Dona
Pandá recebeu um presente. Quem lhe deu foi Agnaldo, o
pedreiro-eletricista-encanador que está fazendo uma reforma no sítio Catita. A
casa – 21 de Maio – onde Dona Pandá está morando fica atrás da casa principal
do sítio. Agnaldo chegou cedo com o mimo e Dona Pandá estava bastante ansiosa,
acordou várias vezes e ficava pensando se havia feito bem em aceitar o presente
e, como é seu costume, levantou várias hipóteses positivas e outras tantas
negativas.
Ele
chegou - uma graça, pequenininho, amarelo, pelos arrepiados, olhos verdes,
expressivos – recebeu o nome de Chê.
Em
sua Chácara Xury, Dona Pandá teve o Ernesto, a Ilda e o Ramon. Agora, veio,
então, o Chê. No seu romance Ilda e Ramon - Sussuros de Liberdade,
Dona Pandá fala de seus bichinhos. É claro, que ela acha que Guevara é o homem
a ser admirado e seus gatos são sempre uma homenagem a ele.
Chê,
o gato – não que o guerrilheiro não tenha também sido um gato – encontrou no
sítio duas moradoras caninas, Lau e Bela, que iniciaram imediatamente um
processo esquisito de boas-vindas. A experiência de Dona Pandá com o
compartilhamento do espaço entre caninos e felinos lhe sugere prudência, muita
prudência. Lau e Bela têm um relacionamento próximo ao de amor e ódio, onde a
nota dominante é o recíproco ciúme. Chê, mesmo petitito sabe que apesar da
vontade de brincar e da proximidade das residentes, deve se mostrar pouco
dócil. O resultado, no primeiro encontro, foi fortalecer a prudência de Dona
Pandá. Lau e Bela querem saber tudo do novo habitante da casa 21 de Maio, onde
as portas são abertas com a proteção de grade. Felino de dentro, caninas de
fora. Dona Pandá quer saber até quando terá que fazer o severo monitoramento
dessas relações. Quando relaxa um pouco, já que os três parecem tão amigáveis,
eis, de repente, um rosnado e tudo volta ao início: tensão e novo chamado da
prudência.
Pode-se
dizer que Dona Pandá seja quase nada prudente. O que aparece mais nesta senhora
é uma certa tendência a aventuras. Pensando melhor há uma grande contradição
para uma só pessoa. Quer planejar tudinho como se a vida fosse algo
controlável. Quer ter o controle desde que nada a controle. O Chê vai lhe
proporcionar momentos de grandes exercícios na maratona aventura prudente.
O
filhote está com dois meses e já recebeu uma crueldade neste mundo dos humanos:
mataram sua mãe. Ele tem uma vantagem enorme, não sabe das delícias filiais proporcionadas
pelos cuidados maternos, não as conheceu, não sente sua falta. Busca, porém
calor de colo, aconchego, instintivamente vai atrás dos cuidados de que precisa
e Dona Pandá tenta oferecer o que ele procura.
Chê,
no mesmo dia em que chegou, já usou o banheiro com a areia higiênica, achou a
água e o alimento. À noite a estória é outra, tem o domínio total da situação.
Quantas opções de cama lhe foram oferecidas, quantas serviram de trampolim para
a cama de Dona Pandá. Este é o atual desafio: fazer o Chê entender que é norma
da casa dormir sozinho.