Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Assim o Ocidente ressuscita a Guerra Fria




Paraquedistas norte-americanos chegam à Polônia em 23/4, para participar de exercícios militares conjuntos. Desde 1990, EUA desrespeitam compromisso de não ampliar OTAN e instalam bases militares em torno da Rússia
Além de não representar ameaça militar ou econômica, Rússia suportou provocações em série. Mas militares, petroleiras e mídia querem fabricar um demônio
Por Roberto Sávio | Tradução: Antonio Martins

Faz várias semanas, agora, que toda a mídia mainstream está engajada em denunciar primeiro a suposta ação de Putin na Crimeia – e em seguida, na Ucrânia. A última capa de The Economist mosta um urso engolindo a Ucrânia, sob o título “Insaciável”. A unanimidade na mídia é sempre constrangedora, porque significa algum ato de dobrar joelhos. Será possível que os quarenta anos de Guerra Fria estejam sendo ressuscitados?

A inércia desta guerra, na verdade, nunca foi rompida. Diga “o presidente comunista de Cuba, Raúl Castro”, e ninguém ficará chocado. Use a mesma lógica, e chame o presidente Obama de “capitalista” e repare nas reações. Na Itália, Sílvio Berlusconi foi capaz, durante vinte anos, de ganhar as eleições contra a “ameaça” do comunismo – representada, segundo ele, pelo partido à esquerda, agora no poder, sob Matteo Renzi, um católico devoto.

No caso da Ucrânia, há pelo menos quatro pontos fulcrais de análise que estão sendo ocultados pelo coro de mídia. O primeiro é que nunca se mencionam as responsabilidades do Ocidente no caso. Deveríamos lembrar que Mikhail Gorbachev, presidente russo ao final dos anos 1990, negociou com os chefes de Estado dos EUA (Ronald Reagan), Grã-Bretanha (Margareth Thatcher), Alemanha (Helmut Kohl) e França (François Mitterrand) que aceitaria a reunificação da Alemanha; mas que que o Ocidente, em contrapartida, não deveria tentar invadir a área de influência da Rússia. Sobre isso, há grande quantidade de documentos.

Mas assim que Gorbachev foi eliminado, o jogo foi reaberto. A total docilidade de Boris Yeltsin, seu sucessor, diante dos Estados Unidos, é bastante conhecida. Muito menos debatido é o fato de o Fundo Monetário Internacional ter oferecido um empréstimo de 3,5 bilhões de dólares, para sustantar o rublo. O empréstimo, porém, foi dirigido aoBank of America, que o distribuiu entre várias contas russas. Nenhum centavo chegou ao Banco Central russo. O dinheiro desembarcou nas contas de oligarcas, que puderam comprar praticamente todas as empresas públicas russas. Em seu livroFarewell Russia, Gioulietto Chiesa explica o processo em detalhes. E o FMI jamais sequer balbuciou um protesto. Quando um desconhecido Vladimir Putin foi levado ao poder por Yeltsin, ele foi obrigado a aceitar um acordo de proteção aos oligarcas.

Depois de Yeltsin, Putin apoiou a invasão iminente do Afeganistão por Washington, de uma forma que teria sido inimaginável durante a Guerra Fria. Aceitou que aviões norte-americanos sobrevoassem o espaço aéreo da Rússia, que os EUA usassem as bases militares nas repúblicas da ex-União Soviética na Ásia Central, e ordenou aos militares que compatilhassem sua experiênia no Afeganistão. Então, em novembro de 2001, Putin visitou George Bush em seu rancho no Texas, em meio a declarações amistosas (“Putin é um novo líder que ajuda a paz mundial… trabalhando em proximidade com os Estados Unidos”). Poucas semanas depois, Bush anunciou que os EUA estavam abandonando o Tratado de Mísseis Anti-balísticos, para poder construir um sistema de guerra no espaço destinado, em palavras a proteger a OTAN do… Irã. Era uma ação claramente voltada, na prática, contra a Rússia, para espanto de Putin.

Na sequência, em 2002, Bush convidou sete nações da ex-União Soviética – entre elas, Estônia, Lituânia e Letônia – a somar-se à OTAN, o que se concretizou em 2004. Em 2003, a invasão do Iraque, sem consentimento da França, Alemanha e Rússia, transformou Putin num cítico aberto dos Estados Unidos e de sua proposta de promover a democracia passando por cima do direito internacional. No mesmo ano, na Geórgia, a Revolução Rosa levou Saakashvili, um pró-ocidental, ao poder. Quatro meses depois, na Ucrânia, a Revolução Laranja empoderou outro presidente pró-ocidental, Yushcenko. Em 2006, a Casa Banca pediu permissão para reabastecer o avião de Bush em Moscou, mas deixou claro que Bush não teria tempo para saudar Putin. E em 2008, houve a declaração unilateral de independência de Kososo da Sérvia, com o apoio dos Estados Unidos e contra as posições da Rússia. Então, Bush pediu à OTAN para incorporar a Ucrânia e a Geórgia – um tapa na cara de Moscou. Em face disso, não deveria ter causado surpresa o gesto de Putin, que interveio militarmente na Geórgia em 2008, quando este país tentou incorporar as regiões da Ossétia do sul e Abkhazia, de maioria russa. Ainda assim, é fácil lembrar que a mídia tratou o movimento como ação sem motivos.

Obama tentou reparar os danos provocados por Bush nas relações internacionais dos EUA. Ele propôs uma retomada (“reset”) nas relações com a Rússia, que foi, de início, bem sucedida. Moscou aceitou oferecer seu espaço aéreo para transporte de suprimentos militares norte-americanos destinados ao Afeganistão. Em 2010, a Rússia e os Estados Unidos assinaram um novo tratado Start, reduzindo seu arsenal nuclear. E a Rússia apoiou as sanções aprovadas pela ONU contra o Irã, desistindo de vender seis mísseis terra-ar S/300 ao Teerã.

Mas logo a seguir, em 2011, tornou-se claro que os Estados Unidos tentaram intervir nas eleições parlamentares russas. Toda a mídia ocidental colocou-se contra Putin, que acusou os EUA de financiarem, com centenas de milhões de dólares, grupos oposicionistas. O embaixador norte-americano, McFaul, afirmou tratar-se de um grande exagero, e acrescentou que apenas algumas dezenas de milhões de dólares haviam sido doados a grupos da sociedade civil. Putin foi eleito novamente para a presidência em 2012 [após quatro anos como primeiro-ministro], já então obcecado com as ameaças ocidentais a seu poder. Em 2013, ele deu asilo ao ex-agente norte-americano Edward Snowden. Em represália, Obama cancelou um encontro bilateral – a primeira vez em que uma reunião de cúpula entre Washington e Moscou foi desmarcada, em cinquanta anos.

Em meio a tudo isso, houve a Primavera Árabe. A Rússia autorizou ação militar na Líbia, mas apenas para garantir ajuda humanitária. Ela foi utilizada para provocar mudança de regime, e Moscou sentiu-se enganada. Protestou, inutilmente. Então, surgiu a crise na Síria e o Ocidente tentou obter novamente o apoio da Rússia para uma mudança de regime – irritando-se com a recusa de Putin. Finalmente, agora, houve a bem conhecida intervenção na Ucrânia, para colocar o país na União Europeia e distante do bloco econômico eurasiano que a Rússia tenta criar.

O segundo ponto é que nenhuma ação política, exceto uma guerra, pode reduzir a Rússia à condição de um poder apenas local. É o maior país do mundo, em território. Estende-se das fronteiras da União Europeia até o Extremo Oriente. É, ao mesmo tempo, Europa e Ásia. Mantém rivalidade com a China na Ásia, tem conflitos territoriais com o Japão e está diante dos EUA no Estreito de Behring. É um produtor destacado de petróleo, membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e tem um arsenal nuclear. Qualquer esforço para cercá-la ou enfraquecê-la, agora que o confronto ideológico ficou para trás, só pode ser visto como parte da velha política imperial.

A Rússia não é uma ameça, ao contrário da União Soviética. Seu PIB é 15% da Europa – que tem 500 milhões de habitantes e 16% das exportações mundiais. A China tem 1,3 bilhão de habitantes, e 9% do comércio mundial. A Rússia, apenas 145 milhões e 2,5% das exportações mundiais. Tem poucas indústrias, também porque Putin não está interessado na modernização do país, que inevitávelmente produziria um crescimento da classe de profissionais instruídos, que já se opõe a ele.

O terceiro ponto é que, portanto, a crise ucraniana deveria ser examinada melhor. É um Estado muito frágil, em que a corrupção controla a política e que vive problemas econômicos estruturais. Seu Oeste é mais rural; o Leste, mais industrializado. Os trabalhadores desta região sabem que um ingresso na Europa representaria o fim de muitas fábricas. No Oeste, muitos colocaram-se ao lado dos nazistas na II Guerra Mundial e há um movimento nacionalista forte, próximo ao fascismo. A Ucrânia é um problema muito caro e complicado.

É evidente que intervir apenas para desafiar Putin, e oferecer dinheiro (basicamente, o que fez a União Europeia) parece um pensamento muito tacanho. Estaria a UE preparada para mudar os critérios de pertencimento ao bloco, para aceitar um país que claramente não se adequa a eles; e a assumir um enorme peso, para aparecer como vencedora, na disputa contra um “homem forte”?

Isso finalmente nos leva ao quarto ponto. Putin é um ex dirigente da KGB, para quem a Rússia foi tratada injustamente, na dissolução da União Soviética. Todos os esforços para chegar a um entendimento com o Ocidente foram traídos, com sucessivas ampliações da OTAN, uma rede de bases militares cercando o país, um claro apoio do Ocidente a todas as oposições, um tratamento comercial medíocre. Ele sabe que estas opiniões sobre o declínio russo são compartilhadas por uma ampla maioria de cidadãos. Mas ele também é um autocrata arrogante, para dizer o menos, que nada tem feito para promover modernização econômica – porque, ao manter a produção e o comércio em suas mãos, conserva seu controle.

Para ele, a Ucrânia foi politicamente inaceitável. Ele está apresentando-se como defensor dos cidadãos russos, algo que lhe permite atuar em todos os lugares onde há minorias russas. A questão é: se Putin se for, haverá uma Rússia democrática, participatória, limpa, incorrompida? Aqueles que conhecem bem o país não acreditam nesta hipótese. Há inúmeros exemplos de que a remoção de autocratas não conduz à democracia por si mesma.

Portanto, haveria lógica em continua a cercar Putin, em nome da democracia? Isso não fortaleceria o próprio jogo do presidente, que associa sua imagem à de defensor dos russos? Eles também sofrem com a inércia da Guerra Fria e não veem o Ocidente exatamente como um aliado. Putin é hoje a única força de coesão na Rússia. Se ele se fosse, haveria, muito provavelmente, um longo período de caos. Isso certamente não interessa aos cidadãos russos… e é sempre perigoso praticar jogos de poder sem levar em conta a estabilidade da Europa… Claro, este não é o cálculo dos estrategistas ocidentais, que adorariam eliminar qualquer outro poder…

Como escreve Naomi Klein, o único vencedor, nesta disputa, são as empresas de energia. Elas estão fazendo campanha para que o mundo torne-se independente do petróleo russo. Portanto, vamos acelerar a produção petroleira nos EUA, a despeito dos notórios prejuízos ao ambiente. E vamos torcer para que a Europa deixe de usar gás russo – “nós exportaremos para eles”. Na verdade, não há estruturas para fazê-lo e seriam necessários muitos anos para criá-las… Mas exatamente no momento em que o mundo debate como controlar a mudança climática, e reduzir o uso de combustíveis fósseis, uma contra-estratégia importante é colocar o tema em segundo plano… Tarzi Vittach, um autor do Sri Lanka, disse, certa vez: “no fundo de tudo, há outra coisa”. Não há muitos exemplos de petróleo e democracia caminhando lado a lado…
Nossa fonte: Outras Palavras

Na Itália, uma decisão história: a proibição do cultivo de milho transgênico

O Tribunal Administrativo Regional de Lazio (TAR) rechaçou a recusa apresentada por um agricultor de Friuli, região do extremo nordeste da Itália, que desafiou o decreto pelo qual o governo havia bloqueado durante 18 meses, em julho do ano passado, qualquer tipo de cultivo transgênico no país: de fato, o milho MON810 é o único autorizado na Europa. Portanto, a proibição segue em vigor, como informou o jornal La República, no dia 24 de abril.

A reportagem é de Graciela Vizcay Gomez, publicado por Rebelión, 25-04-2014. A tradução é do Cepat.
Desde a Associação Argentina de Jornalistas Ambientais- Medii&médio, mediante a nota “Começou a contagem regressiva dos OGM na Itália”, os adiantei os sucessos que estavam ocorrendo na região de Friuli, com o desafio deste agricultor para a proibição do cultivo de transgênico nesse país. Giorgio Fidenato, agrônomo, e o agricultorSilvano Dalla Libera haviam apresentado um recurso para impugnar o Decreto pelo qual o governo havia bloqueado, em julho no ano passado, durante 18 meses, qualquer tipo de cultivo transgênico na Itália. O milho MON810 é o único autorizado na Europa, na Itália foi possível notar a rejeição.

Um fato histórico


Com esta decisão reiterou-se a proibição do cultivo de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) e também serviu como um alerta para o risco da contaminação.

Visto o compromisso final que está surgindo na Europa, contra os que defendem as empresas de engenharia genética e que querem proteger os produtos tradicionais, orgânicos e biodinâmicos e, de acordo com o anunciado pelos ministros italianos do Meio Ambiente, Gian Luca Galletti, e das Políticas Agrícolas, Maurizio Martina, a União Europeia se prepara para adotar a cláusula de salvaguarda para bloquear o cultivo de transgênicos nos casos em que, devido a especial formação do território, o risco de contaminação seja particularmente alto.

Como destaca o “Grupo de Trabalho para uma Itália livre de transgênicos”: “A Itália é o país mais exposto por este ponto de vista: o tamanho médio dos campos é de aproximadamente oito hectares, de modo que faz com que ele esteja em uma situação essencialmente impossível de sair das zonas tampão necessárias para evitar o risco de contaminação”.

De fato, o risco já se tornou real, ainda que muito limitado, quando um pequeno grupo de agricultores em Friuli cultivou sementes de milho OGM e o Serviço Florestal descobriu a contaminação de 10% nas áreas vizinhas cultivadas. De todo modo, no momento a opção pró OGM na Europa é muito limitada: em 2013, apenas a Espanha, Portugal, República Checa, Eslováquia e Romênia (5 países de um total de 28) cultivaram MON810 (cerca de 148 mil hectares de milho transgênico, quase todos na Espanha).

A decisão do TAR é uma “boa notícia”, segundo o ministro da Agricultura, Maurizio Martina. Para a ONG Legambiente, é uma “decisão histórica, uma grande vitória para a agricultura italiana de qualidade”. Para a Associação Italiana de Agricultura Biológica (AIAB), “A única maneira de salvar uma indústria é com a pena biológica de 3 bilhões de euros”. Também expressaram satisfação a Coldiretti (Confederação Nacional dos Agricultores Diretos) e a Confederação de Agricultores Italianos (CIA).

Há um ano para a realização do evento “Expo Milão 2015”, a Exposição Universal que reunirá mais de 140 países e ocorrerá entre 1º de maio e 31 de outubro de 2015 na Itália, serão tratados os temas “Alimentar o planeta. Energia para a Vida” – “ que transformará nosso país no centro de gravidade da economia da agricultura, a alimentação, a nutrição, o início de uma fase de incerteza sobre a decisão do TAR do Lazio, proibindo o cultivo de organismos geneticamente modificados (que aguardam a Iniciativa Europeia), seria um sinal com devastadoras repercussões”, disseram os promotores da conferência frente a notícia.

Em reposta grupos de ecologistas realizaram a alguns dias uma Contra Expo, a qual chamaram: “Para a Expo 2015: Alimentar o planeta sem transgênicos”. Como isto fosse pouco, a Santa Sé, também terá seu stand e o tema que inspirará seu Pavilhão será: “Não só de pão”.

Giuseppe Sala, comissionado do Governo italiano para a Expo Milano 2015, comentou que a “Expo Milano 2015 tinha posto o desafio de ser uma exposição colaborativa desde o início, para a discussão global dos principais desafios que a humanidade enfrenta. Isto ocorre por estarmos convencidos de que este é o papel que as Exposições Universais do século XXI devem ter. Em um mundo no qual muitas pessoas sofrem de fome e não têm acesso a água limpa, já não podemos ignorar a necessidade urgente de encontrar uma solução global que assegura há todo o mundo o direito a alimentos suficientes, saudáveis e seguros, garantindo um futuro sustentável”.

Uma notável diferença com a Expoagro, a exposição, cujos acionistas são os jornais Clarín e a La Nación, que há pouco fazia a promoção de alimentos saudáveis e seguros, mas cujo objetivo não é outro além de vender maquinarias e venenos para, ao final, brindar pela ganância com champanhe Dom Perignon, com glifosato!
Nossa fonte: página do MST

Os transgênicos e a fome: a revolução fracassada

Parecem ter sido dissipadas as dúvidas sobre a sua periculosidade para a saúde e para o ambiente (sob condições específicas), enquanto – ao contrário das promessas – eles não resolveram a chaga da desnutrição. A única certeza é que as plantas geneticamente modificadas são fonte de enormes negócios para poucas multinacionais e de grandes problemas para os pequenos agricultores.

O padre Paolo Fontana, professor de bioética do Seminário Teológico do Pontifício Instituto das Missões Exteriores (Pime) de Monza, na Itália, analisa a questão a 40 anos da criação em laboratório do primeiro transgênico "moderno".

O artigo foi publicado na revista Popoli
, de fevereiro de 2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

O homem sempre selecionou plantas e animais, favorecendo, através de uma paciente obra de cruzamentos, variedades vegetais e raças animais com características que resultassem convenientes. Esse processo de "domesticação", que consiste em reproduzir aqueles indivíduos que, de modo já marcado, apresentam as qualidades buscadas, requer tempos longos, ditados pelo ritmo natural das gerações.

A longa história da agricultura e da pecuária registrou, especialmente no século passado, uma forte aceleração, graças à utilização de novas técnicas agrícolas. Mas a reviravolta clara nesse modo de proceder ocorreu com a aplicação aos vegetais (e aos animais) dos conhecimentos biotecnológicos.

Um organismo geneticamente modificado (OGM) é um organismo vivo que possui uma combinação de material genético inédito, obtida com a utilização das biotecnologias. A manipulação genética modifica a estrutura e as funções do organismo vivo e o induz a produzir materiais biológicos ad hoc. As aplicações possíveis abrangem vários campos: da medicina aos cuidados da saúde, do setor alimentar ao químico, da zootecnia à agricultura. O nosso interesse é pelos vegetais transgênicos: portanto, aprofundaremos a sua difusão, as suas características, as suas questões críticas.

Saúde e ambiente

Enquanto a "criação" em laboratório do primeiro transgênico (não vegetal) é datada de 1973, os primeiros vegetais transgênicos cultivados no campo remontam a 1996 e se estendiam por 1,7 Mha (milhões de hectares). Em 2011 foram semeados 160 Mha com transgênicos, o que equivale a um incremento de 94 vezes em 15 anos. Os países mais envolvidos são 29, dos quais 19 estão em desenvolvimento e 10 são industrializados. A taxa de crescimento para as culturas biotecnológicas nos países em desenvolvimento foi de 11% em 2011 em comparação com o ano anterior, quase o dobro em comparação com os países industrializados (+5%).

O líder da produção mundial de culturas biotecnológicas continua sendo os EUA, com 69 Mha cultivados; seguem oBrasil (30,3 Mha, +20% em relação ao ano anterior), a Argentina (23,7) e a Índia (10,6). Nesse ranking, a China está em sexto, com 3,9 Mha, e a África do Sul, em nono (2,3) (ver tabela abaixo).



As plantas geneticamente modificadas mais semeadas são quatro: a soja, com 80 Mha cultivados no mundo em 2011; o milho, com 50 Mha; o algodão e a canola, respectivamente com 22 Mha e 10 Mha. Outros transgênicos cultivados, mas em lotes significativamente inferiores (algumas centenas de milhares de hectares), são: beterraba, alfafa, mamão e abóbora nos EUA; mamão, álamo, tomate e pimentão na China; batata na Alemanha e na Suécia.

As modificações genéticas introduzidas nas quatro espécies mais cultivadas são fundamentalmente de três tipos: a tolerância aos herbicidas, a resistência aos insetos infestantes ou, ao mesmo tempo, as duas modificações anteriores. Se, em um campo, o cultivo é tolerante a um herbicida, será mais fácil limpar o terreno de ervas daninhas sem causar danos à planta; o mesmo vale para a resistência às pragas: o cultivo estarão a salvo dos ataques devastadores mesmo sem a utilização preventiva de inseticidas.

Como se obtêm esses resultados? Com a tecnologia do DNA recombinante, introduzem-se nas células vegetais genes estranhos que dão à planta as características desejadas. Desse modo, cada transgênico é "único" e deve ser examinado individualmente para determinar a sua inocuidade para a saúde humana e para o ambiente. Hoje, estão disponíveis no comércio 121 variedades de transgênicos de milho, 48 de algodão, 30 de canola e 22 de soja, cada uma com sua avaliação de impacto por parte do produtor.

Tal avaliação destina-se a ser repetida por órgãos públicos antes da venda definitiva no país interessado. No que diz respeito à União Europeia, o órgão encarregado de atuar para a comercialização dos transgênicos é a EFSA(Autoridade Europeia de Segurança Alimentar): ela estima o risco e expressa um parecer, mas cabe aos Estados-membros e à Comissão Europeia a decisão final para a comercialização. Os transgênicos no mercado hoje superaram ambos os exames e, portanto, no estado atual do conhecimento, podem ser considerados seguros para a saúde pública e para a alimentação.

Em relação ao ambiente, são dois os pontos críticos a serem superados para evitar a disseminação no território de plantas geneticamente modificadas: a polinização com plantas equivalentes não transgênicas e a dispersão da semente. Para evitar ambas, poderiam ser suficientes precauções agrícolas adequadas, por exemplo as dimensões reduzidas dos lotes, a diferenciação das culturas vizinhas e o afastamento dos lugares onde a flora cresce espontaneamente (por exemplo, nas florestas).

Em todo caso, para evitar a polinização cruzada, as plantas geneticamente modificadas são normalmente modificadas com a característica adicional da "esterilidade masculina": o pólen "fugido" do campo é estéril, isto é, não é capaz de fertilizar nenhuma outra planta.

Em última análise, com as devidas precauções, as contaminações ambientais involuntárias não deveriam alterar o ecossistema mais do que a agricultura tradicional, com as suas sementes selecionadas e os seus híbridos.

Uma resposta para a fome?


A avaliação de impacto dos transgênicos na saúde humana e no ambiente, geralmente, é bastante aprofundada, por ser objeto de um amplo debate. Ao contrário, muitas vezes é omitido o aspecto econômico e social relacionado com a produção das plantas transgênicas. O mercado mundial globalizado, de fato, tende a enfatizá-las e a promovê-las, seja junto aos produtores, seja junto aos consumidores.

As sementes transgênicas são patenteadas, e a sua utilização traz rendas consideráveis para as 18 multinacionais (gráfico abaixo) que as desenvolvem. Além disso, a característica de serem "estéreis masculinas" favorece ainda mais as fáceis tentações de monopólio, uma vez que impõe, a cada ano, a compra de novas sementes.



As implicações econômicas e sociais merecem outras duas exemplificações. Muitas vezes se fala de vegetais geneticamente modificados capazes de aliviar a fome no mundo. Até mesmo a FAO se sentiu no dever de abordar a questão e, há alguns anos, publicou um relatório intitulado: "Biotecnologias agrícolas: uma resposta para as necessidades dos pobres?".

Atualmente, a solução para essa desafiadora questão permanece negativa. Ao contrário, poderia ter uma resposta concreta se as verdadeiras necessidades alimentares dos países pobres fossem levadas em consideração. Por exemplo, se poderia modificar geneticamente plantas como o sorgo, o milhete (milho-miúdo ou painço), a cevada, o arroz, enriquecidas de nutrientes ou capazes de crescer em condições climáticas e de terreno adversas. Se isso não acontece é porque as plantas transgênicas são principalmente estudadas segundo a lógica do lucro econômico dos países desenvolvidos.

A mesma motivação vale para um segundo exemplo. Uma das fronteiras mais promissoras e menos investigadas dos transgênicos é a possibilidade de produzir para as plantas vários tipos de vacinas. O eventual progresso nesse campo científico, com a concomitante renúncia da patente, poderia abrir cenários inesperados para os países pobres: milhões de pessoas poderiam ter fácil acesso às melhores condições sanitárias.

Para orientar o uso das plantas geneticamente modificadas a um bem comum real, parece indispensável que elas sejam integradas em um programa completo de pesquisa e de desenvolvimento agrícola mundial, e que este obtenha a devida atenção, inclusive financeira.

A saúde e o ambiente poderão receber mais cuidado quanto mais as entidades públicas se consorciarem entre si, com a capacidade propositiva da pesquisa orientada e finalizada. A própria sociedade deverá assumir a responsabilidade de participar na definição dos objetivos da pesquisa, das prioridades, das aplicações e da repartição das vantagens daí derivados.

Para que tudo isso possa acontecer, é indispensável uma reflexão pacata, mas distante de qualquer abordagem venal.
Nossa fonte: página do MST

SALVE DANIEL ALVES!


A Fifa pode fazer pouco contra o racismo no futebol — mas gente como Daniel Alves pode muito
Kiko Nogueira
Um amigo me conta que, no começo dos anos 60, Pelé esteve na cidade de sua mãe, no interior do estado de São Paulo. Ele já tinha ganhado a primeira Copa do Mundo e era saudado como um herói nacional.

Pelé estava visitando um amigo. Foi recebido como campeão. E então o levaram à piscina pública, que era uma das grandes atrações locais. Pelé entrou na água. Imediatamente, o salva-vidas mandou que ele se retirasse.

O Crioulo podia passear, conversar com as pessoas, tirar foto e dar autógrafo. Nadar na mesma piscina era demais. Pelé saiu sem falar nada.

Cinquenta anos depois, Pelé continua passando em branco sobre o racismo. Não reclama, muda de assunto, sempre dá um jeito de minimizar o problema.

Não é só ele que é assim, claro. Ele é apenas um símbolo de um jeito de pensar. Por muito tempo se acreditou no mito da democracia racial no Brasil. Hoje vai ficando cada vez mais evidente que somos apenas mais acomodados. Ou éramos.

Daniel Alves dá esperança de novidade, de menos hipocrisia e servilismo. O lateral do Barcelona estava para bater um escanteio quando um canalha na torcida do Villareal atirou-lhe uma banana no gramado.

Não é a primeira vez que isso acontece. Geralmente os torcedores costumam imitar sons de macaco, também. Mas Daniel brilhou: ao invés de fingir que não viu nada, pegou a banana, descascou-a, engoliu-a e cruzou (na seqüência da jogada, no segundo cruzamento seguido, saiu um gol).

“Estou na Espanha há 11 anos e há 11 anos é dessa maneira. Temos de rir dessa gente atrasada”, disse. Na Copa, a Fifa obrigará os capitães dos times da quartas de final a ler uma declaração de repúdio à discriminação. Não dará em nada.

O que vai mudar alguma coisa, mesmo, serão gestos como o de Dani Alves. De não deixar barato. De quem, ao invés de encarar esse tipo de ofensa como um acontecimento corriqueiro como a chuva — afinal, o que é mais uma banana atirada por um animal? –, tem atitude e presença de espírito. Daniel Alves mitou. E foi mais eficaz do que será qualquer discurso ensaiado por uma entidade corrupta e desacreditada como a Fifa.
Sobre o Autor: Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas
Nossa fonte: Diário do Centro do Mundo

Padilha e o assassinato de reputações

Por Renato Rovai -CdB de São Paulo

Alexandre Padilha tem sido alvo de ataques coordenados pela direita



Alexandre Padilha e sua candidatura estão sofrendo um bombardeio midiático por conta de seu nome ter sido citado na investigação da PF no caso da investigação do doleiro Alberto Youssef. A citação por enquanto se apresenta como algo solto, sem nenhum indício concreto que tenha resultado em vantagem a partir do ministério da Saúde para os indiciados. Muito diferente do que se tem no caso Alstom-Siemens, onde há confissão de culpa de empresas e personagens centrais do esquema, que citam um cartel operando a partir de interesses de grãos-tucanos do Estado.

A desproporção no tratamento desses episódios é mais uma demonstração de como a mídia tradicional perdeu completamente a vergonha de atuar como um partido político. E como o faz em bloco e em uníssono para ajudar aqueles que considera seus aliados e para atacar os que enxerga como adversários.

Padilha que se prepare, ele é o alvo da vez. Uma avalanche de histórias vão ser costuradas para desconstruí-lo numa narrativa típica das novelas policiais. Uma citação aqui, um assessor que foi parar ali, um torpedo encaminhado por acolá. E de repente um deputado pede uma CPI e a sempre combativa PF vaza mais um relatório de alguém que está buscando uma delação premiada. E o monstro esta posto a mesa.

A reputação muitas vezes construída por um longo período de atividade pública é demolida sem que se tente verificar até onde está se fazendo justiça com o acusado. O que se pesa é o que está em jogo. E no caso de Padilha, por mais que ele tenha distribuído sorrisos aos donos da mídia paulista, trata-se de um inimigo.

É esse o espaço que lhe reservam no álbum de figurinhas públicas.

Os donos da tradicional mídia paulista não aceitam cogitar que no Palácio dos Bandeirantes haja um petista no comando. E vão abater quem estiver no caminho para que isso não ocorra.

A candidatura de Alckmin está muito fragilizada. E contas feitas, já se percebeu que num segundo turno quem vier a disputar com ele pode levar. Até porque das torneiras paulistas vai estar saindo ar para tomar banho e escovar os dentes.

Ou seja, o PT não pode ir ao segundo turno. Cabe um Skaf, mas não um petista.

E sendo assim, Padilha não vai ter descanso.

Se quiser ser um candidato vivo e não um espectro de candidato, Padilha terá que mostrar que não tem receio de enfrentar o dragão. No caso, o esquema midiático do Estado. É com essa mídia que transforma uma citação num crime e um cartel numa bolinha de papel que se dará a disputa. Ela é a verdadeira adversária.

Renato Rovái é jornalista, editor de seu blog e da Revista Fórum