Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Pinheirinho: "Direita oligárquica não descansa", diz Boaventura


Em Canoas para uma oficina da universidade Popular dos Movimentos Sociais, evento pré-Fórum Social Temático, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos condenou duramente a ação de reintegração de posse autorizada pela justiça paulista e executada pelo governo de Geraldo Alckimin (PSDB). "A violência é um recado da direita oligárquica, que não descansa, a todos os movimentos sociais que lutam por seus direitos", disse Boaventura.



Canoas (RS) - O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos comentou neste domingo, a violenta ação da Polícia Militar de São Paulo na desocupação da comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos, São Paulo, na manhã deste domingo. Relatos dos próprios moradores dão conta de pelo menos sete mortes, informação não confirmada pela polícia militar até o final da tarde deste domingo.

Em Canoas para uma oficina da Universidade Popular dos Movimentos Sociais, evento pré-Fórum Social Temático, Boaventura condenou duramente a ação de reintegração de posse autorizada pela justiça paulista e executada pelo governo do estado, comandado pelo governador tucano Geraldo Alckimin (PSDB).

Para o professor, a violência é um recado da direita oligárquica a todos os movimentos sociais que lutam por seus direitos. Uma tentativa de desmoralizá-los. Para ele, a direita é anti-democrática e não hesita em usar de todos os meios para garantir seus interesses, sejam meios legais ou não. 

O sociólogo cobrou uma ação firme do governo federal no caso e considera que mesmo com a violência, os movimentos sociais não se deixarão desmoralizar e seguirão em suas lutas por direitos fundamentais de cada cidadão.

Vídeo: Ivan Trindade
Nossa fonte: Carta Maior

Nunca publicada, 1ª obra de Drummond será lançada em julho


O mês de julho traz grandes novidades para os amantes de Carlos Drummond de Andrade. Junto à Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que neste ano homenageia o poeta, será lançado o livro "Os 25 poemas da triste alegria". Ele reúne textos escritos aos 22 anos — seis anos antes do lançamento de seu primeiro livro, "Alguma poesia", em 1930.



Drummond havia encadernado os poemas, mas o original desapareceu, e a obra nunca foi publicada. Até que, há alguns anos, esse exemplar único foi encontrado pelo acadêmico Antonio Carlos Secchin. "Não se sabe como esse livro se perdeu. Comprei-o de um amigo de Drummond", diz ele, que se comprometeu a não revelar o nome do vendedor.

Pouco entusiasmo
Os poemas foram escritos em 1924. Em 1937, Drummond fez anotações sobre eles. "São comentários pouco entusiasmados. Um ou outro ele achava que merecia um pouco de complacência", diz Secchin. 

"Drummond escreve que talvez eles sejam literários demais. Há muito de pose, de artificialismo, de convenção literária a que faltasse uma experiência. Ele descreve uma rua do subúrbio e enche o poema de reticências. Há certos truques poéticos que estavam na moda, uma espécie de cartilha que padronizava as sensações."

Mas, mesmo duro na avaliação, ele não quis destruir o caderno. Tanto que, dos 25 poemas, 13 foram publicados em jornais e revistas da época, permanecendo 12 inéditos. A obra, que será lançada pela Cosac Naify, trará de um lado os poemas datilografados, como foi feito na ocasião, e, de outro, as observações manuscritas, como "Se um inimigo apanhasse esses versos..." e "Eram exercícios à moda do tempo, tímidos e mecânicos. Não deram evasão a nenhuma necessidade íntima, não transpuseram nenhuma aventura ou experiência intelectual ou física".

"São poemas tributários ao modernismo moderado, ainda sem a ousadia dos temas e formas da poesia modernista. É a escola penumbrista, em que há um sentimento difuso de tristeza. É uma coisa sempre no intervalo. Um poema se chama "A sombra de um homem que sorriu"; outro é "Quase noturno, em voz baixa". Aponta para a noite, mas o "quase" já dilui isso", analisa Secchin.

Em "Uma lâmpada brilha", ele escreve: "Ah, o abandono dessa lâmpada! /O abandono desse olho imoto, amarelo,/ brilhando sem desejo,/ sozinho/ no alto do poste fino e lírico!" 

"Os 25 poemas da triste alegria" é a segunda tentativa de livro de Drummond. "Antes ele tinha composto "Teia de aranha". Mas mandou os originais de Minas para uma editora no Rio, que perdeu o material. Drummond brincou: "Deve haver um anjo protetor dos autores estreantes que faz o livro desaparecer." E ele pensou ainda num terceiro livro antes de "Alguma poesia": "Preguiça". Mas acredito que o título o influenciou, porque ficou no projeto", brinca.

Fonte: Diario de Pernambuco
Nossa fonte: Vermelho

Cordisburgo, cidade do coração


No final do ano fui viajar de carro com minha mulher a amigos, e que viagem! Entre meus companheiros de viagem, a “sketcher” Mazé Leite, grande artista e ser humano, valeu, Mazé! 

E o que vimos:

 João Pinheiro





1.Desenho feito durante uma das paradas para almoçar na beira da estrada. 

Chapadões imensos, sem fim, a perder de vista, se estendendo por muitas léguas. Vegetação verde em todos os tons, cobrindo toda terra, até onde os olhos podem alcançar. Nuvens que aparentam cavalos fortes como não há e a dúvida se aquilo tudo era real, de se pegar. Amplidão, nação sem fim, mato, roça, arraial, coqueiros altos, envergados pro lado do vento, bananeiras, mangueiras, pé de café, laranjeiras... plantação de tudo quanto é legume e frutas. E o verde das árvores e plantas verdes de milhões de tons; De vez em quando muda de cor e explode, no meio do verde, um violeta intenso, roxo, laranja e o vermelhão da terra destacado, as rachaduras da terra seca e as rochas redondas. Por cima dos montes e montanhas, as pedras espalhadas numa perfeição assombrosa, como que colocada com as mãos. Igrejas brancas isoladas no alto dos montes embranquecendo. No céu, nuvens felpudas, de estiagem, nuvens de chuva e de vento, lá na frente a chuva e depois o sol e a estrada continuam até o final do mundo. Casinhas de barro, sapé, tijolo à vista, telhadinhos coloridos e fachadas pintadas com nossas cores ancestrais, que sempre povoaram nossos sonhos e imaginação. Casas de duas cores bem postas, de onde vem essa noção, se não da própria natureza? Eia, que o sertão não tem fim mesmo, eu vi. 


2.Dona Alzira, primeira moradora do vilarejo Naque. 


A gente foi adiante, rasgando e vimos mais, conversamos com toda a gente boa que pintava. Vimos também banquinhos de madeira na frente da casa onde, debaixo da copa da árvore, serve pra se sentar na sombra depois de mais um dia de trabalho. Beirada pra tomar café e cachaça e prosear sem contar tempo. As vacas comendo e recomendo, galinhas pescando com o bico aqui e ali, cavalos quietos pastando e balançando o rabo como um pêndulo. O tempo corre e as casas e pessoas e galinhas e vacas e bananeiras e verdes e roxos vão ficando pra trás, novas paisagens vão aparecendo com uma constituição toda nova, mais seca e arenosa, o verde fica mais fosco e estamos indo mais pra longe, vendo rios largos e lagos espalhados pelo campo. Chapadão imenso. Estamos de bem com a terra, eita, Brasil grande, oh povo bom de sentar na soleira da porta e conversar.

Paramos em um povoado feito de uma só rua. Conversamos com os moradores e tomamos café. Treze dias de viagem de São Paulo para Bahia, parando em João Molevade e Vitória da Conquista antes de dar as caras a Salvador. 


3.Pelourinho, queria desenhar tudo lá.


4.Sirlene posando no bairro do Vermelho.

Na Bahia foi incrível andar pelo pelourinho, ver a casa natal do Gregório de Matos e imaginá-lo cantando seus versos cáusticos pelas tabernas, acompanhando pelas cinco cordas duplas da sua viola, abrindo sua boca do inferno para atacar padres, Deus e o Diabo e os poderosos daquela época. Ele embriagado indo embora, cambaleante, se apoiando nas portas de madeira noite adentro, todo esfarrapado. Vimos também a igreja onde foi rodado o filme brasileiro, premiado em Cannes, O pagador de promessas, perdi a conta de quantas vezes vi esse filme... que bom ver onde foi filmado. Vamos seguindo, conversando com meu amigo, escritor baiano, Gustavo Rios – Gente finíssima!. Visitamos praias e comemos acarajé no Vermelho.


5.Praia de Itapuã.



6.Lagoa do Abaeté com a Mazé desenhando.

De lá partimos para Rio de Contas, lugar mágico! A estrada é verde e a vista se dilata para ver aquelas montanhas de sonho. Uma viagem no tempo onde Walter Salles esteve anos atrás, filmando “Abril despedaçado”, este que ficou encantado com o trabalho do artista Zofir.
A névoa da cidade, somada à arquitetura colonial, cria um ar de mistério. Encontramos personagens saídos diretos dos romances de João Guimarães Rosa. As pessoas são como poemas vivos, andando debaixo da chuva.



7.Ana Rita Sérgia Ribeira, benzedeira do vermelhão - Rio de Contas.



8.Bom Jesus da Lapa

Treze dias de viagem: São Paulo, Salvador, Chapada Diamantina, Bom Jesus da Lapa (onde vimos o Velho Chico), e finalmente Cordisburgo, a cidade do coração, onde nasceu Guimarães Rosa, onde conhecemos o Brasinha e a Dôra Guimarães, prima do Rosa e coordenadora do Projeto Miguilim, onde vimos a casa dele e a venda do pai em frente à estaçãozinha de trem. De lá voltamos com o coração repleto de paisagens bonitas e gente mais bela ainda, que nos enriqueceram com seus sorrisos abertos e olhares profundos. 


9.Dôra Guimarães e Michele no Projeto Miguilim.



10.Mackswell lendo trecho do Grande Sertão no Projeto Miguilim.


11. Igreja de São José

É isso, vamos aprender a sermos brasileiros e enxergar o que é esse País. Pra terminar, cito um trecho do “Grande Sertão: Veredas”:“Aprender a viver é o que é viver mesmo.” (João Guimarães Rosa).

(*) João Pinheiro é desenhista, autor do livro “Kerouac”, uma biografia quadrinizada do líder beatnik



Nota do blog: Estou reproduzindo porque afinal sou mineira, uai. Obrigada João Pinheiro.
Nossa fonte: Vermelho

Os benefícios dos agrotóxicos no "Mundo de Veja"

Flavia Londres


 A revista Veja publicou uma matéria buscando "esclarecer" os brasileiros sobre os alegados "mitos" que vêm sendo difundidos sobre os agrotóxicos desde a divulgação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), dos dados Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos referentes ao ano 2010. A revista se propõe a tranquilizar a população, certamente alarmada pelo conhecimento dos níveis de contaminação da comida que põe à mesa.
Os entrevistados na matéria são conhecidos defensores dos venenos agrícolas, alguns dos quais com atuação direta junto a indústrias do ramo – como é o caso do Prof. José Otávio Menten, que já foi diretor executivo da ANDEF (Associação Nacional de Defesa Vegetal), que reúne as empresas fabricantes de veneno.
A revista afirma que chamar os venenos da agricultura de "agrotóxicos" seria uma imprecisão ultrapassada e injustamente pejorativa, alertando os leitores que “o certo” seria adotar o termo "defensivos agrícolas". Não menciona que a própria legislação sobre a matéria refere-se aos produtos como agrotóxicos mesmo.
A Veja passa então para a relativização dos resultados apresentados pelo relatório do Programa de Análise, elaborado pela Anvisa, fundamentalmente minimizando a gravidade da presença de resíduos de agrotóxicos acima dos limites permitidos. Para isso, cita especialistas alegando que os limites seriam "altíssimos", e que, portanto, quando "um pouco ultrapassados", não representariam qualquer risco para a saúde dos consumidores.
A verdade é que a ciência que embasa a determinação desses limites é imprecisa e fortemente criticada. Evidência disso é o fato de os limites comumente variarem ao longo do tempo – à medida que novas descobertas sobre riscos relacionados aos produtos são divulgadas, os limites tendem a ser diminuídos. Os limites "aceitáveis" no Brasil são em geral superiores àqueles permitidos na Europa – isso pra não dizer que aqui ainda se usa produtos já proibidos em quase todo o mundo.

A revista também relativiza os riscos de longo prazo para a saúde dos consumidores, bem como os riscos para os trabalhadores expostos aos agrotóxicos nas lavouras. Mesmo diante de tantas provas, a Veja alega que, não haveria comprovações científicas nesse sentido.
A reportagem termina tentando colocar em cheque as reais vantagens do consumo de alimentos orgânicos, a eficácia dos sistemas de certificação e mencionando supostos "riscos" do consumo de orgânicos. A revista alega que esses alimentos "podem ser contaminadas por fungos ou por bactérias como a salmonela e a Escherichia coli." Só não esclarece que, ao contrário dos resíduos de agrotóxicos, esses patógenos – que também ocorrem nos alimentos produzidos com agrotóxicos – podem ser eliminados com a velha e boa lavagem ou com o simples cozimento.
Da revista Veja, sabemos, não se poderia esperar nada diferente. Trata-se do principal veículo de comunicação da direita conservadora e dos grandes conglomerados multinacionais no País. Mas podemos destacar que a publicação desse suposto "guia de esclarecimento" revela que o alerta sobre os impactos do modelo da agricultura industrial está se alastrando e informações mais independentes estão alcançando mais setores da população – ao ponto de merecerem tentativa de desmentido pela Veja e pela indústria.
 
Flavia Londres é engenheira agrônoma e consultora da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia.