Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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domingo, 6 de janeiro de 2013

Os rapazes que venceram os raios e salvaram Dona Pandá


 Na noite do dia 29, faltando, portanto, dois dias para a passagem do ano, houve, aqui, na Chácara Xury, uma tempestade, com trovoadas e relâmpagos. Os apavorados Bei, Bia e Pretinho conseguiram permissão para entrar na casa. Antes que derrubassem a porta, Dona Pandá preferiu abrir mão da norma que proíbe cachorro ultrapassar o umbral da porta. A energia elétrica acabou e todos os aparelhos elétricos e eletrônicos foram rapidamente desligados, as lâmpadas de emergência salvaram esses moradores da escuridão e os acalmaram um bocadinho.

 No domingo, pela manhã, nada de energia. Como o telefone é uma linha WLL, cuja estação transmissora depende da eletricidade e o celular não tem sinal, a Chácara estava isolada, provocando em Dona Pandá uma sensação de desconforto. Resolveu verificar se as chácaras vizinhas estavam na mesma situação e descobriu que o problema era só dela. Foi até o padrão da força, na entrada da chácara, e verificou que a energia chegava ao relógio. Ficando claro sua total impotência, procurou, na estrada, um ponto mais alto para conseguir o sinal do celular e pediu socorro a seu amigo faz de tudo, Divino, que, em 40 minutos, estava, com um aparelhinho de teste buscando a fonte do problema. 

A primeira descoberta do Divino foi que toda a fase de voltagem 110v não funcionava e a de 220v, sim. A segunda foi que na cozinha havia um fio derretido e este estava posicionado ao final de uma linha. Considerando um bom progresso na sua pesquisa, Divino anunciou:
- Aqui está um resultado do curto circuito. Agora, preciso achar onde foi o curto. Já vi isto acontecer e o eletricista formado demorou um dia inteiro para achar o problema. – Dona Pandá, respirando mais profundamente que seu normal e já abaixando a voz (não sabia que ao final do dia estaria sibilando):
- Divino, vou perder toda a comida que está no freezer e nas geladeiras!!!
- Olha, não perca a calma, vamos descobrir. Vamos ver lá na casinha do Vanderlei como estão as coisas por lá. 

Embora Vanderlei não more na Chácara Xury,  o lugar onde ele toma as refeições, descansa e também guarda as ferramentas que exigem mais cuidados é chamado a Casinha do Vanderlei. Verificaram que as coisas por lá estavam como as coisas por cá. Divino, na intenção de acalmar sua amiga, fez uma dissertação sobre as dificuldades da eletricidade e Dona Pandá, por mais cuidado que tivesse com a sensibilidade do D. faz tudo, o interrompeu novamente com a repetição de - “Vou perder toda a comida ...”

Dai, a nora de Dona Pandá, havia avisado que seus pais viriam à CXury, no dia 31. Foram, então, convidados participar do último almoço do ano. Eis a preocupação de nossa amiga que já havia abastecido o freezer e a geladeira com os tira-gostos e as comidas semipreparadas para essas festas. Na geladeira da Casinha, havia o peru esperando o dia 31 para ir ao forno. Enquanto Divino apresentava seus relatórios de pesquisa, Dona Pandá só conseguia pensar que não iria conseguir fazer tudo de novo. Como amassar novamente as berinjelas? E o frango desossado?  As cervejas? Os vinhos espumantes? Ai, ai, ai não se passa de um ano para outro sem geladeira... Lá estava Divino falando... Ela sabia que a intenção era acalmá-la, mas a cada minuto que passava, a impressão de que iria perder a compostura ia ficando cada vez mais forte.

Divino precisava subir numa escada para verificar os disjuntores. A escada é de ferro e ele calçou uma chinela com sola de borracha para se proteger, mas houve uma pequena incompatibilidade entre o tamanho da chinela e o dos pés dele, então Dona Pandá, lembrando-se de seu avô, disse:
 - Tudo bem, calcanhar não é pé. -
Divino subiu e Dona Pandá ficou segurando a escada. De repente, ela viu um pé se levantar estranhamente, num ângulo de 90 graus à esquerda, e a perna acompanhar  levando todo o corpo que não passou do chão, embora parecesse trêmulo e com o rosto embranquecido pelo choque levado. O susto foi maior que a dor, segundo o acidentado que tudo fez para minimizar a vergonha passada. Dona Pandá se sentiu culpada e preocupada com as consequências do choque e do tombo, mas o rapaz só se desculpava. Aí falou mais alto o autoritarismo da dama que o fez se movimentar observando cuidadosamente até se convencer de que de fato nada grave havia acontecido. Deixada a escada de lado, voltaram à casa principal e recomeçaram a pesquisa.

Às 14h, depois de uma batalha com a escada, agora de madeira, para verificar  os fios nos postes altos, Dona Pandá foi novamente em busca de um ponto de sinal para o celular e pediu socorro para o Vanderlei. Chegando, ele substituiu Dona Panda no segurar a escada e mais uma hora se passou sem que se descobrisse algo que desse a luz.  A ideia, então, foi o Vanderlei buscar seu sogro Hélio, o eletricista que havia feito a instalação elétrica da CXury. O pequeno problema é que Hélio estava, em consequência de um acidente, de muletas.

O eletricista chegou junto com a chuva. Os três corajosos rapazes, sem tomar conhecimento da água que caia, foram vistoriar toda a rede interna à Chácara. Hélio, no chão, encostado em alguma árvore comandava, enquanto os outros dois – um no chão segurando a escada e o outro sobre ela – executavam as ordens de pega o fio azul, testa com o fio branco... Num determinado momento, com a chuva mais forte, Dona Pandá falou que estava desistindo e no outro dia veria o que fazer, pois além da chuva, do cansaço, o dia já desaparecera há algum tempo. Os intrépidos cavalheiros comunicaram que só iriam embora depois de deixar as geladeiras funcionando.

Eram 20h quando descobriram o ponto do curto que, evidentemente, estava nos últimos metros de fio vistoriado. Fomos, então, testar. Todas as lâmpadas e tomadas queimadas, assim como o forno micro-ondas, o rádio-relógio, filtros de linha e outras cositas más. Quando Dona Pandá abriu o freezer, nem acreditou... estava tudo congelado ainda, após 24h! Dona Pandá estava salva!