Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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sexta-feira, 27 de julho de 2018

A carta de Lula e a luta da imprensa independente em defesa do Brasil


 Joaquim de Carvalho  (no Diário do Centro do Mundo)
A carta de Lula aos blogs progressistas é um documento histórico em defesa da liberdade de expressão e o resultado de uma análise lúcida sobre o papel da imprensa no desenvolvimento de uma nação. Um trecho resume bem essa análise:

Mais do que acreditar na minha inocência – porque leram o processo, porque checaram as provas, porque fizeram Jornalismo – os blogueiros e blogueiras progressistas estão contribuindo para trazer de volta o debate público e resgatar o jornalismo da vala comum à qual foi atirado por aqueles que o pretendem não como ferramenta capaz de lançar luz onde haja escuridão, mas apenas e tão somente como arma política dos poderosos.”
Este é, precisamente, o ponto que separa a imprensa livre, que é chamada também de independente ou progressista, da mídia corporativa ou velha imprensa: jogar luz onde haja escuridão.
Esta é a missão do Jornalismo (Lula escreve, corretamente, com letra maiúscula): Explicar em vez de confundir, buscar a informação capaz de transformar, informação que surpreenda e, surpreendendo, quebre a corrente do senso comum e ajude na luta contra a pior das pragas de uma nação: o preconceito, fruto ignorância.
Ignorância não no sentido da falta de escolaridade formal ou de estudo, mas da ausência do conhecimento sobre a verdade factual. Ignorância que é construída, diariamente, pela velha imprensa.
Neste momento, faço a cobertura sobre os furos do processo do sítio de Atibaia e me deparei com exemplos concretos sobre o que a desinformação pode fazer numa sociedade.
A farsa de que Lula é dono de um sítio nasceu de um boato que circulava insistentemente no bairro do Portão, em Atibaia, depois que Marisa Letícia foi vista comprando pão e mortadela Ceratti na padaria local, e bebendo café em copo descartável.
Isso é crime?
Não.
Mas, como ela ia com a família ao sítio de amigos perto dali, logo começou o zunzunzum de que era proprietária da área.
O boato chegou ao conhecimento dos procuradores da república, que estavam empenhados na Operação Lava Jato, e a força-tarefa baixou lá.
O que isso tem a ver com a Petrobras, o que justifica a Lava Jato? Em princípio, nada, mas a os procuradores foram a Atibaia do mesmo jeito.
Gesuldo, o gerente da padaria, conta que dois homens — um deles o procurador Roberson Pozzobon, sei porque mostrei a foto e ele confirmou — estiveram na padaria, sentaram em uma mesa e pediram para falar com o gerente.
Pozzobon queria saber se ele tinha visto Lula pela região. O gerente negou, mas, mais tarde, ligou no número que o procurador tinha deixado para dizer: não tinha visto Lula, mas Marisa.
Começou, então, uma negociação para que ele gravasse um depoimento, e ele gravou, sem mostrar o rosto, com o celular voltado para o alto e captando o áudio.
Ele disse que viu Marisa comprando pão e mortadela.
O que isso prova?
Nada.
Mas foi usado como fumaça num caso em que não havia fogo. Os procuradores procuraram outras pessoas, pessoas que prestaram serviço no sítio.
Queriam saber se a propriedade era do Lula, se era ele, a mulher ou um dos filhos que pagava pelos serviços.
Nada.
Mesmo sem nada de concreto na mão, o Ministério Público Federal incluiu a ação de busca e apreensão no sítio de Atibaia em 4 de março de 2016, o dia do espetáculo da condução coercitiva de Lula.
Entrou no pacote que, ao fim e ao cabo, contribuiu decisivamente para a criação do ambiente político hostil que levou ao impeachment de Dilma Rousseff.
Agora se sabe que, naquele dia, o único depoimento colhido na região foi de uma mulher tirada de casa pela manhã e levada com o filho pequeno, de 7 anos de idade, sem mandado judicial, para depor no sítio.
Rosilene da Luz Ferreira havia prestado serviço como faxineira no sítio e, questionada sobre quem lhe fez o pagamento, disse mais de uma vez: Fernando Bittar.
A resposta evidencia que era Bittar o dono de direito — a escritura está no nome dele — e de fato da propriedade — é ele quem dá ordens ali.
Mas o depoimento dessa senhora foi suprimido da denúncia, porque não contribuía para a farsa que seria evidenciada pelo power point: Lula como chefe de uma organização criminosa.
O depoimento de Rosilene veio a público há pouco, quando seu marido denunciou ao juiz Sergio Moro o que pode ser interpretado como abuso por parte dos procuradores e da Polícia Federal.
A velha imprensa ignorou. Mas quem lê o Diário do Centro do Mundo tomou conhecimento do caso e teve oportunidade de ver o vídeo em que a criança aparece, assustada, ao lado da mãe durante o depoimento — em que a mulher conta que recebeu a diária da faxina de Fernando Bittar.
Este é um exemplo, dentre tantos outros, em que a mídia independente combate o bom combate, como disse Lula em sua carta.
Não é fácil, mas o resultado tem sido reconhecido, não apenas por Lula, mas pelo publico em geral, como mostram os números da audiência — no caso do DCM, triplicou em um ano —, uma evidência de que o público já não confia na velha imprensa e busca outras fontes de informação.
A situação política no Brasil é dramática — o líder disparado nas pesquisas está sendo impedido de concorrer —, mas tem um efeito pedagógico: mostra quem é quem.
No caso da velha imprensa, já está claro que não trabalha pelo Brasil, mas por interesses muito específicos.
Por que tanto medo do Lula?
Por que tanta violência institucional para impedir que o povo decida livremente se o quer ou não na presidência?
São perguntas que começam a ser respondidas e, quando tudo estiver bem claro, o Brasil já estará maduro para tirar de cena aqueles que, realmente, trabalham para evitar que o o país se encontre com sua vocação: a grandeza.
E dou mais um exemplo: no dia 10 de julho estive em Curitiba, em mais uma tentativa de entrevistar Lula — nosso pedido foi negado pela juíza Carolina Lebbos — e fiz uma transmissão ao vivo da frente da Polícia Federal.
Fiz conforme o protocolo, me apresentei aos policiais militares do Paraná e comecei a gravar, no espaço que é usado pela imprensa em geral, entre o cordão de isolamento e a Superintendência da Polícia Federal.
Depois que terminei a transmissão e comecei a tirar fotos, um policial, o cabo Azevedo, disse que eu não poderia permanecer ali.
Por quê?
Ele me disse que eu deveria permanecer junto com os manifestantes da Vigília Livre. Nada contra, mas perguntei se a imprensa não poderia permanecer no local onde eu estava.
Ele me respondeu: “depende”.
Do quê?
“Se for imprensa imparcial, pode.”
Questionei sobre que critérios ele usava para definir o que parcial ou imparcial.
Ele não respondeu nada.
Como já tinha terminado meu trabalho, fui embora, e depois denunciei o policial à corregedoria da PM.
O que ele fez é fruto da ignorância.
Mas mesmo os ignorantes precisam ser instruídos, e que a corporação a que pertence decida.
O importante é que fiz o meu trabalho e o público foi informado.
É uma luta árdua.
Mas quem disse que ajudar a construir uma nação seria fácil?
Fonte: Diário do Centro do Mundo 

sábado, 21 de julho de 2018

LINHAS DO HORIZONTE - BORDANDO POLÍTICA



O Linhas do Horizonte é um grupo de esquerda
que borda política. Com agulhas, linhas e o gesto
ancestral do bordado, luta pela restauração da 
democracia em nosso país e resiste ao estado de exceção 
implantado pelo golpe do impeachment da Presidenta Dilma.

A ideia de demonstrar solidariedade à Dona Marisa Letícia, 
vítima de massivos, covardes e infundados ataques fascistas, 
despertou a ideia de a homenagear, demonstrando 
solidadariedade, carinho e apoio. Pensamos em oferecer à
D. Marisa um café mineiro, em BH, numa mesa forrada 
com uma toalha bordada por nós. Nascia ali, em janeiro 
de 2017, a ideia do mosaico de quadradinhos bordados e o 
Coletivo Linhas do Horizonte. Desde então, os membros 
do grupo ganharam o apelido de “marisas”.

Com o recrudescimento dos ataques golpistas e com a 
doença de Dona Marisa, continuamos a bordar os quadradinhos,
 mas passamos a ocupar e a bordar em locais públicos, sempre 
mantendo o propósito basilar do Grupo Linhas do Horizonte:
Bordar Política e manifestar nosso apoio às pessoas, grupos ou
causas que se encontrem sob ataque dos fascistas. Apareceram,
 assim, as faixas planfetárias, nossa marca registrada, resultado 
da interação entre nós e passantes.

O inusitado e a força de nossos bordados políticos chamaram
atenção, nos tornamos conhecidos e por sermos coerentes com
 nossos propósitos, adquirimos respeito e credibilidade, muito 
antes de sermos elogiados por importantes personalidades.

Crescemos rapidamente e por não possuirmos um canal para 
divulgação de nossos trabalhos, muitos nos confundiram com 
outros grupos e coletivos.
O Linhas do Horizonte é um grupo autônomo de esquerda, 
suprapartidário, cujas iniciativas e ações independem de partidos,
de outros coletivos, de agremiações, de sindicatos, etc.

O Linhas do Horizonte foi criado com o propósito de bordar 
polítíca, nos seus mais diversos horizontes: bordamos por justiça,
 por liberdade, contra o preconceito, contra a misoginia, contra 
a homofobia, contra a censura, etc.
Homenageamos quem ou o que se encontre sob ataque em 
seus direitos legítimos.
Este é o nosso grupo Linhas do Horizonte.

Este texto foi retirado da página do Facebook que o Linhas do Horizonte
mantém e onde se pode conhecer melhor  essas guerreiras e seu trabalho.

Milton Nascimento e Chico Buarque (TV Globo, 1987)

quarta-feira, 18 de julho de 2018

João Pedro Stedile no Voz Ativa - Questão agrária e desenvolvimento

Por que defendemos o direito de Lula ser candidato?


Estamos vivendo um Estado de exceção, fruto de um golpe. Ele teve início na derrocada da presidenta legítima Dilma Rousseff e segue atropelando os direitos conquistados ao longo dos anos pelos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras. Nada ficou intocado. Direitos trabalhistas, previdenciários, educação, sociais, reforma agrária, titulação de terras indígenas, SUS, entre outros.
O papel dos meios de comunicação neste enredo parlamentar-jurídico e midiático, foi determinante, quando não, de liderança. A chamada "grande mídia" - em especial da Rede Globo -, envolta em falsos ares de isenção e democracia, fez a amarração do golpe em aliança com parte do Judiciário, do Ministério Público e do Congresso Nacional. Para isso, usou todo o seu aparato para convocar manifestações golpistas trasvestidas de protestos contra a corrupção; fez articulações nos bastidores do poder e moveu seu poder econômico em favor da ruptura com a democracia. Nesse processo, manipulou a opinião pública, contou mentiras e omitiu fatos.
Desde o golpe, o sistema Brasil de Fato (site, impressos regionais e rádio) vem denunciando os patrocinadores desse verdadeiro atentado contra o povo, que impacta prioritariamente a população pobre. Além disso, nossa linha editorial se expressa na divulgação das conquistas sociais dos últimos anos, fruto especialmente de gestões de partidos de esquerda nos níveis federal, estadual e municipal.
Se durante tais gestões o Brasil de Fato se posicionou no apoio a medidas voltadas aos anseios da classe trabalhadora - sem que, para isso, houvesse qualquer omissão das cobranças políticas necessárias -, consideramos que o Brasil chegou a um momento decisivo que exige a publicização da nossa linha editorial em relação ao tema que é central: Luiz Inácio Lula da Silva. Entendemos que o ex-presidente foi o alvo principal do golpe, que visa tirá-lo da corrida eleitoral, pois a possibilidade de ter Lula nas urnas poderia representar a volta da democracia com a classe trabalhadora como protagonista.
Lula é hoje preso político e está sequestrado por desmando de parte do Judiciário, haja vista sua condenação sem provas e com arbitrariedades em todo o processo. Defender o direito de o ex-presidente ser candidato é garantir a vigência das regras democráticas. É respeitar a Constituição e devolver ao povo as rédeas do futuro do país. Privar o ex-presidente desse direito é mais uma etapa do golpe.
FONTE: Brasil de Fato 
Edição: Nina Fideles

Com 260 mil pessoas, feira do MST teve samba e rumo politico

Comunicado nº 31/2018
 São Paulo, 07 de maio de 2018


Com 260 mil pessoas, feira do MST teve samba e rumo politico



Num país em esforço permanente para encontrar um destino civilizado, a III Feira Nacional da Reforma Agrária produziu um marco histórico e um exemplo. 

Encerrada na noite de domingo, ao longo de quatro dias a Feira levou 260 000 pessoas ao Parque Água Branca, uma das mais antigas áreas públicas de São Paulo. Neste período, a praça de alimentação ofereceu 75 iguarias diferentes. As barracas de agricultores e feirantes comercializaram 420 toneladas de 1530 produtos. Na feira de livros, eram vendidas obras primas da ficção mundial e brasileira, além de raridades da literatura revolucionária do início do século XX, as vendas são estimadas, também, em várias toneladas.  

Inaugurado em 1929, o ano do crack da bolsa de Nova York e do anoitecer da República Velha, que no ano seguinte seria derrubada por Getúlio, o Parque nasceu como um local de ares elitistas, conservados até hoje numa arquitetura de estilo normando, própria para países de clima bem mais frio do que o nosso.

Seus idealizadores eram homens da Sociedade Rural Brasileira, nascida para defender os interesses da velha elite do café e que, mesmo dedicando-se a um leque mais variado de produtos, nunca abandonou a missão orginal, inclusive nos na Constituinte de 1988.
Exatamente 100 anos depois da abolição da escravatura, a SRB foi uma das forças mais articuladas de Brasília para um combate sem tréguas à reforma agrária. Como esta é, justamente,  a razão de ser do MST, havia uma obvia ironia no evento desses quatro dias, quase um aviso de que algumas mudanças históricas podem ser adiadas e retardadas, mas dificilmente serão impedidas.  

Formado há 34 anos, hoje uma das principais organizações engajadas na defesa dos direitos do presidente Lula, a bandeira do MST estava em toda parte do Parque.Inclusive numa área reservada, onde personalidades convidadas e artistas -- foram mais de 350 nos quatros dias -eram recebidos antes e depois das respectivas apresentações.  Na noite de domingo, o coordenador do MST e seu líder histórico, João Pedro Stedile, se dedicava a um afazer menos conhecido. A frente de três grandes panelões, Stedile comandava o preparo de um arroz carreteiro que, posso testemunhar, tinha um sabor grandioso  como poucas vezes se viu. "É uma velha receita de família", disse ele ao 247, no momento em que a iguaria -- o nome é adequado, sim senhor -- era servida aos integrantes da Unidos do Tuiuti, campeã moral, artística, política, o que mais você quiser, do carnaval 2018.

"Estamos abrindo um espaço de diálogo com a população de São Paulo", afirma João Paulo Rodrigues, coordenador nacional do MST.

Quem frequentou o parque Água Branca no final da década de 1950, início de 1960, guardou a lembrança de um ambiente público, aberto a quem quisesse entrar, mas nem tanto. Ali era o local de encontro não para os homens e mulheres simples da cidade, muito menos para o lazer trabalhadores rurais, mas um ambiente sob medida para grandes fazendeiros, seus descendentes e protegidos, a começar por sua área central --  um campo de areia, já usado para aulas de equitação e que no passado também serviu para concurso de animais de raça.

Mais tarde, animado pelas ondas universais do ambientalismo, no Parque se formou um ponto de encontro para a venda de produtos orgânicos e uma militância aguerrida, que incluiu a organização de protestos contra uma reforma ensaiada pela primeira dama de um dos inúmeros governadores de São Paulo que o PSDB já possuiu.

Nos quatro dias da Feira da Reforma Agrária, a área de equitação virou o coração da festa. Foi ali que, na noite de domingo, Martinho da Vila se apresentou. Militante político desde os tempos da ditadura militar, onze dias antes Martinho inscreveu seu nome na lista de personalidades impedidas de visitar o presidente Lula, encarcerado em Curitiba. Em São Paulo, ele empolgou a platéia quando cantou o clássico "Pequeno burguês", uma denúncia do ensino privado atualizada apelos cortes de Temer-Meirelles no crédito educativo, e provocou uma vibração especial quando puxou o coro "Lula Livre".  

Havia música e dança em outros lugares, também. À beira de um lago de águas escuras que serve de criadouro de carpas imensas, era possível participar de uma roda aberta de baião, onde todos dançavam até cansar. A poucos metros,  um trio de saxofone, pandeiro e violão, entoava chorinhos, com delicadeza e um visível esforço para não sair do tom. Quando ocorreu um pequeno deslize, um dos músicos lamentou, bem-humorado, com a certeza de que todos estavam entre amigos:  "eu disse que precisávamos ter ensaiado antes".

Tenho certeza de que, um dia, cenas que vi ontem no Parque Agua Branca estarão num filme brasileiro sobre esses dias difíceis e perigosos que o país atravessa, quando tudo parece perdido mas onde muitas pessoas não desistiram de tentar ser felizes. Quero ter a chance de ouvir de novo a conversa de duas irmãs que, no 1 de maio, tomaram o ônibus noturno para uma viagem de seis horas até Curitiba, aonde explodiram os pulmões de tanto gritar "Lula Livre!" em frente a sede da Polícia Federal. Depois, passaram uma noite na casa de uma moradora  local que ofereceu hospedagem e  voltaram a São Paulo com a certeza de que tinham acompanhado um momento da história de suas vidas que nunca mais vai se repetir. "Todo mundo deveria fazer isso," dizia uma delas, sentada numa mesinha perto da roda de baião. "Todo mundo". Por que?, pergunto. "Quem não entendeu o que é o Lula não entendeu nada. Nada. É isso que estou explicando para meu filho. Ele tem 17 anos".

Momentos especiais como esses costumam estimular um ambiente de sonho mas a realidade do momento político não costuma perder a chance de produzir provocações e atos de intimidação. Logo depois de desembarcar numa casa das redondezas, onde ficariam hospedados durante a feira, um grupo de sem-terra foi chamados a prestar depoimento numa delegacia. É que, ao ver aquelas pessoas de camisa vermelha, bonés e bandeiras, um vizinho não achou possível que fossem inquilinos. Convencido de que se tratava de uma invasão, fez uma denúncia à policia. "Foi só começo de uma longa jornada," conta uma advogada que acompanhou o caso. "Quando explicamos que o imóvel fora alugado, quiseram ver o contrato. Quanto mostramos uma cópia do contrato, quiseram o original. E quando viram o original, pediram uma cópia autenticada. Dá para entender, né?"

Às 10 da noite de sábado para domingo, um grupo de 40 feirantes do Ceará e de Pernambuco voltava para Cotia, nas vizinhanças de São Paulo, aonde estava hospedado. No meio do caminho, o ônibus no qual viajavam foi interceptado por um carro, que surgiu de repente na entrada, forçando uma parada brusca. Já de fora do carro, um deles disse ao motorista: "aqui sem-terra não entra". É claro que o ônibus dos feirantes acabou abrindo passagem, após a chamada da polícia e de negociações que se prolongaram -- estranhamente, dado o absurdo da cena -- por mais de uma hora.   Mas a imagem vergonhosa do fascismo permanece.