo Cabo bateu às portas do BNDES em busca desesperada de recursos para safar-se de sua má administração.. Nossa proposta, na época, apresentada numa Audiência Pública para discutir especificamente aquela crise, na Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação da Câmara Federal, foi de que o banco público, sim, aportasse recursos públicos, mas não na forma de empréstimos, mas tornando-se acionista da empresa dos Marinho. Na época, o governo declarara que “a crise da Globo era uma questão de estado”. Lamentavelmente, a situação de debilidade da empresa não foi aproveitada pela via de uma medida democrática que colocasse mais presença do estado para impedir irresponsabilidades praticadas na administração de uma concessão de serviço público de televisão. Oportunidade perdida.

Por mais que a SECOM, com marcada presença de mentalidade tucana em seus quadros, mantenha intacta a dívida informativo-cultural contra os brasileiros e por mais que o Ministro das Comunicações, utilize-se das Páginas Amarelas da Veja para desrespeitar uma história de lutas e a militância de seu próprio partido, defendendo ali o privilégio dos magnatas da mídia, surge agora, inesperadamente, nova oportunidade para o governo Dilma recuperar democraticamente para a legalidade, a concessão de TV nas mãos da REDETV. Em completo desacordo com a legislação, os concessionários deste canal foram denunciados vigorosamente pelo Sindicato dos Radialistas de São Paulo por violar leis previdenciárias, trabalhistas, tributárias, a Constituição e as próprias normativas do Minicom. Mesmo assim, a empresa que dirige a REDETV continua recebendo recursos publicitários da SECOM, o que configura conivência com as irregularidades denunciadas.

O Sindicato dos Radialistas de SP, que denuncia e comprova as irregularidades, vai além e pede ao Governo que casse a concessão da REDETV. Vale lembrar, na triste memória de um rol infindável de irregularidades que marcam a comunicação no Brasil, que esta crise neste canal se arrasta desde 1992, Naquela altura, quando um colapso trabalhista, tributário, administrativo e financeiro envolveu a então TV Manchete, Leonel Brizola, governador do Rio, e a Cut, candidataram-se a dirigir a concessão de televisão, que hoje é a REDETV. O governo federal de então preferiu, como a SECOM hoje, não alterar os privilégios que magnatas da mídia têm no Brasil desde que aqui se instalou a televisão. A concessão foi entregue a um grupo empresarial que manteve todas as irregularidades que conduziram à crise da então Rede Manchete, irregularidades logo transferidas para o grupo concessionário atual, que as prorrogou até hoje. O que irá diferenciar a conduta da SECOM de administrações passadas? Eis aí a nova oportunidade.

De um governo progressista espera-se, no mínimo, que impeça lesão de recursos públicos e utilize suas prerrogativas legais, entre elas a intervenção temporária na REDETV, até que seja democraticamente discutida com a sociedade, via Congresso, nova destinação para a concessão pública do canal. Condição inarredável: cumprimento rigoroso da Constituição. Especialmente na linha do artigo da Carta Magna, que prevê a complementaridade entre os sistemas público, privado e estatal de comunicação. Eis aí a nova oportunidade para saldar, pelo fortalecimento da missão pública em uma área eminentemente pública que é a TV, a gigantesca dívida informativo-cultural que se formou, por décadas e décadas, contra o povo brasileiro.

Beto Almeida Jornalista, Membro da Junta Diretiva da Telesur.

XIX Encontro do FORO DE SÃO PAULO:


Editor do Vermelho faz balanço do 19º Foro de São Paulo

“O 19º Encontro do Foro de São Paulo reafirmou seus princípios e bandeiras de luta relacionadas com o aprofundamento da integração regional justa, soberana e equitativa”, afirmou José Reinaldo Carvalho, editor do Portal do Vermelho, ao fazer balanço da realização do evento, em mais uma edição do Ponto de Vista. Segundo ele, o Foro encerra suas atividades com balanço positivo.


José Reinaldo salientou que esta edição do Foro de São Paulo, que ocorreu entre os dias 31 de julho e 4 de agosto, reuniu cerca de 300 representantes internacionais, provenientes de 39 países, da América Latina e de outras regiões debateram uma vasta pauta política e ideológica, apontando para o desenvolvimento em novo nível da luta política e social das forças de esquerda.

“Ao balanço positivo do 19º Encontro do Foro de São Paulo, incorporam-se a atenção, a unidade e o compromisso da esquerda latino-americana com as próximas eleições deste ano e de 2014 que são fundamentais para a garantia da continuidade e do aprofundamento necessários, para que as forças de esquerda, democráticas e progressistas saiam vitoriosas, com melhores posicionamentos e maiores espaços de poder”, externou o dirigente.

Ouça a íntegra na Rádio Vermelho: Programa Ponto de Vista

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Cientistas descobrem o que está matando as abelhas, e é mais grave do que se pensava

Como já é sabido, a misteriosa mortandade de abelhas que polinizam US $ 30 bilhões em cultura só nos EUA dizimou a população de Apis mellifera na América do Norte, e apenas um inverno ruim poderá deixar os campos improdutíveis. Agora, um novo estudo identificou algumas das prováveis causas ​​da morte das abelhas, e os resultados bastante assustadores mostram que evitar o Armagedom das abelhas será muito mais difícil do que se pensava anteriormente.

As vendas de fungicidas cresceram mais de 30% e as vendas de inseticidas também cresceram significativamente no Brasil durante o primeiro trimestre de 2013. Divulgou a suíça Syngenta, uma das maiores empresas de agroquímicos e sementes do mundo. Crédito: Ben Margot/AP

Os cientistas tinham dificuldade em encontrar o gatilho para a chamada Colony Collapse Disorder (CCD), (Desordem do Colapso das Colônias, em inglês), que dizimou cerca de 10 milhões de colmeias, no valor de US $ 2 bilhões, nos últimos seis anos. Os suspeitos incluem agrotóxicos, parasitas transmissores de doenças e má nutrição. Mas, em um estudo inédito publicado este mês na revista PLoS ONE, os cientistas da Universidade de Maryland e do Departamento de Agricultura dos EUA identificaram um caldeirão de pesticidas e fungicidas contaminando o pólen recolhido pelas abelhas para alimentarem suas colmeias. Os resultados abrem novos caminhos para sabermos porque um grande número de abelhas está morrendo e a causa específica da DCC, que mata a colmeia inteira simultaneamente.

Quando os pesquisadores coletaram pólen de colmeias que fazem a polinização de cranberry, melancia e outras culturas, e alimentaram abelhas saudáveis, essas abelhas mostraram um declínio significativo na capacidade de resistir à infecção por um parasita chamado Nosema ceranae. O parasita tem sido relacionado a Desordem do Colapso das Colônias (DCC), embora os cientistas sejam cautelosos ao salientar que as conclusões não vinculam diretamente os pesticidas a DCC. O pólen foi contaminado, em média, por nove pesticidas e fungicidas diferentes, contudo os cientistas já descobriram 21 agrotóxicos em uma única amostra. Sendo oito deles associados ao maior risco de infecção pelo parasita.

O mais preocupante, as abelhas que comem pólen contaminado com fungicidas tiveram três vezes mais chances de serem infectadas pelo parasita. Amplamente utilizados, pensávamos que os fungicidas fossem inofensivos para as abelhas, já que são concebidos para matar fungos, não insetos, em culturas como a de maçã.

"Há evidências crescentes de que os fungicidas podem estar afetando as abelhas diretamente e eu acho que fica evidente a necessidade de reavaliarmos a forma como rotulamos esses produtos químicos agrícolas", disse Dennis vanEngelsdorp, autor principal do estudo.

Os rótulos dos agrotóxicos alertam os agricultores para não pulverizarem quando existem abelhas polinizadoras na vizinhança, mas essas precauções não são aplicadas aos fungicidas.

As populações de abelhas estão tão baixas que os EUA agora tem 60% das colônias sobreviventes do país apenas para polinizar uma cultura de amêndoas na Califórnia. E isso não é um problema apenas da costa oeste americana - a Califórnia fornece 80% das amêndoas do mundo, um mercado de US $ 4 bilhões.

Nos últimos anos, uma classe de substâncias químicas chamadas neonicotinóides tem sido associada à morte de abelhas e em abril os órgãos reguladores proibiram o uso do inseticida por dois anos na Europa, onde as populações de abelhas também despencaram. Mas Dennis vanEngelsdorp, um cientista assistente de pesquisa na Universidade de Maryland, diz que o novo estudo mostra que a interação de vários agrotóxicos está afetando a saúde das abelhas.

"A questão dos agrotóxicos em si é muito mais complexa do acreditávamos ser", diz ele. "É muito mais complicado do que apenas um produto, significando naturalmente que a solução não está em apenas proibir uma classe de produtos."

O estudo descobriu outra complicação nos esforços para salvar as abelhas: as abelhas norte-americanas, que são descendentes de abelhas europeias, não trazem para casa o pólen das culturas nativas norte-americanas, mas coletam de ervas daninhas e flores silvestres próximas. O pólen dessas plantas, no entanto, também estava contaminado com pesticidas, mesmo não sendo alvo de pulverização.

"Não está claro se os pesticidas estão se dispersando sobre essas plantas, mas precisamos ter um novo olhar sobre as práticas de pulverização agrícola", diz vanEngelsdorp.

Fonte: Quartz News

Sociedade civil duvida se Congresso será capaz de votar reforma política




Manifestantes da CUT e do MST param no lago em frente ao Congresso

Sob a descrença de movimentos sociais, os deputados que fazem parte do grupo de trabalho da reforma política da Câmara terão o desafio de chegar na próxima semana a um texto que concilie os interesses dentro e fora do Congresso. O Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) questiona o sucesso da discussão do tema no Congresso.

– Há um pessimismo sobre o que este Congresso pode produzir sobre reforma política – disse o advogado especialista em direito eleitoral do MCCE, Luciano Santos. Para ele, até agora, todas as vezes que deputados e senadores se movimentaram “foi para retroceder, facilitar a vida de quem hoje já detém mandato”.

O advogado lembrou que a mais recente comissão fracassada sobre o tema, que teve como relator do deputado gaúcho Henrique Fontana (PT), trabalhou por mais de dois anos. A proposta foi engavetada antes de ser votada em plenário.

– Foi gasto muito dinheiro nisso, a comissão realizou audiências públicas em todo o país – disse.

Hoje o projeto (PL 5735/13) que serve de base para a discussão do novo grupo que trata do assunto tem vários pontos polêmicos como o que autoriza candidatura de quem teve as contas rejeitadas pela Justiça Eleitoral. Ainda pela proposta, as despesas pessoais do candidato, como deslocamento em automóvel próprio, remuneração de motorista particular, alimentação, hospedagem e chamadas telefônicas de até três linhas registradas no nome do candidato não precisarão ser comprovadas na prestação de contas.

Na avaliação de movimentos que militam nessa causa, a única alternativa viável para uma verdadeira reforma política é a aprovação de um projeto de iniciativa popular. Duas propostas estão em fase de recolhimento de assinaturas. A do MCCE batizada de eleições limpas, sugere em um dos pontos a adoção do sistema eleitoral em dois turnos para o legislativo. “No primeiro turno o eleitor votaria só na plataforma do partido e no segundo turno escolheria que candidato deveria executar o plano”, explicou Luciano Santos.

A outra proposta, elaborada pela Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político. propõe um texto mais amplo que do MCCE: propõe que determinados temas como, por exemplo, aumento dos salários dos parlamentares, grandes obras e privatizações, só possam ser decididos pelo povo por meio de plebiscito e referendo. Para que um projeto de iniciativa popular seja apresentado ao Congresso é necessário que ele venha avalizado por 1,5 milhão de assinaturas.

Para que as novas regras tenham validade nas eleições de 2014, o texto teria de ser votado pelo Congresso e sancionado pela presidenta Dilma Rousseff até o dia 3 de outubro. A dois meses do fim desse prazo representantes dos movimentos reconhecem que as chances são pequenas. Na avaliação da Plataforma dos Movimentos Sociais apesar de chamar de reforma política, o Congresso até hoje só propôs mudanças restritas à questão eleitoral.

O Congresso nunca aceitou, por exemplo, o fortalecimento de mecanismos democráticos de participação popular. Uma proposta de reforma política tem que pensar numa melhor representação dos grupos: mulheres, negros, indígenas e homoafetivos – ressaltou José Antônio Moroni, membro da Plataforma.

Na tentativa de mostrar transparência e disposição de ouvir a sociedade foi lançada há pouco mais de uma semana, dentro do portal da Câmara dos Deputados, uma comunidade virtual para discutir o tema. A ferramenta já teve mais de 16 mil acessos. O financiamento de campanha e sistema eleitoral são os assuntos que mais despertaram interesse até agora.

Sobre financiamento de campanha, Geraldo César Rodrigues, participante de um dos fóruns, defendeu que ele passe a ser exclusivamente público. “Doações podem sugerir sutilmente tráfico de influência e troca de favores – ou intenções de favorecimento – no meio político”. Para ele, campanhas eleitorais financiadas exclusivamente com recursos públicos inibem essas práticas.

– Penso que não se deva proibir a doação de pessoas físicas. Foi com base nessas doações que Obama se elegeu. O que é preciso é estabelecer limites. Além disso, a doação de pessoas físicas pressupõe a participação efetiva do cidadão que puder contribuir. O financiamento exclusivo não impede a existência de caixa-dois pelos candidatos poderosos – avaliou outro participante, Claudionor Rocha.

Para a coordenadora da Frente Parlamentar pela Reforma Política com Participação Popular, deputada Luiza Erundina (PSB-SP), o canal virtual que foi aberto para receber sugestões da sociedade não supre a necessidade de novos debates com a sociedade. Ela acredita que a proposta em discussão é um grande retrocesso para o país já que estimula o abuso do poder econômico e flexibiliza a Lei da Ficha Limpa.

Ainda segundo a deputada, os protestos de junho, realizados em várias cidades brasileiras, não explicitaram com força a necessidade de realização de uma reforma política no país. Erundina lembrou ainda que na legislatura passada, a Frente apresentou uma proposta que nem sequer chegou a ser votada na Comissão de Legislação Participativa da Câmara.

Na verdade não há vontade política. O Congresso não vai dar uma resposta a todo esse marco legal que está obsoleto. Lamentavelmente será mais uma frustração que só contribui para desqualificar o poder legislativo – disse.

Nossa fonte: CdB

Milton Santos – Globalização (1)



Milton Santos está para sempre na galeria dos intelectuais mais respeitados do Brasil

Milton Santos foi um geógrafo brasileiro, considerado por muitos como o maior pensador da história da Geografia no Brasil e um dos maiores do mundo. Destacou-se por escrever e abordar sobre inúmeros temas, como a epistemologia da Geografia, a globalização, o espaço urbano, entre outros.

Conquistou, em 1994, o Prêmio Vautrin Lud, o Nobel de Geografia, sendo o único brasileiro a conquistar esse prêmio e o único geógrafo fora do mundo Anglo-Saxão a realizar tal feito. Além dessa premiação, destaca-se também o prêmio Jabuti de 1997 para o melhor livro de ciências humanas, com “A Natureza do Espaço”. Foi professor da Universidade de São Paulo, mas lecionou também em inúmeros países, com destaque para a França.

A obra de Milton Santos caracterizou-se por apresentar um posicionamento crítico ao sistema capitalista e aos pressupostos teóricos predominantes na ciência geográfica de seu tempo. Em seu livro “Por uma Geografia Nova”, em linhas gerais, o autor criticou a corrente de pensamento Nova Geografia, marcada pela predominância do pensamento neopositivista e da utilização de técnicas estatísticas.

Diante desse pensamento, propôs – fazendo eco a outros pensadores de seu tempo – a concretização de uma “Geografia Nova”, marcada pela crítica ao poder e pela predominância do pensamento marxista. Nessa obra, defendia também o caráter social do espaço, que deveria ser o principal enfoque do geógrafo.

Um dos conceitos mais difundidos e explorados por esse geógrafo foi a noção de “meio técnico-científico informacional”, que seria a transformação do espaço natural realizada pelo homem através do uso das técnicas, que difundiram graças ao processo de globalização e a propagação de novas tecnologias.

Sobre a globalização, Milton Santos era um de seus críticos mais ferrenhos. Em uma de suas mais célebres frases, ele afirmava que “Essa globalização não vai durar. Primeiro, ela não é a única possível. Segundo, não vai durar como está porque como está é monstruosa, perversa. Não vai durar porque não tem finalidade”.

Em uma das suas obras mais difundidas pelo mundo – Por uma outra globalização –, muito lida por “não geógrafos”, Milton Santos dividiu o mundo em “globalização como fábula” (como ela nos é contada), “globalização como perversidade” (como ela realmente acontece) e “globalização como possibilidade”, explorando a ideia de uma outra globalização.

Além disso, o geógrafo proporcionou uma fecunda análise a respeito do território brasileiro, abordando as suas principais características e inserindo a produção do espaço no Brasil sob a lógica da Globalização. Nessa obra, de mais de 500 páginas, propôs, inclusive, uma nova regionalização do Brasil, dividido em quatro grandes regiões.

Milton Santos faleceu em 24 de junho de 2001, vítima de complicações proporcionadas por um câncer, aos 75 anos. Deixou uma vasta obra, com dezenas de livros e uma infinidade de textos, artigos e capítulos. Seu pensamento ainda é considerado atual e muitas das críticas dos movimentos antiglobalização fundamentam-se em suas ideias.

(1) Documento completo no site do Correio do Brasil (nossa fonte)

Convite: Meio Ambiente e ECOVILAS

Meio ambiente(1)

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Foro de São Paulo: grupos de ultradireita atacam manifestantes na capital paulista

Por Redação do Correio do Brasil - de São Paulo


Pomar coordena o Foro de São Paulo

Um grupo de cerca de 20 pessoas mascaradas e vestidas com roupas pretas agrediu participantes do Foro de São Paulo na noite passada, por volta das 22h, em um restaurante próximo a um dos hotéis que abriga o evento, na Rua Martins Fontes, em São Paulo. A Polícia Militar, que reforçou o efetivo na região central da capital paulista a pedido dos organizadores do Foro de São Paulo, prendeu parte dos agressores.

A maior parte das vítimas participa do V Encontro de Juventudes do Foro, como explicou Valter Pomar, secretário-executivo da organização de esquerda. Ninguém ficou ferido com gravidade. O restaurante, no entanto, teve sua porta de entrada, que era de vidro, quebrada.

– É a confirmação da campanha que vimos nos últimos dias por atos agressivos contra o Foro de São Paulo – afirmou Pomar.

Em junho, uma página foi criada no Facebook com o objetivo de “organizar ações contra o Foro de São Paulo”.

O evento, iniciado oficialmente ontem e que reúne dezenas de partidos de esquerda, vai até o próximo domingo. Estão previstas as presenças de Luiz Inácio Lula da Silva nesta sexta-feira e do presidente da Bolívia Evo Morales, no domingo.

À esquerda

Pomar, que conversou com jornalistas na manhã desta quinta-feira, pediu aos governos “progressistas” da América Latina para “avançarem em direção à esquerda” para conter o “esgotamento” de um modelo que permitiu reduzir a pobreza, mas está ameaçado pela crise global e a “reação” da direita.

– O esgotamento é relativo, mas é visível em vários sentidos – disse Pomar à agência espanhola de notícias Efe.

Segundo Pomar, “por um lado se esgotou” o modelo de distribuição de renda entre os mais pobres, embora “tenha sido muito mais bem-sucedido do que poderia ser”, e também “se esgotou no sentido de que gerou forças sociais que desejam mais do que receberam até agora”. Esse seria o motivo das recentes e massivas manifestações no Brasil, já que, na última década, cerca de 40 milhões de pessoas saíram da miséria – apesar das imensas desigualdades sociais permanecerem – e exigem serviços melhores e faz isso ocupando as ruas com protestos.

Também considerou que o “esgotamento” do modelo se deve a que “as classes dominantes têm uma tolerância cada vez menor frente às experiências de distribuição de renda” e começaram a encorajar uma “reação”, que apela para métodos “antidemocráticos”.

A direita “está recuperando terreno em parte pelas fragilidades e erros” da esquerda, reconheceu o dirigente do Foro de São Paulo, formado por 100 partidos de esquerda da América Latina e que se reúne esta semana na cidade. O secretário apontou, no entanto, que a direita conta com “o imenso apoio que tem” em setores econômicos, políticos e na imprensa.

Pomar acrescentou que, nos protestos no Brasil, ou nos que ocorrem de forma recorrente na Argentina e na Venezuela, entre outros países, se somaram alguns setores de esquerda, que “exigem mais” de governos considerados progressistas.

– As dissidências da esquerda política e social falam sobre os que desejam mais do que tiveram até agora – e exigem um aprofundamento das políticas voltadas aos setores populares, afirmou.

Processo de mudança

O líder petista apontou, no entanto, que as manifestações também foram infiltradas por “movimentos antidemocráticos”, que ligou à “reação das classes dominantes”.

Na opinião de Pomar, “a solução para esses problemas passa por um aprofundamento do processo de mudanças, não só na economia, mas também na política”.

O secretário do encontro também alertou que, no aspecto puramente econômico, o cenário latino-americano se deteriora com o esfriamento da economia chinesa e a queda dos preços das matérias-primas e pode afetar as “forças progressistas” em termos eleitorais. A resposta, segundo Pomar, deve ser “mais democracia econômica, mais democracia social e mais democracia política”.

Isso aponta, em sua opinião, para uma “saída pela esquerda, no sentido de reduzir a influência econômica, social e política do grande capital e, sobretudo, do capital transnacional e financeiro e das potências imperialistas”. Para isso, segundo Pomar, é necessário “aumentar a presença do investimento público, do Estado, das pequenas e médias empresas e as cooperativas; e aumentar a força política dos trabalhadores e dos setores progressistas” das classes médias.

As sessões do Foro de São Paulo serão abertas oficialmente nesta sexta-feira pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e se encerram no domingo, quando é esperada a presença do presidente da Bolívia, Evo Morales.