Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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sábado, 21 de maio de 2011

A saudade dói e não mata a gente


Hoje é seu aniversário. Hoje seria seu aniversário, mas você foi embora. Se tinha que ir, foi bem, da melhor forma. Primeiro se sentou na terra, embaixo da jabuticabeira no quintal da filha caçula, chupou suas frutas prediletas e discretamente, sem qualquer alarde, se foi. Falei com você um pouco antes, mas o bom de lembrar é seu último abraço quando, após 10 dias juntos, nos despedimos para eu voltar a minha morada, na Chácara Xury, que você me ajudou a formar.
-  Pára de plantar árvore, você vai ficar sem Sol. – Ouço seu alerta. E quando de minha próxima visita em sua casa, em Belô, sua fala foi:
 - Fiz umas mudas para você levar para plantar. – Lá vinha eu carregada de  mudas de lichia, cabeludinha, jabuticaba e tantas outras que, agora, moram no meu pomar e me dão seu gosto misturado com a saudade.

As lembranças me povoam, me arrancam soluços e risos, sem ordem, misturados. Você chega e a saudade derrama minhas lágrimas que, em seguida, são acompanhadas de sorrisos vindos dos carinhos, ternura que chegam trazidos por você.  Não há cronologia. Sou a criança que está em cima de um belo cavalo e escuto seu grito:
- Não deixa o garrote passar. – Estamos na fazenda levando o gado de um pasto para outro. Estas imagens são fortes, é minha infância, a melhor de todas as infâncias: cavalos, leite no curral, carro de boi ... felicidade âncora de toda minha vida.
Tento ir atrás dessa época, mas já estou mulher, perguntando-lhe:
- Vou vender esta chácara (era minha primeira) e torrar o dinheiro em Paris. O que você acha? – Sua resposta, sua cara:
- Foi você que trabalhou para comprá-la, ponha o dinheiro onde achar que vale a pena. –

 Agora quero ir a Paris, mas você chega de cara amarada – ai, tão você – comigo no cartório, em Ibiraci, para me dar a emancipação de que precisava para lecionar. Eu quero trabalhar e você finge estar muito chateado por isso. Contradição esclarecida  quando escuto, sem você perceber, sua conversa com um amigo contando de seu orgulho por “sua menina” querer a independência.

E lá está você mudando sua fisionomia com a dor da perda de suas fazendas e a culpa de nos deixar pobres, sem escutar o que tínhamos a lhe dizer e, que bom, você logo volta à primeira Chácara para me ensinar a fazer um aterro:
- Mexer com terra é sempre complicado. Pensa que vai um caminhão e acaba precisando de cinco. –

 A próxima aparição é à beira da cama de mamãe que está se despedindo , com tanto sofrimento. Sua companheira de vida se foi e eu fui tentar lhe cuidar. Tempo difícil, tristeza invasora.

Lá está de novo seu riso me trazendo alívio. E a eterna pergunta: - Precisa de dinheiro?
Gostaria de acreditar, como minhas irmãs, que ainda nos veremos, em outro patamar. Sei que sua presença em minha vida está em tudo que sou. Gostaria de escrever sobre você, sobre o homem forte, carismático, líder regional, contraditório, casmurro, doce, amargo, vaidoso, honesto, íntegro, amoroso e tão MEU PAI.