Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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domingo, 29 de janeiro de 2012

Nanotecnologia: investimentos crescem, falta de informação também


A falta de informações dentro e, principalmente, fora do meio científico sobre nanotecnologias, seus benefícios, riscos, influências na vida cotidiana e seus reflexos na organização mundial foi tema de um debate no Fórum Social Temático, em Porto Alegre. "Cerca de 30% do PIB dos EUA está sendo endereçado às indústrias nanotecnológicas e a população não tem informações sobre o uso desses recursos", alertou Ian Illuminato, da "Friends of Earth".

     Porto Alegre - O crescimento dos investimentos destinados a estudos baseados em nanotecnologia chama atenção para a dita “Nova Revolução Industrial” que já está inserida no cotidiano da população mundial. O assunto foi discutido em duas oficinas apresentadas pela Rede de Pesquisas em Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente (RENANOSOMA) e debatido entre representantes do meio acadêmico, de movimentos sociais e a população em geral nos dias 26 e 27 durante o Forum Social Temático.
    As alterações nos modos de trabalho, as interferências nanotecnológicas diretas na saúde, seus impactos na economia e a preocupação ambiental com as partículas produzidas nessa ordem de grandeza (nanopartículas) foram apresentados pelos debatedores e discutidas entre os participantes.
     Tendo como base a idéia de que “inovação” é a nova palavra de ordem nas agências brasileiras de financiamento às pesquisas, o destaque foi dado para a necessidade de engajamento entre cientistas e redes sociais na divulgação do tema entre os mais variados segmentos da sociedade.
     O ecólogo Ian Illuminato, representante da “Friends of Earth”, defendeu a determinação de políticas para proteger o público contra os riscos inerentes à utilização crescente de nanomateriais em produtos cosméticos, protetores solares e uma infinidade de outros produtos de consumo. Illuminato destacou, ainda, que a falta de estudos sobre os riscos envolvidos na utilização de nanopartículas é uma questão que merece destaque, uma vez que já é sabido que esse tipo de material ultrapassa a barreira sangüínea no cérebro e na placenta.
     Illuminato enfatizou que cerca de 30% do PIB americano está sendo endereçado às indústrias nanotecnológicas ou baseadas em quantum e a população não tem informações sobre o uso desses recursos. “Primeiro é preciso educar a sociedade sobre o assunto para que se crie um discurso sólido de cobrança junto ao poder. Nosso corpo faz bilhões de reações científicas e, portanto, somos todos cientistas. Sendo assim, esse assunto nos importa muito”, enfatizou Illuminato.
     O Professor Wilson Engelmann (Direito/UNISINOS) defendeu que o direito à informação é garantido pela Constituição e requisito básico da cidadania, destacando que a falta de uma legislação específica sobre o controle da pesquisa e produção de nanoprodutos é um tópico importante e que o Brasil está entrando timidamente na discussão sobre nanotecnologia. Engelmann comentou, ainda, que os riscos para os trabalhadores envolvidos na produção e manipulação desses produtos certamente terá reflexos imediatos no cenário jurídico brasileiro, principalmente no que diz respeito a contratos e insalubridade.
     Da platéia, o Professor Ricardo Neder (UnB) lembrou que a comunidade científica ficou sem autonomia na América Latina pós-ditaduras e que a exigência por produção cientifica atribuída aos cientistas influencia de diferentes maneiras na forma de fazer ciência e tecnologia. Além disso, não há instrumentos tecnológicos suficientes para legislar sobre o tema, destacou Neder.
     Para o coordenador da atividade, o sociólogo Paulo Martins (RENANOSOMA), a falta de informações dentro e, principalmente, fora do meio científico sobre nanotecnologias, seus benefícios, riscos, influências na vida cotidiana e seus reflexos na organização mundial é a principal demanda a ser combatida. O processo de distribuição do financiamento à pesquisa está majoritariamente nas mãos da comunidade científica. No entanto, não há fomento previsto para as pesquisas sobre os impactos da nanotecnologia na sociedade e no meio ambiente, destacou o Professor Martins.
Fonte: Carta Maior

Paulo Vanzolini e a sabedoria do boêmio


     Noite dessas, Paulo Vanzolini sonhou com uma poesia de Olavo Bilac que decorou quando ainda era rapazote. Os versos, que são muitos, vieram por inteiro. Aos 88 anos, o autor de composições que atravessaram gerações sem perder a força, como Ronda e Homem de Moral, conserva a prodigiosa memória e se mantém imperturbável diante da fama.

Por Ana Ferraz, em Carta Capital


     Considerado por muitos o embaixador do samba de São Paulo, ele agradece o epíteto. “Não é verdade, mas eu gosto”, diz, sorriso nos lábios. Acomodado numa poltrona de couro na modesta casa do Cambuci, “bairro cheio de bares ótimos”, o homem culto que cresceu rodeado de livros e se tornou zoólogo de reputação internacional põe em perspectiva a criação de uma vida, 70 composições e 155 trabalhos científicos. “Que glória é essa, meu Deus”, questiona, num lapso, o declarado ateu, bisneto de anarquista. “É uma glória muito humilde. Não tenho motivos para ser vaidoso.”
     Nesta sexta (27), semana em que São Paulo completa 458 anos, Vanzolini concederá ao público o privilégio de tê-lo na Choperia do Sesc Pompeia. Instalado numa mesa, cervejinha à mão, o artista acompanhará alguns de seus grandes sucessos, interpretados por Ana Bernardo e Carlinhos Vergueiro. Entre uma canção e outra, o show será pontuado pelas reminiscências do compositor que, junto com Adoniran Barbosa, de quem foi “amigo de muitas cachacinhas”, traduziu a cidade de forma definitiva.
     “Adoniran era ótima pessoa, nos dávamos muito bem. O cara mais desligado que já conheci. Vinha de família italiana do Vêneto. De menino o chamavam de Joanim.” Os longos papos entre Vanzolini e João Rubinato (Adoniran), que em sua simplicidade dizia não entender bem o que o cientista fazia (“ele mexe com zoológico, sei lá”), jamais renderam samba. “Sempre me pedem para contar como era nossa conversa. Era muito cotidiana. Não tinha nada demais. Era nossa conversa.”
     A famosa Tiro ao Álvaro, relembra, surgiu como um presente do jornalista e escritor Osvaldo Molles ao amigo Adoniran. Foi Molles também o criador do personagem Charutinho, de tiradas engraçadas embaladas por sotaque italianado, que interpretou com grande sucesso na Rádio Record. 
     “Adoniran acabou assumindo na vida real o personagem da ficção. No fundo, ele era mesmo só o Joanim.” Quando a saudade aperta, Vanzolini dirige-se ao Mercado Municipal, o Mercadão da capital paulista. “Colocaram uma estátua do Adoniran numa mesa. De vez em quando vou lá tomar uma cerveja com ele.”
     A prosa animada de repente silencia. O olhar do compositor vagueia pela sala, ambiente que Ana Bernardo, sua atual mulher, define como “totalmente masculino”. Justifica-se a quase queixa: sobre um aparador, uma grande cobra de madeira exibe a boca aberta (souvenir comprado na Espanha). A seu lado, outra, bem mais modesta nas medidas, porém, verdadeira, exibe-se sobre um tronco. 
     Para alívio dos visitantes, o exemplar não se move, foi plastificado graças a uma técnica especial. A terceira fica na mesinha de centro. Ao lado da porta de entrada, o cabideiro dá pistas sobre a atividade profissional do dono da casa. Ali estão os chapéus que Vanzolini usava para adentrar o mato em busca de bichos.
     Foi com a zoologia que o boêmio ganhou a vida. Ele fez-se médico pela Universidade de São Paulo somente para facilitar o doutorado em zoologia, em Harvard, nos EUA. Especialidade: répteis. “Nunca examinei um doente na vida.” Por motivos óbvios, tem grande apreço por lagartos e lagartixas. Até hoje mantém a postos seu kit de pegar bicho. 
     No ano passado, uma editora reuniu toda a sua produção científica. Também em 2011, a Fundação Conrado Wessel concedeu seu prêmio máximo a Vanzolini. “Vou receber em junho, na Sala São Paulo. É bom pra burro, são 300 mil reais”, admira-se. “Só que vou ter de pagar Imposto de Renda.”
      Em um ano repleto de homenagens, Vanzolini receberá a Medalha Armando de Salles Oliveira. Um gesto de reconhecimento ao homem de números científicos robustos: 47 anos de trabalho no Museu de Zoologia, 31 deles como diretor, 40 mil animais capturados e a construção do mais completo acervo sobre répteis da América do Sul. A paixão pelos tais bichos começou quando ele ainda era imberbe. Aos 14 anos já estagiava no Instituto Biológico, onde foi iniciado na branquinha. “Todo fim de expediente rolava uma cachacinha, eu ganhava meia.”
     No rastro dos répteis, muitas histórias. “Durante um trabalho na Argentina, fui comprar um disco da Mercedes Sosa e saí de braço dado com um soldado”, diverte-se. “O agente da polícia queria saber por que eu estava comprando aquele disco. Disse: ‘Ela é uma boa cantora’. O sujeito ficou olhando na minha cara. Me ameaçou, mas não podia fazer nada.”
     Em tempos de ditadura, Vanzolini foi surpreendido por um convite impossível de ser recusado. O general Golbery do Couto e Silva, o “feiticeiro” do regime militar, o convocava a Brasília. Sem mais explicações. Enviou passagem aérea e limusine com motorista. “Ele mandou me chamar para passar um sabão. Queria me dizer que eu era contra o governo. E eu era. Me disse que isso poderia dar mau resultado.” Com calma inabalável, o cientista retrucou: “Isso vai depender de quem aguentar mais tempo, nós ou vocês”. Conversa encerrada, voltou para São Paulo.
     Foi durante o tempo em que serviu na cavalaria que Vanzolini compôs um de seus maiores sucessos, Ronda, clássico que adquiriu a impressão digital de Márcia, sua mais reconhecida intérprete. “Eu sou Ronda”, já assumiu a cantora ao autor. A música é líder de pedidos nos karaokês até hoje. “As japonesas são as que mais pedem. No bar em que a Ana canta, vem escrito no guardanapo: Honda”, conta o compositor, rindo. 
     A verdade, confessa, é que sua relação com a canção inspirada nas mulheres que observava no entra e sai dos bares à procura dos parceiros se desgastou. “Sabe o que as minhas filhas dizem? Fez, agora aguenta!” Vanzolini argumenta que a composição, de melodia pungente, é uma piada. “Começa dando a impressão de que a mulher procura o sujeito para se reconciliar, mas é para desperdiçar um pente de revólver.”
     Vanzolini começou a compor quando frequentava a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo. Diz não ter ideia de qual foi a primeira composição. “Aliás, lembro, mas joguei fora, não prestava.” Outra meia dúzia teve a mesma infausta sorte. A criação favorita? “Não me ocorre nenhuma.” 
     Dali a pouco cita aquela que considera uma de suas melhores, Longe de Casa eu Choro. “Fiz em Cambridge, pensando em São Paulo. Era uma poesia minha. O Paulinho Nogueira pegou o livro e disse: ‘Você não é poeta, é sambista. Aqui está cheio de letras de samba esperando música’. Paulinho era meu amigo de infância. Fez a melodia com Eduardo Gudin.” Outra que também teve o auxílio luxuoso de Paulinho Nogueira é Valsa das Três da Manhã. “Paulinho era um sujeito de qualidade humana excepcional.” A que mais rendeu? “Só uma deu dinheiro, Volta por Cima. Comprei livros para o Museu de Zoologia.”
     Paradoxalmente, e para assombro de quem não o conhece, Vanzolini nada sabe de música. “Tenho péssimo ouvido. Não sei ler música, não sei o que é acorde”, jura. “Meu professor foi o rádio.” O método para preservar as composições consistia em decorá-las. “Se esquecesse perdia tudo. Dá uma mão de obra danada, por isso larguei”, diz. “Fica uma coisa obsessiva. Até que a música saia você não pensa em outra coisa.” O método Vanzolini de compor é outro mistério. “Inspiração a gente procura. Na cabeça. Geralmente começa com uma frase. Aí vem tudo junto, letra e melodia.”
     Para quem supõe haver sempre algo autobiográfico em cada letra, o mestre desmente. “Nunca sofri com dor de cotovelo, por exemplo, é só um tema.” Na belíssima Quando Eu For Eu Vou sem Pena, interpretada por Chico Buarque em Acerto de Contas, coleção com quatro CDs que reúne a obra do autor (“essa caixa completou a minha vida”), o tom é triste. Uma tocante despedida. Mas não se trata exatamente disso. A inspiração atende pelos nomes de Miriam, Marina, Carol e Cris. “Eu estava numa fazenda, durante excursão do museu. Comecei a pensar em como seria quando partisse”, conta. “Eram as alunas que estavam ali, ele fez para elas”, entrega Ana Bernardo, diante do olhar risonho do poeta fingidor.
     Boêmio de carteirinha, mulherengo apenas “na medida da necessidade”, Vanzolini adorava percorrer as ruas de São Paulo até altas horas, sozinho. Nesse périplo pela então metrópole da garoa, fez várias descobertas. “Uma vez abri uma porta e descobri os Macambiras. De outra, Virgínia Rosa.” Ana Bernardo, companheira dos últimos 15 anos, também foi um encontro patrocinado pela música. A filha do fundador dos Demônios da Garoa encantou o compositor com sua voz firme e melodiosa. “Ela entende a música que canta. É minha melhor intérprete.”
     Autodefinido sambista tradicional, Vanzolini mantém o entusiasmo pela música. Ouve com admiração Noel Rosa, Dorival Caymmi, Nelson Cavaquinho, Sílvio Caldas, Cartola e Paulinho da Viola, entre outros grandes. E considera-se realizado. “Estou recebendo mais do que esperava. É muita recompensa no fim da vida”, comenta, com a sabedoria dos modestos. Na segunda-feira que antecede o carnaval, a Banda Redonda, fundada por Plínio Marcos, vai homenageá-lo. O enfarte que lhe surpreendeu em 2004, roubando-lhe 70% da capacidade cardíaca, provou ser incapaz de deter o poeta. “Estarei lá, lógico”, garante, com brilho no olhar.

O Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo


FST lembra o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo


Luana Lourenço
Enviada Especial da Agência Brasil
Porto Alegre – O Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo será lembrado hoje (28) em uma sessão especial do Fórum Social Temático (FST), que vai analisar a relação entre o trabalho escravo e os danos ao meio ambiente.
O debate vai reunir a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário e o procurador-geral do Ministério Público do Trabalho, Luís Antônio Camargo, com mediação do jornalista e cientista político Leonardo Sakamoto, da organização não governamental (ONG) Repórter Brasil, que denuncia situações de trabalho análogo à escravidão.
Além do ato em Porto Alegre, a mobilização pelo Dia Nacional de Combate o Trabalho Escravo inclui atividades em mais oito estados para chamar atenção para o problema e cobrar avanços, como a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição 438/2001, conhecida como PEC do Trabalho Escravo. Em Brasília, o Ministério do Trabalho lançou esta semana o Manual de Combate ao Trabalho em Condições Análogas ao de Escravo.
O dia 28 de janeiro foi instituído como Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo como uma forma de homenagear os cinco auditores fiscais do Trabalho assassinados durante uma fiscalização rural na cidade mineira de Unaí, em 2004. O crime ficou conhecido conhecido como Chacina de Unaí. Oito anos depois, dos nove acusados de participação nos assassinatos, quatro estão em liberdade, beneficiados por habeas corpus, entre eles o atual prefeito de Unaí, Antério Mânica, e o irmão dele, Norberto Mânica. Cinco estão presos, mas ninguém foi julgado ainda.
Acompanhe a cobertura completa do FST 2012 no site multimídia da Empresa Brasil de Comunicação (EBC)
Edição: Vinicius Doria
 

sábado, 28 de janeiro de 2012

De: Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida


CINCO ESCLARECIMENTOS SOBRE AGROTÓXICOS, ALIMENTOS ORGÂNICOS E AGROECOLÓGICOS.
27 de janeiro 2012.

   Na primeira semana de 2012, veículos da mídia de grande circulação divulgaram informações parciais e incorretas sobre o uso de pesticidas nos alimentos.

   Nós, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, contestamos essas informações e, com base no conhecimento de diversos cientistas, agrônomos, produtores e distribuidores de alimentos orgânicos, aproveitamos essa oportunidade para dialogar com a sociedade e apresentar nossos argumentos a favor dos alimentos sem venenos.

1 - O nome correto é agrotóxico ou pesticida e não “defensivo agrícola”.
   Como afirma a engenheira agrônoma Flavia Londres: “A própria legislação sobre a matéria refere-se aos produtos como agrotóxicos.”
   E o engenheiro agrônomo Eduardo Ribas Amaral complementa: “Mundialmente o termo utilizado é ‘pesticida’. Não conheço outro país que adote o termo ‘defensivo agrícola”.

2 - O nível de resíduos químicos contido nos alimentos comercializados no Brasil é muito preocupante e requer providências imediatas devido aos sérios impactos que gera na saúde da população.
   Voltamos a palavra à engenheira agrônoma Flavia Londres: “A revista se propõe a tranquilizar a população, certamente alarmada pelo conhecimento dos níveis de contaminação da comida que põe à mesa. Os entrevistados na matéria são conhecidos defensores dos venenos agrícolas, alguns dos quais com atuação direta junto a indústrias do ramo. Os limites ‘aceitáveis’ no Brasil são em geral superiores àqueles permitidos na Europa – isso pra não dizer que aqui ainda se usam produtos já proibidos em quase todo o mundo”.
   O engenheiro agrônomo Eduardo Ribas Amaral nos traz outra informação igualmente importante: “A matéria induz o leitor a acreditar que não há uso indiscriminado de agrotóxicos no país, quando a realidade é de um grande descontrole na aplicação desses produtos, fato indicado pelo censo do IBGE de 2006 e normalmente constatado a campo por técnicos da extensão rural e por fiscais responsáveis pelo controle do comércio de agrotóxicos”.
3 - Agrotóxicos fazem muito mal à saúde e há estudos científicos importantes que demonstram esse fato.
   Com a palavra a Profª Dra. Raquel Rigotto, da faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará: “No Brasil, há mais de mil produtos comerciais de agrotóxicos diferentes, que são elaborados a partir de 450 ingredientes ativos, aproximadamente. Os agrotóxicos têm dois grandes grupos de impactos sobre a saúde. O primeiro é o das intoxicações agudas, aquelas que acontecem logo após a exposição ao agrotóxico, de período curto, mas de concentração elevada. O segundo grande grupo de impactos dos agrotóxicos sobre a saúde é o dos chamados efeitos crônicos, que são muito ampliados. Temos o que se chama de interferentes endócrinos, que é o fato de alguns agrotóxicos conseguirem se comportar como se fossem o hormônio feminino ou masculino dentro do nosso corpo; enganam os receptores das células para que aceitem uma mensagem deles. Com isso, se desencadeia uma série de alterações – inclusive má formação congênita; e hoje está provado que pode ter a ver com esses interferentes endócrinos. Pode ter a ver com os cânceres de tireóide, pois implica no metabolismo. E cada vez temos visto mais câncer de tireóide em jovens. Pode ter a ver com câncer de mama. E também leucemias, nos linfomas. Tem alguns agrotóxicos que já são comprovadamente carcinogênicos.Também existem problemas hepáticos relacionados aos agrotóxicos. A maioria deles é metabolizada no fígado, que é como o laboratório químico do nosso corpo. E há também um grupo importante de alterações neurocomportamentais relacionadas aos agrotóxicos, que vão desde a hiperatividade em crianças até o suicídio.”

     De acordo com o relatório final aprovado na subcomissão da Câmara dos Deputados que analisa o impacto dos agrotóxicos no país (criada no âmbito da Comissão de Seguridade Social e Saúde), há realmente uma “forte correlação” entre o aumento da incidência de câncer e o uso desses produtos. O trabalho aponta situações reais observadas em cidades brasileiras. Em Unaí (MG), por exemplo, cidade com alta concentração do agronegócio, há ocorrências de 1.260 novos casos da doença por ano para cada 100 mil habitantes, quando a incidência média mundial encontra-se em 600 casos por 100 mil habitantes no mesmo período.
Como afirma o relator, deputado Padre João (PT-MG), “Diversos estudos científicos indicam estreita associação entre a exposição a agrotóxicos e o surgimento de diferentes tipos de tumores malignos. Eu concluo o relatório não tendo dúvida nenhuma do nexo causal do agrotóxico com uma série de doenças, inclusive o câncer”, sustenta. Fonte: Globo Rural On-line, 30/11/2011.

4 - Não é possível eliminar os agrotóxicos lavando ou descascando os alimentos já que eles se infiltram no interior da planta e na polpa dos alimentos.
   A única maneira de ficar livre dos agrotóxicos é consumir alimentos orgânicos e agroecológicos. Não adianta lavar os alimentos contaminados com agrotóxicos com água e sabão ou mergulhá-los em solução de água sanitária ou, mesmo, cozinhá-los. Os resíduos do veneno continuarão presentes e serão ingeridos durante as refeições.
Além disso é importante lembrar que o uso exagerado de agrotóxicos também faz com que estes resíduos estejam presentes nos alimentos já industrializados, portanto, a melhor forma de não consumir alimentos contaminados com agrotóxicos, é eliminar a sua utilização

5 - Os orgânicos não apresentam riscos maiores de intoxicação por bactérias, como a salmonela e a Escherichia coli.
   Segundo a engenheira agrônoma Flávia Londres: “Ao contrário dos resíduos de agrotóxicos, esses patógenos– que também ocorrem nos alimentos produzidos com agrotóxicos – podem ser eliminados com a velha e boa lavagem ou com o simples cozimento”.

A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida recomenda o documentário “O Veneno está na Mesa”, de Silvio Tendler, totalmente disponível no site da campanha (www.contraosagrotoxicos.org) bem como todos os materiais disponíveis na página.
Participe você também nos diferentes comitês da campanha organizados nos diversos estados do Brasil, para maiores contatos envie e-mail para contraosagrotoxicos@gmail.com

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Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
Secretaria Operativa Nacional
fone: (11) 3392 2660 / (11) 7181-9737
site: www.contraosagrotoxicos.org

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Um mimo para os leitores do blog:


Autobiografia 

Guilherme Cintra Januário

Antes de prosseguirmos,
permita-me apresentar
quem um dia será meu maior amor.
A caneta me escreve Guilherme;
neste mundo, dezessete anos,
quatorze de escola,
muito longe do verdadeiro saber,
e apenas dois de papel, caneta e sentimento.
Sou filho das Minas,
as mesmas que nos deram Rosa e Drummond;
as mesmas onde, numa esquina,
homens provaram aos homens que são deuses;
as minas que carregam em suas vestes
a liberdade, ainda que tardia.
Sou também filho do Brasil,
o país onde, na falta de comida,
come-se arte.
A nação com cinco séculos de lágrimas
e sonhos abortados.
Mas antes de tudo, sou filho da Terra,
a mesma que tanto sugamos
e tanto amamos,
a mesma que me deu a serra.
Nasci sob um sol de Áries,
filho de sangue ariano.
Nasci do fogo e ao nada retornarei,
deixando apenas um rastro de calor
e a memória da existência.
Como insistem meus donos,
sou menino e nada sei,
nada amei.
Mas isto não me impede buscar a ignorãnça,
e cometer a sóbria insanidade
que é amar.
Sou aprendiz de poeta
logo, de homem, deus e amor
Sou poeta sem traços, sem rosto,
mas em busca de identidade,
da eterna musa,
da música.
Guilherme Cintra Januário. Vida em Poesia.

Artistas criticam truculência do governo e Alckmin passa vexame

Nesta terça-feira (24), a cerimônia de entrega do Prêmio Governador do Estado para Cultura 2011, em São Paulo, foi palco de mais um protesto contra a truculência empreendida pelo governo do Estado em operações policiais recentes. 

Em seu discurso de agradecimento, os diretores do filme "Trabalhar Cansa", Juliana Rojas e Marco Dutra, que conquistaram o prêmio, leram um manifesto de cerca de três minutos. No texto, eles criticaram os episódios de violência contra a população na Universidade de São Paulo (USP), a operação sufoco realizada na região da "Cracolândia" e a ação de desocupação urbana Pinheirinho, em São José dos Campos, interior paulista. 

Para os cinestas, mais uma vez, o governo assume a dianteira e garante "os interesses da seleta casta de milionários e bilionários. A política do coturno em prol do capital vem ganhando espaço. Assim está acontecendo na higienização do bairro da Luz, em São Paulo, preparando-o para a especulação imobiliária; assim vem acontecendo na repressão ao movimento estudantil na USP, minando a resistência à privatização do ensino; assim acontece no campo brasileiro há tanto tempo, em defesa do agronegócio", protestaram eles.

 

Fonte: Brasil de Fato

BANDA LARGA COM QUALIDADE É NOSSO DIREITO


VAMOS PARTICIPAR DA CAMPANHA DO  IDEC  

Amigas e amigos do Idec,

     Outubro do ano passado nós nos unimos para pressionar o Conselho Diretor

da Anatel a aprovar as tão aguardadas metas de qualidade para o serviço 
de banda larga. Graças às mais de 80.000 mensagens enviadas através
 da Campanha Banda Larga é um direito seu!, do Idec e da Avaaz, nós 
conseguimos finalmente metas para regulamentar a qualidade da Internet no Brasil.
     Agora a Oi quer jogar tudo por água abaixo. A empresa teve a 
coragem de enviar um pedido formal à Anatel pedindo a anulação
das metas de qualidade que conquistamos. Diante disso, a agência 
abriu consulta pública que vai até 1º de fevereiro para que a sociedade
se manifeste.
     Precisamos expor a Oi publicamente por lutar contra os interesses dos
consumidores e pedir para a Anatel se manter firme nas metas 
aprovadas ano passado. Clique abaixo para enviar mensagens
para a Anatel e para a Oi, defendendo a qualidade da banda larga:


www.idec.org.br/mobilize-se/campanhas/oicontraqualidade 

     Nossos amigos da Campanha Banda Larga é um direito seu! estão
preparando um tuítaço para a próxima segunda-feira dia 30 de
janeiro (concentração às 16h), pedindo para a Oi recuar no seu 
pedido de anulação das metas e para a Anatel se manter firme.
 Participe divulgando a campanha nas redes com o hashtag
 #OiContraQualidade.
      Ano passado provamos que a mobilização de consumidores

pode influenciar as decisões que nos afetam. Agora precisamos
fazer isso novamente, mostrando para a Oi que as suas ações 
contra a qualidade da banda larga só irão reverter em publicidade
 negativa para a empresa. Vamos expor a Oi por ir contra uma 
Internet de qualidade para os brasileiros. Participe e divulgue 
o link da campanha nas redes sociais: 


www.idec.org.br/mobilize-se/campanhas/oicontraqualidade 

Pela Internet de qualidade

Veridiana Alimonti 
Idec e Campanha Banda Larga é um direito seu!
Leia mais: 

Oi quer anular metas de qualidade da banda larga e Anatel pede opinião da sociedade: 
http://www.teletime.com.br/12/01/2012/oi-quer-anular-metas-de-qualidade-da-banda-larga-e-
anatel-pede-opiniao-da-sociedade/tt/257477/news.aspx

Oi quer anular critérios de qualidade na banda larga: 
http://www.idec.org.br/em-acao/em-foco/oi-quer-anular-criterios-de-qualidade-na-banda-larga

Sociedade rejeita pedido da Oi contra regras de qualidade na banda larga:
http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=29006&sid=4 

Anatel debate pedido de anulação de metas de qualidade na 3ª: 
http://tecnologia.terra.com.br/noticias/0,,OI5572721-EI12884,00-Anatel+debate+pedido+de+
anulacao+de+metas+de+qualidade+na.html

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Diretor da FAO quer tratar a fome como um tema de guerra


Em entrevista à Carta Maior, o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), José Graziano da Silva, fala sobre a prioridade da entidade para os próximos anos: a luta contra a fome no mundo. E Graziano quer transformar essa luta numa guerra: "O Século XXI não pode conviver mais com a fome. Estou defendendo que a segurança alimentar seja tratada no mesmo nível dos temas tratados no Conselho de Segurança da ONU, ou seja, como um tema de guerra. Essa é uma guerra que vale a pena".



     Porto Alegre - A Organização das Nações Unidas definiu 2015 como o ano para o cumprimento das Metas do Milênio. A primeira dessas metas é a erradicação da fome e da pobreza extrema. O objetivo é reduzir pela metade o número de famintos no mundo. O mundo está atrasado para o cumprimento dessa meta, sem falar da outra metade que nem estava incluída nela. 
     Em entrevista concedida à Carta Maior, na capital gaúcha, o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), José Graziano da Silva, fala sobre a prioridade da entidade para os próximos anos: a luta contra a fome no mundo. E defende que essa luta seja tratada como um tema de guerra, no mesmo âmbito daqueles que são tratados no Conselho de Segurança da ONU. Graziano também fala sobre as mudanças que pretende implementar na FAO (descentralização e desburocratização) e defende que o Brasil deve assumir maior responsabilidade no cenário global.
     Carta Maior: O senhor assumiu a presidência da FAO definindo como prioridade de seu mandato a luta contra a fome no mundo. O Fórum Social Temático 2012, que está sendo realizado em Porto Alegre, definiu como pauta os temas da justiça social e ambiental em meio à atual crise econômica internacional. Qual sua avaliação sobre essa agenda proposta pelo Fórum a partir da prioridade definida para a atuação da FAO no próximo período?
     José Graziano: Estou vindo da Alemanha, da chamada Semana Verde, que reúne os ministros da Agricultura da Europa. Este ano eles convidaram vários países africanos e caribenhos que se fizeram presentes. A mensagem que eu levei lá, em nome da FAO, que foi muito bem recebida e consta do comunicado final, é que a agricultura precisa ser vista não somente como parte do problema. Tem sido atribuído à agricultura uma responsabilidade que ela de fato tem: 30% da emissão de gases de efeito estufa hoje vem da agricultura e de atividades ligadas à cadeia agroindustrial. Essa é uma proporção elevada. Mas a agricultura não pode ser vista apenas como parte do problema. Ela é também parte da solução nestas duas áreas que você mencionou: na parte da justiça social e na parte ambiental. 
     Na parte da justiça social porque não é possível ter um desenvolvimento sustentável com fome. Essas duas agendas não podem conviver juntas, são excludentes. Deixar gente para trás, com fome, no século XXI, significa que nós não vamos alcançar justiça social. A fome está muito ligada à guerra, aos conflitos. Vimos, recentemente, exemplos como o do Haiti e de países árabes, onde a fome é um elemento detonador de conflitos sociais muito poderosos. Hoje, dos 30 países que enfrentam crises e conflitos internos no mundo todos têm uma proporção altíssima de pessoas passando fome, começando pela Somália, no chifre da África.
     A segunda agenda à qual a agricultura está relacionada é a do desenvolvimento sustentável. A agricultura é hoje uma fonte de emprego muito importante. Os mais pobres têm empregos agrícolas. Nos países mais pobres, na África, por exemplo, mais de 50% em muitos deles têm atividade agrícola. No Haiti, por exemplo, nós temos mais da metade da população na agricultura. E os pequenos proprietários são os mais afetados pela fome. A FAO calcula que aproximadamente 75% das pessoas que passam fome moram em áreas rurais.
     Então, o desenvolvimento do setor rural é fundamental para atingirmos um desenvolvimento sustentável. A convergência da agenda ambiental com a agenda da justiça social faz hoje da FAO uma entidade muito importante, que está se esforçando para estar presente nestes debates. Eu fiz um esforço para estar aqui hoje no Fórum Social e vou embora amanhã (terça, 24), viajando direto para Davos, na Suíça, para levar essa mensagem: que não há desenvolvimento econômico, não há desenvolvimento sustentável, se deixarmos para trás os países em desenvolvimento, se deixarmos para trás os mais pobres.
     Carta Maior: Quais são as prioridades da agenda global da FAO para 2012 e os próximos anos?
     José Graziano: Eu fui eleito em segundo turno, numa eleição muito difícil, aliás, com uma plataforma de cinco pontos. Hoje, estou tratando de convencer, principalmente aqueles que não votaram em mim, da oportunidade de abraçar essa plataforma. E tenho tido bastante sucesso nessa atividade. O primeiro ponto dessa plataforma é concentrar as ações da FAO no combate à fome. Temos o desafio para 2015 do cumprimento das Metas do Milênio e a primeira meta é a erradicação da fome e da pobreza extrema. Temos que correr muito para atingir a meta que é reduzir pela metade o número de famintos. Mas fica a outra metade. O que vamos dizer para ela? Quero envolver a FAO nisso. O Século XXI não pode conviver mais com a fome. Estou defendendo que a segurança alimentar deveria ser tratada no mesmo nível dos temas tratados no Conselho de Segurança da ONU, ou seja, como um tema de guerra. Essa é uma guerra que vale a pena.
     O segundo ponto é a defesa do meio ambiente. Nós temos que produzir mais, mas não podemos continuar agredindo o meio ambiente e desperdiçando recursos naturais como a gente vem fazendo. Estamos perdendo muito solo, muita floresta e muita água. Nós não aproveitamos sequer a água da chuva na maior parte dos países. O terceiro é ter um mecanismo global de coordenação mais eficiente. Hoje, temos sobre de alimentos de um lado e fome do outro. Temos que achar mecanismos de coordenação que permitam à FAO e a outras agências estar presentes junto com a sociedade civil e com o setor privado. Ninguém acaba com a fome sozinho. Daí a necessidade de uma coordenação global. Não dá para cada um seguir um caminho diferente. 
      A quarta bandeira é descentralizar a FAO. A organização está muito concentrada em Roma. Cerca de 75% dos nossos recursos são gastos em Roma e mais de 80% do nosso pessoal técnico está em Roma, quando deveria estar mais perto dos países. Fica muito caro mandar uma missão da Europa para atender um pedido no Peru ou na América Central, por exemplo. Precisamos ter esse pessoal mais próximo dos problemas, sem perder a massa crítica que temos em Roma. Se conseguirmos desburocratizar a FAO vai sobrar gente para colocar em campo e fazer o trabalho que a FAO tem que fazer. 
     E, finalmente, o quinto ponto é aumentar a cooperação Sul-Sul. Isso não quer dizer que somos contra a cooperação Norte-Sul, mas está na hora de países como o Brasil assumirem uma maior responsabilidade em nível internacional. O Brasil, até pouco tempo, era um país que recebia ajuda internacional e vai continuar recebendo em algumas áreas. Mas, em outras áreas, o Brasil hoje pode oferecer ajuda. E se há uma área de excelência que o Brasil tem é a agricultura, o desenvolvimento agrícola e políticas de combate à fome. Para isso, o Brasil precisa criar uma infraestrutura, uma institucionalidade para poder cooperar mais. Hoje, se a gente for dar um saco de arroz para o Haiti tem que pedir autorização ao Senado. Leva seis meses. Quando a ajuda chega lá,as pessoas já morreram de fome. Precisamos de uma agência de cooperação internacional do porte do Brasil, com os recursos necessários para se fazer presente no cenário internacional
     Carta Maior: Tanto a FAO quanto outros organismos do sistema ONU vêm tentando nos últimos anos convencer os governos, principalmente dos países mais ricos do mundo, a investir pesadamente nesta agenda da luta contra a fome e pela erradicação da miséria no mundo. Aparentemente, essa tentativa ainda enfrenta muita resistência e pouco retorno em termos de recursos. O que pode ser feito mais para modificar esse quadro?
     José Graziano: Nós estamos tendo sucesso neste processo de convencimento. Hoje, por exemplo, se olharmos para a nossa América Latina, a maioria dos países tem programas de segurança alimentar. Quando eu cheguei na FAO, em 2006, nós tínhamos só dois países que tinham leis de segurança alimentar na América Latina. Hoje nós somos dez e há outros dez países prestes a implementar leis de segurança alimentar garantindo para todos os seus habitantes o direito à alimentação. E os avanços não se resumem à questão alimentar. Hoje nós temos redes de proteção social na América Latina. Temos programas de transferência de renda, por exemplo. A gente acha que é só o Brasil. Parece que é jabuticaba. Mas não é jabuticaba. O Bolsa Família existe, com pequenas modificações, em 20 países latino-americanos, alcançando 120 milhões de pessoas hoje.
     Essa rede toda foi implantada depois da crise de 2007-2008. Antes disso, os países tinham programas-piloto muito pontuais e expandiram a cobertura dessas redes. O mundo está descobrindo isso hoje. Nós levamos, pela primeira vez, um programa de transferência de renda para a Somália. E deu certo. O resultado que temos na Somália, em seis meses de implementação de um programa Bolsa Família para pastores nômades, é uma coisa surpreendente. Então, o conjunto dessas políticas, que são de baixo custo e de fácil implementação, me permite dizer que a América latina hoje não só está exportando know-how em tecnologia social, como está dando um exemplo, do ponto de vista político, do compromisso dessa luta pelo desenvolvimento com igualdade social. A erradicação da fome é parte dessa agenda.
     Carta Maior: No final de 2011, houve uma redução no preço dos alimentos. Esse problema, da alta dos preços dos alimentos, na sua avaliação, está superado no médio prazo ou se trata de um tema ainda sujeito a oscilações?
     José Graziano: Infelizmente, nas duas últimas vezes que tivemos uma alta forte no preço dos alimentos, seguida por uma queda, como aconteceu no período 2009-2010 e agora no final de 2011, início de 2012, isso se deve muito mais a uma recessão mundial, a uma redução da atividade econômica. Isso é ruim, principalmente para os países em desenvolvimento. Países como a Índia, a China e o próprio Brasil precisam crescer para gerar emprego. Esses são países com uma população jovem, com milhões de pessoas entrando no mercado de trabalho todos os anos. A população mundial cresce 80 milhões por ano. Cerca de 40 milhões procuram entrar no mercado de trabalho anualmente. Esse aumento compulsório que temos todos os anos é a fonte de pressão permanente para a subida dos preços.
     Agora, essa não é uma questão malthusiana. Nós não estamos ameaçados de passar fome porque faltam alimentos. Hoje, a capacidade produtiva que nós temos daria para alimentar não só os 7 bilhões de pessoas que temos no mundo, mas os 9 bilhões que deveremos ter em 2050. Obviamente, expandir a produção tem a vantagem de permitir baratear preços. Esse é o dilema que enfrentamos hoje. 
     Precisamos aumentar a produção para termos mais estoques e não ficarmos sujeitos a variações bruscas de preços. E precisamos aumentar a produção para termos preços mais baixos. O problema do preço alto é que os mais pobres não podem comprar. E a fome hoje no mundo, insisto, não se deve à falta de alimentos, mas ao fato de que as pessoas não têm dinheiro para comprar alimento. E não tem dinheiro porque não tem emprego, quando tem emprego, muitas vezes é de má qualidade, ou tem uma renda muito baixa como é o caso da agricultura. Resolver esse dilema de como aumentar a renda das famílias e, ao mesmo tempo, baratear o preço dos alimentos é o que estamos tentando fazer na FAO.
     Carta Maior: O senhor mencionou como experiência positiva em distribuição renda o que vem sendo feito em diversos países da América Latina. Enquanto isso, nos Estados Unidos e na União Europeia a realidade é de crise, de desmantelamento de políticas de proteção social e de supressão de direitos. Em que medida isso pode prejudicar a luta contra a fome no mundo?
     José Graziano: Os países desenvolvidos, de modo geral, estão enfrentando a crise que os países em desenvolvimento enfrentaram nos anos 90. Vinte anos depois, a crise bateu na porta dos países desenvolvidos, por conta de um único elemento que foi a receita seguida de desregular a economia, de abri-la totalmente. A falta de regulamentação da atividade econômica, principalmente da atividade financeira, produziu toda sorte de problemas, inclusive uma especulação exacerbada que atingiu todos os setores da atividade econômica. Não há hoje um único setor produtivo que esteja livre da especulação financeira que acaba atingindo até mesmo os alimentos como a gente tem visto.
     Eu acho que a dificuldade vai ser encontrar um meio termo neste ponto. Não voltar a uma regulação estatista, como ocorreu em muitos países, mas não abrir caminho para uma total desregulação. Não é possível, por exemplo, equacionar o problema da fome se não tivermos instituições internacionais fortes e capazes de atuar rapidamente. Hoje, temos muita dificuldade de coordenar a atuação das diversas entidades envolvidas na luta contra a fome. Temos muitas instituições trabalhando com segurança alimentar, cada uma indo para um lado, cada país querendo fazer uma coisa diferente para salvar o mundo. Precisamos encontrar mecanismos de coordenação como, por exemplo, o Conselho de Segurança Alimentar Mundial, que hoje congrega a sociedade civil, governos e o setor privado. Precisamos reforçar esse tipo de entidade. Para tanto, elas precisam contar com algum poder de regulação junto aos Estados Nacionais.
     É muito comum, em uma situação de crise - quando começa a se dizer, por exemplo, que vai faltar arroz -, iniciar um processo de especulação. Os produtores de arroz suspendem a exportação. Isso pode ajudar o seu país a enfrentar a crise, mas, do ponto de vista global, acaba prejudicando. É como quando você está no cinema e a pessoa da frente levanta. Se todo mundo levantar, ninguém enxergará direito. Então, precisamos encontrar algumas regras que permitam, por exemplo, uma redução da especulação na atividade econômica. Precisamos de mecanismos por meio dos quais o sistema financeiro possa ser controlado pelos seus próprios bancos centrais e não por alguma instância externa. A Europa está enfrentando esse dilema e caminha na direção de uma coordenação maior de seus bancos centrais. Acho que está seguindo um bom caminho. Países que, às vezes, tentam se afastar dessa esfera de coordenação são punidos ou até mesmo convidados a se retirarem da União Europeia. Acredito que este seja um caminho para uma ação mais coordenada dos países desenvolvidos.
     Acho que há dois elementos que atrapalham neste momento. Em primeiro lugar, a forte pressão da dívida de alguns países, como é o caso da Grécia e da Itália, que acenam para a saída do corte de benefícios sociais. Creio que isso atrapalha no longo prazo. Pode ser que tenha havido muito exagero. Mas já há revisões em curso. Todos os países europeus, por exemplo, estão aumentando a idade da aposentadoria, não por pressão, mas pelo fato de que as pessoas estão vivendo mais e querem trabalhar mais. Então, não faz sentido manter a aposentadoria na idade dos 60 anos, como era o caso de 30, 40 anos atrás, quando esses sistemas foram implementados. A segunda coisa que prejudica muito é as pessoas acharem que, neste momento de crise, é preciso gastar menos. Se todo mundo gastar menos, a economia não roda. Se as pessoas deixarem de comprar, as fábricas vão parar de produzir e o desemprego vai aumentar. 
    Neste momento, os Estados precisam ser responsáveis e ter políticas anti-cíclicas na economia para garantir o gasto social que, aliás, nem deveria ser chamado de gasto, mas sim de investimento. Se você não gasta hoje no combate à fome, você gastará amanhã em saúde, em educação. Esse gasto social hoje não pode, de nenhuma forma, ser reduzido.
     Carta Maior: No atual contexto de crise e considerando a mencionada necessidade de fortalecer as instituições internacionais, qual o papel que se pode esperar da Organização Mundial do Comércio nos temas dos preços dos alimentos e da segurança alimentar?
     José Graziano: A FAO tem uma relação muito boa com a OMC na medida em que as duas instituições estabelecem uma série de padrões na área da seguridade alimentar. Esses padrões definem, por exemplo, o que se pode utilizar de antibióticos e de químicos para preservar os alimentos. Os padrões para assegurar a qualidade dos alimentos são baseados nos trabalhos da FAO, do Codex Alimentar, do qual o Brasil é um ativo participante. Isso tudo vai para a OMC e termina dando origem às regras aceitas internacionalmente. A FAO, neste sentido, funciona como uma espécie de comissão técnica de apoio às discussões da OMC.
     Além disso, creio que a OMC tem um papel cada vez maior na regulação do comércio internacional e dos subsídios. Há um consenso crescente de que deveríamos aproveitar esse momento de preços altos para ir retirando gradativamente os subsídios. A retirada do subsídio ao milho para a produção de etanol nos Estados Unidos, por exemplo, foi um passo muito importante na minha opinião, que já começou a se refletir numa queda dos preços do milho. Isso é bom para todo mundo que se alimenta de produtos derivados do milho, não só para quem pretende exportar etanol para os Estados Unidos.
     Carta Maior: A agenda da Reforma Agrária segue tendo muitos adversários, não só no Brasil como também em outros países. Na sua avaliação, qual é a atualidade dessa agenda no mundo?
     José Graziano: A agenda do acesso à terra nunca foi tão atual. A FAO está terminando em março o que chamamos de diretrizes voluntárias de acesso à terra, à pesca e aos recursos naturais. Até o final de março deve ser construído um grande acordo em Roma para orientarmos os países a regular os investimentos em agricultura. A água é outro tema muito importante. Ela está sendo, cada vez mais, um bem escasso. Nós não percebemos isso, pois moramos em um país que tem uma quantidade fantástica de água doce, talvez a maior do mundo. Mas em outras regiões o conflito pela água é evidente. Nossos vizinhos dos Andes, por exemplo, já começam a sofrer privação de água potável para abastecimento humano.
     A FAO está trabalhando na agenda do acesso à terra, mas também na do desenvolvimento territorial. Hoje há um consenso em torno da ideia de que o mundo não pode mais ficar baseado em modelos agroexportadores. Neste modelo, você concentra a produção de um determinado produto naquele país que tem uma vantagem comparativa maior. Hoje, cada vez mais, se aceita um novo paradigma, segundo o qual as vantagens comparativas não são consideradas como naturais, mas sim como dinâmicas. Elas podem ser construídas e dependem, por exemplo, do fato de o país ter infraestrutura, estrada, qualidade de mão de obra, acesso à tecnologia. O Brasil, por exemplo, não era capaz de produzir soja. Importava da Argentina. Aí a Embrapa foi lá no Cerrado, resolveu o problema da acidez no solo e criou uma vantagem comparativa naquela região. Hoje somos um grande produtos mundial de soja e ultrapassamos a Argentina porque passamos a ter o domínio dessa tecnologia tropical.
     O território é, cada vez mais, o lugar onde as pessoas se reconhecem. Quanto mais a globalização avança, o lugar, o território, passa a ser a referência maior política, cultural e administrativamente. É onde as pessoas vivem efetivamente. Cada vez mais, circuitos produtivos locais são a saída para evitar grandes transportes de safra que aumentam os custos dos alimentos. A alimentação produzida localmente, além de ser muito mais saudável, porque pode ser baseada em produtos frescos, é muito mais barata. O que encarece a alimentação é basicamente o custo de transporte e de armazenagem. O Brasil tem estimulado a criação de circuitos locais de produção. A compra de produtos da agricultura familiar para a merenda escolar é um exemplo. Essa é uma invenção brasileira que já passou para o outro lado do Atlântico. Com a ajuda do Brasil, a FAO está implantando esse programa na África, com grande sucesso.
  Fotos: Tuane Eggers 
Fonte: Carta Maior

Exposição da obra de Sergio Ricardo marca Dia da Bossa Nova


     A exposição Sergio Ricardo – 80 anos – Um buscador, aberta nesta quarta-feira (25) no Instituto Cultural Cravo Albin (ICCA), na Urca, zona sul do Rio, lança um olhar sobre as múltiplas facetas artísticas do cantor, compositor e instrumentista, que também se destacou como cineasta e artista plástico.





     Paulista da cidade de Marília, nascido em 1932, filho de imigrantes sírios, João Lutfi adotou o nome artístico de Sergio Ricardo por causa de um a dessas facetas, a de ator, ao ser contratado pela TV Tupi em meados da década de 50. A carreira musical começou alguns anos antes, quando, já vivendo no Rio de Janeiro, começou a atuar como pianista em casas noturnas da então capital federal. Em uma delas, substituiu Antonio Carlos Jobim que tinha acabado de arrumar um emprego de arranjador na gravadora Continental.
     Em 1952, começou a cantar e a compor, e no decorrer da década foi se aproximou de nomes como Johnny Alf, João Gilberto, João Donato e Sylvinha Telles, que viriam a se protagonistas da Bossa Nova. O histórico show de 1958, em um clube universitário hebraico, na zona sul do Rio, que marcou o lançamento do gênero, contou com a participação de Sergio Ricardo.
     “Minha preocupação fundamental dentro do que faço na arte sempre foi a busca, e não o sucesso. Busca de caminhos, novidades e de colocar o povo dentro do meu trabalho”, disse Sergio Ricardo, que se diz muito comovido com a homenagem pelos seus 80 anos. “Eu já andava meio esquecido pela mídia, entregue às minhas baratas”, disse, bem humorado.
     Autor de canções como Folha de Papel, Pernas e Zelão, em que já demonstrava a sua preocupação com a temática social, Sergio Ricardo ficou marcado nos anos 60 por sua participação no festival da TV Record, em 1967, quando, vaiado pelo público, que não gostou de sua música Beto Bom de Bola, quebrou o violão e atirou o instrumento contra a platéia.
     No cinema, além de compor e interpretar trilhas sonoras para filmes, como os de Glauber Rocha, dirigiu quatro filmes: O Menino da Calça Branca, Esse Mundo é Meu, Juliana do Amor Perdido e A Noite do Espantalho. Todos os filmes receberam prêmios em festivais no Brasil e no exterior.
     A exposição de fotos, letras de músicas e vídeos no ICCA não é a única homenagem ao artista programada para este ano. De 6 a 8 de março, será apresentada em Brasília, com a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, o concerto Estória de João Joana, o único cordel escrito pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, e que foi musicado por Sérgio Ricardo.

Fonte: Vermelho

Correios e MinC assinam acordo para seleção de projetos culturais

     Foi assinado nesta quarta-feira (25) um acordo de cooperação entre o Ministério da Cultura e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Correios) para a seleção de projetos culturais que serão patrocinados pelos Correios e avaliados pelo ministério. A assinatura do acordo ocorreu durante a cerimônia de reabertura do Museu Nacional dos Correios.


Os Correios realizam a abertura do Museu Nacional dos Correios. / Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr
     “Esse acordo que assinamos hoje é uma iniciativa do Ministério da Cultura em reaproximar das
empresas estatais, no que diz respeito ao desenho dos editais e incentivos fiscais da Lei Rouanet, isso faz com que o processo todo seja mais transparente e mais seguro”, disse o secretário de Fomento e Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, Henilton Parente.
     O presidente dos Correios, Wagner Pinheiro de Oliveira, falou sobre a importância da reabertura do Museu. “Essa reabertura do Museu pretende voltar a tratar a memória e a história dos correios de forma a mostrar para a população brasileira como foram os serviços de correio no Brasil que já tem 349 anos”.
     Após a assinatura do acordo, os convidados visitaram três exposição: A Natureza em Selos, que reúne selos brasileiros que retratam a fauna e flora do Brasil, a exposição Mestre de Gravura, uma coleção da Fundação Biblioteca Nacional que apresenta 171 gravuras de alguns dos maiores artistas de todos os tempo e a exposição Correios: um diálogo com Vilém Flusser, inspirada no texto Cartas do próprio pensador.
     Inaugurado em 15 de janeiro de 1980, o Museu Postal e Telegráfico da ECT integrou o Roteiro Cultural e Turístico de Brasília durante vinte anos, até seu fechamento para reformas em 2001.
Fonte: Agência Brasil

12 MITOS DO CAPITALISMO


Guilherme Alves Coelho
( Redigido em português de Portugal).

          Apresentam-se neste texto, sucintamente, alguns dos mitos mais comuns da mitologia capitalista.
     “ NO CAPITALISMO QUALQUER PESSOA PODE ENRIQUECER À CUSTA DO SEU TRABALHO".
     Pretende-se fazer crer que o regime capitalista conduz automaticamente qualquer pessoa a ser rica desde que se esforce muito.
     O objectivo oculto é obter o apoio acrítico dos trabalhadores no sistema e a sua submissão, na esperança ilusória e culpabilizante em caso de fracasso, de um dia virem a ser também, patrões de sucesso.
     Na verdade, a probabilidade de sucesso no sistema capitalista para o cidadão comum é igual à de lhe sair a lotaria. O “sucesso capitalista” é, com raras excepções, fruto da manipulação e falta de escrúpulos dos que dispõem de mais poder e influência. As fortunas em geral derivam directamente de formas fraudulentas de actuação.
     Este mito de que o sucesso é fruto de uma mistura de trabalho afincado, alguma sorte, uma boa dose de fé e depende apenas da capacidade empreendedora e competitiva de cada um, é um dos mitos que têm levado mais gente a acreditar no sistema e a apoiá-lo. Mas também, após as tentativas falhadas, a resignarem-se pelo aparente falhanço pessoal e a esconderem a sua credulidade na indiferença. Trata-se dos tão apregoados empreendedorismo e competitividade.
     “ O CAPITALISMO GERA RIQUEZA E BEM-ESTAR PARA TODOS"
     Pretende-se fazer crer que a fórmula capitalista de acumulação de riqueza por uma minoria dará lugar, mais tarde ou mais cedo, à redistribuição da mesma.
     O objectivo é permitir que os patrões acumulem indefinidamente sem serem questionados sobre a forma como o fizeram, nomeadamente sobre a exploração dos trabalhadores. Ao mesmo tempo mantêm nestes a esperança de mais tarde serem recompensados pelo seu esforço e dedicação.
     Na verdade, já Marx tinha concluído nos seus estudos que o objectivo final do capitalismo não é a distribuição da riqueza, mas a sua acumulação e concentração. O agravamento das diferenças entre ricos e pobres nas últimas décadas, nomeadamente após o neoliberalismo, provou isso claramente.
     Este mito foi um dos mais difundidos durante a fase de “bem-estar social” pós-guerra, para superar os estados socialistas. Com a queda do émulo soviético, o capitalismo deixou também cair a máscara e perdeu credibilidade.
     “ ESTAMOS TODOS NO MESMO BARCO".
     Pretende-se fazer crer que não há classes na sociedade, pelo que as responsabilidades pelos fracassos e crises são igualmente atribuídas a todos e, portanto pagas por todos.
     O objectivo é criar um complexo de culpa junto dos trabalhadores que permita aos capitalistas arrecadar os lucros enquanto distribuem as despesas por todo o povo.
     Na verdade, o pequeno número de multimilionários, porque detém o poder, é sempre autobeneficiado em relação à imensa maioria do povo, quer em impostos, quer em tráfico de influências, quer na especulação financeira, quer em off-shores, quer na corrupção e nepotismo etc. Esse núcleo, que constitui a classe dominante, pretende assim escamotear que é o único e exclusivo responsável pela situação de penúria dos povos e que deve pagar por isso.
     Este é um dos mitos mais ideológicos do capitalismo ao negar a existência de classes.
     “ LIBERDADE É IGUAL A CAPITALISMO".
     Pretende-se fazer crer que a verdadeira liberdade só se atinge com o capitalismo, através da chamada autorregulação proporcionada pelo mercado.
     O objectivo é tornar o capitalismo uma espécie de religião em que tudo se organiza em seu redor e assim afastar os povos das grandes decisões macro-económicas, indiscutíveis. A liberdade de negociar sem peias seria o máximo da liberdade.
     Na verdade, sabe-se que as estratégias político-económicas, muitas delas planeadas com grande antecipação, são quase sempre tomadas por um pequeno número de pessoas poderosas, à revelia dos povos e dos poderes instituídos, a quem ditam as suas orientações. Nessas reuniões, em cimeiras restritas e mesmo secretas, são definidas as grandes decisões financeiras e económicas conjunturais ou estratégicas de longo prazo. Todas, ou quase todas essas resoluções, são fruto de negociações e acordos mais ou menos secretos entre os maiores empresas e multinacionais mundiais. O mercado é, pois, manipulado e não autorregulado. A liberdade plena no capitalismo existe de facto, mas apenas para os ricos e poderosos.
    Este mito tem sido utilizado pelos dirigentes capitalistas para justificar, por exemplo, intervenções em outros países não submissos ao capitalismo, argumentando não haver neles liberdade, porque há regras.
     “ CAPITALISMO IGUAL A DEMOCRACIA".
     Pretende-se fazer crer que apenas no capitalismo há democracia.
     O objectivo deste mito, que é complementar do anterior, é impedir a discussão de outros modelos de sociedade, afirmando não haver alternativas a esse modelo e todos os outros serem ditaduras. Trata-se mais uma vez da apropriação pelo capitalismo, falseando-lhes o sentido, de conceitos caros aos povos, tais como liberdade e democracia.
     Na realidade, estando a sociedade dividida em classes, a classe mais rica, embora seja ultraminoritária, domina sobre todas as outras. Trata-se da negação da democracia que, por definição, é o governo do povo, logo da maioria. Esta “democracia” não passa, pois de uma ditadura disfarçada. As “reformas democráticas” não são mais que retrocessos, reacções ao progresso. Daí deriva o termo reaccionário, o que anda para trás.
     Tal como o anterior, este mito também serve de pretexto para criticar e atacar os regimes de países não-capitalistas.
“ ELEIÇÕES IGUAL A DEMOCRACIA".
   Pretende-se fazer crer que o acto eleitoral é o sinônimo da democracia e esta se esgota nele.
   O objectivo é denegrir ou diabolizar e impedir a discussão de outros sistemas político-eleitorais em que os dirigentes são estabelecidos por formas diversas das eleições burguesas, como por exemplo, pela idade, experiência, aceitação popular etc.
   Na verdade, é no sistema capitalista, que tudo manipula e corrompe, que o voto é condicionado e as eleições são actos meramente formais. O simples facto da classe burguesa minoritária vencer sempre as eleições demonstra o seu carácter não-representativo.
    O mito de que, onde há eleições há democracia, é um dos mais enraizados, mesmo em algumas forças de esquerda.
  “ PARTIDOS ALTERNANTES IGUAL A ALTERNATIVOS".

     Pretende-se fazer crer que os partidos burgueses que se alternam periodicamente no poder têm políticas alternativas.
     O objectivo deste mito é perpetuar o sistema dentro dos limites da classe dominante, alimentando o mito de que a democracia está reduzida ao acto eleitoral.
     Na verdade, este aparente sistema pluri ou bipartidário é um sistema monopartidário. Duas ou mais facções da mesma organização política, partilhando políticas capitalistas idênticas e complementares, alternam-se no poder, simulando partidos independentes, com políticas alternativas. O que é dado escolher aos povos não é o sistema que é sempre o capitalismo, mas apenas os agentes partidários que estão de turno como seus guardiões e continuadores.
     O mito de que os partidos burgueses têm políticas independentes da classe dominante, chegando até a ser opostas, é um dos mais propagandeados e importantes para manter o sistema a funcionar.
     “ O ELEITO REPRESENTA O POVO E POR ISSO PODE DECIDIR TUDO POR ELE."
     Pretende-se fazer crer que o político, uma vez eleito, adquire plenos poderes e pode governar como quiser.
     O objectivo deste mito é iludir o povo com promessas vãs e escamotear as verdadeiras medidas que serão levadas à prática.
     Na verdade, uma vez no poder, o eleito autoassume novos poderes. Não cumpre o que prometeu e, o que é ainda mais grave, põe em prática medidas não enunciadas antes, muitas vezes em sentido oposto e até inconstitucionais. Frequentemente, são eleitos por minorias de votantes. A meio dos mandatos já atingiram índices de popularidade mínimos. Nestes casos de ausência ou perda progressiva de representatividade, o sistema não contempla quaisquer formas constitucionais de destituição. Esta perda de representatividade é uma das razões que impede as “democracias” capitalistas de serem verdadeiras democracias, tornando-se ditaduras disfarçadas.
     A prática sistemática deste processo de falsificação da democracia tornou este mito um dos mais desacreditados, sendo uma das causas principais da crescente abstenção eleitoral.
    “ NÃO HÁ ALTERNATIVAS À POLÍTICA CAPITALISTA".
     Pretende-se fazer crer que o capitalismo, embora não sendo perfeito, é o único regime político-económico possível e, portanto, o mais adequado.
     O objectivo é impedir que outros sistemas sejam conhecidos e comparados, usando todos os meios, incluindo a força, para afastar a competição.
     Na realidade, existem outros sistemas político-económicos, sendo o mais conhecido o socialismo cientifico. Mesmo dentro do capitalismo, há modalidades que vão desde o actual neoliberalismo aos reformistas do “socialismo democrático” ou socialdemocrata.
     Este mito faz parte da tentativa de intimidação dos povos de impedir a discussão de alternativas ao capitalismo, a que se convencionou chamar o pensamento único.
     “ A AUSTERIDADE GERA RIQUEZA"
     Pretende-se fazer crer que a culpa das crises económicas é originada pelo excesso de regalias dos trabalhadores. Se estas forem retiradas, o Estado poupa e o país enriquece.
     O objectivo é fundamentalmente transferir para o sector público, para o povo em geral e para os trabalhadores, a responsabilidade do pagamento das dividas dos capitalistas. Fazer o povo aceitar a pilhagem dos seus bens na crença de que dias melhores virão mais tarde. Destina-se também a facilitar a privatização dos bens públicos, “emagrecendo” o Estado, logo “poupando”, sem referir que esses sectores eram os mais rentáveis do Estado, cujos lucros futuros se perdem desta forma.
     Na verdade, constata-se que estas políticas conduzem, ano após ano, a um empobrecimento das receitas do Estado e a uma diminuição das regalias, direitos e do nível de vida dos povos, que antes estavam assegurados por elas.
      “ MENOS ESTADO, MELHOR ESTADO".
     Pretende-se fazer crer que o sector privado administra melhor o Estado que o sector público.
      O objectivo dos capitalistas é “dourar a pílula” para facilitar a apropriação do património, das funções e dos bens rentáveis dos estados. É complementar do anterior.
      Na verdade o que acontece em geral é o contrário: os serviços públicos privatizados não só se tornam piores, como as tributações e as prestações são agravadas. O balanço dos resultados dos serviços prestados após passarem a privados é quase sempre pior que o anterior. Na óptica capitalista, a prestação de serviços públicos não passa de mera oportunidade de negócio. Este mito é um dos mais “ideológicos” do capitalismo neoliberal. Nele está subjacente a filosofia de que quem deve governar são os privados e o Estado apenas dá apoio.
     “ A ACTUAL CRISE É PASSAGEIRA E SERÁ RESOLVIDA PARA O BEM DOS POVOS."
     Pretende-se fazer crer que a actual crise económico-financeira é mais uma crise cíclica habitual do capitalismo e não uma crise sistémica ou final.
     O objectivo dos capitalistas, com destaque para os financeiros, é continuarem a pilhagem dos Estados e a exploração dos povos enquanto puderem. Tem servido ainda para alguns políticos se manterem no poder, alimentando a esperança junto dos povos de que melhores dias virão se continuarem a votar neles.
     Na verdade, tal como previu Marx, do que se trata é da crise final do sistema capitalista, com o crescente aumento da contradição entre o carácter social da produção e o lucro privado até se tornar insolúvel.
     Alguns, entre os quais os “socialistas” e sociais-democratas, que afirmam poder manter o capitalismo, embora de forma mitigada, afirmam que a crise deriva apenas de erros dos políticos, da ganância dos banqueiros e especuladores ou da falta de ideias dos dirigentes ou mecanismos que ainda falta resolver. No entanto, aquilo a que assistimos é ao agravamento permanente do nível de vida dos povos sem que esteja à vista qualquer esperança de melhoria. Dentro do sistema capitalista já nada mais há a esperar de bom.
     NOTA FINAL:
     O capitalismo há de acabar, mas só por si tal decorrerá muito lentamente e com imensos sacrifícios dos povos. Terá que ser empurrado. Devem ser combatidas as ilusões, quer daqueles que julgam o capitalismo reformável, quer daqueles que acham que quanto pior melhor, para o capitalismo cair de podre. O capitalismo tudo fará para vender cara a derrota. Por isso, quanto mais rápido os povos se libertarem desse sistema injusto e cruel, mais sacrifícios inúteis se poderão evitar.
     Hoje, mais do que nunca, é necessário criar barreiras ao assalto final da barbárie capitalista, e inverter a situação, quer apresentando claramente outras soluções políticas, quer combatendo o obscurantismo pelo esclarecimento, quer mobilizando e organizando os povos.
     (*) Os mitos criados pelas religiões cristãs têm muito peso no pensamento único capitalista e são avidamente apropriados por ele para facilitar a aceitação do sistema pelos mais crédulos.
Exemplos: “A pobreza é uma situação passageira da vida terrena.” “Sempre houve ricos e pobres.” “O rico será castigado no juízo final.” “Deve-se aguentar o sofrimento sem revolta para mais tarde ser recompensado."

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