Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Fórum Social-SP na Faculdade Zumbi dos Palmares




Fórum Social de São Paulo acontece em outubro na Faculdade Zumbi dos Palmares   


     Os dias 29 e 30 de outubro estão reservados para um fim de semana de debates entre organizações da sociedade civil, cidadãos e cidadãs da Grande São Paulo. O Fórum Social de São Paulo espera por mais de 10 mil participantes, nos dois dias do evento, circulando entre as 36 salas, corredores e auditório, na Faculdade Zumbi dos Palmares e nos espaços verdes do Esporte Clube Tietê, onde está situada a Faculdade.
     Durante o FSSP, membros de organizações não-governamentais, movimentos sociais e sindicatos, lideranças sociais, professores, estudantes, ativistas e a população interessada em resolver os problemas de São Paulo apresentarão o que já fazem e procurarão responder a uma questão principal: O que fazer em nossa cidade para que o interesse público e os direitos do cidadão e cidadã prevaleçam sobre o interesse do dinheiro e do lucro? Através de atividades autogestionadas eles discutirão propostas de atuação visando solucionar os problemas da Grande São Paulo.

     Inscrições de temas abertas
     As inscrições estão abertas a todos. Qualquer pessoa pode se inscrever  num tema já proposto e qualquer organização social pode criar um novo. Para efetuar o cadastro o interessado deve acessar o site do FSSP, ler a Carta de Princípios, as sugestões de temas e preencher a ficha que corresponda ao tipo de participação que deseja. Como contribuir para a realização do evento Para que o Fórum tenha o êxito esperado, os organizadores lembram a importância de a sociedade civil contribuir com a captação dos
recursos necessários a sua realização. “A responsabilidade pela realização do 1º Fórum Social de São Paulo é de todos nós, de todas as organizações, movimentos e cidadãos que desejam uma cidade melhor,
mais igualitária e fraterna”, argumenta Nilton Silva, o gestor de Cultura da Faculdade Zumbi dos Palmares.
Nesse sentido, os promotores colocaram o projeto do FSSP na internet para receber doações. De acordo com a proposta de arrecadação, as pessoas entram na página eletrônica e podem fazer doações para a
realização do Fórum, a partir de R$ 20,00, e em troca recebem uma ou mais recompensas, dependendo do valor doado.
     O projeto foi colocado no dia 13/9 na internet e até o momento recebeu R$ 1.320,00 em doações. Entretanto, para o FSSP receber os recursos ofertados, a soma dos valores doados precisa chegar, no mínimo, a R$ 15.000,00. Caso não atinja esse montante até o dia 18 de outubro, os valores serão devolvidos aos doadores. Daí a necessidade de as pessoas que acreditam na importância da participação da sociedade civil na construção de uma Grande São Paulo justa e sustentável acessarem a
página rapidamente e fazer suas doações.

Para fazer conhecer o projeto do Fórum e fazer sua doação acesse:
http://catarse.me/pt/projects/302-forum-social-de-sao-paulo


História do Fórum
O Fórum Social de São Paulo é o primeiro da Grande São Paulo, mas ele já nasce forte. Depois de diversos debates nas reuniões que acontecem há um ano e meio, foi decidido em Julho que a primeira edição do Fórum deve acontecer neste ano. Após a faculdade Zumbi dos Palmares ceder o espaço para a realização do Fórum Social de São Paulo, o coletivo reunido em agosto definiu a data.

Fórum  Social Mundial
A Carta de Princípios do Fórum Social Mundial, sua referência fundamental, está disponível no site oficial. O FSM nasceu em 2001e foi realizado no Brasil em cinco edições: quatro em Porto Alegre(RS) e
uma em Belém(PA). Em 2009, em Belém, cerca de 150 mil pessoas de mais de 100 países participaram do evento.

 
Fórum Social de São Paulo 
Dias 29 e 30 de outubro 
Local: Av. Santos Dumont, 843 – metrô Armênia – São Paulo
facebook: forumsocial de sãopaulo 
Mariana Reinach 
(11) 2368. 1227 
e-mail: marianarein...@paulofreire.org 
site www.forumsocialsp.org.br
Jornalista Leandro Sena Lara MTb: 62.721 SP 
Jornalista Bia Barbosa MTb: 31.762 

Aliança Internacional de Jornalistas J-Aliança BRASIL
Av. Nove de Julho 5966 5º Andar
São Paulo-SP 01406-200
+ 55 (0XX11) 3898-0123
www.alianca-jornalistas.net

A importância dos bancos públicos


Se o governo considera estratégico ter um algum controle sobre o comportamento das “livres forças de mercado” no ramo bancário, já passou da hora de reverter as formas de ação do BB e da CEF: taxas de
juros menores, atendimento com a premissa da função pública e não da receita a qualquer custo, redução dos níveis de “spread” praticados, entre outras medidas.


Paulo Kliass (Carta Maior)

Apesar de muita gente ter ficado mais otimista com a decisão do COPOM em baixar a taxa de juros em sua última reunião, os efeitos sobre a economia real ainda não foram expressivos. Em 31 de agosto, a SELIC foi reduzida de 12,5% para 12,0%, revertendo uma tendência de altas da taxa que vinha se produzindo desde meados de 2009.
No entanto, a diminuição desse indicador que deveria servir como referencial para as taxas praticadas pelas instituições financeiras foi muito pouco relevante para os fins a que se propõe. O Brasil continua a oferecer os maiores índices de rentabilidade financeira do mundo, graças a esse patamar estratosférico da taxa oficial do governo. E com isso o custo do dinheiro aqui dentro é excessivamente elevado. Parcela significativa dos analistas não comprometidos com os interesses do sistema financeiro concorda em que a taxa deva ser
reduzida para níveis próximos a 6% ao ano, o que ainda assim a colocaria bem acima dos valores praticados nos Estados Unidos, Europa e Japão, por exemplo. Esse, inclusive, é um dos principais argumentos há tempos levantado por setores da sociedade civil para que o Banco Central passe a levar em conta também a opinião de outros economistas em sua pesquisa mensal, como professores, pesquisadores, assessores de entidades sindicais, etc.
Até hoje, a tristemente famosa pesquisa “Focus” recolhe unicamente as opiniões das instituições financeiras, justamente as maiores interessadas na manutenção dos juros nas estrelas. O resultado desse
jogo de cartas marcadas, a gente tem sentido na pele ao longo dos anos. Ou seja, a supremacia absoluta das finanças sobre o Brasil real.  
Mas é importante lembrar aqui que não basta apenas reduzir a SELIC. Esse é, sem sombra de dúvida, o primeiro passo para um cenário de mudança, que privilegie a produção, a renda, o emprego. É o que se
convencionou chamar de “condição necessária, mas não suficiente”. A redução de sua taxa oficial é um sinal para o conjunto do sistema financeiro e para a sociedade de que o governo pretende fazer com que
a economia opere com taxas de juros mais baixas. Existe ainda um efeito secundário importante, pois isso reduz as despesas orçamentárias federais com o pagamento de juros e encargos da dívida pública. Porém, o mais importante é seu efeito esperado sobre a recuperação do investimento e de estímulo à atividade produtiva. E para isso é fundamental que os chamados agentes econômicos (empresas, famílias e indivíduos) sintam na ponta do sistema que as taxas de juros para os empréstimos também tenham sido reduzidas. E isso não tem ocorrido.
Infelizmente, nesse quesito também somos campeões mundiais. A sociedade brasileira encontra-se, digamos assim, em um estado quase de “dependência sócio-químico-cultural” de taxas elevadas de juros. A
convivência durante décadas com esse nível de rentabilidade da atividade financeira faz com que a mesma seja vista como um fenômeno “normal”. E para romper com essa lógica perversa da financeirização, é
essencial que o Estado intervenha de forma enérgica e ativa. Recursos e instituições o País possui em condições de cumprir a tarefa. O que parece faltar é a vontade política de reverter a tendência histórica
de favorecer o parasitismo financeiro em detrimento da atividade produtiva, geradora de bens e serviços.
E aí os números continuam assustadores. A dimensão do setor bancário e financeiro é impressionante. As estatísticas que se seguem são oficiais, todas constantes da página do Banco Central [1] na internet.
Na listagem dos maiores bancos operando no Brasil, há 3 bancos públicos entre os 5 maiores. Os ativos totais dos bancos atingiram, de acordo com os balanços do primeiro semestre desse ano, o valor de R$
4,8 trilhões. Isso representa uma cifra superior ao nosso PIB, que fechou 2010 com R$ 3,8 tri. Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal (CEF) e BNDES apresentam ativos cujo valor equivale a 57% dos
ativos dos 5 primeiros e a 38% do total do sistema. Assim, fica evidente que possuem um poder de fogo e de pressão nada desprezível sobre o modo de funcionamento dos demais – a chamada “concorrência”.
Caso os dados acima de patrimônio não sejam considerados tão relevantes, vejamos o que ocorre com a lucratividade do sistema financeiro. A cada semestre nossos bancos anunciam recordes em cima de
recordes. Ao longo de 2010, o sistema registrou um lucro líquido consolidado de R$ 67 bilhões. Dado o nível de concentração dos conglomerados, apenas os 5 maiores lucraram o equivalente a R$ 53 bi.
E a trinca dos públicos alcançou R$ 26 bi. Ou seja, apenas eles obtiveram 38% do lucro líquido de todo o sistema durante o ano passado. Vale a pena observar que o conceito de “lucro líquido” representa os ganhos depois de todas as possibilidades do chamado “planejamento tributário” diminuir contabilmente os ganhos realmente ocorridos. Se considerarmos o lucro bruto total, antes do pagamento de tributos e distribuição de dividendos, o conjunto do sistema bancário apresentou um resultado de R$ 89 bi em 2010.
Ao que tudo indica, a tendência para o ano atual é de manutenção da mesma performance dos exercícios anteriores. Os balanços de junho passado demonstram que os 3 bancos públicos atingiram um lucro líquido
de R$ 14 bi, valor que continua representando os mesmo 38% do lucro líquido do conjunto do sistema. Não faz sentido algum os bancos do governo federal pautarem sua ação no mercado financeiro por essa
ganância toda. Para que tanto lucro? O mais lamentável é que esses recursos acabam indo para formar o superávit primário da União. Ou seja, retornam ao mercado financeiro sob a forma de pagamento de juros
da dívida pública da União.
Ora, a pergunta que não quer calar é óbvia: por que ao longo dos últimos 9 anos, desde a posse de Lula em 2003, os governos que teriam vindo para “mudar” não ousaram ter um mínimo de ação para alterar tal
quadro? Afinal, felizmente, não se trata de um setor cujas empresas estatais federais tenham sido privatizadas anteriormente, como ocorreu em tantos outros. Elas sobreviveram preservando sua natureza pública e  exercem peso importante no setor. Aqui o Estado e o governo federal têm instrumentos efetivos para atuar com peso e reverter tendências que sejam prejudiciais ao conjunto da sociedade.
Porém, ao contrário do que se poderia imaginar, a orientação conferida aos administradores do BB e da CEF [2] não caminhou no sentido de eliminar os aspectos negativos da financeirização radicalizada. As
sucessivas direções das duas instituições, subordinadas ao Ministério da Fazenda, enfatizaram ainda mais a tendência anterior ao chamado processo de “bradesquização” – ou seja, de atuar no mercado bancário e
financeiro seguindo as regras ditadas pelos bancos privados, cujo paradigma empresarial sempre foi representado pelo Bradesco e seus pares.
Com isso, pouco a pouco, essas instituições históricas acabam por perder o diferencial de “banco público” em sua ação no segmento bancário e passam a apostar no crescimento de seus resultados baseados
na lógica de acumulação de capital a qualquer preço, típica dos agentes financeiros privados. As taxas de juros são semelhantemente elevadas, as onipresentes taxas por serviços prestados também e o
mesmo ocorre com o escandoloso fenômeno do “spread” bancário. Na ponta, o cliente termina por não sentir muito a diferença entre ser correntista de um banco público ou de um privado. A sensação de
exploração e impotência é a mesma. Agora, se o governo considera estratégico ter um algum tipo de controle sobre a selvageria do comportamento das “livres forças de mercado” no ramo bancário e financeiro, já passou da hora de reverter as formas de ação do BB e da CEF. Caso sejam chamados a oferecer uma nova forma de relacionamento com a sociedade e a economia, todos sairão satisfeitos. Taxas de juros mais reduzidas, atendimento com as premissas da função pública e não da obtenção de receita a qualquer custo, redução dos níveis absurdos de “spread” praticados, entre outros. Além disso, dentre os vários aspectos positivos dessa mudança, obrigaria os bancos privados a também mudarem sua postura. Caso contrário, correrão o risco de perder espaço de negócios e clientela.
Afinal, não é essa mesmo a tal “regra do mercado” que seus porta-vozes tanto apregoam?

[1] Ver: http://www4.bcb.gov.br/top50/port/top50.asp
[2] O BNDES é um caso especial, pois não se trata de um banco comercial normal para correntistas. Assim, ele tende a operar apenas com empresas e com linhas de crédito do governo federal a juros subsidiados.

Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Filme registra passagem clandestina de Betinho por Mauá


          Durante o fim da década de 1960, o sociólogo Herbert José de Souza, o Betinho, viveu clandestinamente em Mauá para escapar do regime militar e continuar atuando como membro da AP (Ação Popular). De acordo com a cineasta e cientista social Ana Paula Quintino, a passagem do ativista icônico pelo município “era quase uma lenda”, confirmada ao entrevistar quatro moradores que conviveram e colaboraram com os ideais políticos e humanos do mineiro que ficou conhecido como Chico no ABCD paulista.




      O batismo falso tinha como intuito despistar a perseguição da ditadura, portanto, usava um “Nome Frio”, título do documentário de Ana Paula que será lançado na quarta-feira (29), às 19h, na Livraria Cultura do Market Place (avenida Dr. Chucri Zaidan, 902, Capital) e que narra o ano em que Betinho se escondeu e lutou em Mauá.
      De acordo com a diretora do filme, o movimento do qual Betinho fazia parte tinha o seguinte lema: misturar intelectuais aos operários para propagar ideais e angariar aliados. “Mauá convergia duas situações que interessavam ao AP: era uma área industrial, porém interiorana, e o sociólogo pôde estruturar e influenciar os militantes locais com a bagagem que tinha”, declarou Ana Paula, moradora da cidade.
      Betinho foi um dos fundadores da AP, cuja orientação era maoísta, e se estabeleceu no Jardim Zaíra com a mulher e o filho. “Boa parte do tempo que passou na cidade foi no bairro mais pobre, auxiliando a população a conseguir posto de saúde, saneamento básico e transporte”, disse a cineasta.
      A pesquisa para o filme começou a ser feita em junho do ano passado e contou com entrevistas de Gilda Fioravantte, Getúlio de Souza, Josefina Gonçalves e Olivier Negri Filho, moradores que abrigaram e ajudaram a esconder o companheiro de luta, além da segunda esposa do ativista e da biógrafa, Carla Rodrigues. “Por intermédio do grande sociólogo pude contar a história de outras pessoas importantes que moram na cidade em que vivo.”

      Operário      Apesar da saúde debilitada em decorrência da hemofilia, Betinho chegou a trabalhar como operário em uma das indústrias de Mauá. Foi funcionário da Porcelana Real para se aproximar do povo. No fim da estadia no município, após delatarem a base, viu-se obrigado a mudar para Santo André e depois exilou-se no Chile, uma vez que o cerco estava apertando e corria risco de vida.
       Os amigos e parceiros que o receberam foram presos e torturados para que contassem o paradeiro do militante subversivo. “Eu e meu marido sofremos muito para que revelássemos a localização de Betinho, mas não abrimos o bico”, contou Gilda Fioravantte, que recebeu o sociólogo na casa em que morava na Vila Vitória. “A maior contribuição que ele nos trouxe foi a formação política para os jovens e adultos que queriam democracia”, enfatizou.
      O financiamento do projeto é do Observatório Social do Instituto Henfil (Henfil era o cartunista irmão de Betinho), e a duração do filme é de 25 minutos.
      Ana Paula Quintino já fez outro documentário que também tem Mauá como pano de fundo, “Sambaleço – A memória está no corpo”, e está em fase de produção do fim da trilogia mauaense com “Catira Ás de Ouro”, sobre um grupo cultural tombado da cidade. Tem ainda planos de um documentário sobre a vida de Celso Daniel.

Veja abaixo vídeo em que a diretora Ana Paula Quintino fala sobre o filme:




Fonte: ABCD Maior (Nossa fonte: Vermelho)


Download grátis do livro sobre agrotóxicos no Brasil:

http://aspta.org.br/wp-content/uploads/2011/09/Agrotoxicos-no-Brasil-mobile.pdf

LIGAS CAMPONESAS

Museu contará História das Lutas Camponesas no Nordeste

     O município de Sapé, localizado no estado da Paraíba, ganhará um Museu Histórico das Lutas Camponesas no Nordeste. O centro de memória funcionará na casa e no terreno onde viveu João Pedro Teixeira, líder das Ligas Camponesas na Paraíba assassinado no dia 2 de abril de 1962.     



       Na sexta-feira passada (23), integrantes da organização não-governamental Memorial das Ligas Camponesas se reuniram com Paulo Maldos, secretário de Articulação Social da Secretaria-Geral da Presidência da República, para discutir o projeto do memorial.
      De acordo com Luiz Damázio de Lima, presidente da ONG Memorial das Ligas Camponesas, a ideia é que Paulo Maldos "faça a ponte com Brasília para a implantação do projeto de Memorial e consiga recursos para a execução". Segundo ele, a intenção é restaurar a casa onde morou João Pedro Teixeira e lá construir um museu com informações das lutas camponesas no Nordeste.
      "Vamos fazer um museu para o resgate da história de João Pedro Teixeira e das lutas pós-João Pedro", afirma, lembrando que 15 anos depois da morte do líder, reiniciou-se a luta por terra na região. Segundo ele, hoje, o estado da Paraíba possui cerca de 270 assentamentos.
      A concretização do Museu Histórico das Lutas Camponesas está cada vez mais próxima. No início deste mês, o Governo do Estado da Paraíba publicou um decreto no Diário Oficial em que declara de utilidade pública mais 2,27 hectares de terras do Sítio Antas do Sono, no povoado de Barra de Antas, em Sapé. Em julho passado, o governo já havia declarado de utilidade pública 4,83 hectares do local.
      Além do museu, Luiz Damázio comenta que a intenção é utilizar o terreno para também construir um centro de formação para os agricultores, com área para lazer, comercialização e unidades produtoras baseadas no sistema agroecológico.
      A meta, segundo ele, é que pelo menos o museu esteja pronto no dia 2 de abril de 2012, data de celebração dos 50 anos do assassinato de João Pedro Teixeira. "Esse projeto é importante para os agricultores porque resgata a história de um cidadão que deu sua vida pela luta pela melhoria de vida das pessoas. A ideia é dar um rumo melhor à vida dos agricultores e fortalecer a luta deles. Esperamos que esse memorial seja um centro de referência não só no Nordeste, mas também nacional e até internacional", comenta.


Ligas Camponesas      
       As Ligas Camponesas foram associações de trabalhadores rurais formadas em Pernambuco e, depois, em estados como Paraíba, Rio de Janeiro e Goiás. Iniciaram em 1955 e se estenderam até 1964 com o objetivo de lutar pela reforma agrária e pela posse de terra. Na Paraíba, destacou-se o núcleo de Sapé, com mais de 10 mil integrantes liderados por João Pedro Teixeira, que foi assassinado no dia 2 de abril de 1962.
Fonte: O Berro

Você vai votar, nas próximas eleições, em quem votou nas últimas?


Câmara absolve deputado enquanto veta protesto contra corrupção

Manifestantes que pretendiam distribuir vassouras a parlamentares são impedidos de entrar no Congresso. Ao mesmo tempo, Câmara inocentava deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), acusado de participar de esquema de desvios no ministério dos Transportes, em mais um sinal de que Congresso está descolado da sociedade.

      BRASÍLIA - O Conselho de Ética da Câmara absolveu nesta quarta-feira (28) o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), que havia sido acusado por dois partidos (PPS e PSOL) de quebra de decoro por participar de suposto esquema de desvio de verba pública no ministério dos Transportes. 
     Enquanto o Conselho, por 16 votos a 2, inocentava Costa Neto, cerca de 30 manifestantes ligados a grupos de combate à corrupção promoviam a faxina simbólica da rampa do Congresso Nacional. A coindicência é mais um exemplo de como o Congresso está descolado da opinião pública e contribui para desmoralizar a classe política perante a sociedade.
      Os manifestantes, que ignoravam o julgamento no Conselho de Ética, foram proibidos de entrar no Congresso. Eles planejavam entregar vassouras verde-amarelas aos 513 deputados e 81 senadores, numa tentativa de pressionar os parlamentares a votar medidas anti corrupção. 
     Impedidos de distribuir os "brindes", os protestantes recolheram as vassouras - que, desde a véspera, estavam fincadas em gramado em frente ao Congresso - para reaproveitá-las num ato marcado para o dia 12 de outubro.
    
“Todos falam muito da importância do papel da sociedade civil na luta contra a corrupção, mas quando nos organizamos e realizamos uma manifestação pacífica, somos proibidos de entrar no parlamento. Será que os deputados e senadores estão com medo das nossas vassouras?”, questionou a ativista de direitos humanos Leiliane Rebouças.     Antônio Carlos Costas, presidente da Organização Não-Governamental Rio de Paz, explicou que a vassoura foi usada como metáfora para expressar o desejo de todo o povo brasileiro de ver o Congresso envolvido nesta campanha nacional de combate à corrupção. “Queremos um país mais justo, menos desigual, onde não haja corrupção, onde a verba pública seja canalizada para outra finalidade”, disse.

     Revolta
      Dentro da Câmara, parlamentares se revoltaram com a decisão do Conselho de Ética de rejeitar a denúncia contra Costa Neto. “Se nada aconteceu no Ministério dos Transportes, por que a presidente Dilma afastou o ministro e 20 funcionários do órgão?”, questionou o relator do processo, deputado Fernando Francischini (PSDB-PR). 
     O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) propôs a extinção do órgão colegiado. “É melhor fecharmos logo esse Conselho de Ética que, primeiro, teve sua decisão de cassar a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) derrotada em plenário e, agora, elimina na raiz a possibilidade de investigar Costa Neto, para evitar que o problema se repita”, afirmou. 
      Mais cedo, Alencar havia participado do pequeno grupo de parlamentares que deixou o Congresso para cumprimentar os manifestantes do ato contra a corrupção. “Vocês deviam ficar de olho também no Supremo Tribunal Federal, ali do outro lado da rua, que está ameaçando dar um golpe na democracia ao cassar os poderes do Conselho Nacional de Justiça”, recomendou.
      Senador de primeiro mandato, Pedro Taques (PDT-MT), que foi até os manifestantes para receber uma vassoura. “Falar contra a corrupção, hoje, é defender a cidadania e a democracia. Segundo o Tribunal de Contas da União, um terço do dinheiro da saúde é desviado pela corrupção. Há muita coisa errada. A corrupção mata e rouba o futuro de uma geração”, afirmou. 
      O presidente da Frente Parlamentar Mista Contra a Corrupção, deputado Francisco Praciano (PT-AM), lembrou que há mais de 100 projetos de combate à corrupção tramitando na Câmara e do Senado, sendo que 21 deles, prontos para serem votados, como é o caso do projeto que propõe o fim do voto fechado para os casos previstos pelo regimento, como nas votações de quebra de decoro parlamentar. “Se a sociedade não brigar, se a imprensa não ajudar, não vamos ter nunca o voto aberto nessa Casa”, afirmou.

     Panfletagem
      Após participar do ato, Praciano comandou uma panfletagem, dentro da Câmara, com o objetivo de sensibilizar seus colegas a agilizar a tramitação dos projetos que tratam do combate à corrupção. Um dos primeiros parlamentares a receber o material preparado pela Frente foi o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS). 
      Segundo Praciano, o encaminhamento de projetos como o que propõe o voto aberto será discutido na próxima reunião do colegiado de líderes, semana que vem. 
      Marco Maia, que assinou o manifesto lançado pela Frente Parlamentar Mista em Defesa do Voto Aberto, em conjunto com outros 270 senadores e deputados, afirmou que é a favor da medida, mas com exceções, como a eleição para presidir a Câmara e o Senado.
Nota: destaques nossos.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

CONVITE: Combate à Extrema Pobreza e Segurança Alimentar



INFORMAÇÕES GERAIS
Local: Centro de Convenções da UNICAMP
Data: 13 de Outubro de 2011
Horário: das 9h horas às 16h45 horas.
Inscrições pelo site:
http://foruns.bc.unicamp.br/

Sobre o Evento: 
O Fórum pretende discutir as mais recentes pesquisas na área de Políticas de Combate à Pobreza e Segurança Alimentar que estão sendo realizadas na universidade. Tendo em vista o avanço alcançado na redução dos indicadores de pobreza e na necessidade de aprofundamento dos programas públicos, a Unicamp deverá receber a Secretária extraordinária para Superação da Extrema Pobreza Ana Fonseca e a Secretária Nacional de Segurança Alimentar Maya Takagi além de outras importantes personalidades. O evento está dividido em duas mesas que tratarão, pela ordem, das questões ligadas à pobreza urbana e rural. Ademais, será feito o lançamento e a apresentação da 3a. edição da TACO – Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, desenvolvida na Unicamp.

PROGRAMA
Manhã

8h:30 – Credenciamento
9h:00 – Abertura
Prof. Dra. Carmen Zink Bolonhini – Assessora da Coordenadoria Geral da Universidade
Profa Dra. Ítala M. L. D’Ottaviano – Coordenadoriade Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa – COCEN/UNICAMP
Prof. Dr. Walter Belik – Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação – NEPA/UNICAMP
Profa. Dra. Carmen Cecilia de Campos Lavras – Núcleo de Estudos de Políticas Públicas – NEPP/UNICAMP
9h45 – Pausa para o café
10h00 – Mesa Redonda: Desigualdade e Combate à Pobreza nas Áreas Metropo litanas
Coordenadora: 
Dra. Carmem Cecilia de Campos Lavras – NEPP – UNICAMP.
Debatedores:
Dra. Ana Maria Medeiros da Fonseca – Secretaria Extraordinária para Superação da Extrema Pobreza – Sesep – MDS.
Dr. Haroldo Torres – Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP
Dra. Lilia Montali – Núcleo de Estudos de Políticas Públicas – NEPP/UNICAMP

12h00 - Almoço

13h30 – Apresentação de Vídeo da Semana Mundial de Alimentação

Lançamento da Tabela Brasileira de Composição de Alimentos – TACO 3ª Ed.
Apresentação: Prof. Dr. Jaime Amaya Farfán – Faculdade de Engenharia de Alimentos - FEA/UNICAMP
14h30 – Mesa Redonda: Erradicação da Pobreza Rural e a Garantia de Segurança Alimentar

Coordenador
: Prof. Dr. Fernando Lourenço – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – IFCH/UNICAMP
Debatedores:
Dra. Maya Takagi – Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SESAN/MDS
Profa. Dra. Sônia Maria Bergamasco – Faculdade de Engenharia Agrícola – FEAGRI/UNICAMP
Prof. Dr. Walter Belik – Instituto de Economia – IE/NEPA/UNICAMP

16h30 – Encerramento
16h45 – Entrega dos certificados e café

ORGANIZADORES

Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação – NEPA
O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação, cri ado em 1983, desenvolve atividades multidisciplinares de pesquisa e extensão nas áreas de alimentação e n utrição. São contemplados em seus trabalhos aspecto s sócio-econômicos, nutricionais, educacionais e tecnológicos da questão alimentar. Participam de suas atividades professores de vários Institutos e Faculdades da Unicamp, como do Instituto de Economia, Faculdade de Engenharia de Alimentos, Faculdade de Educação, Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica, Faculdade de Engenharia Agrícola e Faculdade de Ciências Médicas, além de pesquisadores contratados ou bolsistas. Atualmente o NEPA tem parceiros externos como o CIRAD-Amis, o Ministério da Saúde - MS, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS, a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” ESALQ, a Pontifícia Universidade Católica de Campinas - PUC-Campinas, Instituto de Tecnologia de Alimentos - ITAL, entre outros.
O NEPA criou a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, publica a revista semestral Segurança Alimentar e Nutricional (www.unicamp.br/nepa/revista.html), na temática ligada aos problemas da Alimentação e participa de Conselhos de Segurança Alimentar, além de realizar outras atividades como assessorias, serviços, palestras e eventos.


Núcleo de Estudos de Políticas Públicas – NEPP
O Núcleo de Estudos de Políticas Públicas – NEPP é uma instituição de natureza multidisciplinar e assim foi concebido, desde o início, através da experiência p ioneira que a UNICAMP realizou ao criar seus núcleo s de pesquisa. Em primeiro lugar, o caráter multidisciplinar se afirma pelo concurso de profissionais de diferentes origens e formação. Em segundo lugar, as múltiplas dimensões das políticas sociais exigem sem dúvida a íntima conexão de disciplinas diversas, tais como a ciência política, a sociologia, a economia, a pedagogia, de modo a dar conta da variedade de áreas e campos de intervenção social do Estado - educação, saúde, assistência social, previdência, saneamento, habitação, transportes coletivos - áreas e campos que na realidade dos Estados contemporâneos apresentam-se cada vez mais inter-relacionadas, em intersecções einterfaces bastante densas e complexas.
Em suas investigações, os pesquisadores do NEPP têm observado três dimensões básicas das políticas sociais: o financiamento e o gasto social; a morfologia e a dinâmica institucional e decisória das burocracias e aparelhos sustentadores da ação estatal; o impacto social da ação pública, considerando sua eficácia e efetividade. Comprometidos sobretudo com a análise e a avaliação institucional das ações de governo, segundo os clássicos parâmetros acadêmicos e científicos, os estudos e pesquisas deste Núcleo têm também como objetivo contribuir, para a melhoria das condições de vida da população brasileira, sempre e quando puder, desse modo, sensibilizar autoridades e decisores públicos sobre rumos e correções da ação governamental no campo do bem-estar social.

Comissão Organizadora:
Walter Belik – IE/NEPA/UNICAMP
Lilia Montali – NEPP/UNICAMP
Dag Mendonça Lima – NEPA/UNICAMP
Emma Siliprandi – NEPA/UNICAMP


INSCRIÇÕES ABERTAS 
"Fórum Permanente de Meio Ambiente e Sociedade"

sábado, 24 de setembro de 2011

O dia em que a Palestina derrotou os EUA


DEBATE ABERTO (em CARTA MAIOR)


Na ausência explícita do primeiro presidente negro dos EUA, advogado ativista dos direitos civis, eleito, entre outras coisas, para recuperar a moral mundial, Obama compareceu na ONU como vergonha. Na postura evasiva e envergonhada do homem mais poderoso do mundo está a vitória palestina.

     Entre a presença de Dilma Rousseff na abertura da 66ª Assembleia Geral da ONU e a ausência de Barack Obama, explícita no discurso do presidente dos EUA, abriu-se um flanco. Faltou Obama no discurso de um presidente enfraquecido e na defensiva, refém de interlocutores ausentes (Bin Laden e o Hamas). E Dilma Rousseff esteve lá, inteira, com a sua história, os seus compromissos e uma agenda clara. Ela não tem, perante o mundo, do que se envergonhar. E o presidente dos EUA tem tanto do que se envergonhar que se envergonhou, nas palavras, na cabeça baixa, na postura de quem fala no que não acredita e defende a posição dos seus adversários. Nesta vergonha de Obama está a vitória palestina. Na ausência explícita do primeiro presidente negro, advogado ativista dos direitos civis, eleito, entre outras coisas, para recuperar a moral mundial, Obama compareceu como vergonha. Mas é preciso que se diga, de novo: na postura evasiva e derrotada do homem mais poderoso do mundo está a vitória palestina.
      É verdade que, de um ponto de vista realista, o movimento da OLP tem pela frente muitas fronteiras a serem desfeitas, refeitas e estabelecidas. Dentre os árabes e palestinos há pelo menos os seguintes problemas, na proposta capitaneada por Abbas: o aparente escanteio dos refugiados palestinos, o pouco ou nenhum debate relativo ao direito às compensações destes; há também questões em aberto sobre o estatuto jurídico e a competência da OLP em se converter ela mesma em Estado, há o Hamas, que já se retirou da proposta, porque o movimento da OLP não comporta uma recusa da existência do estado de Israel e há também a histórica hipocrisia de muitos dos países árabes, frente ao povo palestino, que costuma deixa-los à própria sorte (não é demais lembrar que Assad mandou bombardear um campo de refugiados palestinos, na Síria, há menos de um mês). Na relação com Israel e os israelenses, o problema é antes de tudo de fronteiras e tudo indica que este confronto, com o reconhecimento do estado palestino, na Assembleia Geral da ONU, ganhará um estatuto político mais claro na comunidade internacional.
      Dilma lembrou algo importante, que serve de pista para entender a enrascada israelense perante a comunidade internacional, daqui para a frente:
“O mundo sofre hoje as dolorosas consequências das intervenções, possibilitando a infiltração do terrorismo, onde ele não existia. Muito se fala da responsabilidade de proteger, pouco se fala da responsabilidade ao proteger”. Esta afirmação traduz com muita propriedade também a relação dos EUA com sucessivos governos israelenses, mesmo quando estes seguem violando o direito internacional. À parte a percepção de que Obama sabe bem da responsabilidade que seu país tem pela consequências sobre os palestinos de suas decisões e omissões, o que de fato sobressai é que o governo israelense foi exposto formalmente hoje como adversário de uma vontade reconhecida da comunidade internacional. Isso significa, entre outras coisas, que as violações pesarão mais, que construir assentamentos se tornará mais caro politicamente, que a defesa da retomada do processo de paz não ficará mais tão facilmente refém do ardil da “falta de interlocutores” ou da não negociação com terroristas.
     Os passos dados pela OLP foram desde o começo de natureza diplomática, política, voltados à negociação. Por mais que o Hamas tenha fustigado, apesar das diatribes verbais do presidente do Irã, com a iminência de um atrito maior entre Egito e Israel, que poderia vir a fortalecer o Hamas, pois bem, apesar de tudo isso, Abbas seguiu obstinado a via da negociação com a comunidade internacional. 
     E Israel, agora, não pode mais dizer que não tem interlocutor na região, porque todos querem destruí-lo e não o reconhecem. Este passo foi dado, já, inclusive por Israel. O país é uma realidade e, fora da retórica oportunista do Hamas e do Hezbollah, ninguém questiona a legitimidade e o direito de Israel a existir, como país soberano e autodeterminado e membro da comunidade internacional. É nota característica da vitória palestina hoje a exposição de que o Hamas e o Hezbollah só são interlocutores da intolerância, da falta de respeito e do desprezo ao direito, ao estado de direito e ao direito internacional. Numa palavra, a exposição de que o interlocutor do Hamas é Avigdor Lieberman.
     Resta saber se Israel pretende ser reconhecido se não reconhece. Se pretende prosseguir na mais longa ocupação militar moderna ou se está disposto a ser um estado respeitável na comunidade internacional. Hoje, estas considerações se tornaram muito mais acessíveis ao imaginário e à percepção das pessoas, frente ao movimento palestino, à celebração nas ruas da Palestina. E ao acontecimento a um só tempo luminoso e vergonhoso, na Assembleia da ONU. 
     Obama disse e repetiu o truísmo de que a paz é uma coisa difícil. Disse a verdade para iludir e, de tanto saber o que estava fazendo, envergonhou-se antes de dizer "não" aos palestinos. O presidente dos EUA entrou em campanha pela reeleição e parece cada vez mais cativo dos seus adversários, inclusive dos adversários internos, do seu partido. Em 19 de maio deste ano, falou em defesa das fronteiras de 67 e hoje balbuciou como um boneco de ventríloquo. Quem é o ventríloquo de Obama, não é o que importa, agora. Dizer que é Avigdor Lieberman, ou Netanyahu é mentir. O ventríloquo de Obama é o medo e a derrota. Essas coisas que tornaram a sua presença hoje na ONU uma retumbante ausência e uma vergonha. A paz assim não é difícil, mas impossível. 
     A possibilidade de paz existe, é difícil mesmo, tornou-se mais complexa e talvez mais produtiva exatamente porque avança para o campo do direito, invertendo a prática da região. Na direção oposta à prevalência do fato consumado da construção e do muro de anexação dos territórios palestinos, o movimento da OLP, que teve seu ponto alto ou o fim de seu primeiro ato hoje, na Assembleia Geral, visa a estabelecer as condições de possibilidade de um estado palestino de fato.
     É verdade que o fundamento do estado, em boa teoria, é uma regra de reconhecimento que institui o fundamento último do direito. Também é verdade que o Estado não é uma obra de arte, mas um produto histórico. É verdade que os cínicos fizeram e seguem fazendo pouco caso dos palestinos, como se dizendo que os palestinos e Abbas estão desejando e imaginando que amanhã a ocupação tenha cessado (sim, todo cínico é um ingênuo arrogante). Um ex-embaixador israelense disse que essa questão do reconhecimento do estado palestino virou uma coletiva de imprensa, quando deveria ser tratada de maneira discreta, em segredo. Talvez ele defenda isso para que as coisas continuassem como eram, com os israelenses fingindo que negociavam e bancando a expansão ilegal. Talvez seja só desdém, mesmo.
     Só que hoje isso, finalmente, pouco importa: os palestinos derrotaram os EUA. E daqui para a frente, apesar dos pesares, do quão difícil venha a ser a paz, isso, além de ser verdadeiro, permanecerá verdadeiro. Hoje, as desculpas cínicas entoadas por diplomatas entre meia dúzia de representantes no Conselho de Segurança foram substituídas por uma fala pública, envergonhada e embaraçosa do homem mais poderoso do mundo, perante os palestinos. 
     Poucas, muito poucas vezes na história a verdade irrompe a conjuntura para ser enunciada como aquilo que é: a norma de si mesma. Hoje foi um dia assim, e por isso Obama sentiu vergonha, por isso Dilma brilhou. E por isso os palestinos venceram.

Katarina Peixoto é doutoranda em Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: katarinapeixoto@hotmail.com

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A primavera dos países subdesenvolvidos e o inverno da ONU


Enquanto o mundo rico se desdobra para criar mecanismos que lhe permitam sair da crise financeira mundial, países em desenvolvimento, cada vez mais importantes no cenário global, cobram reformas nos organismos multilaterais e se insurgem frente à falta de representatividade nas instâncias de governança mundial.

Por Vanessa Silva*

     Respaldados pelo cenário econômico favorável em que vivem seus países, durante a abertura da 66ª Conferência da Assembleia Geral da ONU, os presidentes latino-americanos estiveram entre os mais convictos defensores de uma nova correlação de forças que lhes garanta espaço nas decisões da entidade.
     Primeira presidente a abrir uma Assembleia da ONU, Dilma Rousseff deu início ao debate ao ressaltar que “o mundo precisa de um Conselho de Segurança que venha a refletir a realidade contemporânea; um Conselho que incorpore novos membros permanentes e não-permanentes, em especial representantes dos países em desenvolvimento”. Segundo a mandatária, “a legitimidade do próprio Conselho depende, cada dia mais, de sua reforma”.
     A discussão a respeito do possível reconhecimento da Palestina como Estado membro da ONU, no entanto, deixou evidente o conflito de interesses existente entre as nações. Discurso após discurso, presidentes reiteraram o apoio ao reconhecimento do Estado Palestino.
     A resposta dos Estados Unidos, que foi o segundo país a manifestar-se, logo após o discurso do Brasil, veio em forma curta e pró-Israel. O presidente Barack Obama reiterou a não disposição do país de intervir a favor da Palestina e seu compromisso “inabalável” com Israel. “Estou convencido de que não existe um atalho para o fim de um conflito que dura há décadas. (...) A paz não nascerá de declarações ou de resoluções da ONU. Se fosse assim tão fácil, isso já teria sido feito. (...) Afinal de contas, são os israelenses e palestinos – não nós – que devem chegar a um acordo a respeito das questões que os dividem: fronteiras e segurança, refugiados, e Jerusalém.”
     A fala de Obama não constitui exatamente uma novidade – ele já havia declarado que, caso o Conselho decida pelo reconhecimento da Palestina como Estado, seu país vetará a resolução –, apenas reforça o posicionamento dos Estados Unidos frente às decisões da ONU: pouco importa o que os demais países decidem.
     A mesma postura é mantida frente ao bloqueio comercial que o país mantém contra Cuba desde 1962. Desde 1992 são votadas, sem sucesso, resoluções na ONU para colocar um fim à guerra econômica travada contra a ilha. Em 2010, 187 países respaldaram Cuba, e apenas Estados Unidos e Israel se opuseram ao texto. Mas o bloqueio foi mantido.
     Entre os membros permanentes e com direito a veto no Conselho de Segurança estão Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China. Os demais 10 membros que integram o conselho são eleitos pela Assembleia Geral para mandatos de 2 anos.
     A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, ressaltou que não compartilha “da necessidade de ampliar os membros permanentes [do Conselho de Segurança]”, ao contrário, considera “que é preciso eliminar não só os membros permanentes, mas também o direito de veto, que impede que realmente este Conselho cumpra sua verdadeira função”.
      Ainda mais crítico, o presidente da Bolívia, Evo Morales, defendeu que é chegada a “hora de discutir a reformulação dessa organização” e deixou no ar a dúvida quanto à real função das Nações Unidas: “A ONU está subordinada ao Conselho de Segurança. Para que servem estas Nações Unidas se aqui tem um grupo de países que decide intervenções e matanças? Aqui se fala de uma paz duradoura, mas como é possível existir uma paz duradoura com bases militares norte-americanas, com intervenções?”.
      O questionamento segue sem resposta. Em seu discurso, a presidente brasileira lembrou que “o debate em torno da reforma do Conselho já entra em seu 18º ano” e ressaltou não ser “possível protelar mais”.
Fonte: Vermelho
*Jornalista, colaboradora do Vermelho

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Vinte anos de capa da VEJA




Selecionamos 123 capas da revista, de 1993 a 2010. Elas formam uma narrativa surpreendente, quase uma história em quadrinhos da história política do período. FHC é o presidente dos sonhos da publicação. Sério, compenetrado e trabalhador, fez uma gestão exemplar e não está para brincadeiras. O ex-metalúrgico, por sua vez, brinca com a bola e é um demagogo que merece apenas um chute no traseiro.

O presidente Lula sofreu impeachment em agosto de 2005. Quase ninguém se lembra dele. Era um trapalhão barrigudo, chefe de quadrilha e ignorante.

A história seria assim, se o mundo virtual da revista Veja fosse real. Selecionamos 123 capas da revista, de 1993 a 2010. Elas formam uma narrativa surpreendente, quase uma história em quadrinhos da história política do período. FHC é o presidente dos sonhos da publicação. Sério, compenetrado e trabalhador, fez uma gestão exemplar. O ex-metalúrgico, por sua vez, é um demagogo que merece apenas um chute no traseiro.

A visão de Veja é a visão da extrema direita brasileira. Tem uma tiragem de um milhão de exemplares e é lida por muita gente. Entre seus apreciadores está, surpreendentemente, o governo brasileiro. Este não se cansa de pagar caríssimas páginas de publicidade para uma publicação que o achincalha com um preconceito de classe raras vezes visto na imprensa.

Freud deve explicar. Clique no link abaixo para ver a sequência. Vale a pena.

As capas de Veja

Saudamos a primeira mulher a abrir a Assembleia Geral da ONU


Parte final do discurso da Presidenta Dilma na abertura da Assembleia Geral  da ONU

Senhor Presidente e minhas companheiras mulheres de todo mundo,

O Brasil descobriu que a melhor política de desenvolvimento é o combate à pobreza. E que uma verdadeira política de direitos humanos tem por base a diminuição da desigualdade e da discriminação entre as pessoas, entre as regiões e entre os gêneros.

O Brasil avançou política, econômica e socialmente sem comprometer sequer uma das liberdades democráticas. Cumprimos quase todos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, antes 2015. Saíram da pobreza e ascenderam para a classe média no meu país quase 40 milhões de brasileiras e brasileiros. Tenho plena convicção de que cumpriremos nossa meta de, até o final do meu governo, erradicar a pobreza extrema no Brasil.

No meu país, a mulher tem sido fundamental na superação das desigualdades sociais. Nossos programas de distribuição de renda têm nas mães a figura central. São elas que cuidam dos recursos que permitem às famílias investir na saúde e na educação de seus filhos.

Mas o meu país, como todos os países do mundo, ainda precisa fazer muito mais pela valorização e afirmação da mulher. Ao falar disso, cumprimento o secretário-geral Ban Ki-moon pela prioridade que tem conferido às mulheres em sua gestão à frente das Nações Unidas.

Saúdo, em especial, a criação da ONU Mulher e sua diretora-executiva, Michelle Bachelet.

Senhor Presidente,

Além do meu querido Brasil, sinto-me, aqui, representando todas as mulheres do mundo. As mulheres anônimas, aquelas que passam fome e não podem dar de comer aos seus filhos; aquelas que padecem de doenças e não podem se tratar; aquelas que sofrem violência e são discriminadas no emprego, na sociedade e na vida familiar; aquelas cujo trabalho no lar cria as gerações futuras.

Junto minha voz às vozes das mulheres que ousaram lutar, que ousaram participar da vida política e da vida profissional, e conquistaram o espaço de poder que me permite estar aqui hoje.

Como mulher que sofreu tortura no cárcere, sei como são importantes os valores da democracia, da justiça, dos direitos humanos e da liberdade.

E é com a esperança de que estes valores continuem inspirando o trabalho desta Casa das Nações que tenho a honra de iniciar o Debate Geral da 66ª Assembleia Geral da ONU.

Eventos lembram 75 anos de "Angústia", de Graciliano Ramos




Graciliano Ramos estava preso quando "Angústia", seu terceiro romance, foi publicado. No início de 1936, o autor de "Caetés" (1933) e "São Bernardo" (1934) havia sido nomeado diretor da Instrução Pública de Alagoas, cargo equivalente ao de secretário estadual da Educação, mas foi demitido meses depois. Entre as explicações, o escritor disse que "não tivera a habilidade necessária de prestar serviços a figurões", além de suprimir das escolas o hino alagoano, "uma estupidez com solecismos".



Foi preso em março, no mesmo dia em que havia dado o manuscrito do romance à datilógrafa. Na terça-feira passada (20), os 75 anos de "Angústia" começaram a ser lembrados com um simpósio que será realizado até outubro, em cinco cidades. O livro ganhou uma edição comemorativa.

A abertura ocorreu em uma pequena sala da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), na zona oeste da capital paulista, com um dos principais leitores de Graciliano, o escritor e crítico Antonio Candido.

"Graciliano Ramos atuou em um dos momentos mais ricos da literatura brasileira, e eu me pergunto se não foi o mais rico", diz Antonio Candido, referindo-se a um intervalo dos anos 1920 a 1960. Período iniciado pelo Modernismo, movimento importante do ponto de vista histórico, mas sem impacto naquele momento. "Quando estudamos hoje o Modernismo, temos a impressão de que todo o Brasil estava interessado nele. Foi um movimento pequeno, de grande importância histórica, mas sem muita repercussão."

Nessa abordagem histórica, os anos 1930 trazem o declínio das oligarquias e o lançamento de romances mais acessíveis, abordando a realidade do país, no que se chamou neorrealismo ou neonaturalismo. Naquele momento, Antonio Candido, hoje com 93 anos, morava no interior de Minas Gerais e era um dos jovens que aguardavam com ansiedade a chegada dos livros que eram trazidos de trem e levados à livraria local por um rapaz chamado Batata.

São obras que, na visão de Antonio Candido, representaram uma descoberta do Brasil, sem que houvesse um projeto racionalmente elaborado, mas integrantes do processo histórico. São exemplos de romances que, conforme conta, aproximaram o leitor Antonio Candido do "pobre e do desvalido, da vida do negro, do plantador de cacau, do jagunço". "Começamos a ver o Brasil pobre, esquecido, espezinhado."

Ele conheceu Graciliano em 1947, quando o escritor preparava Memórias do Cárcere, publicado postumamente em 1953, ano de sua morte. Definiu-o como um homem muito educado e de pouca fala. Graciliano era "um militante muito convicto" do Partido Comunista; Antonio Candido, do Partido Socialista. Tempos em que essas legendas se estranhavam. "À esquerda às vezes se odeia mais do que à própria direita", lamenta o crítico.

Em resenha publicada no ano de lançamento de Angústia, Jorge Amado disse que soube de gente que não conseguiu passar da página 30 do livro com medo de enlouquecer. "Mais uma vez eu quero dizer aqui uma coisa que já escrevi a respeito de Graciliano Ramos: os romancistas em geral nos dão diversas sensações fortes ou amáveis: nos comovem, por vezes nos fazem chorar, nos revoltam, nos põem melancólicos, enfim, fazem muita coisa. Porém, o romancista de Angústia nos arranca o estômago", afirmou.

Para Antonio Candido, Angústia não é o melhor livro de Graciliano, mas foi recebido com reverência. Ele lembra de um primo que saudou o lançamento da obra como um verdadeiro Dostoéivski. O seu preferido é São Bernardo, que ele acredita ter lido no mínimo 20 vezes. Gosta também do filme baseado na obra, dirigido por Leon Hirszman em 1972. "Othon Bastos nasceu para aquele papel."

"Acho uma sorte extraordinária da literatura brasileira contar com escritores de polos opostos", diz Antonio Candido, citando estilos como o romântico, o barroco e o clássico. "Essa é a grande força da literatura brasileira", acrescenta, destacando o "jogo dialético" que formariam autores como José de Alencar e Joaquim Manuel de Macedo, Machado de Assis e Euclides da Cunha e "o gordo e o magro": Guimarães Rosa e Graciliano Ramos.

Com Rede Brasil Atual

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O debate da crise promovido por CARTA MAIOR em 10 artigos

A Carta Maior promoveu na última segunda-feira, dia 12 de setembro, um seminário para discutir a crise econômico-financeira mundial e a responsabilidade das políticas neoliberais neste processo. Alguns dos melhores intelectuais, professores e agentes públicos do país participaram do debate transmitido ao vivo pela internet e que procurou aliar diagnóstico com projeção de políticas para o Brasil atravessar esse período de forte turbulência internacional. O Seminário dará origem a uma publicação com a íntegra de todo esse debate.
Vejam alguns artigos no lik abaixo:

Artistas e intelectuais lançam manifesto em apoio à Comissão da Verdade


A criação da Comissão da Verdade, que deve ser votada esta semana na Câmara dos Deputados, enfrenta forte resistência de setores simpáticos e saudosistas da ditadura. Para ajudar a contrapor essa resistência, um grupo de intelectuais encabeçado por Leonardo Boff, Emir Sader, Marilena Chauí e Fernando Morais está lançando um manifesto de artistas e intelectuais em apoio à criação da comissão.

     A Câmara dos Deputados deve votar no dia 21 de setembro o projeto que cria a Comissão da Verdade, encarregada de trazer à público as violações de direitos humanos cometidas durante o período da ditadura militar. A criação da Comissão enfrenta forte resistência de setores simpáticos e saudosistas da ditadura. Para ajudar a contrapor essa resistência, um grupo de intelectuais encabeçado por Leonardo Boff, Emir Sader, Marilena Chauí e Fernando Morais está lançando um manifesto de artistas e intelectuais em apoio à Comissão da Verdade. O texto do manifesto afirma:
     As oportunidades da vida nos levaram ao caminho da arte, da música e do espetáculo e, ao seguirmos esses passos, nos transformamos não apenas em artistas e intelectuais, mas em militantes da liberdade, já que temos a possibilidade de expressar nossas ideias e nossos sonhos na linguagem da arte e do conhecimento.
     A democracia não nos foi dada, ela foi conquistada por uma geração que não se calou diante da opressão. A experiência vivenciada naquele período de repressão marcou vidas e foi capaz de mudar a história, mas ainda não podemos celebrar a democracia se não tivermos pleno conhecimento das violações cometidas nesse passado tão recente.
     O que nos move nesse momento é a esperança de que os parlamentares possibilitem a atual e as futuras gerações o conhecimento desses fatos, para sabermos a verdadeira verdade. Como defensores da livre expressão do pensamento e da democracia, manifestamos ao Congresso Nacional nosso desejo de aprovação do Projeto de Lei 7.376/2010, que cria a Comissão Nacional da Verdade para que essas violações sejam lembradas e conhecidas pelo povo brasileiro, pois essa é a única forma de garantirmos que isso nunca mais aconteça. 
     Chegou a hora da verdade que o Brasil tanto espera.

O mundo do trabalho semi-escravo da Cutrale



      Atraso nos recebimentos dos salários, um banheiro para mais de 20 pessoas nos alojamentos, buracos na terra coberto por lonas na colheita servindo como vasos sanitário, pressão para que os trabalhadores pessam demissão. Eis o mundo do trabalho na Cutrale.
     Desde o final do mês de agosto deste ano, 32 trabalhadores vindos do estado do Maranhão, com a finalidade de trabalharem na colheita de laranja da empresa Cutrale, em Itatinga, São Paulo, viviam em condições precárias, segundo apurou a reportagem da TV Tem.
     Além das péssimas condições de trabalho e dos alojamentos, os trabalhadores também reclamavam do alto preço das marmitas, que segundo eles, deveria ser R$1,25 por marmita oferecida, conforme o combinado prévio que tinham feito com a empresa. Ao chegarem, no entanto, se deparam com o valor de R$ 12,00 por dia.
     Na visão do procurador da Justiça do Trabalho, Marcus Vinicius Gonçalves, os trabalhadores foram aliciados pela Cutrale. “Existe todo um procedimento para você trazer um trabalhador de outro estado (...) e a forma como isso está sendo feita é totalmente ilícita,” coloca o procurador.
     Os dez trabalhadores que resolveram voltar para o estado de origem tiveram que pegar empréstimos bancários para pagarem as passagens de volta. Os que sobraram, somente conseguiram resolver suas situações após a intervenção de procuradores do Ministério Público do Trabalho.
     A ida desses procuradores ao local, obrigou a empresa a se comprometer em rescindir o contrato de trabalho, pagar os benefícios que faltavam e os enviar novamente para o Maranhão.
     Cutrale mantinha 32 trabalhadores em regime de escravidão


     A maior produtora de suco de laranja do mundo, a empresa Sucocítrico Cutrale, mantinha 32 funcionários em condições precárias de trabalho em sua unidade do município de Itatinga (SP), interior do estado de São Paulo.  Os próprios trabalhadores, que atuavam na colheita de laranja, denunciaram a situação ao Ministério Público do Trabalho (MPT).
     Na manhã desta quarta-feira (14), ao chegar no local,  a fiscalização constatou que os 32 habitavam uma única residência. Ela estava em péssimas condições de higiene e conforto, sem existência de vestiários, cozinha, ventilação e iluminação adequada. Além disso, pagavam R$ 24 por dia pela alimentação e recebiam salários de apenas R$ 620.
     Os trabalhadores, que vieram dos estados de Sergipe e Maranhão, chegaram em setembro na região, já endividados pelas despesas de transporte e alimentação. De acordo com o procurador da Justiça do Trabalho, Luis Henrique Rafael, a Cutrale é responsável por toda a situação.
     “Quando ela faz a contração de trabalhadores de outros estados, existe uma instrução normativa do Ministério do Trabalho obrigando que o registro da carteira seja feito no estado de origem do funcionário. Isso garante que os trabalhadores, durante a viagem, sejam protegidos pelo contrato de trabalho e tenham benefícios se acontecer algum acidente. Porém, ela aceitou essa situação e não fiscalizou. Por isso, é responsável pelas condições degradantes do alojamento.”
     Após o flagrante, a empresa se comprometeu a indenizar os trabalhadores. Eles retornarão aos seus estados e receberão as verbas decorrentes da rescisão do contrato de trabalho.
     A empresa Cutrale sofre processo na Justiça por ocupar, ilegalmente, 2,6 mil hectares de terras da União no município de Iaras (SP), também no interior de São Paulo.

 Fonte:MST

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Patrão rejeita obrigação de negociar divisão de lucro com empregado



Projeto de lei do deputado Luiz Alberto (PT-BA) torna obrigatório negociar rateio dos lucros das empresas com trabalhadores, direito assegurado na Constituição. Em audiência pública na Câmara dos Deputados, representantes patronais rejeitam diálogo compulsório e defendem retrocessos na precária legislação atual que protege trabalhadores. Projeto atende antiga demanda do movimento sindical brasileiro.

     BRASÍLIA - A Constituição de 1988 diz, em seu artigo 7º, que é direito dos trabalhadores participar dos lucros das empresas que lhes pagam o salário. Se depender do patronato brasileiro, entretanto, a redução da desigualdade social do país continuará a ser responsabilidade exclusiva do Estado. 
     Em audiência pública realizada pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio da Câmara dos Deputados nessa terça-feira (13/9), para discutir projeto que obriga as empresas a repartir os ganhos, representantes dos bancos, do comércio, da indústria e até das microempresas se declararam contra a proposta. E mais: propuseram desregulamentar a precária legislação já existente sobre o tema.  
      O projeto de lei 6.911, de 2006, do deputado Luiz Alberto (PT-BA), atende a uma demanda do movimento sindical brasileiro que, em mais de 20 anos desde a promulgação da Carta de 1988, ainda não conseguiu regulamentar adequadamente o direito assegurado pela Constituição. 
     Pelo texto, a empresa que se recusar a negociar com o sindicato a forma de partilha dos lucros ficará automaticamente obrigada a distribuir 15% dos ganhos aos empregados. Se topar negociar, terá de fornecer informações contábeis ao sindicato, aceitar que a entidade conduza a eleição da comissão de trabalhadores e pagar o mesmo valor de benefícios a todo o quadro de funcionários, independente do valor dos salários.
     O empresariado rejeita todas as idéias. Para o conselheiro temático de Relações do Trabalho da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Adauto de Oliveira Duarte, o projeto desestimula a negociação coletiva, aumenta o custo do trabalhador e causa insegurança jurídica. “Neste momento em que o Brasil discute a competitividade no mercado global, deveríamos é alterar a legislação que já temos”, afirmou.
     Ofensiva conservadora
     Em documento entregue à Comissão, o conselheiro propôs, em nome da CNI, o fim das autuações realizadas pela Receita Federal sobre os programas de participação nos lucros e resultados (PLRs) o e parcelamento dos benefícios, que seriam vinculados a metas de produtividade. 
     A ofensiva conservadora foi elogiada pelo diretor de Relações de Trabalho da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Magnus Ribas. “Este projeto vai na contramão do que o mercado está discutindo. No Brasil, precisamos de mais instrumentos nos quais impere a vontade das partes, e não o engessamento da legislação”. 
     Roberto Luis Lopes Nogueira, advogado da Divisão Sindical da Confederação Nacional do Comércio (CNC), também insistiu no caráter compulsório como principal problema da lei proposta. “A negociação coletiva é a seara mais adequada para que todas as questões trabalhistas sejam discutidas. Favorece não só os empresários, mas também fortalece os sindicatos e incide em mais ganhos para os trabalhadores", disse.
      Mesmo o presidente da Confederação Nacional de Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Comicro), José Tarcísio da Silva, se posicionou contra o projeto. “Não consigo visualizar como essas microempresas podem desenvolver programas de participação nos lucros e resultados. Em muitas delas, o lucro líquido não passa de um salário mínimo”, afirma. 
     O microempresário acredita que, para o setor, a prioridade no momento é consolidar o esforço já realizado para combater a informalidade no setor, que já apresentou índices assustadores no país, apesar de reconhecer que a divisão dos lucros injeta mais dinheiro nas economias locais, o que aquece o comércio e favorece o crescimento da economia. 
     Histórico de PLR
     O dispositivo constitucional da PLR foi regulamentada há 17 anos, por meio de uma medida provisória. Em 2000, foi transformada em lei segundo a qual a negociação é facultativa, pode ser feita sem a presença do sindicato e que o pagamento dos valores está condicionado à imposição de metas. 
      O diretor do Sindicato dos Bancários do Distrito Federal, Eduardo Araújo, que representou a Central Única dos Trabalhadores (CUT) na audiência, disse que o principal problema da legislação atual é possibilitar que a negociação seja facultativa, o que o projeto debatido tenta atacar. 
      Luiz Carlos Silva Barbosa, diretor-jurídico da Força Sindical do Rio Grande do Sul, acrescentou que, em função da voluntariedade, são poucas as empresas que, de fato, negociam PLR´s. “O número de acordos para participação nos lucros não é significativo, em especial no setor do comércio. No Rio Grande do sul, em um universo de 13 mil empresas, menos de cem fecharam acordos”, exemplificou. 
      José Gabriel Teixeira dos Santos, da Nova Central Sindical de Trabalhadores, ressaltou, dentre as deficiências da lei atual, o fato de que a negociação é feita entre patrões e empregados sem a presença de um negociador experiente. “O PL 6.911 amplia a participação dos sindicatos”, destacou. 
      Além disso, ele criticou o fato de que as empresas não fazem corretamente suas contabilidades ou não as apresentam na mesa de negociação. “Os trabalhadores nunca sabem se o lucro anunciado é real”. 
      O deputado Luiz Alberto, autor do PL nº 6.911, afirmou ter ficado satisfeito com o resultado desta primeira audiência. Segundo ele, sugestões extraídas do debate, como a que prevê tratamento diferenciado para microempresas, deverão ser incorporadas ao texto. 
      O projeto tramita na Câmara desde 2006, mas até hoje não foi votado por nenhuma comissão. Foi devolvido à Mesa diretora da Câmara por dois relatores e recebeu parecer contrário do terceiro, deputado Lúcio Vale (PR-PA). Para ser aprovado de forma conclusiva, terá que ser aprovado pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e comércio, onde tramita atualmente, pela Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público (Ctasp) e pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ).