Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Folha tucana ataca a blogosfera


Altamiro Borges


     Numa matéria desonesta e distorcida, assinada pelos jornalistas Bernardo Mello e Catia Seabra, a Folha de hoje voltou a atacar a blogosfera - o que só confirma que a velha mídia está muito incomodada com a força crescente das redes sociais. Ao tratar de uma reunião ocorrida ontem à noite entre blogueiros paulistas e o candidato à prefeitura de São Paulo Fernando Haddad (PT), o jornal tucano destilou todo o seu veneno.

     Já no título, "Petista pede ajuda a blogueiros que apoiam governo", uma mentira deslavada. A reunião foi articulada pelos ativistas digitais e não pelo PT ou por Haddad. Da mesma forma, os blogueiros - que residem em São Paulo e conhecem o desastre causado pela dupla Serra-Kassab - já estão agendando conversas com candidatos à prefeitura paulistana de outros partidos.

"Reporcagem" desonesta e distorcida
     Na reunião, o pré-candidato petista apresentou as suas propostas programáticas para a cidade, apontou os principais problemas das últimas gestões demotucanas - e agora do PSD de Kassab - e falou dos desafios da sua campanha eleitoral. Mesmo sem ter acesso ao encontro, a Folha intuiu - bem ao estilo Gilmar Mentes - que Haddad "pediu ajuda a sua campanha na internet". Nada foi falado sobre o tema, nem o petista seria ingênuo para achar que iria enquadrar os blogueiros. Ou seja: a Folha mentiu novamente!
     De forma desonesta, a Folha tentou vender a imagem de que os presentes da reunião pertencem ao "núcleo de militantes virtuais para atuar na internet" e que "o grupo será acionado para fazer propaganda de Haddad e atacar rivais nas redes sociais". Do encontro participaram vários blogueiros que não têm qualquer filiação partidária e, inclusive, militantes de outros partidos. A Folha sabe disso, mas procurou novamente manipular a informação.

Vínculos sombrios com José Serra
     Na prática, a "reporcagem" da Folha tentou prestar mais um servicinho sujo ao tucano José Serra - com que sempre teve o rabo preso. É bastante conhecida a influência do eterno candidato do PSDB na cúpula da empresa da famiglia Frias, inclusive na confecção de pautas e no pedido de demissões de repórteres menos amestrados. Será que a Folha topa divulgar, com mais transparência, seus constantes encontros e contatos com Serra?
     A matéria também visou estimular a cizânia entre os blogueiros. Mas esta tentativa é infantil. Os ativistas da chamada blogosfera progressista sempre zelaram pela pluralidade no interior deste jovem movimento. Eles sabem que existem blogueiros de diferentes concepções e origens, de diversos partidos e, principalmente, de ativistas digitais sem filiação partidária. O esforço sempre foi o de construir a unidade na diversidade, respeitando o caráter horizontal e democrático deste movimento.
     A Folha, com a sua cultura autoritária e arrogante, não entende a nova realidade da rede. Azar dela. Ela continuará a perder credibilidade e leitores! O seu modelo de negócios continuará afundando! 

Fonte: Blog do Miro

Agenda por um Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário


Trabalhadores rurais discutem pauta de reivindicações do Grito da Terra em Brasília


GritodaTerra
Milhares de trabalhadores rurais estarão na Esplanada nos Ministérios cobrando da Presidenta Dilma uma posição sobre as reivindicações do Grito da Terra
Trabalhadores rurais de várias regiões do país estarão em Brasília nesta quarta-feira para cobrar da presidenta Dilma Rousseff um posicionamento sobre a pauta de reivindicações do Grito da Terra Brasil. De acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), cerca de 8 mil trabalhadores estarão na Esplanada dos Ministérios das 5h às 17h30.
A pauta de reivindicações, intitulada Agenda por um Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário, foi entregue à Presidência da República no dia 27 de abril com 138 propostas e, de acordo com a Contag, expressa os principais pleitos de aproximadamente 20 milhões de trabalhadores rurais ligados à confederação, às 27 federações de Trabalhadores na Agricultura e aos mais de 4 mil sindicatos de trabalhadores rurais.
Entre os dias 21 e 29 de maio, representantes da entidade foram recebidos em quase 20 ministérios. Hoje, dia da mobilização nacional, a diretoria da Contag, coordenadores e presidentes das federações devem ser recebidos pela presidenta para tratar da pauta de reivindicações do 18º Grito da Terra Brasil.
Entre os principais itens da pauta estão o desenvolvimento rural com distribuição de renda e o enfrentamento às desigualdades, a garantia e ampliação dos direitos sociais e culturais com qualidade de vida no campo e nas florestas, a participação democrática, a organização sindical e o orçamento público.
Segundo a Contag, a base desta 18ª edição é “a realização de uma ampla e massiva reforma agrária e a valorização e o fortalecimento da agricultura familiar, questionando o descaso do governo ao papel da terra e do território para a valorização dos povos do campo”.
Fonte: Correio do Brasil

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Comissão do Senado aprova descriminalização do uso de drogas


A ideia é que não será considerado crime uma quantidade de droga que represente o consumo médio individual de cinco dias

Da Redação 

Nesta segunda-feira (28), a Comissão Especial de Juristas do Senado aprovou a descriminalização do uso de drogas. Segundo a proposta, não será considerado crime uma quantidade de substância entorpecente encontrada com o usuário que represente o consumo médio individual de cinco dias, que será tida como para uso pessoal. Atualmente, o juiz determina se a quantidade droga encontrada com um usuário é para consumo próprio, o que provoca diferentes interpretações.

Esta quantidade ainda será regulamentada pela autoridade administrativa de saúde, que é atualmente exercida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A presunção de que a droga será destinada a uso pessoal também dependerá da natureza da substância, que também será regulamentada, assim como aspectos relativos à situação em que o usuário esteja com a droga, à sua conduta e às circunstâncias sociais e pessoais que a pessoa esteja.

De acordo com a proposta aprovada pelos juristas, "se o agente adquire, guarda, tem em depósito, transporta ou traz consigo drogas para consumo pessoal" não será mais crime. Também deixa de cometer um crime quem, para uso pessoal, semear, cultivar ou colher plantas voltadas para a preparação de drogas para consumo pessoal.

Segundo o site Folha.com, as propostas da comissão devem ser encaminhadas ao Congresso até o final de junho e, somente depois de serem votadas nas duas Casas elas se tornam lei.

Ainda de acordo com a publicação, a comissão também aprovou como exceção o uso de drogas próximo a escolas e outros lugares que tenham concentração de crianças e adolescentes e o consumo na presença dos mesmos, atitudes que serão consideradas crimes. Conforme a Folha, as penas seriam prestação de serviços à comunidade, advertência sobre os efeitos das drogas e o comparecimento obrigatório a programa ou curso educativo, as mesmas aplicadas atualmente ao uso comum.

Tráfico
Também foi aprovada a redução do tempo máximo da pena de prisão para o crime de tráfico determinada pela atual Lei de Drogas (Lei 11.343, de 2006). O teto da pena foi reduzido de 15 para 10 anos. A pena mínima de cinco anos foi mantida, assim como a multa.

É considerado crime de tráfico preparar, importar, exportar, remeter, produzir, fabricar, adquirir, vender e oferecer drogas ilegais, mesmo que seja de forma gratuita. A pena também é válida para cultivo, colheita ou plantio de matéria-prima para a fabricação de drogas.

*Com informações da Agência Senado

sábado, 26 de maio de 2012

Terceiro Encontro Nacional de Blogueiros começa nesta sexta


Quatrocentos e vinte e seis ativistas da rede se inscreveram para participar do 3º Encontro Nacional de Blogueiros (BlogProg), que acontece entre hoje (25) e domingo (27), em Salvador (BA), no Hotel Sol Bahia. O número de inscritos supera a meta dos organizadores, que era de 400 participantes. O BlogProg é organizado pelo Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé.
Segundo a comissão nacional organizadora do evento, o 3º BlogProg terá dois eixos básicos: a defesa da liberdade de expressão e da blogosfera, alvo de intensos ataques no último período; e a luta pela democratização da comunicação, com a deflagração de um debate democrático na sociedade sobre o novo marco regulatório do setor.

Marco Civil da Internet
O Encontro de Blogueiros será palco de uma das diversas audiências públicas em torno do Marco Civil da Internet, documento que deverá balizar a discussão de todos os temas relacionados à internet no país. No sábado (26), às 14h30, debatedores e deputados discutirão Liberdade de Expressão e Potencial de Inovação da Internet. A audiência é parte de uma série de debates que vem sendo realizada em diversos estados brasileiros.

III BlogProg
Data: 25, 26 e 27 de maio
Local: Hotel Sol Bahia (Rua Manuel Antônio Galvão, 1075, Patamares, a 12 quilômetros do aeroporto), em Salvador, BA
Inscrições e informações
: http://www.baraodeitarare.org.br/ 

CONVITE: Seminário sobre Agricultura Urbana

quarta-feira, 23 de maio de 2012

SALVE MAURÍCIO DE SOUSA



Vice de Kátia Abreu chama Maurício de Sousa de “babaca ignorante”


O cartunista Mauricio de Sousa, criador da Turma da Mônica, entrou no movimento #VetaDilma, que nos últimos dias teve como maior expoente o pedido feito pela atriz Camila Pitanga durante evento em que Lula recebeu cinco títulos de doutor honoris causa no Rio de Janeiro.




Além de divulgar uma tirinha em que o Chico Bento pede para a presidenta Dilma Rousseff vetar o Código Florestal, o cartunista também publicou, na noite desta terça-feira (22), duas fotos no twitter, onde tem quase 200 mil seguidores também pedindo o veto ao projeto que foi aprovado pela Câmara dos Deputados:


“Você, um só, pequeno ante a majestade da floresta, pode ajudar a salvá-la”.


“Integre-se ao movimento ‘Veta Dilma’. Duas espécies ameaçadas pelo novo código (des)florestal — veta Dilma”.

A resposta veio pelo próprio twitter. O pecuarista Assuero Veronez, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Acre e vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), presidida pela Senadora Kátia Abreu (PSD/TO), reagiu chamando o desenhista de “babaca ignorante”.

O autor do Blog da Amazônia retalhou: “não perca o respeito e a elegância contra Mauricio de Sousa”. Ao que foi respondido: “não respeito quem usa sua notoriedade para fazer ativismo político sobre assunto que não conhece”.

Usuários do Twitter, no entanto, manifestaram apoio às declarações de Maurício de Souza.

Da Redação do Vermelho, Vanessa Silva 
Com informações do Blog da Amazônia

Direito à Alimentação


Relatório apresentado pelo Relator Especial sobre direito à alimentação, Olivier de Schutter

Resumo
O reinvesti mento na agricultura, desencadeado pela crise no preço dos alimentos de 2008, é essencial para a plena realização do direito à alimentação. Entretanto, em um contexto de crises ecológicas, alimentares e energéti cas, a questão mais premente relati va ao reinvesti mento não é o “quanto”, mas o “como”.

Este relatório explora como os Países podem e devem obter uma reorientação de
seus sistemas agrícolas para meios de produção que sejam altamente produti vos, altamente sustentáveis e que contribuam para a realização progressiva do direito humano à alimentação adequada.

Baseado em uma ampla revisão da literatura científica publicada nos últi mos cinco anos, o Relator
Especial identifica a agroecologia como um meio de desenvolvimento agrícola que não apenas apresenta fortes conexões conceituais com o direito à alimentação, mas tem resultados comprovados
para um rápido progresso na concreti zação deste direito humano para muitos grupos vulnerabilizados em diversos países e ambientes. Além disto, a agroecologia proporciona vantagens que são
complementares às abordagens convencionais mais bem conhecidas, tais como a criação de variedades de alta produti vidade. E ela contribui bastante para um maior desenvolvimento econômico.

O relatório sustenta que a disseminação destas experiências é o principal desafi o que precisa ser
planejado hoje. É possível criar um ambiente propício para esses modos de produção sustentáveis
mediante políti cas públicas adequadas, entre as que se incluem: dar prioridade a aquisição de bens
públicos com despesas públicas em vez de apenas subsidiar insumos; investi r em conhecimento para
o reinvesti mento em serviços de pesquisa e extensão agrícola; investi r em formas de organização
social que esti mulem parcerias, incluindo escolas de campo para agricultores e redes de inovação
de movimentos de agricultores; investi r em sistemas de pesquisa e extensão agrícola; empoderar
as mulheres; e criar um ambiente macroeconômico propício, por exemplo, pondo em contato as
propriedades agrícolas com mercados justos.

Para download do livro:


Memórias de uma guerra suja e a participação da mídia no apoio à ditadura


O livro Memórias de uma guerra suja, depoimento do ex-delegado do DOPS, Claudio Guerra, a Marcelo Netto e Rogério Medeiros, foi recebido inicialmente com certa incredulidade até por setores progressistas. Há revelações ali que causam uma rejeição visceral de auto-defesa. Repugna imaginar que em troca de créditos e facilidades junto à ditadura, uma usina de açúcar do Rio de Janeiro tenha cedido seu forno para incinerar cadáveres de presos políticos mortos nas mãos do aparato repressivo.
O acordo que teria sido feito no final de 1973, se comprovado, pode se tornar o símbolo mais abjeto de uma faceta sempre omitida nas investigações sobre a ditadura: a colaboração funcional, direta, não apenas cumplicidade ideológica e política, mas operacional, entre corporações privadas, empresários e a repressão política. Um caso conhecido é o da Folha da Tarde, jornal da família Frias, que cedeu viaturas ao aparato repressivo para camuflar operações policiais.
Todavia, o depoimento de Guerra mostra que nem o caso da usina dantesca, nem o repasse de viaturas da Folha foram exceção. Esse é o aspecto do relato que mais impressionou ao escritor e jornalista Bernardo Kucinski, que acaba de ler o livro. Sua irmã, Ana Rosa Kucinski, e o cunhado, Wilson Silva, foram sequestrados em 1974 e desde então integram a lista dos desaparecidos políticos brasileiros.
Bernardo atesta:’ Esta tudo lá: empresas importantes como a Gasbras, a White Martins, a Itapemirim, o grupo Folha e o banco Sudameris, que era o banco da repressão; o dinheiro dos empresários jorrava para custear as operações clandestinas e premiar os bandidos com bonificações generosas’.
No livro, Claudio Guerra afirma que Ana Rosa e Wilson Campos — a exemplo do que teria ocorrido com mais outros oito ou nove presos políticos — tiveram seus corpos incinerados no imenso forno da Usina Cambahyba, localizada no município fluminense de Campos.
A incredulidade inicial começa a cair por terra. Familiares de desaparecidos políticos tem feito algumas checagens de dados e descrições contidas no livro. Batem com informações e pistas anteriores. Consta ainda que o próprio governo teve acesso antecipado aos relatos e teria conferido algumas versões, confirmando-as. Tampouco o livro seria propriamente uma novidade para militantes dos direitos humanos que trabalham junto ao governo. O depoimento de Guerra, de acordo com alguns desses militantes, teria sido negociado há mais de dois anos, com a participação direta de ativistas no Espírito Santo.
A escolha dos jornalistas que assinam o trabalho – um progressista e Marcelo Netto, ex-Globo simpático ao golpe de 64 – teria sido deliberada para afastar suspeitas de manipulação. Um pedido de proteção para Claudio Guerra já teria sido encaminhado ao governo. Sem dúvida, o teor de suas revelações, e a lista de envolvimentos importantes, recomenda que o ex-delegado seja ouvido o mais rapidamente possível pela Comissão da Verdade.

Vejam as respostas de Bernardo Kucinski  à Carta Maior sobre o conteúdo do livro no link:

Nossa fonte: Correio do Brasil

Cúpula dos Povos propõe agroecologia e agricultura familiar contra a crise


“Essa combinação de agroecologia com agricultura familiar, é o potencial maior do ponto de vista de resultados e do ponto de vista social, econômico e ambiental”, diz Jean Marc van Der Weid, economista e ambientalista, integrante da Articulação Nacional de Agroecologia. Cúpula dos Povos fará denúncia das falsas saídas para a atual crise socioambiental e apresentará soluções práticas já existentes contra essa crise.

Rio de Janeiro - A Cúpula dos Povos, evento paralelo a Rio + 20 que acontecerá entre 15 e 23 de junho no Aterro do Flamengo, trabalhará em três frentes principais em relação à conferência oficial das Nações Unidas a ser realizada no Riocentro entre 13 e 22 de junho, quando chefes de estado debaterão o desenvolvimento sustentável. No Aterro do Flamengo, os objetivos, além do fortalecimento dos movimentos sociais nacionais e internacionais, serão a denúncia das falsas saídas para a atual crise socioambiental e a apresentação de soluções práticas já existentes contra essa crise.

Uma dessas soluções é a agroecologia, que produz alimentos sem o uso de agrotóxicos, não maltrata o solo e gera empregos e renda a partir da agricultura familiar. “Essa dupla, essa combinação de agroecologia com agricultura familiar, é o potencial maior do ponto de vista de resultados e do ponto de vista social, econômico e ambiental”, diz Jean Marc van Der Weid, economista e ambientalista, integrante da Articulação Nacional de Agroecologia, ressaltando a importância de ela não poder ser operada integralmente em sistemas de grandes propriedades. “Ela não tem nenhuma necessidade, ao contrário do que diz o pessoal do agronegócio, de expandir novas áreas de cultivo. Tem um potencial produtivo suficiente para alimentar a população, economia de água, economia de energia. Enfim, tem todas as capacidades de responder a um conjunto de questões”.

Questões integrantes da crise socioambiental como a pobreza contemporânea decorrente da marginalização e expulsão dos trabalhadores agrícolas para as zonas urbanas. “Quando você trabalha em agroecologia, você procura a máxima diversidade possível, porque você tenta aproximar um sistema artificializado, que é a agricultura, dos sistemas naturais. Nós estamos lidando portanto com um sistema que vai ser tão diversificado que a mecanização vai ser limitada. Se é assim, se esta é a economia que a gente vê para o futuro, significa que nós vamos precisar de muito mais camponeses do que nós temos hoje”, diz van Der Weid.

Uma SP volta ao campo
Na realidade brasileira, o ambientalista faz um cálculo estimativo de cerca de 15 milhões de famílias, quase a população da grande São Paulo, em condições de ocuparem o espaço produtivo, “no lugar das áreas degradadas que seriam recuperadas e no lugar dos aproximadamente 60 a 70 milhões de hectares que estão na mão do agronegócio”, afirma ele. Dos cálculos para a realidade vai um longo caminho, e van Der Weid sabe que implica em uma questão política fundamental. “É uma mudança de base social no campo radical. Você tem que caminhar para a substituição de uma categoria do agronegócio para a categoria da agricultura familiar empregando a agroecologia como sistema produtivo”.

Sem o enfrentamento dessa questão política que a Cúpula dos Povos propõe e sem essa mudança da base social do campo, o integrante da Articulação Nacional de Agroecologia vê as saídas apontadas pela dita “economia verde” como um cinismo atroz. “Ela é mais do mesmo! Mais agrotóxico, mais transgênico, mais adubo químico. E a justificativa ‘green’ é porque isso vai evitar que se façam novos desmatamentos. Então os produtores de pesticidas dizem isso: ‘somos verdes!’, mas eles são mais venenosos”.

Mercado
Jean Marc van Der Weid também descontrói a versão dos transgênicos apresentada como “solução estratégica” da chamada economia verde. “Não vamos ter nenhuma vantagem do ponto de vista econômico. Ao contrário! Todos os lugares que ela conseguiu entrar e controlar você teve recuo na produtividade e na economicidade destes produtos. Então por quê domina? É o controle de oferta! Você chega em diversos setores e tem uma imensa concentração de controle de produtos essenciais, no caso, sementes. Não é lógica econômica! Se chama simplesmente poder. Você ter ou não ter poder de fogo, na economia e na política”.
Fonte: CARTA MAIOR

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Salve Dalton Trevisan


Autor Dalton Trevisan vence Prêmio Camões


O escritor curitibano Dalton Trevisan foi anunciado nesta segunda-feira em Lisboa (Portugal) como o
 vencedor da 24ª edição do Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa. As informações são dos jornais portugueses Público e Diário de Notícias.

Ele foi escolhido por unanimidade pelo júri e vai receber 100 mil euros. Os organizadores do prêmio ainda não conseguiram contatar o autor, que vive recluso, longe dos holofotes e do contato com os jornalistas.
A produção literária de Trevisan inclui as obras 'O Vampiro de Curitiba', 'Cemitério de Elefantes', 'O Maníaco do Olho Verde', entre outras. Ele nasceu em 1925, em Curitiba, no Paraná. Formado em Direito, chegou a atuar como jornalista policial e crítico de cinema, antes de ingressar no oficio de escrever livros.
Prêmio Camões já homenageou desde 1989 diversos nomes da literatura de língua portuguesa, como Jorge Amado, Rubem Fonseca, José Saramago, António Lobo Antunes e Lygia Fagundes Teles.
Nossa fonte: Diário do ABC

sábado, 19 de maio de 2012

Cidades: bom para copiar


Feira de livros leva escritores às escolas

 Por Redação (Correio do Brasil), com ACS – de Passos (MG)


Educação
Grande festa encerra a feira Flipassos, que incentiva a literatura no local
Debaixo de chuva, um grande público foi às ruas para prestigiar o desfile de 2 mil crianças, jovens e adultos,  de 40 escolas e instituições que festejaram os 154 anos do município de Passos, sudoeste de Minas Gerais. No desfile, que teve como tema Cultivando Leitores, Protagonistas da sua História, a cidade aplaudiu a participação até então inédita de vários escritores, da cidade e de fora, homenageados pelas escolas. O evento encerrou a I Feira Literária de Passos, Flipassos, que desde o dia 8 alterou a rotina das instituições de ensino locais, promovendo uma grande mobilização de incentivo à leitura.
Ao realizar pela primeira vez o evento literário, a Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer (Secel) optou por priorizar as atividades nas escolas do município. Os cerca de 30 escritores convidados compareceram, fizeram palestras e responderam as perguntas dos estudantes, que foram previamente preparados com leituras e estudos sobre seus livros.
Quando não estavam nas escolas, os escritores dirigiam-se à grande tenda, com palco aberto, montada na Praça Geraldo da Silva Maia, na região central, onde davam entrevistas e conversavam com um público interessado e atento. Ao redor da tenda ficaram os estandes das livrarias, onde a afluência do público também era grande. Nas dependências da Casa da Cultura, sede da Secel, os auditórios onde ocorriam palestras ficaram tão lotados que houve casos de muita gente não conseguir entrar.
- Fui a uma escola da zona rural, a 23 quilômetros da cidade, e encontrei meus livros na biblioteca – relatou o escritor e ilustrador Nelson Cruz, de Belo Horizonte, vencedor dos prêmios Biblioteca Nacional e Jabuti, entre outros, de literatura infantil. “As crianças haviam lido meus livros, estavam interessadas, fiquei espantado com a qualidade das perguntas.”
A rede municipal tem 19 escolas, sendo quatro na zona rural. Na área urbana existem uma pré-escola, nove de ensino fundamental e cinco centros municipais de educação infantil (Cemei). Mas os escritores também atenderam e foram homenageados por escolas estaduais.
- Os escritores foram os protagonistas de uma história que estamos escrevendo, nos livros e na vida. Foi um dos grandes momentos deste jogo que me colocou em campo há mais de 30 anos – escreveu Sérgio Fantini, de Belo Horizonte, em seu blog, depois de desfilar com a escola municipal Prof. Ananias Emerenciano. Assim como ele, foram homenageados autores como Luís Giffoni, Leo Cunha, Neusa Sorrenti, de Belo Horizonte, ou nascidos na cidade, como Antonio Barreto, Marco Túlio Costa, Alexandre Marino, Alexandre Brandão, Deucélia Maciel e Marcelo Xavier.
Carnaval – A mesma secretaria responsável pela realização da Flipassos havia cancelado, em fevereiro, o tradicional carnaval da cidade. Motivo: a violência. Com o uso de drogas e casos de assassinatos preenchendo os noticiários, a prefeitura tomou uma decisão polêmica. Os R$ 80 mil investidos na Flipassos foram remanejados dessa festa.
A coragem de fazer essa troca, elogiada pelos escritores, faz sentido dentro da política de educação da Prefeitura, que adotou um sistema de ensino unificado em toda a rede, com metas traçadas. O trabalho das escolas é monitorado e avaliado pela secretaria. “Já pudemos constatar um aumento significativo no interesse dos alunos pela literatura”, explica a secretária Rosa Beraldo. O índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb) da cidade subiu de 5,5 para 6,3, previsto para o Brasil em 2020.
A secretaria mantém, dentro do orçamento da educação do município, recursos específicos para aquisição de livros, mas isso também é feito pelas próprias escolas. Com a presença dos escritores, a retirada de livros nas bibliotecas se multiplicou. “É o melhor caminho para combater a violência”, disse o prefeito José Hernani Silveira. Os escritores presentes assinaram um manifesto, propondo a inclusão do evento no calendário oficial da cidade.

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sexta-feira, 18 de maio de 2012

SALVE MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES


'Discípula' Dilma homenageia 'mestre' Maria da Conceição Tavares

A economista recebeu o prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia de 2011 das mãos da presidenta Dilma Roussef e disse estar muito otimista com o Brasil. Emocionada, Tavares revelou que foi Darcy Ribeiro quem lhe convenceu a “virar brasileira de fato”, decisão da qual se orgulha: "Ele disse que ao contrário da Europa, que ele não tinha grandes esperanças, com toda razão, o Brasil ele achava que iria ser capaz de construir uma sociedade mais homogênea, multirracial e mais democrática".

Brasília - A economista Maria da Conceição Tavares foi exaltada na cerimônia em que a presidenta Dilma Roussef lhe entregou o prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia de 2011. Na abertura do evento, na manhã desta quinta-feira (17), o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, escalou a economista “no time de expoentes da intelectualidade que interpretaram a sociedade brasileira”, ao lado de Gilberto Freire, Celso Furtado, Caio Prado, Florestan Fernandes, Darcy Ribeiro e Ignácio de Rangel. 

“Não é qualquer país que tem o privilégio de contar com uma mulher com a sua força, uma intelectual com o seu brilho e uma militante com a sua lucidez”, elogiou.

O ministro ressaltou as contribuições de Tavares para a formação do pensamento econômico brasileiro, em especial na caracterização do crescimento da economia brasileira nos anos 1960 e 1970 e nas causas da ausência de crescimento nas duas décadas posteriores. Ele também destacou a maneira enfática e consistente com que a economista defendeu a transição do já falido modelo de produção industrial visando a substituição de importações para um modelo auto-sustentável, só possível com investimentos decisivos do setor público. ”A história recente mostrou a falência dos governos em que os ‘booms’ da economia são ditados pelo mercado”, apontou.

Raupp ainda destacou o papel de Tavares na formação de gerações de economistas, que há décadas influenciam ou mesmo definem as políticas públicas no país, e também elogiou o que chamou de “brasilidade”. “Mesmo que tenha nascido em Portugal, Maria da Conceição comporta-se como uma brasileira visceral, autêntica, exemplar para todos os demais brasileiros e brasileiras”, concluiu.

Ao assumir a palavra, emocionada, Tavares revelou que foi Darcy Ribeiro quem lhe convenceu a “virar brasileira de fato”, decisão da qual se orgulha:

“Ele disse que ao contrário da Europa, que ele não tinha grandes esperanças, com toda razão - olha o que está acontecendo, tragédia no meu continente originário -, o Brasil ele achava que iria ser capaz de construir uma sociedade mais homogênea, pluriracial e mais democrática, que ia ter a particularidade de ser a primeira sociedade deste estilo nos trópicos (...) e eu quero dizer que nesse particular, eu estou muito otimista, foi bom ter virado brasileira, foi bom ter feito a luta e é muito bom estar na companhia da minha amiga e querida discípula, a presidenta Dilma e tantos que estão aqui.” 

Maria da Conceição Tavares também contou que durante o mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso resolveu ir para a política “porque não adiantava mais falar nada, até porque a imprensa não nos dava nem um capítulo, tinha cara de neoliberalismo” e caracterizou este período “estranho, porque os participantes daquele governo eram historicamente progressistas” mas mudaram a Constituição – “aquela que nos custou tanto esforço” - em aspectos vitais. “Vocês imaginam o sofrimento que foi, eu arrebentei minha coluna foi aí”, disse arrancando gargalhadas do público. 

Tecendo rápidos comentários sobre a conjuntura econômica mundial, a economista elogiou o Brasil por não ter ”entrado em parafuso” com a “crisona que está aí”, dando os créditos deste feito aos dois governos Lula e a continuação com o governo Dilma. “Espero que ela chegue ao fim do seu mandato com a crise vencida e com os caminhos e a estratégia de desenvolvimento desenhada em bom termo. Ou seja, espero morrer feliz por ser brasileira e infeliz por ser europeia. Isso lamento muito, mas acho que não vou conseguir passar a crise européia”, comentou com seu humor particular. 

Por sua vez, a presidenta Dilma Roussef iniciou seu discurso considerando-se uma discípula de Tavares e elogiando seu compromisso com o desenvolvimento do Brasil e da América Latina. “Compromisso que sempre cumpriu tratando a economia como ela deve ser tratada: como economia política”, salientou.

De acordo com a presidenta, não houve momento importante na história do país, nas últimas décadas, sem as considerações da “nossa professora”:

“Nós hoje não admitimos mais a possibilidade de construir um país forte e rico dissociado de melhorias das condições de vida de nossa população, nem tampouco acreditamos mais na delegação da condução de nosso crescimento exclusivamente às forças de auto-regulação do mercado. Crença, aliás, que Maria da Conceição Tavares sempre, corretamente, criticou”. 

Prêmio
O Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia completa 30 anos e é realizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em a parceria da Fundação Conrado Wessel e da Marinha do Brasil. Na edição de 2011, o prêmio contemplou a área de Ciências Humanas, Sociais, Letras e Artes. 

Maria da Conceição Tavares é a segunda mulher a receber o prêmio, a primeira foi a socióloga Maria Isaura Pereira de Queiroz.

Tavares é graduada em Matemática pela Universidade de Lisboa e em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da qual é professora Emérita. Fez mestrado na Universidade de Paris II e doutorado em Economia da Indústria e da Tecnologia pela UFRJ. Aeconomista também lecionou nas universidades Estadual de Campinas (Unicamp), Latinoamericana de Ciencias Sociales da Argentina, Nacional Autonoma do México, Pontifícia Universidade Católica do Chile e na Fundação Getúlio Vargas (FGV), entre outras. Foi consultora em instituições como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Instituto Nacional de Investigação Científica (Inic), de Portugal.

Entre os prêmios e honrarias recebidas estão o título de Doutor Honoris Causa, da Universidade de Buenos Aires, na Argentina, Ordem de Bernardo O Higgins, Gran Official, do Governo do Chile, Oficial da Ordem de Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Ordem ao Mérito do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Prêmio BNDES de dissertação de mestrado.

Foi deputada federal pelo PT entre 1995 a 1999. 
Fotos: Antonio Cruz/ABr 
FONTE: CARTA MAIOR

quinta-feira, 17 de maio de 2012

"A eurozona está se auto-destruindo", diz presidente do Banco da Inglaterra



O botão de alarme do pânico está soando para além da moeda única europeia. No parlamento britânico, o primeiro ministro David Cameron assinalou nesta quarta-feira que a eurozona “precisa decidir se segue adiante ou não e traçar uma estratégia coerente a respeito”. O presidente do Banco da Inglaterra, Mervyn King, uniu-se ao pessimismo dizendo que a eurozona “está se autodestruindo”. 

Londres - Queda do euro, governo interino na Grécia, impasse franco-alemão, austeridade e recessão, aumento do déficit, desemprego, indignados: a lista de tormentas da eurozona é interminável. O botão de alarme do pânico está soando para além da moeda única europeia. No parlamento britânico, o primeiro ministro David Cameron assinalou nesta quarta-feira que a eurozona “precisa decidir se segue adiante ou não e traçar uma estratégia coerente a respeito”. O presidente do Banco da Inglaterra (Banco Central), Mervyn King, uniu-se ao pessimismo dizendo que a eurozona “está se autodestruindo”.

Cameron e King gritam desde as margens do cenário: junto à economia britânica sofrem as peripécias da tragédia, mas podem fazer pouco para influir no desenlace. Muito mais grave ainda para a obra é o diagnóstico diferente que fazem da crise a austera dama de ferro alemã Angela Merkel e o pró-crescimento presidente da França, François Hollande. Alemanha e França são o eixo da eurozona: suas diferenças pressagiam uma paralisia. No momento, a eurozona existe em um estado similar à definição que Alfred Hitchcock tinha sobre o suspense: “imagine uma bomba colocada debaixo de um banco a ponto de explodir; o espectador pode vê-la, o protagonista não”.

A bomba a ponto de explodir é a Grécia, que tem novas eleições no próximo dia 17 de junho e empossou nesta quarta um governo interino. Os analistas antecipam que uma vitória da coalizão de esquerda Syriza (trotskistas, maoístas, verdes, independentes), que rechaça a austeridade acordada com a Troika (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), em troca de 130 bilhões de euros para evitar uma moratória, significará a saída da Grécia da eurozona. 

Em seu encontro na terça-feira, Merkel e Hollande disseram que queriam a Grécia na eurozona, mas a chanceler alemã deixou claro que os compromissos devem ser respeitados. O empréstimo da troika só será entregue se o próximo governo se comprometer a cortar outros 10 bilhões de euros em junho numa economia que já anda no quinto ano consecutivo de recessão. Os gregos começam a se preparar. Na segunda-feira, retiraram cerca de 600 milhões de euros dos bancos e calcula-se que uns 28 bilhões estão escondidos sob o colchão para caso de vir o estouro e o retorno do dracma com uma megadesvalorização incluída.

A preocupação britânica expressa por Cameron e King é compreensível, mas tem uma perna bamba ou, ao menos, curiosa. Em abril, a economia britânica entrou oficialmente em recessão: a eurozona conseguiu evitá-la por um fio de cabelo. Seguindo o escritório de estatísticas Eurostat, o crescimento foi nulo, mas esta “boa notícia” esconde uma história de duas eurozonas. A Alemanha com um crescimento de 0,5%, acompanhada pela Bélgica, Eslováquia e um reduzido número de países compensou a recessão da Itália, Espanha, Portugal, Holanda e Grécia (que experimentou uma queda de 6,2%). Para o futuro, os analistas advertiram que este desempenho alemão é insustentável com uma eurozona ferida.

Contágio econômico e político
O fantasma mais temido de um default grego é o contágio na direção dos famosos PIIGS: Portugal, Irlanda, Itália e Espanha, sem o G da Grécia. Os cálculos variam, mas uma estimativa média coloca o custo da saída grega da eurozona ao redor de 400 bilhões de euros. A reestruturação da dívida grega e a desvalorização de sua moeda fariam a União Europeia e o FMI perder cerca de 240 bilhões, os bancos centrais uns 130 bilhões e os bancos privados uns 25 bilhões. Mais grave ainda seria a ameaça que pairaria sobre Espanha, Itália e Portugal e seus frágeis sistemas financeiros que poderiam provocar, segundo alguns analistas, uma crise similar a de 2008.

Neste contexto, a crise de legitimidade dos governos começa a parecer uma enfermidade crônica. Desde o estouro da dívida soberana em 2010, 16 países mudaram de governo, mais da metade dos 27 que compõem a UE. Estes novos governos têm uma legitimidade de curto alcance, como sabe em primeira mão o presidente da Espanha, Mariano Rajoy, que já perdeu uma considerável parte do apoio majoritário que recebeu nas eleições do final do ano passado. 

Com um desemprego entre os jovens que supera os 50%, os indignados da Espanha parecem ter um futuro assegurado. Na Itália, o primeiro-ministro Mario Monti corre o perigo de perder o apoio inicial se a Itália seguir empacada em seu explosivo coquetel de recessão e ajuste. No dia 31 de maio, a Irlanda vota em um referendo sobre o acordo fiscal europeu firmado por 25 membros da UE no final de 2011 para garantir que ninguém tenha um déficit fiscal superior a 3% e uma dívida pública superior a 60% do PIB.

Em meio a esse panorama sombrio todavia há vozes que enxergam luzes no fim do túnel. Segundo um novo “paper” do ECFR (Conselho Europeu de Relações Exteriores), um “think thank” pan-europeu, a relação entre François Hollande e Angela Merkel será mais produtiva do que aquela que havia com Nicolas Sarkozy. “A experiência mostra que é mais fácil o acordo e a cooperação de dois partidos com ideias diferentes que devem firmar um compromisso do que no caso de uma dupla simbiótica como a Merkozy”, assinala Ulrike Guerrot, do ECFR. 

Mesmo uma saída da Grécia do Euro tem seus simpatizantes, como o analista Simon Jenkins, que, no The Guardian, não dúvida de apresentar a Argentina como um exemplo das bondades de uma reestruturação da dívida. “Só quando a Grécia se livrar da dívida que tem, como fizeram Islândia e Argentina, poderá reconstruir sua economia com base em uma taxa de câmbio realista”, assinalou Jenkins.

Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Carta Maior

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Carlos Fuentes: escrever para ser


Muito mais que um grande escritor, a América perdeu um homem de seu tempo – de seus tempos. Que soube defender suas idéias com tamanha inteireza, com tamanha elegância, com tamanha firmeza, que mesmo os que tantas vezes discordaram dele poucas vezes deixaram de respeitá-lo. Fuentes acreditava no futuro. No futuro da América Latina, no futuro no ser humano. Acreditava que, em algum momento desse nosso eterno recomeçar, nós, da América Latina, deixaríamos de recomeçar e começaríamos de verdade. 

Vejo algumas fotos em preto e branco. E me detenho em uma, feita em algum dia incerto da Barcelona daqueles anos 70, mostrando um Vargas Llosa alto e sorridente, um Carlos Fuentes um tanto formal, e um Gabriel García Márquez cabeludo e com bigodes que parecem desenhados a carvão. Fuentes ainda fumava: na mão esquerda, posta fraternalmente sobre o ombro de García Márquez, aparece o cigarro. Ali estão eles: Vargas Llosa aparece à esquerda, Fuentes está no centro, García Márquez à direita. Exatamente o avesso do que a vida reservaria aos três, ou do que os três fariam de suas vidas.

Na foto, os três são jovens, e parecem confiantes, e ocupam o inverso do espaço que o tempo e a realidade se encarregariam de colocar em seus devidos lugares: quem à direita, ao centro, à esquerda. 

Volta e meia imagino como será ter sido ser jovem, ou melhor, ser um jovem Fuentes, um jovem Mario Vargas, um jovem García Márquez naqueles anos de turbilhão. Uma vez perguntei isso a Fuentes. Estávamos em São Paulo, caminhávamos ao léu com Silvia Lemus, sua mulher, para cima e para baixo por aquelas paralelas da rua Augusta, e ele me contava coisas. Dizia assim: ‘É que a gente era muito jovem, e acreditávamos nas mesmas coisas, e tínhamos uma confiança enorme no futuro’. Insistia: sua amizade com García Márquez, que vinha de 1961, era a qualquer prova. E acabei sendo testemunha disso, dessa verdade. 

E lembro que algum tempo depois, coisa de ano ou ano e meio, ao entrar num restaurante italiano em Buenos Aires, topei com ele e com Silvia. E ele, como sempre de uma elegância sem fim – e, atenção: estou me referindo à elegância como postura diante da vida –, quis continuar uma conversa que eu nem lembrava qual era. 

Era a conversa sobre nossos respectivos anos jovens. Disse ele, lembrando de Vargas Llosa, de García Márquez, de Cortázar: ‘A vida segue, e às vezes, nos separa. Bom mesmo é quando você consegue discordar de tudo e fazer com que nada separe os afetos, a amizade’. Tentou isso a vida inteira. Às vezes – com Cortázar, com García Márquez –, conseguiu. Aliás, sem maiores esforços.

Quando me refiro a ele como um homem elegante, me refiro a um pensamento que conseguia ser ao mesmo tempo ágil e contido, que não se limitava às barreiras que muitas vezes nos impomos a nós mesmos. Acreditava no que acreditava.

Acreditava no futuro. No futuro da América Latina, no futuro no ser humano. Acreditava que, em algum momento desse nosso eterno recomeçar, nós, da América Latina, deixaríamos de recomeçar e começaríamos de verdade. E escrevia assim: acreditando. Não há dois livros dele que sejam iguais. Porque, em seu ofício, Carlos Fuentes era como na vida: sempre disposto a recomeçar, a reinventar. Sua obra é desigual, porque ao longo da vida somos desiguais. Escrevia cada livro como se fosse o primeiro. E por isso mesmo ele foi tantos, como tantos somos nós em nosso dia-a-dia. 

A única coisa que se manteve sempre em cada palavra, cada frase que desenhou, foi a fé no futuro. Jamais acreditou em limites e fronteiras, quando escrevia. E nem quando vivia.

Qualquer um que tenha a palavra escrita como matéria prima, e a memória como guia dos tempos, saberá descobrir no autor de ‘A região mais transparente’, ou ‘A morte de Artemio Cruz’, ou de ‘Terra Nostra’, de ‘Gringo Viejo’, um eterno contemporâneo, um companheiro de viagem, um parceiro de sonhos e ousadias. E uma testemunha de desesperanças e esperanças, de tudo aquilo que poderíamos ter sido e que não fomos. 

Fuentes dizia que, mais do que pela obra dos grandes historiadores, dos grandes sociólogos, dos grandes antropólogos – e ele foi amigo de vários dos grandes –, a verdadeira história nossa era escrita por escritores. 

Lembro bem da vez em que ele disse que escrever literatura não era um ato natural: era como dizer que a realidade, não é suficiente. Que precisa de outra realidade, a da imaginação. E que isso era perigoso. Assim viveu, assim escreveu. 

Muito mais que um grande escritor, a América perdeu um homem de seu tempo – de seus tempos. Que soube defender suas idéias com tamanha inteireza, com tamanha elegância, com tamanha firmeza, que mesmo os que tantas vezes discordaram dele poucas vezes deixaram de respeitá-lo. 

Eu perdi um amigo distante. Que teve uma vida coalhada de dramas tenebrosos – a ele e a Silvia foi reservada a pior das dores de um ser humano, a de enterrar seus filhos – e conseguiu continuar caminhando. E sorrindo. 

Lembro de Carlos Fuentes como alguém que não se deixou abater. Que não deixou de sorrir e de acreditar.

Certa vez, ele me disse que escrevia para continuar sendo. E, assim, foi.


Fotos: O escritor mexicano Carlos Fuentes, no centro da imagem, junto ao peruano Mario Vargas Llosa e ao colombiano Gabriel García Márzquez (El País) 

Pobreza rural: um fenômeno histórico relacionado à estrutura agrária do país


Por mais que as teses “produtivistas” defendam que o país já resolveu o problema da produção agropecuária sem precisar fazer qualquer reforma em sua estrutura agrária – porém sem resolver o problema da pobreza – ,a questão agrária brasileira não pode ser relegada a um segundo plano quando se definem e implementam políticas públicas com o objetivo de erradicar a pobreza. O artigo é de Lauro Mattei.

O Brasil apresenta marcas históricas que remontam ao processo colonizador, o qual destinou a esse espaço geográfico, por vários séculos, apenas a função de produção e suprimento de bens primários necessários ao atendimento dos interesses da metrópole lusitana. Tal lógica colonizadora, além de formar e estabelecer uma estrutura econômica voltada ao exterior, deixou marcas sociais que ainda estão presentes nos dias atuais. Dentre essas marcas, destacam-se a pobreza, a concentração de renda e a exclusão social.

Por isso mesmo, a pobreza não é um fenômeno novo, nem no país nem no continente latino-americano. Todavia, ela mostrou ser mais consistente nas últimas décadas do século XX quando crises econômicas afetaram a maioria dos países da região latino-americana. A partir de então, percebe-se que, além das deficiências estruturais do modelo de desenvolvimento econômico regional, os problemas sociais tornaram-se obstáculos reais para conformação de sociedades mais justas e democráticas.

Do ponto de vista econômico, o dinamismo ocorrido no Brasil durante a vigência da industrialização do país (décadas de 1940 a 1970) se esgotou rapidamente, impactando negativamente os agregados macroeconômicos, especialmente o nível de renda per capita, que passou a apresentar uma trajetória de queda, e bem como o próprio mercado de trabalho, cujas taxas de desemprego e de informalidade se expandiram fortemente durante as duas últimas décadas do século XX. Esses fatos, somados ao histórico processo de concentração da renda, agravaram ainda mais as já precárias condições de vida da população em todas as regiões do país.

Do ponto de vista social, nas últimas décadas do século XX ocorreu um forte crescimento dos índices de pobreza e de miséria em todo o país. Aliados à natureza estrutural da exclusão social, têm-se, ainda, os efeitos perversos dos programas de estabilização econômica, os quais agravaram as condições do mercado de trabalho, levando ao aumento das taxas de desemprego, à expansão da informalidade e à redução dos salários básicos, bem como estimularam a continuidade dos deslocamentos populacionais, provocando o inchaço das grandes metrópoles urbanas, que passaram a concentrar a maior parte da população do país. Com isso, a partir da década de 1990, o número absoluto de pobres vivendo nas cidades – e especialmente nas áreas metropolitanas – superou pela primeira vez o número de pessoas pobres que vivem nas áreas rurais.

Mas, em termos relativos, a pobreza rural ainda é extremamente expressiva no país. Os dados da PNAD (IBGE, 2009) revelaram que 8.4 milhões de pessoas que faziam parte da população rural total (30.7 milhões de pessoas) eram classificadas como pobres (renda per capita mensal de até ½ salário mínimo, que em valores de setembro de 2009 correspondia a R$ 207,50); e 8.1 milhões de pessoas eram classificadas como extremamente pobres (renda per capita mensal de até ¼ salário mínimo, que em valores de setembro de 2009 correspondia a R$ 103,75). Isso significa que no ano de 2009 aproximadamente 54% da população rural total era enquadrada como pobre. A distribuição espacial da pobreza rural revela que 53% do total de pessoas classificadas como pobres viviam no Nordeste do país, região que respondia também por 70% do total de pessoas extremamente pobres.

Os determinantes histórico-estruturais de geração da pobreza rural

As concepções mais abrangentes sobre o fenômeno da pobreza sugerem que ele não deve se restringir apenas à privação da renda, mas também à privação de outros bens materiais e de acesso aos serviços sociais essenciais, especialmente nas áreas de saúde, educação, alimentação, nutrição, habitação e saneamento básico. Em função disso, é recomendável que esse fenômeno seja discutido para além das variáveis puramente monetárias, mesmo sabendo-se das dificuldades envolvidas na construção de indicadores não monetários. No Brasil, por não existir este tipo de indicador, vêm sendo estabelecidas linhas de pobreza a partir de um único indicador monetário: a renda per capita familiar mensal. Há, todavia, um conjunto de outros fatores relacionados às privações que também podem explicar as causas estruturais da pobreza, conforme veremos mais adiante.

Por isso, falar da pobreza rural e de sua relação com a questão agrária requer situar o debate numa perspectiva histórica, o que pressupõe entender a conformação histórica e social do país e suas particularidades, especialmente nas áreas rurais. Desta forma, é possível afirmar que a pobreza rural não pode ser concebida como um fenômeno natural, pois se trata de um processo sócio-histórico construído pelo homem. Nesta perspectiva analítica adotada, a pobreza tem seus determinantes centrais de ordem estrutural.

Historicamente, nota-se, desde os primórdios da colonização, a natureza exploratória e predatória dos recursos disponíveis no território. Se no passado colonial o caráter dessa exploração se encontrava assentado na grande propriedade privada da terra e no trabalho escravo, hoje ele permanece amparado na grande propriedade privada das terras e no trabalho livre, que é seu substrato de acumulação e de valorização. Este movimento condicionou e ainda condiciona grande parte da vida material do país. Os traços gerais dessa materialidade econômica se circunscrevem no tempo presente à exploração econômica agrícola em grandes propriedades, na monocultura e nas commodities que dominam o cenário produtivo agroindustrial do país.

Caio Prado Júnior resumiu este processo com a seguinte expressão: “somos hoje o que nós éramos ontem”. Na verdade, aqui ele discutia a formação histórica da economia rural brasileira, a qual se assentou em três pressupostos básicos: monocultura em grandes propriedades; relações de trabalho escravocrata; e produção voltada para o exterior. E é a partir desses três elementos que podemos encontrar grande parte dos determinantes da pobreza rural, inclusive nos dias atuais.

Por exemplo, uma pesquisa realizada pelo IICA no ano de 2011 sobre “a nova cara da pobreza rural” trouxe diversas evidências na direção da abordagem aqui adotada. Assim, estudos da região Centro-Oeste mostraram que naquele local a pobreza não é apenas uma questão de renda, uma vez que ela tem sua maior expressão exatamente nas áreas de pecuária extensiva, que são espaços geográficos dominados pelos latifúndios e onde se observam elevados índices de concentração da terra. Da mesma forma, estudos da região amazônica mostraram que os determinantes da pobreza naquela região dizem respeito à falta de dotação de recursos e às relações de trabalho. No que diz respeito à dotação de recursos, o principal deles é a falta de terra, ao passo que no tocante às relações de trabalho, verificou-se que ainda permanecem formas de trabalho escravo.

Já em algumas partes da região Nordeste observou-se um processo em curso de concentração das terras em três atividades: fruticultura, cana-de-açúcar e soja, todas elas voltadas à exportação. Neste caso, notou-se uma “precarização” da pobreza rural, uma vez que os antigos proprietários autônomos agora estão sendo reduzidos à condição de ex-proprietários e submetidos a relações de trabalho precárias, especialmente em termos da renda recebida. Nestes locais, observou-se que há um processo de modernização em curso. Todavia, o mesmo está sendo comandado cada vez mais por uma minoria de empresas e grandes produtores que possuem capital para dar sustentação a esta lógica produtiva. É exatamente essa modernização que está fortalecendo a raiz “fundante” de todo processo de exclusão social e de geração de pobreza, porque ela não altera as questões histórico-estruturais, como a concentração da terra, as relações seculares de dominação e de expropriação do trabalho pelo capital.

Vimos anteriormente que a grande maioria das famílias residentes em áreas rurais e classificadas como extremamente pobres no Brasil se concentra na região Nordeste, com destaque para a parte do Semiárido. Nestes locais, destacam-se três fatores como determinantes da pobreza: a privação do acesso à água; a privação do acesso à terra; e a ocorrência sistemática das secas, fenômeno que acaba impondo diversas outras restrições, especialmente em termos de acesso a trabalho. Decorrem daí distintos movimentos migratórios temporários para outras regiões do país, especialmente para a colheita da cana e do café no Centro-Sul. Este processo submete uma parcela expressiva dessa população a condições de trabalho degradantes. Mesmo que temporariamente esses migrantes consigam participar do mercado de trabalho, as relações de trabalho e os rendimentos obtidos são extremamente precários, conforme está amplamente documentado pela literatura especializada. Para se ter uma ideia da dimensão do problema, basta citar que até recentemente uma das principais reivindicações das organizações sindicais rurais era a assinatura da carteira de trabalho, o que garantiria a esses trabalhadores o acesso a alguns benefícios sociais.

Em outro extremo do país, na região Sul, o fenômeno da pobreza rural tem maior expressão também nas microrregiões onde predominam os latifúndios, destacando-se os campos de Guarapuava (PR), as regiões das Missões e da Campanha (RS) e o Planalto Serrano, em Santa Catarina. Em todos esses locais, verifica-se um fenômeno correlacionado: as microrregiões com maior concentração de terras são exatamente aquelas que apresentam os maiores índices de pobreza rural.

Todos esses exemplos são fortes indicativos de que não podemos continuar tratando o problema da pobreza rural como um mero indicador monetário, abstraído a partir da renda per capita familiar. Aqui claramente a pobreza assume a característica de um processo histórico-estrutural marcado pelas contradições sociais ainda presentes na sociedade rural brasileira, ao mesmo tempo que se revela como um fenômeno multidimensional, que poderá ser mais bem compreendido quando se utiliza a abordagem das privações.

Além disso, no caso brasileiro, a pobreza rural também está fortemente associada ao rápido processo de industrialização e de urbanização do país ocorrido a partir da segunda metade do século XX, o qual revelou uma grande contradição: por um lado, verifica-se que ocorreu uma forte expansão da produção física de mercadorias em todas as atividades econômicas, mas, por outro, foram estabelecidos mecanismos que restringiram o acesso a esse conjunto de bens produzidos, o que proporcionou um alto grau de exclusão social, cujo resultado mais visível é a existência até os dias de hoje de elevados índices de pobreza.

De uma maneira geral, pode-se dizer que esse modelo de desenvolvimento institucionalizou a pobreza rural pelos seguintes mecanismos: através da concentração fundiária, que expropriou parte dos camponeses das áreas rurais; através do uso intensivo de tecnologias modernas, que desempregou muita gente; através das relações precárias de trabalho, que degradaram e ainda degradam a vida dos trabalhadores rurais; e através do incentivo à urbanização acelerada, que esvaziou parte do espaço rural do país.

É exatamente nesta direção que a questão agrária deve retornar para o centro da agenda de discussões das políticas públicas de erradicação da pobreza rural. Por mais que as teses “produtivistas” defendam que o país já resolveu o problema da produção agropecuária sem precisar fazer qualquer reforma em sua estrutura agrária – porém sem resolver o problema da pobreza – trata-se de afirmar, à luz dos conhecimentos da história, da economia política e da sociologia política, que a questão agrária brasileira não pode ser relegada a um segundo plano quando se definem e implementam políticas públicas com o objetivo de erradicar a pobreza, seja ela extrema ou qualquer outra expressão que se queira utilizar.

Como a propriedade da terra é um ativo de alto valor econômico que se valoriza constantemente, entendemos que a busca de soluções para a questão da pobreza rural brasileira não pode ser dissociada dos marcos da estrutura agrária secular, que é um dos elementos determinantes da própria pobreza a ser erradicada. Do contrário, teríamos de aceitar as teses conservadoras que estão ganhando espaço nos últimos anos, as quais afirmam que essa massa da população excluída – e que no âmbito governamental está sendo denominada de “pobreza extrema” – não deveria ser contemplada pelas distintas políticas para o meio rural do país devido ao baixo resultado produtivo apresentado. Segundo os defensores dessas ideias, para estes segmentos sociais deveriam ser destinadas apenas políticas de transferência de renda.

Diante desse contexto, resta-nos questionar: é realmente esta solução que o projeto democrático de desenvolvimento nacional deveria oferecer para mais da metade da população rural?

(*) Professor dos cursos de Graduação e Pós-Graduação em Economia e de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC, e Pesquisador do OPPA-CPDA-UFRRJ. E-mail: l.mattei@ufsc.br
Fonte: Carta Maior