Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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domingo, 5 de junho de 2011

O Brasil comemora os 80 anos de João Gilberto

Ele foi, com Tom Jobim, um dos pais da bossa nova e sua maneira de cantar e tocar violão mudou o jeito brasileiro e conquistou o mundo.
 José Carlos Ruy (Fonte: O Berro)

Um dos mais geniais – e considerado também um dos mais excêntricos – cantores brasileiros torna-se octogenário. João Gilberto, um dos pais da bossa nova, nasceu em 10 de junho de 1931, em Juazeiro, Bahia. Violonista desde menino, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1950, disposto a ganhar o Brasil com seu violão e sua voz; ganhou o mundo.

Seu encontro com Tom Jobim foi decisivo. Foi o outro pai da nova forma que a música brasileira assumia. Se João Gilberto inventou a forma de cantar e tocar violão típicas da bossa nova, o maestro Tom deu-lhe a necessária roupagem instrumental e, muito importante, levou o cantor baiano ao encontro do movimento que surgia, juntando jovens artistas, intelectuais, estudantes. Gente do porte de Vinícius de Moraes, por exemplo.

Quando apareceu o disco Chega de Saudade, em 1958, na voz de Elizete Cardoso, com Chega de Saudade (de Tom e Vinícius) de um lado e Desafinado (de Tom e Newton Mendonça) do outro, a consagração foi imediata. Abriu as portas do mundo, conquistado depois com Garota de Ipanema (Tom e Vinícius, de 1962) e com a adesão de pesos pesados do jazz como Charlie Byrd e Stan Getz.

Músico preciso e exigente, é conhecido por cobrar silêncio absoluto de suas plateias, tendo algumas vezes abandonado suas apresentações pelo meio, devido a ruídos no público ou problemas técnicos com o som. Ele tem razão e direito. Sua música, delicada, só pode ser apreciada em sua inteireza com muita atenção. Faz parte das vozes do Brasil moderno, do despertar nacional nas décadas de 1950 e 1960, e permanece como um signo nacional reconhecido mundialmente.

O Meu Credo


   Dórdio Gomes (pintor alentejano)

Creio em mim, peregrino na Vida,

 nesta espera de um céu, mas na terra,

 e na força do grão que germina

 concebendo o milagre do pão

 que ceifei, debulhei e moí

 e depois amassei com as lágrimas

 em que afogo a revolta do servo.

 Cada dia que nasce cá vou

 eu descendo aos infernos

 onde os servos extraem o pão

 que empaturra os senhores.

 Creio ainda no sol do amanhã,

 na certeza de mim,

 no homem livre,

 na justiça dos homens,

 no clamor da Verdade

 sobre a Terra.


 Assim seja!
(Fonte: O Berro)

A tempestade à vista e o Brasil


 Amir Khair

      Ainda não se passaram três anos e já se delineiam duas sérias ameaças em nível global, que podem indicar um primeiro desdobramento da crise financeira originada nos Estados Unidos em 2008. É a situação crítica da questão fiscal dos Estados Unidos e Grécia. Os holofotes agora estão na Grécia, mas não levará tempo para se dirigirem aos EUA.
      Vale recordar. Na primeira tentativa de sair do buraco, a Grécia acertou com o FMI que sua economia deveria encolher 4% em 2010, 2,6% em 2011 e o desemprego, de 9,4% em 2009, subiria para 14,8% em 2012. Esse o custo da redução do déficit fiscal de 13,6% do PIB em 2009, para 8,1% em 2010 e 6,5% em 2012. Mesmo assim, sua dívida se estabilizaria em 150% do PIB! Mas em 2010, em vez de conseguir a meta de déficit de 8,1%, obteve 10,5%, o que acendeu a luz vermelha.
      Os holofotes agora estão na questão fiscal da Grécia, que precisará de um novo empréstimo em 2012. Com um crescimento mais baixo que o esperado, a tendência é o agravamento fiscal e a necessidade de mais empréstimos que, se vierem, trarão sérias dificuldades de satisfazer as condições impostas pelo FMI, com impacto social crescente e sério risco político ao governo.
      A aposta dos "salvadores" (Banco Central Europeu - BCE, países da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional - FMI) ao concederem o primeiro socorro era de que uma profunda restrição fiscal, com rebaixamento de salários, demissões no setor público e freada no crescimento econômico, seria capaz de gerar os excedentes para honrar as parcelas dos empréstimos, que tiveram prazos mais alongados.
      Esse aperto fiscal deveria ser imposto à população e as reações foram imediatas com paralisações e manifestações de massa, que na ocasião poderiam inviabilizar as negociações em curso. Mas o governo grego conseguiu vencer o primeiro round e aprovou as duras exigências dos financiadores, com importante condição: a dívida teria que ser integralmente paga, sem nenhum prejuízo aos credores.
      Esse socorro financeiro implica em dois problemas fiscais, de solução quase impossível, pois crescem as despesas com o serviço da dívida pelo forte aumento do endividamento e cai a arrecadação pela redução da atividade econômica e pelo aumento da inadimplência dos contribuintes - ou seja, forma-se um "sanduíche" fiscal.
      Os credores, no entanto, partiram da premissa de que a redução das despesas públicas seria suficiente para superar esses dois problemas. Não foi o que aconteceu e nem acontecerá. Assim, seria necessário reduzir o valor a ser pago no serviço da dívida, ou seja, seu deságio, com perda para os credores.
      Mas o deságio não bastaria para solucionar o problema, pois os desequilíbrios macroeconômicos já existentes tornam necessários outros esforços para viabilizar o equilíbrio de suas contas internas e externas. Atualmente ocorre déficit na balança comercial de 4% do PIB, maior déficit comercial entre os países da região do euro. Se esse déficit persistir, a Grécia terá de captar o volume total em instituições de crédito estrangeiras, mesmo se os déficits orçamentários pós-inadimplência puderem ser financiados com captações domésticas.
      A simples ameaça do deságio na Grécia precipitou a elevação dos riscos das dívidas de Portugal e Espanha. Portugal foi o primeiro a pedir socorro e já está seguindo o mesmo caminho grego. Tomou em maio recursos do FMI e da União Europeia de US$ 110 bilhões, que representam 47% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. O último pacote de auxílio do FMI ao Brasil, em 1998 foi de US$ 40 bilhões ou 4,7% do PIB. Assim, esse socorro a Portugal foi, em termos de tamanho de sua economia, 10 vezes maior do que o nosso.
      Para situar a gravidade do problema que ronda a Europa, o pacote da Grécia de US$ 156 bilhões foi também de 47% do PIB e o da Irlanda (US$ 120 bilhões), 52,9% do PIB, segundo matéria publicada em O Estado de São Paulo (22/5). Esses socorros foram também sem deságio nas dívidas e será apenas questão de tempo para evidenciar a falta de visão dos "salvadores" e o agravamento da inevitável deterioração fiscal nesses países.
      Não tem como escapar do deságio das dívidas. Esse deságio, por sua vez, poderá trazer novos desdobramentos na rede financeira europeia já fragilizada pela crise iniciada nos Estados Unidos com as hipotecas de alto risco (subprime) e por a nu os títulos podres em posse do BCE ao socorrer o sistema bancário da Irlanda, Grécia, Espanha entre outros países.
      A nova tentativa de socorro à Grécia continuará tentando preservar os credores, alongando mais a dívida, sem reestruturá-la, com nova injeção de empréstimos, e o calote será inevitável e maior mais a frente. É uma exigência do BCE para tentar empurrar com a barriga os títulos podres em seu poder cujo montante é desconhecido.
      O mesmo poderá ocorrer com Portugal, mais à frente à Espanha e, em seguida a Itália, países de maior expressão econômica na zona do euro. Poderá ser essa a sequência dos PIIGS [Portugal, Irlanda, Itália, Grécia, Espanha]. É claro que isso atingirá o sistema bancário das economias mais sólidas como França e Alemanha, agravando a crise europeia com repercussões em outros países fora da área. Como existe forte relação entre os sistemas financeiros de Europa e Estados Unidos, esse país certamente será afetado.
      Em 16/5, os Estados Unidos atingiram o teto de US$ 14,294 trilhões da dívida pública e o Departamento do Tesouro planeja anunciar que vai parar de emitir e reinvestir títulos do governo em certos fundos de pensão públicos, parte de uma série de medidas para adiar a moratória até 2/8. Essas medidas do Tesouro visam ganhar tempo para a Casa Branca e líderes do Congresso chegarem a um acordo de redução do déficit, para atingir número suficiente de congressistas a votar o aumento da dívida.
      A disputa política entre republicanos e democratas pode fornecer o combustível necessário para começar a por em dúvida a capacidade de o país honrar o pagamento aos credores, que estão espalhados por todo o mundo, especialmente entre países que acumularam fortes reservas ligadas ao dólar, como China, Japão, Alemanha e o Brasil. Para agravar esse quadro o déficit fiscal previsto ao final deste ano pode atingir US$ 1,7 trilhões ou 11% do Produto Nacional Bruto (PNB).
      A tentativa de ativar a economia via elevação da liquidez é outro motivo de preocupação. De 2004 a 2008, a base monetária girava em torno de US$ 0,8 trilhão e a disparada sem cessar a partir de 2009 a elevou para US$ 2,4 trilhões. Apesar disso, os empréstimos bancários ficaram estabilizados desde o final de 2008 em US$ 9 trilhões, evidenciando o deslocamento dessa elevação da liquidez para fora dos EUA.
      É possível que as agências de classificação de risco, que dormiram no ponto na crise de 2008/2009, não tenham o mesmo comportamento agora. Alguns sinais já apontam nessa direção. O primeiro foi dado pela Standard & Poor's que rebaixou de "estável" para "negativa" a perspectiva de rating de crédito soberano de longo prazo dos Estados Unidos. Com isso, sinalizou que poderá piorar a nota da dívida americana. As razões apontadas para a decisão foram o persistente déficit orçamentário e o elevado endividamento do país.
       De acordo com a agência, mesmo após dois anos após a eclosão da crise financeira que abalou o mercado de hipotecas dos EUA, o governo do presidente Barack Obama dá sinais de que não chegou num acordo sobre como reverter a deterioração fiscal por que passa o país atualmente, nem aponta soluções para as pressões fiscais de longo prazo.
       O dólar já vem de longo processo de perda de valor perante outras moedas e commodities, e isso expressa a doença que se abate lentamente sobre a economia norte-americana. As análises sobre as perspectivas deste país oscilam a cada dia ao sabor de dados sobre pedidos de desemprego, construção de novas moradias, produção industrial, inflação, etc. Fato é que a reação aos fortes estímulos dados desde 2008 produziram efeitos pífios e os déficits fiscais passaram de 3% do PNB em 2008 e poderão atingir 11% neste ano. A dívida sobe de forma ameaçadora, indicando claros riscos em seu pagamento.
       Para agravar esse quadro, a elevação dos preços do petróleo e outras commodities subtraem o poder aquisitivo dos americanos, com reflexos negativos sobre o consumo, que representa 70% do PIB do país. Isso afeta o crescimento econômico, a arrecadação e eleva o déficit fiscal.
       Parecem esgotados os instrumentos monetários para tirar o país da crise. A forte injeção de dólares feita pelo Fed (banco central americano) e os juros negativos não conseguiram estimular o consumo. É incerto se terminará em junho a escalada da injeção de US$ 600 bilhões. Essa elevação da liquidez já dá sinais de problemas com a inflação, que começam a aparecer no front de preocupações do Fed. E nada mais potente para retirar o poder aquisitivo do norte-americano que a inflação.
       O caminho que seria possível para romper com esse agravamento é a ampliação das exportações e contenção das importações, para gerar empregos suficientes para tirar da letargia o mercado interno. Mas isso não vem ocorrendo no nível necessário, pois a disputa no mercado internacional cresceu fortemente, como consequência da crise de 2008.
       Face a esse quadro, o melhor para o Brasil é apostar as fichas da saúde econômica e financeira naquilo em que somos bons: alto potencial de mercado interno inexplorado. Assim, é bom repensar as políticas do pé no freio, que podem fragilizar o País aos trancos que poderão vir de fora.
Fonte: O Berro