Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A lida diária da Ana Valente


Dona Pandá procurava a matéria-prima para implantar seu minhocário, com a finalidade de recuperar o pomar e fazer uma pequena horta. Depois de muita procura, encontrou o senhor Margarido – irmão do caseiro de um vizinho – que se dispôs a lhe mostrar o caminho de uma fazenda que vendia esterco.
Quando entraram na estrada de terra, o senhor Margarido, mostrando sua genuína mineirice, falou:
- Vou precisar só de três sacos de esterco. A senhora pode encher sua caminhonete com os 16 sacos, mas eu preciso mesmo é só de três. – Entendendo que era o preço que deveria pagar pelo serviço de guiá-la, Dona Pandá respondeu:
- Está bem. Vamos ver quantos sacos vamos conseguir colocar na carroceria.

Chegando, foram recebidos por Dona Ana, a fazendeira, que, imediatamente, pegou uma pá e se meteu num barracão cheio de esterco já curtido. De lá, gritou:
- Vou ensacar. Quantos a senhora vai levar?
- Quantos couber.
- Cobro R$ 3,00 cada saco.
- Está bem. – Dona Pandá quase falou que estava muito barato, pois havia comprado cinco sacos a R$ 10,00. Ouviu, então, o senhor Margarido dizer que estava indo ajudar Dana Ana. Ela, com a pá ia jogando o esterco no saco que ele abria e segurava. Quando enchia, levava para fora do barracão, próximo da Preta, a caminhonete.

Ana é uma mulher, cuja idade meio indefinida pode ser uns 60 anos, estatura média, magra, mas nem tanto, cabelos castanhos, mal tampados por um lenço. Consegue, num quase milagre, conservar traços que denunciam uma beleza levada pelo trabalho bruto e contínuo. Durante o tempo todo, contou causos e Dona Pandá ficou sabendo que moravam com ela o pai e o irmão.

O pai, completamente corcunda, apareceu e foi logo explicando que suas costas eram o resultado de tanto carregar cana para as vacas. Estas ficam presas no curral, sendo alimentadas por cana triturada com ração que é comprada “quando Ana vai receber minha aposentadoria e já deixa tudo na casa de rações”.  

Antes de terminar o ensacamento, apareceu o irmão e de longe gritou:
- Está na hora. - Ana explicou que precisava ajudar a trazer os bezerros para lhes dar a ração. As vacas ficam presas para não gastarem energia e não emagrecerem mais ainda, enquanto os bezerros só mamam pela manhã, no momento de tirar o leite. Depois são apartados e ficam no pasto que de tão seco já se vê terra nua.

Passados 20 minutos, Ana, de volta e recomeçou o trabalho. O senhor Margarido comprou queijo, linguiça e outros produtos que Ana fez na véspera e estava negociando frango, quando Dona Pandá, enfim percebendo que a ave iria concorrer com os pedais da Preta, avisou que não levaria nenhum animal. Ninguém pediu justificativa porque Dona Pandá usou sua conveniente cara antipática de quem não quer saber de conversa.

Ana pareceu entender que seu cliente havia passado a linha da conveniência e ofereceu o número do seu celular para Dona Pandá lhe avisar quando quisesse mais esterco, “podendo vir sozinha, agora que a senhora já conhece o caminho”.

Na volta, Dona Pandá teve dificuldade de manter a conversa com o companheiro de viagem. Não conseguia tirar da retina a imagem de Ana, o pai corcunda e o irmão com a preguiça da desnutrição, as vacas magras, os bezerros mal chegando às tetas das mães, o pasto inexistente. A pobreza transformou uma fazenda produtiva num lugar seco, onde as perspectivas são cruéis como a vida de quem lá ficou.  



sábado, 29 de agosto de 2015

Cuidado com sandálias no quintal: podem lhe trazer um presente


Durante mais de 15 anos Dona Pandá administrou um minhocário que implantou em sua Chácara Xury,  localizada no Município de Ibiúna (SP), cujo clima é mais para frio e há um regime de chuvas bem generoso. Então, naturalmente, ela achava que minhoca estava dentro do seu saber. Implantar outro minhocário seria tirar de letra, fácil, facílimo.

Ledo engano!

Dona Pandá  pode se considerar sabichona na matéria, mas até agora só conseguiu apanhar. Escolheu um lugar próximo da horta para facilitar o manuseio e transporte do húmus para os canteiros. Para evitar o Sol, uma cobertura de lona e sombrite. Que nada! O calor nas Alterosas ignora o sombrite. Umedeceu o esterco e achou que estava numa temperatura apropriada – minhoca não gosta de calor, nem de claridade -, verificou no meio das manilhas, onde colocou o esterco, a uns 30 cm de profundidade, e quase queimou a mão.

Para não entediar, vocês que já estão sem paciência,  querendo saber logo se, afinal, Dona Pandá conseguiu fazer a transferência da tecnologia ou morreu na praia, no nosso caso, no meio dos estercos, vou contar logo o que ocorre há três dias.

Dona Pandá, com a ajuda do Nego – que trabalha no sítio Catita meio período -  tem dedicado suas manhãs a tentar – porque até o momento ainda não conseguiu – abaixar a temperatura dentro das manilhas. Fizeram uma coberta com lona e colocaram uma faixa de sombrite embaixo da lona e outra sobre as manilhas. Ficou vigiando o Sol durante todo o dia e cobrindo com mais lona e sombrite onde ele aparecia. A temperatura da superfície estava perfeita, mas não no interior da manilha. Passou, então, a resfriar a manilha com o líquido escasso e precioso, a água.  A cada dia, conseguiu abaixar uns grauzinhos, mas ainda está longe daquela tranquilidade conhecida, mas não encontrada aqui. Esta tranquilidade está fugindo com o calor de Dona Pandá que não teve outra saída a não ser, mais uma vez, reconhecer sua ignorância.

Não está conseguindo a temperatura que persegue, mas ganhou um presente. Hoje, nossa amiga, sentindo que não conseguia limpar o calcanhar do pé direito que sofreu um corte, foi à podóloga para quem fez suas queixas do incômodo no calcanhar, relatou ainda que tem andado de havaianas devido ao calor. O resultado do exame da podologia foi a retirada de cindo bichos de pé.  

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Uma luz do fim do túnel que se chama Pronara


Leonardo Melgarejo durante palestra



E como fugir dos agrotóxicos? Para o agrônomo Leonardo Melgarejo, integrante da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural – Agapan, é preciso romper com a lógica do agronegócio. Produzir mais alinhado com princípios da agroecologia. Mas para isso é preciso consumir mais alimento agroecológico. O estímulo para isso passa por políticas públicas. É esse o objetivo do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – Planapo. Para fazer este plano funcionar é necessária a implementação de outro, o Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos – Pronara. “Diminuindo o uso de agrotóxicos, caminhamos para outros sistemas produtivos como a produção orgânica”, destaca.

O problema é que a pressão do agronegócio pesa sobre o poder público. Assim, os planos acabam patinando. “Mas nós, enquanto sociedade, temos nosso papel. Devemos lutar contra essa maquiagem de informação e não aceitar o retrocesso. A retirada da indicação da presença de alimentos transgênicos no rótulo de alimentos é isso. Sonega uma informação e limita o poder de escolha do consumidor”. O caminho, para Melgarejo, é buscar fóruns em que se possa fazer pressão. Defende que é preciso saber o que está sendo discutido sobre a legislação de agrotóxicos e transgênicos para buscar a implementação dos planos, rompendo a cadeia do agronegócio. “A informação é a chave. Ela nos dá protagonismo. Para isso podemos buscar entidades que nos auxiliam”, provoca, ao estimular a plateia a buscar informação e cobrar ações, por exemplo, de senadores gaúchos a respeito da mudança na legislação sobre rotulagem de alimentos transgênicos. “Informação, participação e controle social. É do que precisamos"

Agrotóxico: o inimigo entre nós

Karen Friederich (Fotos por João Vitor Santos/IHU)

Seminário promovido pelo IHU e PPG em Saúde Coletiva da Unisinos evidenciou o impacto do uso de agrotóxicos no ambiente e toda a lógica que sustenta o sistema apoiado no agronegócio

“Sem agrotóxico se compromete a produção em larga escala de diversas culturas”. “As sementes transgênicas – e o uso de agrotóxicos implicado no seu cultivo – aumentam a produtividade”. Essas duas frases materializam o que pesquisadores chamam de inverdades acerca do assunto agrotóxico. Elas mascaram uma realidade, em detrimento do interesse econômico. É a lógica do capital sendo atualizada no agronegócio, que subverte a lógica natural. Essa foi a perspectiva que permeou o Seminário Agrotóxicos: Impactos na Saúde e no Ambiente, realizado na segunda-feira, 24-08.

O evento, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU e pelo Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva, reuniu pesquisadores, técnicos e profissionais de dentro e fora da universidade para debater os reais impactos do uso desses produtos tóxicos. E, no horizonte, tentar entender por que é tão difícil enfrentar essa lógica que estimula o seu uso. Lógica essa que faz dos agrotóxicos algo impregnado na sociedade, muitas vezes sendo naturalizado pelo ser humano.

Como professora do curso de Nutrição da Unisinos, Regina Alcântara estava atenta ao debate acerca dos efeitos nos alimentos. “Para se pensar em qualidade do alimento é fundamental discutir o uso de agrotóxicos”, disse. Sua colega, a professora Vanessa Backes, destaca que o assunto é estrutural para o conceito de segurança alimentar. “Até bem pouco tempo, segurança alimentar era quantidade de alimento”, destaca, ao perceber que é por aí que entram os argumentos para justificar usos de químicos. “Só que, felizmente, estamos percebendo que discutir a qualidade do alimento é mais importante para a segurança alimentar do que a quantidade. Precisamos de alimentos que realmente nos nutram e promovam nosso desenvolvimento por inteiro”, completa.

Na luta contra o inimigo, barata morta só no chinelo

O agrotóxico faz mal ao ambiente e a nós mesmos. Todos sabem disso, mas poucos conseguem perceber o quanto ele faz parte da vida cotidiana. Não precisa ser produtor rural ou consumidor de hortifrutigranjeiros para se expor aos agrotóxicos. “Eu, por exemplo, tento espantar a barata. Se ela não fugir, mato só no chinelo”, diz a biomédica e professora da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz e da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UniRio Karen Friederich. É uma caricatura que faz, ao destacar que dentro do inseticida doméstico há elementos tóxicos, os chamados agrotóxicos urbanos. É um produto de uso doméstico que nem associamos aos agrotóxicos. Inseticidas usados como bloqueador epidemiológico pelo próprio poder público vão na mesma linha. Por exemplo, os fumacês no caso da Dengue.

E como tais substâncias são liberadas pelas autoridades? Karen destaca que, tanto para usos domésticos como para agricultura, os registros para liberação são baseados em testes que não levam em conta a complexidade das substâncias. “São testes em condições laboratoriais onde cobaias são expostas a um determinado agrotóxico e por uma só via. No ambiente, somos expostos a vários tipos de agrotóxicos. Isso gera efeitos acumulativos e essa combinação pode gerar consequências, como predisposições cancerígenas. Além do mais, também podemos absorver agrotóxicos por mais de uma via. Os efeitos podem surgir a muito longo prazo”, explica.

É por isso que órgãos como Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa têm a missão de regulamentar, analisar, controlar e fiscalizar agrotóxicos. Mesmo os que já têm seu registro homologado. “Essa revisão é importante, pois surgem novas pesquisas que aprofundam o conhecimento sobre as substâncias. Além disso, há de se avaliar tanto efeitos agudos da exposição – quando se percebe um efeito de imediato, pouco tempo depois do contato – quanto crônicos – aqueles que podem se manifestar muito depois”, completa.

2,4-D
Atualmente, a grande preocupação dos pesquisadores é com relação à liberação da nova geração de transgênicos, resistentes ao agrotóxico 2,4-D. “Esse agrotóxico tem em sua composição substâncias que faziam parte do Agente Laranja, usado na Guerra do Vietnã”, explica. Por isso, o produto está na lista da Anvisa para reavaliação, assim como o Glifosato. “A liberação de sementes resistentes ao Glifosato aumentou em muito seu consumo. Tememos que isso ocorra com o 2,4-D, que tem um impacto ainda maior”, alerta Karen.

A ofensiva conservadora e as crises

A sociedade brasileira está diante de uma ofensiva conservadora que se aproveita de entrelaçadas crises na economia, na política, nas instituições do Estado, na imprensa e nos meios sociais para fazer avançar seus objetivos.
A suposta crise econômica ofereceu pretexto para implantar um programa neoliberal de acordo com o Consenso de Washington: privatização, abertura comercial e financeira, ajuste orçamentário, flexibilização do mercado de trabalho, redução do Estado, tudo com a aprovação do sistema financeiro internacional, por um Governo eleito pela esquerda.
crise da corrupção, cujo maior evento é a Operação Lava Jato, mas também a Operação Zelotes, esta inclusive de maior dimensão, está servindo para destruir a engenharia de construção, onde se encontra o capital nacional de forma importante, com atuação internacional, e para preparar a destruição de organismos do Estado tais como a Petrobras, o BNDES, a Caixa Econômica, a Eletrobrás etc. a pretexto de que os eventos, denunciados,  de corrupção seriam apenas o resultado de serem estas entidades estatais.
Sua privatização, que corresponderia a sua desestatização/desnacionalização, eliminaria, segundo eles, a possibilidade de corrupção.
crise do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal se desenvolve em várias esferas.
 O Supremo Tribunal Federal tolera que um de seus membros interrompa, há mais de um ano, sob o pretexto de vista, uma ação, cujo resultado já está definido por 6 votos a 1, sobre a ilegalidade do financiamento privado de campanhas, fenômeno que está na origem da corrupção do sistema eleitoral em todos os Partidos e veículo para o exercício da influência corruptora do poder econômico na política e na Administração.
O objetivo deste Juiz é aguardar até que o Congresso aprove emenda constitucional, já em tramitação por obra do Presidente da Câmara, que torna legal o financiamento privado de campanhas.  
A teoria do domínio do fato, uma aberração jurídica, acolhida pelo STF, reverte o ônus da prova e, mais, torna qualquer indivíduo responsável pelos atos de outrem sob suas ordens sem que o acusador ou o juiz tenha necessidade de provar que o acusado conhecia tais fatos.
O sistema do Ministério Público permite a qualquer Procurador individual desencadear processos com base até em notícias de jornal contra qualquer indivíduo, vazar de forma seletiva estas acusações para a imprensa, que as reproduz, sem nenhum respeito pelos direitos dos supostos culpados e sem nenhuma perspectiva razoável de reparação do dano causado pelas denúncias do Procurador nem pela imprensa que as divulgou, caso se verifique a improcedência das acusações.
A Polícia Federal exerce suas funções com extrema parcialidade, de forma midiática, criando, na sociedade a presunção de alta periculosidade de indivíduos que prende para investigação e se arvorando em poder independente do Estado.
Segundo depoimento do Presidente das entidades da Polícia Federal na Câmara dos Deputados, a Polícia Federal recebe regularmente recursos da CIA, do FBI e da Drug Enforcement Administration - DEA, no montante de USD 10 milhões anuais, depositados diretamente em contas individuais de policiais federais.
crise política decorre da decepção e do inconformismo do PSDB e de seus aliados com a derrota nas urnas em 2014 o que os leva a procurar, por todos os meios, erodir a credibilidade e a legitimidade do Governo Dilma Rousseff e, por via transversa, do Governo Lula e assim minar as possibilidades de vitória de uma eventual candidatura de Lula em 2018.
Contam os partidos e políticos conservadores com a campanha sistemática da televisão, jornais e revistas, com base em denúncias vazadas, com a campanha de intimidação na Internet, com as manifestações populares, com o desemprego crescente causado pela política de corte de investimentos e de elevação estratosférica de juros, os maiores do mundo, para fazer baixar os índices de aprovação do Governo e da Presidenta e poder argumentar com a legitimidade e a necessidade de depô-la pelo impeachment.
crise na imprensa e nos meios de comunicação se desenvolve em um ambiente em que as televisões, rádios, jornais e revistas recebem paradoxalmente enormes recursos do Governo para a ele fazer oposição sistemática, erodir a confiança da população no sistema político e nos partidos, em especial nos partidos progressistas, de esquerda, poupando os partidos conservadores tais como o PSDB, que recebeu tantas doações para sua campanha de 2014 quanto o PT e das mesmas empresas ora acusadas pelo juiz Moro.
crise social se desenvolve na Internet, onde circula todo tipo de ofensa racista, homofóbica, antifeminina, antiprogressista e fascista, contra os políticos e partidos de esquerda, gerando um clima de hostilidade e ódio e estimulando a agressão física.
No Congresso, os setores mais conservadores elegeram grande número de deputados e, tendo conquistado a Presidência da Câmara dos Deputados, fazem avançar, a toque de caixa, sem nenhuma atenção à necessidade de debate pelos parlamentares e pela sociedade, uma ampla pauta de projetos conservadores que inclui a redução da maioridade penal, a ampliação do uso de armas, o financiamento privado das campanhas, a terceirização do trabalho.
objetivo máximo desta grande ofensiva política e econômica  conservadora é a tomada do poder através do impeachment da Presidenta Dilma e/ou a desmoralização do PT que leve a sua derrota fragorosa nas eleições de 2016, a qual preparará sua derrota final e “desaparecimento”  nas eleições de 2018. 
O processo político de impeachment da Presidenta Dilma não avança por estarem o PSDB e PMDB divididos quanto a sua conveniência no atual momento do calendário político e econômico.
Os três possíveis candidatos do PSDB à Presidência da República, quais sejam, Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra tem opiniões diferentes sobre sua conveniência.
A Aécio Neves interessa o impeachment de Dilma Rousseff e de Michel Temer por crime eleitoral, declarado pelo TSE, logo que possível pois isto levaria a uma eleição em 90 dias onde espera que, como presidente nacional do PSDB e candidato que teria  perdido a eleição devido a “fraude”, agora se beneficiaria devido a sua campanha persistente pela ilegitimidade dos resultados eleitorais de 2014, o que o faria o candidato do PSDB com melhor perspectiva de vitória.
A Geraldo Alckmim interessa que o processo político, econômico e social desgaste longa e duradouramente o Governo Dilma e o PT até que as eleições municipais se realizem  em 2016, com fragorosa derrota do PT e do PMDB e que tenha tempo de construir sua candidatura, com base no Governo de São Paulo, enquanto a candidatura de  Aécio se enfraqueceria com o tempo como   resultado de eventuais denúncias.
A José Serra interessa também que o impeachment não ocorra,  que o Governo se desgaste para que tenha tempo de reconstruir  sua imagem e eventualmente possa se  candidatar pelo PSDB em 2018 ou até mesmo pelo PMDB, que insiste em ter candidato próprio mas sem nome hoje viável. Afinal, Serra foi fundador do PMDB e voltaria a sua casa, construindo sua candidatura junto à classe média nacional, através de sua atuação no Senado, com toda cobertura favorável da imprensa.
Para o PMDB, o impeachment da Presidenta representa o fim de um Governo onde ocupa a Vice-Presidência e ao qual dá apoio enquanto que um longo processo de desgaste da Presidenta, do Governo e do PT também o atingiria como partido aliado, enquanto a imprensa desgasta sua imagem na opinião pública como partido oportunista e corrupto.
Os interesses de Michel Temer, de Renan Calheiros e de Eduardo Cunha são divergentes. Cunha acredita poder ser o candidato do PMDB à Presidência, assumindo a liderança da ofensiva conservadora e o papel de defensor da Câmara, dos representantes do Povo, mas enfrenta o desgaste das denúncias de corrupção. Michel Temer sabe que a condenação por crime eleitoral de Dilma Rousseff pelo TSE também o arrastaria enquanto que a condenação de Dilma pela rejeição das contas de 2014 pelo TCU e pelo Congresso o levariam à Presidência. Renan disputa com Temer influência no PMDB e imagina poder ser candidato em 2018 com o enfraquecimento dos demais. 
No PT, a situação é talvez ainda mais grave.
O programa econômico conservador, ao cortar investimentos públicos e as despesas de custeio do Governo, aumenta o desemprego e afeta a demanda o que reduz as perspectivas de lucro, contrai os investimentos privados, estabelece a desconfiança nos “mercados” e reduz as receitas normais tributárias, aumentando o déficit público.
Ao aumentar a taxa de juros, o Governo (Banco Central) aumenta as despesas do Governo e a relação dívida/PIB, reduz a atividade econômica e as perspectivas de lucro e provoca a queda da arrecadação. Ao não conseguir o aumento de receitas normais pela dificuldade em elevar tributos, passa a apelar para a venda de ativos o que é uma forma disfarçada de privatização, com resultados apenas temporários.
Ao provocar o desemprego, ao apoiar medidas desfavoráveis aos trabalhadores como alterações no seguro desemprego, no abono salarial e outras, e ao provocar a redução do crescimento o Governo mina a sua base de apoio social e político e as bases sociais e políticas do PT.
A retração da demanda, o aumento das taxas de juros, a contração das atividades do BNDES, a redução das oportunidades de investimento, a perspectiva de aumento de tributos afetam os interesses dos empresários e aumenta o seu descontentamento com o Governo e sua política.
Não há liderança no PT além de Lula que, por seu lado, não vê como abandonar o programa econômico do Governo Dilma sem acelerar sua queda, mas reclama da incapacidade da Presidenta para o exercício da política.
As pesquisas de opinião podem vir a revelar níveis de rejeição muito superiores aos que ocorreram na véspera do impeachment de Collor. Caso os níveis de aprovação caiam abaixo de 5%, o desânimo e a desmobilização dos movimentos sociais e dos sindicatos, a perplexidade dos congressistas, a posição dos candidatos a prefeito em 2016, as contínuas denúncias do Ministério Público (na realidade de procuradores individuais) contra políticos vinculados ao PT e contra o próprio Lula, a agressividade social e intimidatória conservadora podem gerar situação de gravíssimo perigo político para sobrevivência da democracia.
O Governo, apático, atordoado e intimidado, parece acreditar em sua pureza que fará que, ao final, sobreviva, único puro, à tempestade de denúncias que atingem políticos e partidos sem compreender que o objetivo da ofensiva conservadora não é lutar contra a corrupção e moralizar o país mas sim derrubá-lo e recuperar a hegemonia completa na sociedade e no Estado.
O Governo se retrai, não age politicamente nem mobiliza intensamente os movimentos sociais e os setores que poderiam apoiá-lo no enfrentamento a esta ofensiva conservadora que fará o Brasil recuar anos em sua trajetória de luta contra as desigualdades e suas vulnerabilidades, e de construção de um país mais justo, menos desigual, mais democrático, mais próspero e mais soberano.
É urgente a mobilização de todas as forças sociais progressistas para combater o desemprego causado pelo programa de ajuste, que está, isto sim, gerando imensa crise econômica e social, para defender a democracia e seus representantes legítimos, para defender as conquistas dos trabalhadores, para defender a empresa nacional, para defender o desenvolvimento do país, para defender a soberania nacional e a capacidade de autodeterminação da sociedade brasileira.
Para defender o Brasil. 
Samuel Pinheiro Guimarães é embaixador
Fonte: jornalggn.com.br

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Dona Pandá e as minhocas a peso de ouro


Dona Pandá acredita que a terra tem predileção pelo húmus de minhoca. Em Ibiúna, com muita água – rios, riachos, lagoas – os pesque pague fazem presença por todo o município e, consequentemente, as minhocas lá estão para ajudar os pacientes pescadores. O minhocário da Chácara Xury foi implantado com o fornecimento dos pesqueiros.
Dona Pandá, depois de muita batalha, conseguiu encher as manilhas de esterco bovino e, hoje, pela manhã, pegou a Preta e pé na estrada em direção a Sete Lagoas. Estava de posse de informações de que a época é de pescaria, portanto, as minhocas deveriam estar a postos. Após 30 e alguma coisa de quilômetros rodados, sem nada que anunciasse um pesque pague, lá estava, à beira da estrada, uma casinha com um letreiro, concorrendo em tamanho com ela, anunciava minhocuçu e outras variedades. Dona Pandá parou e correu para lá.
- O senhor tem minhoca comum?
- Sim. A senhora quer a minhoquinha?
- Posso ver?
- Aqui, nesta caixa. – O rapaz enviou a mão numa caixa cheia de esterco e saiu carregando um bom volume do que Dona Pandá buscava. Indignada com o desprezo dado a suas colaboradoras, ela questionou o tratamento:
- Por que o senhor falou minhoquinha? Elas são minhocas que produzem húmus que alimenta a Terra que lhe dá as belas alfaces que, com certeza, o senhor muito aprecia. Ou o senhor não come alface? Não come repolho, tomate, brócolis e as frutas do pomar? Como é que o senhor quer matar sua fome sem as minhocas? Heim?! Me diga aí.
- Dona, eu só estou quebrando o galho para o dono que teve de sair para uma consulta no médico.
- No médico? Deve ser porque ele não come verdura. Aliás, quero saber quem o senhor chama de minhoca? – O pobre rapaz, absolutamente apavorado com o discurso de Dona Pandá que continuava defendendo as minhocas com sua ênfase peculiar quando o assunto lhe é querido, respirou fundo e ousou balbuciar;
- A senhora vai levar?
- Se o senhor tiver MI NHO CA... Quanto é?
- R$ 25,00 o litro.
- O que?!!! É muito caro!
- A senhora está dizendo que as MI NHO CAS não valem nada? – Dona Pandá, olhou pro sujeito e viu o brilho malicioso nos seus olhos acompanhado de um tímido sorriso. Ela reconheceu imediatamente que perdera a negociação, devolveu-lhe o sorriso amarelo e falou:
- Quanto o senhor tem neste caixote?
- Sete litros.
- Caraca!
- São R$ 175,00. Confere aí no seu telefone: 25 x 5= 125 +50=175
- É isto aí. Madre mia! Vou levar!







segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Dona Pandá se foi...para as Alterosas, de novo


Desta vez, sem retorno. Foi o que ela disse naquela madrugada quando entrou na Preta ao lado do filho que estava no lugar do motorista. Atrás, na carroceria, com a capota fechada, seus fidelíssimos Bia e Bei.

O sem retorno foi dito na despedida de suas amigas Dai e Bel. A madrugada deve ter sido escolhida para o escuro da ainda noite esconder a fuga, as lágrimas contidas que iam e as amigas árvores que ficavam guardando o lugar que foi a sua Chácara Xury, o seu lugar.

Isto aconteceu há 10 meses, o tempo que Dona Pandá precisou para falar sobre sua mudança. Diz que “a razão tem razões que o coração desconhece” e este desconhecimento o deixa apalermado, preguiçoso.

Bia acompanhando o coração da dona, olhava sem ver, não queria entrar na caminhonete. Bei entrou e rosnou até com o amigo, exigindo um tempo. Nas horas dos 600 quilômetros, a presença forte e cuidadosa do filhão e a atenção exigida pelos cachorros amenizaram a viagem dolorosa.

A chegada na nova casa, a Morada 21 de maio, foi para Dona Pandá um turbilhão de emoções contraditórias. De um lado, a dor de um estado de sofrimento por uma perda do tamanho do seu mundo, de outro, o acolhimento carinhoso, cuidadoso de Iriem, a irmã sábia.  Ainda bem que Bia e Bei demandaram atenção especial para a entrada em seu novo lar. Como sempre, eles conseguiram mudar o assunto da perda para as novidades do desconhecido.

A Morada 21 de maio foi construída no fundo do sítio Catita, de propriedade da mana sábia.  Os detalhes da casa e do canil foram cuidadosamente planejados para que o acolhimento fosse perfeito.

Tudo foi muito bem preparado. Iriem só não conseguiu dar à casa e sua área de influência o jeito de Dona Pandá que é rústica, uma gambiagem, enquanto a mana é sofisticada, de fino acabamento. Durante um bocado de tempo, ao planejar o mobiliário, Dona Pandá procurava fazer com que o que fosse colocado dentro combinasse com a construção. Foi um fracasso total. Quem, hoje, entra na Morada 21, pode até perceber o esforço do desengonçado querer colocar uma gravata de seda e, no entanto, no lugar aparece um pano xadrez desfiado.

Um vírus invadiu Dona Pandá e fez um baita estrago. Foi no dia seguinte à visita do filho. Sem entender, não conseguiu se levantar e durante 20 dias a cama foi seu lugar. Quando conseguiu, foi colocar as mãos na terra, onde pegou sua boa energia e, com os cuidados da mana sábia, começou a recuperação, bem mais lenta que esperada. A prescrição da sua Bruxa  - a médica homeopática Regina – completou o processo. Dona Pandá se voltou, então, às suas atividades curativas da alma. 

Tratou de fazer uma horta e recuperar o pomar.
Agora, as dificuldades estão no seu campo de conhecimento. Delimitar o pedaço para cercar a horta, preparar a terra. Ai, ai, ai, que solo pobre! Precisamos de húmus, muito húmus! Onde encontrar esterco e minhocas?! Enquanto não acha o fornecedor, o jeito é comprar o húmus que parece feito de ouro! Caríssimo! Passa por muitos numa cadeia infinita para chegar ao Catita. Mais uma vez, a estória se repete: o produtor mal consegue pagar seus custos e o consumidor se dependa!
Dona Pandá inicia nova fase. Ela prometa contar todo o caminho da alface que chega à mesa do Catita. Este foi o capítulo da chegada às Alterosas. O próximo será o início da transa com a terra, o grande desafio!