Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Receitinha para a paz


Ao Robertão


Dona Pandá teve uma boa discussão com seu amigo Zezé do Leite. O tema foi bem atual, as injustiças e a concentração de renda. Ela dizia que com a justa distribuição das riquezas e das terras o Brasil, o mundo seria outro. O Sr. Zezé  afirmava que quem quer fica rico, as oportunidades existem. Já dá para perceber o nível de comunhão de pensamento entre os dois. Depois de algum tempo, ela perdeu a compostura, fechou a cara, saiu da sala e voltou com um livro, dizendo:

- Olha aqui, você primeiro leia este livro até entendê-lo, depois volta para continuarmos. Está bem?

- Ele leu a capa “História da riqueza do homem”.

- Como você sabe que ainda não li. Este livro fazia parte da lista do meu vestibular. O autor é ... – pegou o livro e completou – Leo Huberman.

- Isto mesmo. Sei que você não leu ou, pelo menos, não assimilou nada do seu conteúdo senão não faria as afirmações tão ...

- Tão o quê?!

- Sem fundamento.

Depois de mais um troca troca pouco esclarecedora, e já passando da hora, o Sr. Zezé se despediu levando o livro.

Dona Pandá  continuou macambúzia por alguns minutos. Depois resmungando algumas palavras tipo abracadabra, foi até seu canteirinho de ervas e, aí sim, pude lhe adivinhar o que dizia, pedia licença à melissa para apanhar suas folhas. Agradeceu e foi fazer o chá. Em seguida, com a caneca na mão, sentou-se na varanda e, só então, se deu conta de que estávamos observando-a. Ela, sorriu, nos ofereceu o chá, dizendo que havia feito uma chaleira completa e até insistiu na oferta.

- Vejam como fui idiota de ficar irritada com o Zezé. Privei-me dos cantos desses pássaros que estão tão esperançosos chamando para a sedução suas companheiras. Eles nos mostram a beleza  e eu, quebrando a harmonia do momento e do lugar, fico brava, discuto com quem nem quer ouvir.  O dia está lindo, os verdes estão exuberantes, as flores nos dão perfumes e cores a escolher. As íris, roxas e brancas, as buganvílias e as rosas vermelhas, as azáleas... Qual é a cor das azáleas? No meu tempo... será que ele já passou? Se ainda cá estou...  chamava cor de maravilha. Que maravilha! Acho que estou ouvindo o Caetano.
Bem, basta olhar, ver, sentir, deixar a beleza entrar para a paz ficar a nosso alcance. Podemos escolher entre curti-la e nos alimentar, ou ficarmos idiotas. E os passarinhos estão insistindo... Querem me abençoar. Amém.  

André Singer propõe: PT deve romper com conservadores



Autor de “Os sentidos do Lulismo” defende conquistas da última década, mas sustenta: “há espaço para acelerar as mudanças”

Entrevista a João Paulo Martins, no blog Socialista Morena

Ex-porta-voz e secretário de Imprensa de Lula (2003-2007), o cientista político André Vítor Singer tem se destacado como teórico – e crítico – do que chama de “lulismo”. Nesta entrevista ao colaborador do blog João Paulo Martins, o autor de Os Sentidos do Lulismo (Companhia das Letras) analisa erros e acertos do PT no poder e lamenta a ausência de uma esquerda forte o suficiente para pressionar o governo pela aceleração das mudanças.

Ele também aponta a “falta de confrontação com o capital” e aposta que o leilão de Libra foi feito para agradar “a burguesia que está passando por um período de grande hostilidade” em relação ao governo Dilma. “A Petrobrás teria condições de fazer a exploração de Libra por si mesma, sem a necessidade de associação com empresas privadas. Parece-me razoável, sendo o petróleo um elemento estratégico para o desenvolvimento do país”, disse.

Para Singer, é necessário “algum grau de afastamento das forças conservadoras” . É arriscado? Sim. Mas o partido poderia correr o risco. “Para manter uma posição mais firme na perspectiva das mudanças estruturais que o Brasil precisa”, defende. Leiam a íntegra da entrevista abaixo (Cynara Menezes)

Leia a íntegra da entrevista em:
http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/andre-singer-propoe-pt-deve-romper-com-conservadores/

terça-feira, 19 de novembro de 2013

As irregularidades na prisão de Genoino e a responsabilização por atos judiciais

http://jornalggn.com.br/noticia/as-irregularidades-na-prisao-de-genoino-e-a--responsabilizacao-por-atos-judiciais

Por Alessandre de Argolo

Comentário ao post "Família e advogado de Genoíno denunciam irregularidades em prisão"

A responsabilização por atos judiciais é uma matéria controvertida em direito, isso porque toca num aspecto sensível em demasia da função jurisdicional que é a liberdade e autonomia concedidas corretamente ao juiz de direito para decidir as questões lhe submetidas a julgamento. No entanto, isso não significa impossibilidade do juiz responder por eventuais decisões judiciais que, a toda evidência, extrapolam a razoabilidade e são proferidas em flagrante arrepio da lei, gerando danos aos jurisdicionados.

Na hipótese, parece-me claro que os policiais e as autoridades que cumpriram a decisão devem ser eximidas de responsabilidade, ao menos neste primeiro momento. Eles cumpriram uma ordem judicial.

A responsabilidade, até o presente momento, frise-se, parece-me claramente encontrar-se na esfera de competência da autoridade judicial que, uma vez tomando conhecimento do estado grave de saúde do preso, mantenha a prisão ilegal sem que isso implique a observância de uma situação capaz de garantir a saúde do preso.

Tudo em direito precisa ser analisado com cuidado.

A situação de Genoíno precisará ser analisada por um médico perito que produza um laudo que diga expressamente que ele não tem condições de cumprir pena nas condições disponíveis. Penso que será esse documento que fundamentará a resolução do problema.

Paralelo a isso, deve-se peticionar dando início imediato ao procedimento de concessão de indulto.

A responsabilidade do ministro relator do processo no STF sobre os desdobramentos do caso se fixará neste momento: caso ele indefira o pedido de intimação do Conselho Penitenciário para dar início ao procedimento de concessão de indulto, não acatando a opinião do périto médico que eventualmente ateste que Genoíno não pode cumprir pena, sob o risco de vim a morrer, e caso o pior aconteça em virtude desse retardo, lembrando que sempre existe a opção do recurso contra a decisão do ministro relator, ele deve ser responsabilizado, na forma da lei.

Caberá representação penal contra ele, sem prejuízo das sanções cíveis e administrativas cabíveis. Inclusive sem prejuízo das sanções políticas: impeachment.

Decidir sobre a vida das pessoas impõe responsabilidades das mais variadas. Se, ao se deparar com a situação de saúde grave de Genoíno, o ministro relator opuser obstáculos ao início do procedimento de indulto ou a uma melhoria das condições de execução da pena, ele estará inegavelmente atraindo para si a responsabilidade por qualquer dano que isso ocasione ao preso Genoíno.

Todo o Brasil deve estar atento ao que acontecerá daqui em diante. A situação é grave e Barbosa deverá ser analisado mais de perto neste caso. Quero ver como ele irá se comportar. Espero que ele tenha a decência de reconhecer a grave situação de saúde de Genoíno e não cometa nenhuma arbitrariedade, nenhum desatino. Se ele fizer isso, ele merece ser representado.

E, a partir deste momento, se o PT ou o Governo se omitirem diante dessa situação, serão igualmente responsáveis. Natural que, pendente petição, espere-se o pronunciamento do órgão judicial competente. A partir daí, deve-se agir como manda a lei, mobilizando todo o aparato jurídico-institucional para fazer frente a uma grave violação dos direitos humanos de José Genoíno que será observada.

A responsabilidade terminará se espalhando para outros setores, inclusive porque a lei diz que a autoridade administrativa pode iniciar o procedimento de indulto, que sempre será sob o crivo judicial. Ou seja, passa a ser um assunto de Estado que interessa processualmente ao Governo Federal, que deverá agir imediatamente, sempre dentro do devido processo legal.

Caso Barbosa negue, o que eu espero que ele não faça, cabe à AGU, órgão de representação jurídica da União, requerer habilitação nos autos e recursar dessa decisão, aumentando o campo de pressão. Penso que isso está autorizado pela Lei de Execução Penal (LEP), que diz claramente que a autoridade administrativa pode iniciar o procedimento de indulto. E a decisão é do Executivo, apesar do procedimento ser judicial.

Atente-se: o procedimento é judicial, mas a decisão será por decreto presidencial, que será tão-somente juntado ao processo (art. 192 da LEP). Se Barbosa negar o início do procedimento de indulto, recusando-se a reconhecer a situação de saúde de Genoíno, cabe inclusive habeas corpus dessa decisão violadora do princípio da independência entre os poderes da república (violará a competência do executivo de julgar o mérito do pedido de indulto), que tem um trâmite mais célere do que o recurso (agravo) e será julgado pelo ministro para quem for distribuído.

Neste momento, será preciso estar atento a manobras de última hora que queiram interpretar em conformidade com a Constituição o dispositivo da LEP que diz que a competência é do Presidente da República. Podem querer enfiar goela abaixo uma interpretação que diga que, em algumas situações, não previstas em lei, como a de uma importante liderança do partido que está no poder ser o preso requerente do indulto, o Executivo não teria a isenção necessária para julgar o pedido de indulto e que, em tal condição, a decisão caberia excepcionalmente ao judiciário.

Neste caso, produzida uma exceção irrazoável e atentatória aos direitos humanos, estará aberta uma grave crise institucional, cujas repercussões são imprevisíveis. E agora eu entendo melhor o que pode estar em jogo com essa estratégia de submeter Genoíno a uma situação de grave desrespeito aos seus direitos mais básicos. Pode realmente ser uma provocação maquiavélica para agravar a situação institucional, como sugeriu um participante do blog de nome "RACS", mas usando argumento diverso (para ele, a minha sugestão de recorrer ao indulto seria ruim porque a presidenta Dilma Rousseff se submeteria a pressões, ficaria desgastada e etc). Na verdade, o quadro é muito mais complicado. Pode-se criar um "cabo de guerra" entre poderes, com o Executivo sendo desautorizado pelo Judiciário em sua própria competência. Percebi isso melhor agora, ao constatar o que poderia ser levantado pelo STF para barrar a competência do Executivo. De fato, existe um caminho que abre espaço para isso. E aí estará criada uma crise institucional muito grave.

A Procuradoria-Geral da República também será analisada. Ela deve ofertar parecer favorável, sob pena de igualmente tornar-se responsável pelos desdobramentos do caso. Ou seja, tudo deve ser resolvido em sede judicial, como manda a lei de execução penal.

De qualquer forma, retomando o que afirmei lá atrás, ninguém pode fugir das suas responsabilidades, ainda mais quando direitos fundamentais da pessoa humana estão em jogo. Penso que o Ministro da Justiça NÃO pode se omitir diante da situação periclitante que foi criada, nem tampouco a presidenta Dilma Rousseff pode se eximir diante do quadro criado. Existe um momento em que não se pode retroagir e assistir impassivelmente à injustiça, sejam quais forem as consequências, sob pena de omissão relevante.

http://jornalggn.com.br/noticia/familia-e-advogado-de-genoino-denunciam-irregularidades-em-prisao

Família e advogado de Genoíno denunciam irregularidades em prisão

Lourdes Nassif

Jornal GGN - Na prisão de Papuda, em Brasília, o desenrolar nada normal nas detenções ocorridas por determinação do Supremo Tribunal Federal,fruto da Ação Penal 470. Há poucas horas, através de seu advogado, José Genoino enviou uma mensagem:

"Estamos presos em regime fechado, sendo que fui condenado ao semiaberto. Isso é uma grande e grave arbitrariedade, mais uma na farsa surreal que é todo esse processo, no qual fui condenado sem qualquer prova, sem um indício sequer. Sou preso político e estou muito doente. Se morrer aqui, o povo livre deste país que ajudamos a construir saberá apontar os meus algozes!"

O advogado de Genoíno, Luiz Fernando Pacheco, informa que entrou, ontem, com petição exigindo regime semiaberto, conforme foi determinado, já que na prática ele está em regime fechado e "isto representa uma grande ilegalidade", afirma. "Hoje, com agravamento do quadro clínico, Genoino teve que ser assistido por um médico providenciado pela família, com dores no peito, taquicardia e a pressão ainda alterada, entrou com petição pedindo prisão domiciliar", diz Pacheco.

O advogado informa que tudo isto está nas mãos de Joaquim Barbosa, que não se pronunciou até agora. "Esperamos que Joaquim Barbosa tenha senso de humanidade e defira os pedidos ou, caso contrário, iremos a plenário, no Tribunal", afirmou ele. Genoíno passou há pouco tempo por grande cirurgia e "tem que fazer exames períodicos para verificar coagulação no sangue com perigo de hemorragia interna", explica Pacheco.

Miruna, filha de Genoino, afirmou que a família não consegue falar com ele, nem mesmo por telefone ou através de bilhetes. "Não tivemos contato nenhum", afirma ela. A família está extremamente preocupada. Um médico conseguiu ver Genoíno somente às 2 horas da manhã, um longo tempo depois de sua chegada em Brasília.

"Nossa grande preocupação, além de toda esta injustiça, é sua saúde", disse Miruna, "ele precisa de cuidados e estava, conforme atestou o médico, muito cansado". Ele mandou um recado pelo advogado, o primeiro que conseguiu enviar, dizendo que ainda não tinha sido acomodado, até 2h da manhã, e que passou todo este período comendo sanduíche e pizza. A preocupação da família é grande, pois sua viagem, por avião, foi a primeira desde a cirurgia de peito aberto a que foi submetido há poucos meses.

"Nós queríamos mandar cartas, frutas, roupas", diz Miruna, isso como uma forma de "minimizar esta injustiça toda", explica. A família está em Brasília, acompanhando o desenrolar dos acontecimentos, e em um estado extremo de tensão por sua situação e saúde, em uma cidade que não conhecem bem e sem poder fazer nada.

Petição enviada ao Supremo:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO DO EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Ação Penal nº 470

URGENTE – Feriado Nacional de Proclamação da República

JOSÉ GENOINO NETO, nos autos da Ação Penal em epígrafe vem, por seus defensores, respeitosamente à presença de Vossa Excelência para expor e requerer o quanto segue:

“O paciente José Genoino Neto, 67 anos, foi admitido no Hospital Sírio-Libanês em 24/07/2013 procedente de Ubatuba-SP, com relato de ter apresentado dor torácica de forte intensidade, com irradiação para dorso associado a quadro de lipotímia e síncope.” (doc. 01,Relatório Médico exarado pelo Professor Doutor Roberto Kalil Filho).

“Foi operado em caráter de emergência no dia 24/07/13, tendo sido realizada CORREÇÃO DA DISSECÇÃO DE AORTA ASCENDENTE com troca de aorta ascendente por tubo nº 30 desde o plano supracoronário até o joelho posterior da croça aórtica” (doc. 02, Relatório de Cirurgia Cardíaca realizada pelo Professor Doutor Fabio Jatene)

Submeteu-se, pois, recentemente a Cirurgia Cardíaca gravíssima. A situação, registre-se, foi classificada como emergencial eis que se não realizada a pronta intervenção o resultado inexorável teria sido a morte!

Após quase um mês de internação, GENOINO recebeu alta hospitalar.

Todavia, continua – e assim permanecerá, é certo, para o resto de sua vida – sob rigorosos cuidados médicos, ou seja, nunca receberá alta clínica.

Assim, para regular manutenção de sobrevida, é medicado diariamente com uma série de drogas: Atenolol, Losartana Potássica, Atorvastatina, Diazepam e Coumadin (doc. 03). A dosagem desta última tem que ser calibrada e readequada conforme resultado de exames periódicos de Tempo de Protombina, a fim de evitar coagulação ou hemorragia interna.(doc. 03)

Como se nota, o quadro é grave e inspira cuidados.

Essas informações são corroborados pelo médico Daniel França Vasconcelos, que assistiu GENOINO na data de ontem no presídio da Papuda, após ter sido chamado às pressas por familiares do peticionário, pois este sentiu-se mal no deslocamento aéreo realizado até Brasília, tendo sentido palpitações e fortes dores no peito. O médico recomendou, ainda, rígida dieta e reiterou a necessidade de realização, a miúde, de exames de Protombina (doc. 04).

Por tudo isso, foi que GENOINO requereu, em setembro passado, sua aposentadoria do cargo de Deputado Federal (doc. 05), recebendo, por ora, licença médica pelo prazo de 120 dias.

Este o lamentável quadro, de rigor reconhecer que o peticionário não tem condições físicas de agüentar, com um mínimo de dignidade, as agruras de uma vida na cadeia.

Assim, por razões de cunho estritamente humanitário, requer seja colocado em regime de prisão albergue domiciliar.

Termos em que, pede deferimento.

de São Paulo para Brasília,

17 de novembro de 2013.

Luiz Fernando Pacheco

OAB/SP 146.449

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Genoíno corre risco de um mal súbito a qualquer instante, alerta médica

Genoino, visivelmente emocionado, apresenta-se à Polícia Federal, em São Paulo
Genoino, visivelmente emocionado, apresenta-se à Polícia Federal, em São Paulo

O pico de pressão que o deputado José Genoino (PT-SP) sofreu no voo rumo ao Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, onde encontra-se no momento, em uma cela, significa mais do que o atendimento de urgência considera plausível no quadro clínico de um prisioneiro. O alerta parte de uma médica do serviço público, que acompanha o estado de saúde do parlamentar desde a intervenção cirúrgica a que foi submetido em São Paulo, por mais de 8 horas, há cerca de 100 dias. Genoino teve uma dissecção da aorta, quando a artéria abre em camadas, o que provoca hemorragias.
– A formação de um aneurisma, sobretudo em pacientes com um pós-operatório delicado, como é o caso do parlamentar, de 67 anos, é o principal risco à vida, pois um novo pico hipertensivo como este, verificado em condições extremas de estresse, a caminho de uma prisão que ele considera injusta, poderá ser o último – disse a médica à reportagem do Correio do Brasil, em condição de anonimato.
Mas, a preocupação desta especialista não é isolada. Parlamentares do PSDB, adversários políticos de Genoino, também estão preocupados com a gravidade do quadro de saúde do petista. A possível morte de Genoino, em um presídio público, após um julgamento polêmico, diante da resistência do ex-guerrilheiro em aceitar a culpa, imposta por um julgamento que ele e um dos principais líderes políticos do país, o ex-ministro José Dirceu, atribuem a um “tribunal de exceção“, seria o pior dos cenários para a oposição no país.
Mestre e doutor em Sociologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em um artigo publicado em sua página na internet, neste domingo, Carlos Alberto Furtado de Melo relata esta preocupação, demonstrada por um senador tucano.
“Vamos lá. Recentemente, conversando com um respeitável parlamentar do PSDB, uma das peças centrais no governo FHC — sim, também tenho amigos entre os tucanos –, ele se disse preocupado com José Genoíno. Soube de seu precário estado de saúde – realmente sério — e de sua depressão originada por tudo o que está vivendo — mesmo antes da prisão, estava confinado em casa, pois nem ao mercado comprar bananas podia ir sem ser hostilizado de modo muitas vezes covarde e oportunista. Meus caros, não se tripudia a alma alquebrada de um condenado!”, afirma Furtado de Melo.
“Voltemos ao caso. Esse respeitável e sério tucano disse-me que o insuspeito senador Jarbas Vasconcelos (PMDB – PE) lhe teria afirmado categoricamente que ‘quem acredita que Genoíno seja um ladrão ou é um sujeito muito mal informado quanto à política, ou só pode ser mesmo um completo imbecil’. Disse-me o tucano que o caso de Genoíno lhe inspirava preocupações mais profundas que as disputas partidárias e que há nele um componente de humanidade que não poderia ser desconsiderado; que há nele um problema terrível quanto à qualidade da política que fazemos que precisava de alguma forma ser corrigido”, acrescentou.
“Não podia fazer muito, mas pediu-me que articulasse uma visita sua à Genoíno; fomos lá, à casa modesta numa rua modesta, resultado de uma vida modesta de uma pessoa modesta. Recentemente, alguém publicou na internet fotos da ‘mansão de Genoíno’ que podem comprovar o que lhes digo; em que pese todo esterco dos comentaristas de internet”, disse.
“Genoíno se mostrou comovido e agradecido pela visita, pessoa igualmente solidária, compreendeu o gesto de solidariedade à parte da rivalidade partidária e das disputas políticas. Ambos ali sabiam que a política pode ser mesmo muito cruel, brutal até mesmo. Ainda assim, o petista tentava enxergar o mundo e o colega parlamentar com olhar de homem altivo e honrado que sempre foi. Não se falou de prisão, não se falou de futuro, portanto; discutiu-se a saúde, o peso dos anos; medicação, assunto inevitável com o correr da idade. E se falou de passado: Dr. Ulysses, Luiz Eduardo Magalhães, ACM, Nelson Jobim, Segurança Nacional; Regime Militar e a prisão e o exílio de então, Resistência Democrática, Diretas-Já, Constituinte e a reconstrução do Brasil nesses anos recentes; a importância dos governos FHC e Lula. Enfim, a grande Política que um dia se fez neste país e que aqueles dois políticos tiveram a oportunidade de viver e eu de estudar. Saudades daquele Brasil”, lamenta o articulista.
Forte tensão
Genoino encontra-se no mesmo presídio que Dirceu, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o empresário Marcos Valério Fernandes. Eles e outros sete condenados no processo que ficou conhecido como ‘mensalão’ que tiveram ordem de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) foram transferidos para a principal penitenciária do Distrito Federal no início da noite passada.
Dirceu e Genoino, este visivelmente emocionado, apresentaram-se na sexta-feira, à noite, à PF em São Paulo e, de lá, seguiram em um avião da própria polícia para Belo Horizonte, para buscar um outro grupo de sete condenados. Genoino já apresentava sinais de que sofria um pico hipertensivo quando desembarcou em Brasília. A aeronave chegou à capital federal às 17h45. Às 19h, os presos deixaram o terminal aeroportuário em um micro-ônibus com vidros escuros, escoltado por três carros. Outro veículo se desligou do comboio e seguiu em direção à Superintendência da Polícia Federal, onde buscou os ex-tesoureiros do PL Jacinto Lamas e Delúbio Soares (PT).
As duas mulheres presas – a ex-presidente do Banco Rural Kátia Rabello e a ex-diretora da SMP&B Simone Vasconcellos – foram conduzidas para a ala feminina. Além de Genoino, Dirceu, Valério, Delúbio e Jacinto, também estão presos na Papuda Cristiano Paz, Kátia Rabello, José Roberto Salgado, Romeu Queiroz e Ramon Hollerbach. Eles ficarão no complexo presidiário até a definição do local onde cada um cumprirá sua pena.
A defesa de José Genoino foi a primeira a apresentar recurso pedindo o cumprimento da pena em regime semiaberto. O pedido foi feito esta tarde pelo advogado dele, Luís Fernando Pacheco, que contesta a transferência de Genoino, de São Paulo, para Brasília.
– Cada minuto no regime fechado, quando ele foi condenado ao semiaberto, representa grave constrangimento ilegal, sem contar o risco que isso representa à vida de Genoino – afirmou o advogado a jornalistas.
Pacheco estava a caminho do cartório onde ingressou, neste domingo, com um recurso pela prisão domiciliar de seu cliente, alegando problemas de saúde.

Nossa Fonte: Correio do Brasil

domingo, 17 de novembro de 2013

Fuga de Pizzolato atrapalha os planos políticos de Joaquim Barbosa


A fuga do ex-diretor do Banco do Brasil (BB) Henrique Pizzolato para a Itália, conforme adiantou nesta sexta-feira o Correio do Brasil, joga um balde de água fria nas pretensões políticas do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa. Pizzolato busca o direito a um novo julgamento, conforme previsto no tratado de extradição assinado entre os dois países, “afastado de motivações político-eleitorais, com nítido caráter de exceção”, como afirmou em nota pública divulgada, também em primeira mão, na edição online do CdB.

A intenção de Barbosa, de concorrer a um cargo público no ano que vem, segundo o blogueiro Rodrigo Vianna, ficou evidente “na decisão do STF, de antecipar a prisão dos condenados no ‘mensalão’ nesse 15 de novembro. A maior parte dos juristas concorda que o normal seria esperar o ‘trânsito em julgado’; ou seja, só depois dos embargos infringentes (que devem ser julgados no fim do primeiro semestre de 2014) é que as prisões deveriam ser executadas”.

E pergunta: “Por que a pressa? Por que mais esse atropelo? Já não bastava o fato de lideranças do PT terem sido condenadas sem prova, como afirmou Ives Gandra Martins (que não tem nada de petista) sobre a condenação de Dirceu? Há quem diga que o governo Dilma teria se empenhado na aceleração do processo: interessaria a ela ‘liquidar’ agora esse assunto, para não criar ‘embaraços’ durante o período eleitoral. Não descarto essa possibilidade (ainda mais num PT e num governo absolutamente dominados pelo pragmatismo). Mas há outras hipóteses”.

“Por que Barbosa suspendeu a sessão de quinta (14/11), em que o colegiado do STF avaliaria a decisão do dia anterior? Ora, porque era preciso que Barbosa faturasse sozinho as prisões. Executadas em 2014, as prisões poderiam gerar algum alvoroço eleitoral – sim. Mas talvez surgissem tarde demais, do ponto de vista de uma oposição que precisa de um terceiro candidato para levar o pleito presidencial ao segundo turno. Está claro, claríssimo, que Joaquim Barbosa (e seus aliados midiáticos) contam com essa hipótese. Juizes têm a prerrogativa de se filiar a partido político até seis meses antes da eleição (abril/maio de 2014, portanto)”, lembra o blogueiro.

Este plano, porém, fica prejudicado se, em Roma, a Suprema Corte de Justiça italiana aceitar o pedido de Pizzolato por um novo julgamento. Uma instância jurídica distante do caldo de cultura midiático que gerou uma das peças jurídicas mais contestadas do STF poderá, sem pressão política, avaliar os argumentos de Pizzolato.

“Até desmembraram em inquéritos paralelos, sigilososo, para encobrir documentos, laudos e perícias que comprovam minha inocência, o que impediu minha defesa de atuar na plenitude das garantias constitucionais. E o cúmulo foi utilizarem contra mim um testemunho inidôneo”, afirma o ex-diretor do BB, que reuniu uma série de provas quanto à sua inocência.

Caso um tribunal italiano considere Pizzolato inocente, “terá aí início uma das disputas jurídicas mais relevantes na história do Direito brasileiro, com grande chance de o ministro Barbosa protagonizar um episódio digno de nota negativa para a posteridade”, conclui um jurista, ouvido pela reportagem do Correio do Brasil, na manhã deste sábado, que prefere guardar o anonimato.

Nossa fonte: Correio do Brasil


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A bateria fugiu do rato e os meninos fazem a festa


Dona Pandá se considera uma planejadora contumaz, o que não significa eficiente. Disto ela tem uma vaga noção. Vaga porque, sendo uma pessoa bastante inteligente, continua planejando nos três níveis: curtíssimo, curto e médio prazos. Longo já é demais para uma setentinha (ela é quem o diz). O planejamento, onde o dia hoje estava inserido, rezava que, após sua caminhada, iria trabalhar no seu livro, pois a protagonista já está chamando pela autora desde que foi aprisionada num sonho perturbador. Por outro lado, a véspera de uma feriado faz seu auxiliar  dedicar mais tempo à horta, sobretudo neste período após o plantio de mudinhas de várias hortaliças nas estufa.

Pois bem, ela calça seus tênis (nesta etapa, há sempre umas briguinhas com os cachorros que não seguram a alegre excitação do passeio anunciado pelo gesto). Lá vão os quatro subindo o morrinho até o platô onde dona Pandá caminha, enquanto Bei, Bia e Pretinho acompanham com terríveis latidos os passantes que ousam usar a estrada  frente à Chácara.
                      Bei e Bia

Passando em frente ao quartinho da pista de skate, dona Pandá vê a capota da Preta (1) e atrás dela... tan...tan... tan... um ninho que não era de passarinho. Bau bau planejamento de curto prazo, substituído imediatamente por outro de curtíssimo sem prazo.
- Vanderlei (será um vocativo urgentíssimo?!),  por favor, venha aqui.
Horta e suas belas mudinhas passam para o médio prazo. Entretanto,  as pobrezinhas confiam que alguém irá se condoer delas, lhes dando água antes que o dia acabe. Aguardemos (2).
- Vamos ter que tirar a capota. Veja só o que está atrás dela!!!
- Acho que o dono do ninho foi passear porque os cachorros não deram alarme.
                              Pretinho

De fato, Rattus rattus não foi visto, mas seus estragos estavam na proteção da capota e na sujeira espalhada pelo chão. Vanderlei e Dona Pandá levaram a capota para fora e a colocaram sobre a pista de skate. Começaram a examinar o trabalho do invasor (que ninguém me corrija dizendo que é uma ocupação), quando toca o telefone lá embaixo na casa. Dona Pandá sai correndo para atender e ao voltar:
- Vanderlei, era a Sandra dizendo que não poderá vir, como foi combinado, para limpar a geladeira. Vou ter que deixar você resolver isto aqui sozinho porque a água do gelo está começando a cair na cozinha.
- Deixa comigo. Vou pegar o material para lavar a capota. E a bateria que estava atrás?
- Essa bateria está aí há tanto tempo. Quer levar para alguém?
- Os meninos lá em casa e os da minha igreja vão ficar loucos de alegria.  É só eu chegar e contar que a senhora deu uma bateria que eles vão dar um jeito de buscar. Vamos ter que preparar os ouvidos. Até o meu pequeno vai brigar par tocar.

  
(1) Preta é a companheira de quatro rodas que transporta dona Pandá e seus cães, além de outras cositas más, como esterco para as mihocas e lixo para a reciclagem.
(2) Vanderlei deu conta do recado e ainda matou a sede das plantinhas.  

terça-feira, 12 de novembro de 2013

O espelho e a velhice

À Ti'Ada que parece ter alcançado a harmonia entre o ex e o in

Dona Pandá chegou de sua caminhada acompanhada de  uma amiga a quem ofereceu um chá de melissa, casca de maçã e gengibre. Explicou-nos que essa bebida era limpadora de pensamentos malcriados

Manuela acaba de completar seus 70 anos. Estatura média, magra, pernas e braços mais curtos e tronco alongado, morena, cabelos curtos, despistando as grandes orelhas, pintados com uma cor intermediária entre o loiro e o ruivo, olhos cor de mel que  explicitam uma inteligência fora do comum, nariz arrebitado, testa proporcional ao rosto bem feito quase sem rugas, a flacidez tirando o contorno do queixo bonito.

Abelhuda que sou, pressenti uma conversa interessante e me posicionei num canto discreto o suficiente para não perturbá-las, alimentando meus ouvidos e minha curiosidade. Acho que saí ganhando.

- Então você afirma que tenho pensamentos malcriados? – Pergunta Manuela e Dona Pandá não se intimida, mas toma seus cuidados.

- Você se assustou com sua imagem no espelho porque se sentiu velha e este não é um sentimento dos mais agradáveis.

- Não – interrompeu Manuela  – Eu acabara de moderar uma oficina sobre segurança alimentar onde estávamos a mil, entusiasmadíssimos com as propostas que colhêramos. Tínhamos fechado as atividades com uma dança coletiva e o sentimento era de juventude poderosa e não da velhice caquética que lá estava no espelho. Foi um baita susto! Um horror! Macabro!

- Sei do que está falando. É  a falta de harmonia entre o ex e o in.

- Ex e in?! Quando se fala em ex já penso logo nos ex-maridos e aí a imagem combina com o espelho.

Dona Pandá não conseguiu se segurar e deu uma boa risada. – Ex-maridos não perdoados... Deixemo-los em paz enquanto os pensamentos não ficam bem-comportados, e voltemos aos nossos ex e in. Estou falando do físico, corpo, o que sofre profunda, rápida e inexoravelmente o poder da gravidade da nossa Gaia e, de outro lado – que deveria ser do mesmo e não de outro - da nossa parte interna,  o emocional, o intelectual, aquilo que chamam alma. Muitas vezes, me pergunto se não será por isso que é tão difícil entender a velhice. Como as pessoas, ainda que com boa vontade, não conseguem respeitar, de fato, os sentimentos dos idosos. É, para quem está em outra faixa etária, natural a pessoa envelhecer. “Você já não pode fazer isto ou aquilo” é uma frase dita sem saber que pode ser uma facada.

- Ah! Agora estamos falando no mesmo diapasão.

- Quem sabe as Faculdades de Filosofia aceitem a sugestão do Ubaldo Ribeiro e criem o curso de epistemologia da velhice. Para você jogar fora essa sua macambuzice vou continuar citando a crônica Alegrias da Velhice (1). Segundo o autor, seu amigo Jorge Amado  lhe ensinou muitas coisas inclusive que...”a única coisa que a gente aprende com a velhice e que a velhice é uma merda”. U.R. conta: ...”fui descer dois degraus do palco aonde havia antes subido e quatro jovens pressurosas me apararam as costas e me seguraram os cotovelos como se eu fosse um hipopótamo paraplégico, mas sou no máximo uma anta com artrite e ainda tenho lepidez bastante para descer um meio-fio com relativa confiança. (A velhice não está na mente, está nas juntas.)”

 Marcela, entrando no clima ubaldiano, contou que outro dia ao entrar na sala para fazer densitometria óssea, a jovem técnica foi recebê-la na porta, segurou, com força, seu braço para que subisse na cama do exame e ainda falou três vezes para tomar cuidado com os dois degraus, com a cabeça para não bater no aparelho e repetia “bem devagar, não queremos cair”. Marcela disse que teve vontade de tranquilizar a moça  e lhe respondeu: - Você não sei, mas eu não vou cair e ainda sei andar e estou vendo perfeitamente os degraus e o aparelho.

- Essa é uma pessoa de boa vontade, mas ainda não sabe o que é a velhice. – Dona Pandá continuou: - O que me deixa bastante irritada é o  faz de conta, como as tais  filas preferenciais que, muitas vezes, só têm a placa.
-Concordo que quando isto acontece e vamos cobrar, sempre há as caras mais feias que a necessidade. Voltando à sua teoria da harmonia, diga-me, Pandá, como envelhecer com um bom casamento entre o ex e o in?
- Vou fazer o curso de epistemologia da velhice e depois lhe empresto as anotações de aula.

  

(1)Ribeiro, Joao Ubaldo. O Rei da Noite. Ed. Objetiva. RJ. 2008


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

As Cartas que Dona Pandá não Mandou

Hoje foi um dia esquisito para Dona Pandá. Na realidade, há algum tempo que ela está mais reflexiva. Seu silêncio parece ameno, quase amoroso, como se tivesse tomando cuidado, seus passos ficaram silenciosos, sua voz baixa, seu riso escasso, substituído por um sorriso envergonhado. Às vezes, vai para a mata, acompanhada de perto, mas não tanto, pelos cachorros que sentem seu momento, não a largam, sem, contudo, chegar muito perto, repeitando o que não entendem.

Esteve mexendo em uns papéis, lendo, anotando e me chamou para dizer que há algumas cartas que não mandou. Algumas por terem caducado, assuntos vencidos, emoções superadas, outras por serem tão desinteressantes que não valem a pena nem guardá-las, nem ainda oferecê-las à leitura do destinatário. No entanto, duas são testemunhas de amor e não vão passar. Seus destinatários são  pessoas tão queridas: uma se foi e a outra, felizmente, está em momento diferente daquele que inspirou a carta – assim Dona Pandá espera -, mas o amor permanece.

I- A Saudade dói e não mata

Hoje é seu aniversário. Hoje seria seu aniversário, mas você foi embora. Se tinha que ir, foi bem, da melhor forma. Primeiro se sentou na terra, embaixo da jabuticabeira no quintal da filha caçula, chupou suas frutas prediletas e discretamente, sem qualquer alarde, se foi. Falei com você um pouco antes, mas o bom de lembrar é seu último abraço quando, após 10 dias juntos, nos despedimos para eu voltar à minha morada, na Chácara Xury, que você me ajudou a formar.

-  Para de plantar árvore, você vai ficar sem Sol. – Ouço seu alerta. E quando de minha próxima visita em sua casa, em Belô, sua fala foi:
 
 - Fiz umas mudas para você levar para plantar. – Lá vinha eu carregada de  mudas de lichia, cabeludinha, jabuticaba e tantas outras que, agora, moram no meu pomar e me dão seu gosto misturado com a saudade.

As lembranças me povoam, me arrancam soluços e risos, sem ordem, misturados. Você chega e a saudade derrama minhas lágrimas que, em seguida, são acompanhadas de sorrisos vindos dos carinhos, ternura que chegam trazidos por você.  Não há cronologia. Sou a criança que está em cima de um belo cavalo e escuto seu grito:

- Não deixa o garrote passar. – Estamos na fazenda levando o gado de um pasto para outro. Estas imagens são fortes, é minha infância, a melhor de todas as infâncias: cavalos, leite no curral, carro de boi ... felicidade, âncora de toda minha vida.

Tento ir atrás dessa época, mas já estou mulher, perguntando-lhe:

- Vou vender esta chácara (era minha primeira) e torrar o dinheiro em Paris. O que você acha? – Sua resposta, sua cara:

- Foi você que trabalhou para comprá-la, ponha o dinheiro onde achar que vale a pena. –

 Agora quero ir a Paris, mas você chega de cara amarada – ai, tão você – comigo no cartório, em Ibiraci, para me dar a emancipação de que precisava para lecionar. Eu quero trabalhar e você finge estar muito chateado por isso. Contradição esclarecida  quando escuto, sem você perceber, sua conversa com um amigo contando de seu orgulho por “sua menina” querer a independência.

E lá está você mudando sua fisionomia com a dor da perda de suas fazendas e a culpa de nos deixar pobres, sem escutar o que tínhamos a lhe dizer e, que bom, você logo volta à primeira chácara para me ensinar a fazer um aterro:

- Mexer com terra é sempre complicado. Pensa que vai um caminhão e acaba precisando de cinco. –

 A próxima aparição é à beira da cama de mamãe que está se despedindo , com tanto sofrimento. Sua companheira de vida se foi e eu fui tentar lhe cuidar. Tempo difícil, tristeza invasora.

Lá está de novo seu riso me trazendo alívio. E a eterna pergunta: - Precisa de dinheiro?

Gostaria de acreditar, como minhas irmãs, que ainda nos veremos, em outro patamar. Sei que sua presença em minha vida está em tudo que sou. Gostaria de escrever sobre você, sobre o homem forte, carismático, líder regional, contraditório, casmurro, doce, amargo, vaidoso, honesto, íntegro, amoroso e tão MEU PAI.

 II- A dor que é sua

 
Deixei você com sua dor, mas ela me acompanhou, forte, lancinante me inundou e, na minha cara,  mostrou minha impotência. Você ficou com sua dor, mascarada em impaciência, beirando a raiva, desejando a solidão Os incômodos dos galhos secos, malformados.
Alguns poucos dias separavam você da despedida final do seu companheiro, inesperada naquele momento. As descobertas e os tormentos das medidas necessárias ao enceramento de uma vida só maltrataram, não basta a dor da perda. Uma sociedade organizada, como a nossa, cobra providências imediatas. Documentos que antecedem documentos. Providências a priori que só conseguem vir depois. Contradições inexplicáveis, porém exigentes. E a dor firme, acompanhando, grudada na  mão que assina sem vontade, nas pernas que caminham com passos firmes, balançando a alma, na cabeça que é demandada a pensar, resolver, tomar decisões. A exaustão abate e vem a vontade de dormir, não o sono, apenas o querer apagar, se não a situação, o sofrer, então, a si mesma, numa fuga anestesiante que não vem.

Antes de pegar o avião, ainda fiquei uma noite  nas Alterosas, mas longe – e tão junto – de você, minha querida. Quando cheguei de volta ao meu ponto, tive momentos de grande alívio na recepção de meus bichos, das minhas árvores. Um vaso de belas e coloridas flores me esperava e, grata, respirei.  Na segunda noite, a dor foi sufocante, assustaram-me sua intensidade e indefinição até perceber que era a sua dor que eu sentia. A compreensão de sua necessidade de eu não estar perto me impedia de tentar uma comunicação. Comecei a fazer o que sempre faço em momentos doídos, procurar a companhia de minhas árvores e com elas me acalmar para enviar a você o que podia de paz e, sobretudo,  todo o meu amor. Saber você forte não amenizava a dor compartilhada e não dividida. Impotência.
Agora, você me telefona preocupada com minhas condições materiais! Ah! Minha tão querida, quanto caminho ainda terá que percorrer para se livrar das burocracias burras, exigentes e incompetentes e das pessoas, amigas, e eu com elas, que querem ajudar só fazem trazer, mais uma vez, as lembranças tétricas. Você, na sua generosidade, vai percorrer todos os caminhos duros e acabará chegando a um lugar seu. Lá estará você, inteira, íntegra, maior, bela, dona de si e das flores. 

domingo, 10 de novembro de 2013

Nossa saúde em risco

Vejam a nota da Associação Brasileira de Saúde Coletiva
7 de novembro de 2013


Confira a Nota da Abrasco, enviada ao Procurador Geral da República Rodrigo Janot, para que seja avaliada a pertinência de ajuizar uma ação direta de inconstitucionalidade contra a Lei 12.873/13, de 24 de outubro de 2013, e do Decreto 8.133, de 28 de outubro de 2013, junto ao STF, pelos motivos expostos a seguir:
A Associação Brasileira de Saúde Coletiva recebeu com indignação a publicação da Lei 12.873/13, de 24 de outubro de 2013, e do Decreto 8.133, de 28 de outubro de 2013, pelos motivos que passa a expor:
1) A sociedade brasileira, após pesados anos de ditadura, teve os direitos individuais, sociais, coletivos e difusos garantidos na Constituição Federal. A proteção à saúde, à alimentação e ao meio ambiente mais do que um direito coletivo e difuso que beneficia a todos os habitantes do Brasil é, também, um legado solidário da presente para as futuras gerações. Assim estabelece a Constituição de nossa República Federativa, ao incumbir à coletividade e ao Poder Público, o dever de garantir o direito humano à alimentação adequada e saudável, controlar métodos, técnicas e substâncias que acarretem riscos à vida, à saúde e ao meio ambiente.
2) Dentre as substâncias que comportam riscos para a vida, a saúde, o meio ambiente e provocam insegurança alimentar e nutricional encontram-se os produtos agrotóxicos cujos efeitos atingem a todos indiretamente e, de maneira mais intensa, as populações mais vulneráveis do nosso País: trabalhadores rurais, populações indígenas, quilombolas, ribeirinhos, e os consumidores de alimentos que vivem nas cidades. A contaminação por agrotóxicos ocorre não apenas de forma direta e violenta, como no caso da pulverização de uma escola em Rio Verde-GO, mas principalmente de maneira invisível, por meio de resíduos presentes na água de abastecimento, em rios, lençóis freáticos e águas subterrâneas, em alimentos contaminados e no ambiente como um todo. É o que demonstra, a cada ano, a divulgação dos resultados de monitoramentos da presença de agrotóxicos, como o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) coordenado pela Anvisa e o resultado das análises de água de abastecimento coordenados pelo Departamento de Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde. Os efeitos das contaminações nem sempre são imediatos, se manifestam ao longo dos anos ou nas futuras gerações sob a forma de doenças crônicas e de problemas de reprodução. Para contaminações por agrotóxicos persistentes não há limite de propriedade, seus efeitos se espalham nas comunidades e nos territórios vizinhos e ao longo de toda a cadeia alimentar.
3) Criteriosas avaliações prévias ao uso dos produtos agrotóxicos foram objeto de preocupação dos legisladores constituintes, que não só instituíram a obrigação do controle administrativo como também promulgaram a Lei 7.802/89, que estabelece em seus comandos a avaliação triparte dos agrotóxicos por parte dos órgãos da agricultura, da saúde e do meio ambiente, cada um em suas áreas de competência. A Lei 12.873/13 e o Decreto 8.133/13 infringem os preceitos constitucionais, ao possibilitar a introdução no País de agrotóxicos sem as devidas avaliações de risco/perigo ao ambiente, à alimentação e à saúde; desrespeitam uma conquista histórica da sociedade brasileira de ter preservado o direito à qualidade de vida e ao meio ambiente e de ser solidária às futuras gerações; ignora o espírito precaucionário imprimido na Constituição Federal e na Lei de Agrotóxicos, ao prever que a anuência de importação, produção, comercialização e uso serão concedidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) sem as avaliações prévias dos órgãos com expertise nas áreas da saúde e do meio ambiente. Em não havendo a avaliação prévia por quem tem a expertise para isso, o próprio cumprimento das proibições estabelecidas na Lei 7.802/89, e mantidas na 12.873/13, resta prejudicado e impossível de ser atendido em sua plenitude.
4) A Lei 12.873/13 e o Decreto 8.133/13 possibilitam a PRODUÇÃO em território brasileiro de agrotóxicos sem a avaliação adequada dos seus riscos à saúde e ao ambiente, expondo tanto os trabalhadores do campo como os trabalhadores nas fábricas. Além disso, essa Lei e esse Decreto possibilitam a instalação de empreendimentos para a produção de agrotóxicos que não foram objeto de licenciamento ambiental. Na ocasião da licença ambiental, todos os produtos que serão produzidos ou formulados necessitam ter a anuência da administração, pois, a depender do processo de síntese de cada produto, outros riscos podem estar envolvidos, tais como: geração de efluentes, emissão de gases e poeiras, dentre outras formas de contaminação, que necessitam de controles ambientais específicos e adequados.
5) O Decreto 8.133/13 estabelece que o MAPA enviará cópia das autorizações concedidas de modo que os Ministérios da Saúde e do Ambiente tomem as medidas necessárias para minimizar os riscos das populações expostas. Como os Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente poderão adotar as providências de minimização de riscos se eles próprios não avaliaram o produto? Como minimizar riscos se não existem estudos do produto que considerem as situações edafo-climáticas (as relações entre as plantas, os solos e os climas) específicas do Brasil? Como prever efeitos ou impactos?
6) Atualmente, são necessários quatro estudos de resíduos feitos em locais ou em safras diferentes para que sejam representativos das condições climáticas brasileiras, pois o volume de chuvas, a temperatura, a umidade do ar e outros fatores climáticos podem influenciar a quantidade de resíduos remanescentes nas culturas tratadas. O Decreto 8133/13 prevê a adoção dos limites estabelecidos pelo Código Alimentar da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (Codex Alimentarius) ou, na ausência de limites estabelecidos pelo Codex, a transposição dos limites de resíduos estabelecidos em outros países para as condições brasileiras, sem qualquer segurança aos consumidores das culturas tratadas, uma vez que inexistirão estudos em território brasileiro que avaliem estes agrotóxicos.
Devido a isso tudo, a ABRASCO requer que a Administração Pública reveja sua posição acerca da Lei 12.873/13 e torne sem efeito o Decreto 8.133/13, respeitando as determinações constitucionais de que todos os produtos agrotóxicos sejam devidamente avaliados pelos órgãos competentes de saúde e de meio ambiente, e conclama o Ministério Público Federal à defesa dos direitos coletivos difusos à saúde e ao ambiente violentado por esta Lei e seu Decreto.
Rio de Janeiro, novembro de 2013.


Luis Eugenio Souza - Presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva
Maria Angélica Medeiros - Coordenadora do GT Alimentação de Nutrição em Saúde Coletiva
Geraldo Lucchese - Coordenador do GT Vigilância Sanitária
Jorge Mesquita Machado - Coordenador do GT Saúde do Trabalhador
Fernando Carneiro - Coordenador do GT Saúde e Ambiente

As irmãs de Dona Pandá


Dona Pandá tem três irmãs: Dona Loira, a sábia, Dona Tuca, a caçadora de tesouros e Dona Gorda, a caçulinha. Todas, vivendo nas Alterosas, têm a apreciada mineirice, sobressaindo a hospitalidade, a delicadeza e a discrição.

Dona Loira é paisagista, também  mora num sítio que, na realidade, é um grupo de jardins harmoniosamente interligados. Os  jardins formam com as edificações – casa principal, a casa de hóspedes e a do caseiro, a churrasqueira, o barracão das ferramentas -, a horta e o pomar uma unidade conseguida com os próprios canteiros, grandes vasos, caminhos de pedras e tijolos de barros. Tudo cuidado nos detalhes pela sensibilidade de quem sabe, sente, conhece, intui o belo e dele faz parte. Dona Loira é alta, magra e tem uma “marca registrada”, o belo sorriso, herança materna. Foi casada com um único companheiro, durante cerca de 30 anos. O querido cunhado de Dona Pandá se foi, deixando uma viuvez bastante triste. Dona Loira não se mostrou diferente de sempre, corajosa continua no Catita, cuidando para oferecer a seus visitantes a harmonia buscada.

Dona Loira não teve filhos para adotar a família toda. Ela é de sagitário - antes que algum astrólogo afirme que seja a mãezona de Câncer -. Moram com ela Miúcha e Lau, cadelinhas adotadas em tempos diferentes. Miúcha, a mais velha, é albina, seu pelo, muito macio e brilhante, é branco com algumas machas pretas. Lau é espoleta (bem no sentido dado pelo mestre Aurélio: “Artefato pirotécnico destinado a produzir a inflamação da carga de arrebentamento dos projéteis, no momento conveniente”, sem o final da definição, pois nem sempre ela conhece a conveniência). Seu pelo sempre brilhante, tem a cor de mel.  Lau chegou ao Catita  com o nome de Lady Laura, nome considerado demasiado comprido para os chamados, quase sempre urgentes e necessários, foi, então, simplificado.   
                      Um pedacinho do Catita

Vamos terminar a apresentação das irmãs e deixemos as estórias dos bichinhos para outra vez.

Dona Tuca é médica. Mora numa bela casa chamada Violeta, numa rua tranquila da Capital Mineira. A vizinhança, completamente conquistada pela simpatia espontânea de Dona Tuca, interage com ela de várias formas. Abastece a Violeta com delícia da culinária regional (ai,ai ai, o frango com quiabo...), vigia a casa na ausência da dona e outras cositas más. Há uma forma de comunicação inusitada. Dona Tuca colocou um quadro de recados do lado externo da casa, pendurado no jardim. Aí, ela escreve recados e mensagens poéticas bastante apreciadas, ficando quase impossível alguém simplesmente passar em frente à Violeta. É comum o transeunte perder a pressa metropolitana para ler, sorrir e, algumas vezes, tocar a campanhinha. Quando isto ocorre, quase sempre, há uma frustração: Dona Tuca pouco para na Violeta. Frustração compensada pelos vizinhos que logo vêm dar as explicações necessárias e colher os elogios. Dona Tuca é contagiantemente apaixonada por seus trabalhos: num núcleo de pesquisa e numa unidade espírita.
                             A netinha de muitas pretensas avós trocando uma ideia com Ninon

Dona Tuca tem dois filhos: um que mora em Genebra e outra que, felizmente, não saiu  u de Belô e trouxe uma criaturinha, muito querida, neta também de outras pretensas avós. .
 Dona Tuca mora com dois cachorrinhos: Ninon e seu filho Tutcho (Dona Pandá não sabe a grafia desse nome que, convenhamos, é parecido com o dono, bem difícil). Ninon é também mãe de Bela que mora em Lagoa Santa. Essa cadelinha e seu filhos ganham com muitos pontos de dianteira da peralta Lau. São lindos, de uma raça (Dona Pandá não é muito conhecedora de raça de pedigree puro) pequena, com pelos compridos e lisos.

Dona Pandá tem uma grande dificuldade para se comunicar com esta mana que dorme e se levanta com as galinhas. Às 21 horas já é impróprio um telefonema. Um dia após um seminário que Dona Tuca coordenou, Dona Pandá se viu obrigada a colocar o despertador para poder pegar sua mana ainda em casa. Pois não é que a madrugadora já estava no trabalho!!!
Dona Gorda é magra. O apelido familiar foi posto quando de sua meninice, momento em que apresentava bochechas fofinhas. Ela é médica e trabalha, trabalha, trabalha num núcleo de pesquisa e numa unidade do SUS, onde sonha e sofre. Tem as características familiares, é alta, cabelos escuros, meiga, sensível, corajosa, dedicadíssima. Mora numa cidade da Região Metropolitana de BH,  numa casa chamada Sossego, cujo quintal concorre (ganhando em alguns itens) com o Catita e a Xury, a chácara de Dona Panda. Nesse quintal, há muitas ervas medicinais e aromáticas, jabuticabeira, bananeira, e muito mais, além das olerícolas. O jardim também é rico em variedades e beleza. Para ser bem justa, Dona Pandá diz que é preciso mencionar o maridão que curte uma terra e é bastante competente em seu cultivo.

É aí que moram a Bela e o Petit. Este tem um temperamento mais próximo do da Miúcha. Ela uma dama e ele um cavalheiro que fica, muitas vezes, bastante incomodado com a agitação petulante da companheirinha tão bela quanto cansativa.  

sábado, 9 de novembro de 2013

De Arrimo a Estorvo

“...que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite, que a liberdade seja a nossa própria substância.” (Simone de Beauvoir)



Dona Pandá foi visitar a amiga Bastiana que está fazendo as malas para uma grave mudança. Esteve por lá algumas horas e voltou silenciosa, não quis comer, nem andar com os cachorros. Tomou uma chuveirada e se retirou para seu quarto. Passou uma semana com meias palavras. Parecia estar trancada. Seu rosto ficou marcado por rugas novas, vincando sua expressão numa carranca feia, pura máscara de um sofrimento da alma. Agora, disse precisar escrever. Como é seu hábito, contou-me o quê e como quer escrever. Ela praticamente dita, mas sua paciência desta vez está pequenininha e foi logo embora, dizendo:
            - você sabe o que é para escrever, depois eu olho. –

Lá vamos nós nesta tentativa difícil. Não tenho certeza de que conseguirei dar o tom certo. Embora eu tenha sentido a tristeza imensa de Dona Pandá por sua amiga, há também uma revolta, uma raiva, uma impotência diante do inexorável. Pareceu-me que a Bastiana está com um sentimento diferente. Nela a tristeza tomou conta, não dando lugar a outros sentimentos. Dona Pandá teme sentimentos negativos, como descrença e perda da vontade de vida.

Bastiana acaba de fazer 70 anos. Sua preocupação com a saúde praticamente se resume ao esqueleto, é portadora de osteoporose. Tem uma vitalidade ignorante de preguiça. Desde os 17 anos é responsável por sua vida física, financeira, emocional e mental. Liberdade e privacidade são dois valores relevantes e defendidos com muito zelo. Reconhece que seus três casamentos tiveram os laços desatados, sobretudo, por ela, dando poucos créditos aos respectivos companheiros nas separações. Mora numa chácara que comprou há 17 anos. Transformou um terreno inóspito no lugar do seu retiro, onde convive com o que plantou em toda sua vida. Continua plantando, mas acha que seu tempo agora é mais de colheita. Cuida de seus cachorros, de plantas e escreve. As duas atividades – o cuidar e o criar – são colheitas do terreno preparado nesses anos por suas opções. Gosta e cultiva a solidão. No entanto, Bastiana me corrigiria, dizendo que gosta de estar só, mas não é solitária e quando sente vontade de papear com determinado amigo, rapidinho corre atrás do objeto de sua saudade. Cultiva algumas amizades antigas, preciosas. Poucos vêm visitá-la. Todos estão bem presentes, com intensa troca de mensagens e telefonemas. Há também, quando a estrada está intransitável para os carros urbanos dos amigos, alguns almoços no meio do caminho.

Dona Pandá é uma dessas amizades de muitos anos. Gosta de dizer que já comeu, pelo menos, dois sacos de sal junto com a amiga. Bastiana pediu demissão de seu último emprego e veio morar na chácara, convencendo Dona Pandá a fazer o mesmo. Tornaram-se vizinhas e parceiras em algumas atividades. Bastiana é escritora e ajuda a amiga em suas incursões literárias. O caminho inverso é feito mais na área da terra. Dona Pandá gosta de descobrir novos tratamentos para as plantas. Gosta mais ainda de repassar suas descobertas e a amiga-vizinha é sua principal receptora.

As duas amigas têm muitas afinidades, além de uma história de vida semelhante. Acham que Bastiana possui um diferencial privilegiado. Tem uma família muito especial. Suas irmãs, que moram nas terras goianas, são pessoas de qualidades excepcionais, unidas, solidárias, generosas. Além de ter o filho e a nora que pediu ao Universo. Dona Pandá confessa despudoradamente que, neste aspecto, inveja a amiga. Ambas são mulheres que batalharam muito pela liberdade. A vida que têm, hoje, é fruto dessas batalhas. Planejaram suas vidas para desfrutarem uma velhice tranquila no meio do mato, o lugar de origem. Ao se mudarem para suas chácaras, trabalharam duro para conseguir a emoção do cheguei ao meu lugar. Esta é a expressão que usam ao falar de suas moradas.

Dona Pandá encontrou sua amiga bem esquisita. Bastiana não estava de mau humor, mas tinha dificuldade de falar. Abria a boca e gaguejava. Começava a falar emboladamente, como se quisesse e, ao mesmo tempo, não contar algo grave. Ao final, como era de se esperar, tratava-se do filho. Ele chegara para o almoço semanal. Sentara-se à mesa, enquanto a própria dona da casa, gentilmente acompanhada da nora, apreciava o almoço. O rapaz começou, então, a se mostrar preocupado com a segurança da setentona. Disse que iria colar alguns pedaços de lixa na calçada ao redor da casa para evitar escorregões. Como ele é muito criativo, sobretudo quando se trata de desenhos e música, já estava bolando recortes que deixariam as calçadas bonitas. Depois outras preocupações foram explicitadas: as varandas precisavam ser reformadas, a escada demandava uma grade. Bastiana estava achando até engraçado tantos cuidados desferidos pelas sete dezenas de seus bem vividos anos. Estranhando o fato de não ser consultada, pensou, em determinado momento, como seria se resolvesse dar uma faxina na casa do filho.

O final do dia foi a frase que expressou a preocupação máxima do rapaz com a segurança da mãe. Ela deveria se mudar para junto das irmãs, retornar a Goiás. Bastiana enfatizou o desconforto de sua nora com todas as observações do marido. Quanto à sua própria emoção, teve dificuldades de expressá-la. Lembrou-se do pai que se sentia extremamente culpado por ter, seguindo o conselho médico, tirado o avô da fazenda onde ele morava. O avô viveu (?!) até os 90 anos na cidade. Não teve o enfarto vaticinado caso continuasse a trabalhar na fazenda, mas perdeu a memória, a alegria. Passou anos sentado, alheio à vida preservada.

Bastiana ficou surpresa por não ser compreendida em suas convicções, em sua maneira de viver e de valorar a vida. O sentimento maior é a tristeza e junto foi apresentada à solidão.

Dona Pandá se revoltou, ficou com muita raiva do inexorável. De um lado, a velhice com suas exigências, sua desarmonia entre o físico e o emocional-intelectual e do outro, a juventude desmemoriada, ignorante e presunçosa. Bastaria a lembrança honesta de uma época quando os cuidados com a fragilidade da idade eram dados com a observância da primazia emocional.

Já é desgastante para o idoso o enfrentar dos mais variados procedimentos da sociedade. Alguns, embora reconhecidamente necessários, não conseguem deixar de humilhar pela distinção negativa. Na fila do banco, os olhares e resmungos impacientes; na carteira de motorista, o aviso pleonástico de que se trata de maior de 65 e, em tantos outros lugares, onde a idade é vista com irritação e, muitas vezes, intolerância e preconceito. Os velhos, como as outras pessoas, não são todos iguais.

Neste instante, chegam atrás de mim, para ler este texto, as duas amigas. Bastiana, depois da leitura, sorri e, procurando minimizar o acontecido, explica que, curada a ressaca, está mesmo fazendo as malas. A acolhida das irmãs, quando lhes foi contada a possibilidade de sua ida para as terras goianas, foi tão gostosa, quanto estimulante. Acrescenta que, como só se lembra de seus 70 quando diante do espelho, estará mais atenta a eles.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Salve Antônio Torres

Antônio Torres é eleito para a Academia Brasileira de Letras


O escritor baiano Antônio Torres foi eleito nesta quinta-feira (7) para ocupar a cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras (ABL), vaga desde o dia 3 de agosto, com a morte do jornalista e musicólogo Luiz Paulo Horta. Romancista, Torres obteve 34 dos 39 votos.

A cadeira 23, fundada pelo primeiro presidente da ABL, Machado de Assis, já teve como ocupantes os escritores Lafayette Rodrigues Pereira, Alfredo Pujol, Otávio Mangabeira, Jorge Amado e Zélia Gattai.

Nascido em 1940 em um povoado chamado Junco, hoje a cidade de Sátiro Dias, no sertão da Bahia, Antônio Torres estudou em Salvador, onde começou a trabalhar como repórter no Jornal da Bahia. Também foi publicitário em São Paulo, antes de ir para o Rio de Janeiro.

Sua estreia na literatura ocorreu em 1972, com o romance Um cão uivando para a lua. Desde então, publicou outras 15 obras, entre elas os romances Essa Terra (1976) e Um táxi para Viena D'Áustria (1991), ambos traduzidos para o francês e que valeram ao escritor a condecoração de “Chevalier des Arts et Lettres”, concedida em 1998 pelo governo da França.

Antônio Torres também recebeu outros prêmios literários, entre eles o Machado de Assis, da própria ABL, concedido em 2000. Os romances e livros de contos do escritor têm como cenários tanto o meio rural como a vida urbana ou ainda a história do Brasil, como é o caso de Meu querido canibal (2000), que relata a saga dos índios tamoios, na época da fundação da cidade do Rio de Janeiro.

Em 2011, Antônio Torres tentou ingressar na academia, mas foi derrotado pelo jornalista Merval Pereira Filho. Os outros escritores que concorriam à cadeira 23 são Blasco Peres Rego, Eloi Angelo Ghio, José Wiliam Vavruk, Felisbelo da Silva e Wilson Roberto de Carvalho de Almeida.

Fonte: Agência Brasil

Azeite extravirgem

Pesquisa revela que metade do azeite vendido no Brasil como extravirgem é falsificado
Por Redação do Correio do Brasil - do Rio de Janeiro






Pesquisa realizada pela Proteste – Associação de Consumidores com 19 marcas de azeite extravirgem e constatou que menos da metade cumpre o que promete

Pesquisa realizada pela Proteste – Associação de Consumidores com 19 marcas de azeite extravirgem e constatou que menos da metade cumpre o que promete. Normalmente, o consumo deste produto ocorre por que as pessoas acreditam que o óleo colhido na primeira prensagem das azeitonas seja mais puro, saboroso e saudável. “É melhor tomar cuidado, pois você pode estar sendo enganado”, alertou a associação, em nota divulgada nesta quinta-feira.

“Das marcas de azeites que testamos, boa parte dos que se dizem ‘extravirgens’, na verdade, não passa de ‘virgens’ e alguns são até ‘lampantes’. A Proteste já realizou quatro testes com esse produto, e, este foi o que teve pior resultado, com o maior número de fraudes contra o consumidor”, afirma o documento.

“Verificamos se havia produtos adulterados, ou seja, comercializados fora das especificações estabelecidas por lei. E, também que preço e renome nem sempre são sinônimos de maior qualidade. O melhor do teste foi, de fato, o que custa mais caro entre os testados. Porém, nossa avaliação mostra que há outros produtos de boa qualidade que custam bem menos”, acrescenta.

Para que o azeite mantenha suas características, é determinante que não haja qualquer tipo de mistura a outras substâncias. Os quatro produtos declassificados no teste são, na realidade, óleos refinados com adição de outros óleos e gorduras. Nos vários parâmetros em que os produtos foram analisados, essas marcas apresentaram valores que não estão de acordo com a legislação atual. A pesquisa realizada indicou que os produtos não só apenas faltam com os consumidores em qualidade, como também apontaram a adição de óleos de sementes de oleaginosas, o que caracteriza a fraude absoluta.

“Fizemos a análise sensorial em laboratório reconhecido pelo Conselho Oleico Internacional (COI). Eles avaliaram a qualidade das amostras quanto ao aroma, à textura e ao sabor de acordo com parâmetros técnicos. Segundo a legislação, em azeites extravirgens não podem ser encontrados defeitos na análise sensorial. Analisamos diversos parâmetros físico-químicos para detectar possíveis fraudes: presença de óleos refinados; adição de óleos obtidos por extração com solventes; adição e identificação de outros óleos e gorduras; adição de outras gorduras vegetais”, continuou o relatório.

“Na análise sensorial, apenas oito marcas tinham qualidade de azeite extravirgem de acordo com os especialistas. São eles: Olivas do Sul, Carrefour, Cardeal, Cocinero, Andorinha, La Violetera, Vila Flor, Qualitá. Entre as outras, sete alcançaram defeitos que, pela legislação, as caracterizavam como azeites virgens. São elas: Borges, Carbonell, Beirão, Gallo, La Espanhola, Pramesa e Serrata. As quatro marcas com problemas de fraude foram também consideradas, pela análise sensorial, como azeites lampantes. São elas: Tradição, Quinta da Aldeia, Figueira da Foz e Vila Real, concluiu.

sábado, 2 de novembro de 2013

Energia das ondas será captada por usina de Furnas em alto-mar

Por Redação do ARN - do Rio de Janeiro



A estatal Furnas começou o projeto de uma usina, chamada de conversor offshore e inédita no país

A estatal Furnas começou o projeto de uma usina, chamada de conversor offshore e inédita no país, para a geração de energia a partir do aproveitamento das ondas em alto-mar. “A ideia, que já está sendo conversada com a Marinha do Brasil, é a unidade que vai ser desenvolvida ao final do projeto atender ao Farol da Ilha Rasa e às cerca de 200 casas existentes no local”, disse nessa à Agência Brasil o gerente da área de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação de Furnas, Renato Norbert. Em uma segunda etapa, a usina flutuante deve gerar energia às plataformas do pré-sal.

A pesquisa é desenvolvida em parceria com o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e com a empresa Seahorse Wave Energia de Ondas.

Já foi iniciada a construção do protótipo, em pequena escala, que vai ser testado no tanque de ondas da Coppe. Os testes deverão se estender por seis a oito meses, informou Norbert. Após os aperfeiçoamentos que forem introduzidos no projeto, os técnicos se dedicarão à construção da unidade que será instalada na Ilha Rasa. A expectativa de Norbert é que o projeto esteja em condições de operar no final de 2015 ou, “eventualmente”, até o primeiro trimestre de 2016.

Em seguida, Furnas pretende partir para um segundo projeto que visa a explorar outra possibilidade coberta pela patente da Coppe e da Seahorse, que é tornar a unidade de geração de energia flutuante para servir às plataformas do pré-sal que estão muito afastadas da costa, onde a profundidade é elevada.

Norbert destacou que, atualmente, para plataformas de petróleo que operam próximo da costa, a distâncias inferiores a 100 metros, Furnas vai estudar a possibilidade de serem atendidas por usinas que são fixadas no fundo do oceano. Para profundidades mais altas, a solução mais econômica prevista é a instalação de unidades de geração de energia flutuantes.

A usina que será construída inicialmente terá capacidade de 100 quilowatts (kW) de energia, suficiente para abastecer 800 pessoas. “Mas a gente pretende, se tudo der certo, desenvolver outras unidades que vão atender a ilhas próximas da costa e plataformas de petróleo perto da costa”.

A partir de acordo que será firmado com a Marinha, o gerente de Furnas disse que pretende-se atender a navios que estejam ancorados a pouca distância da costa, à espera para entrar em algum porto no país. “Eventualmente, no futuro, os portos vão poder ter unidades dessas para abastecer os navios, que vão economizar diesel, combustível, enquanto estiverem parados, tornando o custo de espera no porto mais baixo, o que é bom para o próprio porto”.

A energia gerada pelas ondas em alto-mar é totalmente limpa e o funcionamento da usina, bem simples, afiançou Norbert. “A própria manutenção vai ter um custo baixo”. Segundo o gerente de Furnas, a construção da unidade é mais barata do que qualquer outra solução que se proponha. “É muito mais barato do que uma usina de geração eólica da mesma capacidade, por exemplo”, salientou. Sobretudo para ilhas, que não têm grande extensão, ele indicou que “é uma solução excelente”.

A Coppe, em conjunto com a empresa Tractebel Energia, já desenvolve a primeira usina de ondas da América Latina, que utiliza o movimento das ondas para produzir energia elétrica. A usina está situada no Porto do Pecém (CE). Renato Norbert observou, porém, que essa unidade se diferencia do projeto de Furnas porque é fixada no porto (onshore), e não prevê a geração de energia nearshore (próximo da costa), ou totalmente offshore, isto é, em alto-mar, como sugerem as unidades futuras de geração flutuantes de Furnas.

O investimento total da estatal, englobando todas as etapas de desenvolvimento do projeto, incluindo gastos com homens/hora e diárias de viagens, é cerca de R$ 8,2 milhões.

Nossa fonte: Correio do Brasil