João
Pedro Stedile(1)
Com tantas contradições, solução será mais dolorida
O Brasil vive uma crise profunda.
A estagnação da economia, decorrente da dependência do capitalismo mundial,
impôs uma grave crise social. Mais desemprego, perda de direitos, precarização
e achatamento salarial. Essa situação resultou na atual crise política, em que
o governo não representa os interesses da maioria do povo e da nação.
O grande capital quer se proteger
da crise e implementa diversas medidas para salvar as grandes empresas e o
capital financeiro. Apropriação de bens da natureza (petróleo, minérios,
energia, água e biodiversidade) para obter uma renda extraordinária. Corte dos
direitos trabalhistas para aumentar sua taxa de lucro. Privatização de 133
empresas que dão muito lucro. Transformação do direito à educação e à saúde em
mercadoria. Subordinação ainda maior do nosso destino ao capital dos Estados
Unidos.
Para levar adiante esse plano,
somente com um governo de extrema-direita. Para elegê-lo, tiveram que prender
arbitrária e injustamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
favorito na disputa.
Agora, vem à tona os crimes da
dupla de Curitiba que usou o apoio da mídia à Operação Lava Jato para se
locupletar com benefícios pessoais. E só conseguiram eleger o capitão com
mentiras nas redes sociais, com apoio de robôs do exterior.
A situação do país está piorando,
em todos os sentidos. Sem investimentos produtivos, a estagnação seguirá por
muitos anos, segundo economistas de todas as correntes.
A concentração ainda maior da
renda e da riqueza impede o aumento da demanda e do consumo. Apenas os seis
maiores capitalistas do Brasil ganham mais do que a soma da renda de 120
milhões de brasileiros. Os bancos, por sua vez, nunca lucraram tanto.
A crise ambiental se aprofundou
com as políticas de desmonte dos órgãos ambientais, os crimes dos madeireiros,
a expansão do agronegócio e das mineradoras, especialmente na Amazônia.
Não há futuro com este governo e
seu plano para tirar o grande capital da crise. A verdadeira saída é construir
um programa de desenvolvimento baseado na reindustrialização, no controle dos
bancos, no investimento na produção, na agricultura de alimentos e no mercado
interno. As empresas públicas, como Petrobras, Eletrobras e Correios, devem ser
defendidas para elevar os investimentos e sustentar um novo ciclo de
crescimento, emprego e distribuição de renda.
Os militares que se diziam
nacionalistas e defensores do povo estranhamente silenciam. Devem estar
envergonhados do capitão que apoiaram. O Poder Judiciário, omisso ou conivente,
deveria cumprir a Constituição Federal, agir imparcialmente e soltar Lula da
prisão.
O povo precisa ir às ruas lutar
por emprego, educação, saúde e em defesa da soberania nacional. Assim, será
construída a unidade política de forças populares e setores empresariais que
ainda queiram defender o país ?e não apenas seus bolsos.
Ainda estamos longe de uma
solução. A burguesia tem sido surda e burra. O governo é irresponsável e
continua com maluquices. E o povo ainda não se mexeu.
No entanto, essas contradições
vão se agravar. Quanto mais tempo demorar, mais dolorida será a solução.
(1)João Pedro Stedile
Economista, coordenador do MST e
da Frente Brasil Popular
Comunicado N° 58 do MST
Veja link da matéria: