Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Engels 198 anos, Marx 200 Anos – Celebração, celebrações...


Rex Regente

Celebrações merecidas pois
menos de 30 anos depois
de Marx ter nascido,
ele e Friederich Engels,
seriam encarregados pela Liga dos Comunistas,
os dois, de escrever o Programa. E o escreveram.
E que Programa maravilhoso escreveram ![1]
Escreveram um Programa que ainda ressoa,
desde a primeira frase famosa
(que faz tremer ainda certo tipo de alma medrosa):
Um espectro assombra a Europa —
a assombração do comunismo.
Contra ele se aliaram as velhas potências, o papa e o czar...
”,
e continua retumbante o Manifesto
até a convocatória da última linha que ainda ecoa:
Proletários de todo o mundo, uni-vos...!”.
-*-
O Papa é muito melhor agora: é o Bergoglio,
um craque, argentino, hermano,
jesuíta que homenageia os franciscanos,
(melhor que o Maradona),
E o czar ?
É página virada da História.
Mas o Manifesto permanece!
Continua como aviso vibrante
que faz temer a classe dominante.
Ele informa que a História não termina e nem terminará,
Que se um dia a escravidão acaba e monarquias findam,
também o capitalismo passará.
Numa singela analogia: o Manifesto de 1848
é detalhe especial em grande e elaborada pintura.
É como o encontro dos dedos no teto da Capela Sistina,
em que a obra que criaram, forma mais que uma Catedral,
mais que uma partitura. Artisticamente falando: é monumental.
Marx e Engels, se juntaram em 1844 e nunca mais se largaram.
Que bela amizade ! ao longo de quatro décadas !!!
(mais de 40 anos!
não um dia ou dois)
Singularmente se complementaram:
amigos, parceiros, colaboradores, cúmplices, articuladores, intelectuais práticos, escritores, interessados por tudo que humano fosse...
Sabe aquela frase famosa que os dois criaram no começo da caminhada conjunta?
“Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes;
a questão, porém, é transformá-lo” [2] ?.
Fizeram dela uma definição de vida para eles.
E eles interpretaram o mundo com disposição para o trabalho:
escreveram mais de 50 grandes volumes
de livros, textos, artigos, panfletos,
cartas, cadernos, anotações, borradores,
orientados a iluminar questões complexas
que mantém humanos acorrentados à escuridão da ignorância.
São escritos libertadores [3] [4].
Eram rigorosíssimos no uso das fontes e
para acessá-las aprenderam línguas.
O alemão era  língua materna de ambos
e nela escreveram Filosofia e tudo o mais.
Dominaram o inglês e o francês,
que usaram com maestria:
liam, escreviam e falavam.
Engels[5] lia russo, italiano, português, gaélico,
espanhol,  polonês, línguas escandinavas.
E não eram só as línguas modernas que estudava,
há registros que planejou escrever uma gramática de línguas eslavas
e que aprendeu persa em poucas semanas.
“O Capital” tem citações em grego, italiano, latim e outras línguas.
Quando Marx morreu em 1883 estava a estudar russo e se qualificar para responder perguntas que, da Rússia czarista e atrasada, lhe faziam Vera Zasulich
e outros interessados no socialismo e na revolução.
Gostava de literatura nosso aniversariante genial[6].
Sabia decor trechos de Shakespeare, Cervantes, Goethe, Balzac,
e o russo aprendeu também, para conhecer Puchkin e Gogol no original.
Onde achava tempo o Mouro ? este era seu apelido na família e para os íntimos.
Durante anos frequentou assiduamente o Museu Britânico,
ponto de concentração de conhecimentos,
quando estava no auge a rapina imperial.
Formou dupla com Engels, e como raras vezes se viu até agora,
fazendo uma analogia com o futebol,
mutatis mutandis
e com todo respeito,
foram maiores que Pelé e Coutinho em sua hora.
Estudaram História. Aprofundaram-se em muitos temas:
política, filosofia, economia, ciências naturais, direito, antropologia
e muito mais. Interpretaram o mundo! E como !!!.
Com seu sistema de pensamento-e-ação, teoria-e-prática,
em suma: com seu Método contribuíram para fazer-nos
pessoas mais livres e mais inteligentes.
Foram protagonistas em organizações, conselhos, assembleias,
Comitês de Correspondência e frentes de luta. Influenciaram o mundo todo. Foram membros-fundadores
da Associação Internacional dos Trabalhadores,
aquela – sempre é bom lembrar –
que limitou a jornada de trabalho regular
a oito horas diárias,
talvez a maior conquista social
desde que a escravidão dos tempos bíblicos
concedeu o descanso do sétimo dia semanal
aos adeptos de uma religião libertadora.
Sua obra saborosa frutificou em frondosa floresta conceitual,
enraizada na vida material dos povos, onde fez História e criou raízes.
Isto ocorreu no mundo, no Brasil e em muitos outros países.
A grande dupla dinâmica Marx-Engels lutou contra as circunstâncias que escravizam os humanos, no âmbito do pensamento, da escrita e da ação, com grande esforço e desprendimento pessoal.
Engels tolerou[7] a vida como funcionário de indústria internacional de fios e tecidos em que seu pai era sócio e que tinha matriz na Alemanha e em Manchester, na Inglaterra, uma filial. Em troca de remuneração que mantinha a sí
e ocasionalmente permitia prover financeirarmente as necessidades da família Marx.  Ele mesmo garoto-prodígio, fazia isto desprendidamente porque
considerava Marx, entre os dois, o gênio criativo, o “primeiro violino” na orquestra de instrumentos, que com a força dos pensamentos[8], da ciência, da literatura, das artes, com que ambos compuseram uma música para o entendimento da realidade.
Mas, nem com todo o provimento que recebeu, a família Marx teve vida fácil.
Ao contrário. Houve períodos em que as privações foram duríssimas
e contribuíram, entre outras dores, para a perda precoce de quatro dos sete filhos
que Jenny e Karl Marx tiveram além de difíceis situações difíceis com credores[9].
Talvez não seja uma grande ironia, quase uma piada pronta,
que o maior estudioso do dinheiro em todos os tempos,
dedicasse mais tempo para penetrar e revelar aos humanos
os mistérios profundos deste assunto de dois mil anos
e dedicasse tão pouco tempo a obtê-lo,
ao mesmo tempo que padecia da falta do mesmo.
Por tudo isto e muito mais,
as familias de Engels e Marx,
tornaram-se personas non gratas a governos,
grandes capitalistas e todo tipo de escravocratas.
Com sua ação, força de pensamento e com seu exemplo,
surfaram as grandes ondas das lutas sociais do seu tempo
e permanecem como inspiração.
Então, um brinde atrasado aos 200 anos do nascimento de Karl Marx
completados no último 5 de maio! E a Friedrich Engels
um brinde adiantado pelos 198 anos
que completaria no próximo 28 de novembro.

Que venham os próximos séculos !!!
Rumo ao Socialismo Científico 2.0 !!!




[1] V. José Paulo Netto no YouTube, falando do Manifesto.
[2] Não é o caso de citar aqui em alemão tal e como em sua original formulação.
[3] Por isto o “mistério” auto-evidente do porquê surgirem Escolas “sem Partido”, equivalentes laicos a madrassas, ieshivót, seminários e a outros sistemas de educação religiosos dedicados à produção de fanáticos impermeáveis aos fatos e a realidade.
[4] Ontem 23/10/28 assisti a Marx Reloaded, filme alemão de 2011 (https://en.wikipedia.org/wiki/Marx_Reloaded) instigador e revigorante. Em conexão com o texto principal, digo aqui que: a inserção de Desenho Animado em que Trostsky faz o papel de Morpheus e Marx o papel de Neo no filme original Matrix e onde se travam aqueles dialógos densos em filosofia (e armadilhas ) em que há que se escolher entre 2 pílulas prenhes de significado recoloca de forma muito vigorosa o papel de marx e do marxismo na discussão hoje no mundo ao associar questões fundamentais relacionadas às questões do dinheiro, do mercado, do fetichismo da mercadoria, da ecologia e contrapô-las a pontos de vista oriundos da defesa da sociedade de consumo, do sistema financeiro e a uma certa variedade de marxistas europeus entre os quais se destaca a figura simpática de Slavoj Zizek, metralhando argumentos e pensamentos numa língua que não é a sua, num produtivo esforço para interpretar o complexo presente contemporaneo.   
[5] Na mesma sessão da 42.aMostraCineSP houve um filme sobre Engels (UM JOVEM CHAMADO ENGELS) de 1970, feito pela República Democrática Alemã  uma animação realizada a partir de cartas e desenhos do jovem Friedrich (1820-1894) Engels  produzidos entre os anos 1838 e 1842, ou seja, entre seus 18 e 32 anos). No filme, o locutor narra a carta que aquele jovem escreveu mencionando as numerosas línguas que lê, fala e escreve. Mostra também facetas pouco conhecido para quem se aproxima de Engels como o 2.o violino de Marx, como ele mesmo se intitulava. O filme mostra facetas do Responsável pelas Compras da Empresa Textil, em Bremen, do jovem Artilheiro Real, do polemista em universitário que não quis ser Doutor, escritor precoce que experimenta com vários generos e de uma origem aristocrática que lhe permitiu uma educação e refinamentos que ele dedicou sua vida a repartir entre todos os humanos.
[6] Na mesma 42.a Mostra exibou-se CARO MOHR – LEMBRANÇAS PESSOAIS DE KARL MARX POR PAUL LAFARGUE, uma animação de 1973, feita pela Repíblica Democrática Alemã, que mostra passagens da vida de Karl Marx e Friedrich Engels pela visão do médico Paul Lafargue, que frequentou a casa de Mohr —apelido que o filósofo alemão ganhou dos filhos— em Londres.
Lafargue se casou com uma das filhas de Marx e traduziu diversos de seus textos para o espanhol e para o francês
[7] O acima referido filme sobre Engels confirma-o entediado com as situações de trabalho, um mal necessário, e de outras fontes temos que sabia-se emprestador de última instância para a família Marx da qual foi parte querida desde o primeiro momento.
[8]  Pensamento: “...forma superior de matéria ...”, conceituação de Engels em “Dialética da Natureza”
[9] O ótimo filme “O jovem Marx” apresenta o início da colaboração de Marx e Engels e retrata algumas das dificuldades com credores e com a falta de dinheiro. Uma boa resenha online do filme está em:
https://gz.diarioliberdade.org/mundo/item/193181-o-jovem-karl-marx.html.