Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade
Clic sobre o livro (download gratuito). LEIA E DÊ SUA OPINIÃO

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

TV Globo abusa impune e repetidamente


     O caso BBB, amplamente relatado e reportado na imprensa, não só gerou protestos de diferentes entidades como mobilizou a sociedade em torno de vários questionamentos, entre eles, até que ponto um veículo de comunicação pode ignorar qualquer limite ético em favor dos seus interesses comerciais?

     O documento abaixo., assinado por mais de uma dezena de entidades, pede a atenção e a adesão de todos os que se indignaram com o fato ocorrido no Big Brother Brasil e alerta, para quem ainda tem dúvidas:" A Globo fatura bilhões de reais anualmente pela exploração de uma concessão pública". 
     Em outras palavras, como emissora pública, ela deve satisfação e respeito aos cidadãos, responsabilizando-se por tudo o que veicula.
     Entidades divulgam nota sobre o caso BBB
     Veja abaixo a íntegra.
     Pela imediata responsabilização da TV Globo no caso BBB
     Dois fatos muito graves ocorreram esta semana envolvendo o Big Brother Brasil. O primeiro foi com a participante Monique, que pode ter sido vítima de crime praticado por outro integrante do programa. O segundo foi a absurda atitude da TV Globo frente ao ocorrido. Em relação ao primeiro, cabe à polícia apurar e à justiça julgar, buscando ouvir os envolvidos, garantindo que eles estejam livres de pressões e constrangimentos. Já em relação ao segundo, é preciso denunciar a emissora e os anunciantes que sustentam o programa, e cobrar as autoridades do setor.
     Frente a indícios de um possível abuso sexual contra uma mulher participante de um de seus principais programas, a Globo, além de não impedir a violência no momento em que ela poderia estar ocorrendo, tentou escamotear o fato, depois buscou tirar de circulação as imagens e finalmente assumiu o ocorrido sem nomeá-lo. Na edição de domingo do programa, após todas as denúncias que aconteciam pela internet, ela transformou a suspeita de um crime em uma cena "de amor". O espírito da coisa foi resumido pelo próprio apresentador Pedro Bial: “o espetáculo tem que continuar”. A atitude é inaceitável para uma emissora que é concessionária pública há 46 anos e representa uma agressão contra toda a sociedade brasileira.
      Pelas imagens publicadas, não é possível dizer a extensão da ação e saber se houve estupro. A apuração é fundamental, mas o mais importante é o que o episódio evidencia. Em primeiro lugar, a naturalização da violência contra as mulheres, que revela mais uma vez a profundidade da cultura machista no país. No debate público, foram inúmeras as tentativas de atribuir à possível vítima a responsabilidade pela agressão, num discurso ainda inacreditavelmente frequente. O próprio diretor do programa, Boninho, negou publicamente que as imagens apontassem para qualquer problema.
      Em segundo lugar, o episódio revela o ponto a que pode chegar uma emissora em nome de seus interesses comerciais. A Globo fatura bilhões de reais anualmente pela exploração de uma concessão pública, e mostra, com esse episódio, a disposição de explorá-la sem qualquer limite nem nenhum cuidado com a dignidade da pessoa humana. O próprio formato do programa se alimenta da exploração dos desejos e das cizânias provocadas entre os participantes e busca explorar situações limite para conquistar mais audiência. Assim, o que aconteceu não é estranho ao formato do programa; ao contrário, é exatamente consequência dele.
      Em terceiro lugar, fica evidente a ausência de mecanismos de regulação democrática capazes de apurar e providenciar ações imediatas para lidar com as infrações cometidas pelas emissoras. Como já vem sendo apontado há anos pelas organizações que atuam no setor, não há hoje regras claras que definam a responsabilidade das emissoras em casos como esse, nem tampouco instrumentos de monitoramento e aplicação dessas regras, como um Conselho Nacional de Comunicação ou órgãos reguladores.
      Uma das poucas regras existentes para proteger os direitos de crianças e adolescentes – a classificação indicativa – está sendo questionada no STF, inclusive pela Globo. A emissora, que costuma tratar qualquer forma de regulação democrática como censura, é justamente quem agora pratica a censura privada para esconder sua irresponsabilidade. É lamentável que precise haver um fato como esse para que o debate sobre regulação possa ser feito publicamente.
      Frente ao ocorrido, exigimos que as Organizações Globo e a direção do BBB sejam responsabilizados, entre outros fatos, por:
     • Ocultar um fato que pode constituir crime;
     • Prejudicar a integridade da vítima e enviar para o país uma mensagem de permissividade diante de uma suspeita de estupro de uma pessoa vulnerável;
     • Atrapalhar as investigações de um suposto crime;
     • Ocultar da vítima as informações sobre os fatos que teriam se passado com ela quando estava supostamente desacordada.
      É preciso garantir, no mínimo, multas vultuosas e um direito de resposta coletivo para as mulheres, que mais uma vez tiveram sua dignidade atingida nacionalmente pela ação e omissão da maior emissora de TV brasileira.
     Os anunciantes do BBB – OMO (Unilever), Niely Gold, Devassa (Schincariol), Guaraná Antártica e Fusion (Ambev) e FIAT – também devem ser entendidos como co-responsáveis, e a sociedade deve cobrar que retirem seus anúncios do programa ou boicotá-los. Suas marcas estão ligadas a um reality show que, para além de toda a crítica sobre os valores que propaga à sociedade – da banalização do sexo e do consumo de álcool à mercantilização dos corpos – , permite a violação de direitos fundamentais.
     Finalmente, é fundamental que o Ministério das Comunicações coloque em discussão imediatamente propostas para um novo marco regulatório das comunicações, com mecanismos que contemplem órgãos reguladores democráticos capazes de atuar sobre essas e outras questões.
     Este é mais um caso cujas investigações não podem se restringir à esfera privada e à conduta do participante suspeito. Exigimos que o Poder Executivo cumpra seu papel de fiscal das concessionárias de radiodifusão e não trate o episódio com a mesma "naturalidade" dada pela TV Globo. Esperamos também que o Ministério Público Federal se coloque ao lado da defesa dos direitos humanos e da dignidade da pessoa humana e responsabilize a emissora pela forma como agiu diante de uma questão tão séria como a violência sexual contra as mulheres.
     Brasil, 18 de janeiro de 2012
     FNDC – Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
     Rede Mulher e Mídia
     Articulação de Mulheres Brasileiras
     Campanha pela Ética na TV/Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania
Ciranda
     Coletivo Feminino Plural
     Observatório da Mulher
     Associação Mulheres na Comunicação - Goiânia
     COMULHER Comunicação Mulher
     HUMANITAS - Diretos Humanos e Cidadania
     Marcha Mundial das Mulheres
     Rede Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos
     SOF – Sempreviva Organização Feminista
     SOS Corpo - Instituto Feminista para a Democracia
     Manifesto aberto a adesões de entidades e redes. Para aderir, escreva para imprensa@fndc.org.br
     Entidades divulgam nota sobre o caso BBB
     Fonte: Redação - Observatório do Direito à Comunicação

Nossa Fonte: Vermelho

Fórum Social: Rio+20 não pode endossar pirataria e economia verde


     MIlitantes brasileiros e estrangeiros que participam do Fórum Social Mundial Temático preocupam-se com a possibilidade de a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável legitimar 'pirataria' da biodiversidade e capitalismo predatório travestido de 'economia verde'. Rio+20, que acontece em junho, é foco principal do Fórum.

     Porto Alegre - A luta pelo controle das tecnologias para transformação da biomassa e a tentativa de esconder as mazelas do capitalismo sob a capa de uma 'economia verde' darão o tom da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, marcada para o Rio de Janeiro, em junho, na opinião de ativistas políticos estrangeiros e brasileiros que participam do Fórum Social Mundial Temático. 
     “As grandes corporações internacionais já estão preparadas para virem à Rio+20 concretizar o processo de pirataria iniciado na conferência anterior, a Rio 92”, afirma o ativista alemão Pat Roy Mooney, diretor-executivo da ETC Group, incitando os movimentos sociais a fazerem o mesmo.
     De acordo com ele, a conferência da ONU realizada no Rio de Janeiro há 20 anos significou o maior roubo de recursos naturais da história da humanidade, fato que tende a se repetir agora, se os movimentos sociais não se prepararam adequadamente. 
     “Os governos assinaram acordos perdoando os roubos de amostras da biodiversidade do Sul, efetuados pelo Norte, em mais de 500 anos de história. Agora, as grandes corporações querem voltar para tomar posse daquilo que, naquela época, ainda não tinha valor de mercado e foi relegado a segundo plano”, disse.
     O ativista explica que, na conferência de 1992, as grandes corporações definiram o modelo predatório de exploração de recursos naturais como o petróleo, por exemplo, centro da economia mundial do período. 
     Hoje, com o aprimoramento de tecnologias não disponíveis antes, também querem botar as mãos na biomassa que pode ser extraída das florestas e savanas para ser transformada em energia, insumos industriais e alimentos. 
     “Qualquer tecnologia introduzida em uma sociedade injusta aumenta o abismo entre ricos e pobres: os ricos ficam mais ricos, e os pobres, ainda mais miseráveis”, afirmou Mooney.
     O ativista francês Christoph Aguiton, membro da Associação pela Tributação das Transações Financeiras para ajuda aos Cidadãos (Attac), alertou para o fato de que a chamada “economia verde”, apresentada como a solução para o atual processo de desenvolvimento destrutivo, nada mais é do que uma adaptação do velho e tradicional capitalismo predatório, com o objetivo de cooptar o apoio de parte dos movimentos sociais que lutam contra o neoliberalismo. 
     Segundo ele, há 13 anos, a luta anticapitalista coincidia com a luta contra o neoliberalismo. “Por isso, todos os movimentos se uniram, construíram iniciativas como o Fórum Social Mundial e impuseram várias derrotas ao modelo neoliberal. Entretanto, hoje, a conjuntura mudou”, afirma.
     Para o ativista, que foi um dos fundadores do Fórum, mesmo organizações que, naquela época, estavam coesas na luta antineoliberal, hoje propõem a economia verde como solução ao desenvolvimento. 
     “A defesa da biodiversidade, no contexto atual, significará uma radicalização das lutas dos movimentos sociais, mesmo que isso signifique uma redução no número de atores envolvidos”, disse o francês. 
     A ativista brasileira Beatriz Whitaker, que atua no Comitê Francês Contra a Austeridade dos Governos e em Solidariedade à América Latina, ressaltou a correlação existente entre a apropriação do meio ambiente e a crise econômica capitalista, que abala as economias dos países centrais.
     “Esta crise sem precedentes que afetará todo o mundo, inclusive o Brasil, que afirma estar nadando em um mar de felicidades”, afirmou ela, lembrando que, na Europa, nem mesmo as democracias burguesas estão a salvo dos interesses do grande capital. “Eles já destituíram os governos da Itália e da Grécia e impuseram uma política de austeridade fiscal que prejudica demais os trabalhadores”
     Para a militante, o poder econômico mundial não poupará esforços para se refazer e encontrar novas formas de exploração capitalista. Whitaker acredita que, ou os movimentos assumem a defesa de uma lógica de ruptura com o sistema capitalista, ou terão que entrar na lógica proposta pela economia verde de um capitalismo menos desumano, mais que prejudicará muitas vidas, em um mundo onde 3 bilhões de pessoas ainda vivem em condições desumanas. 
     “Não é por acaso que a Rio+20 ocorrerá paralelamente à reunião do G-20 [grupo das vintes economias mais poderosas do planeta) e à reunião comercial entre União Europeia e América Latina. A tecnologia nos permite, hoje, ‘coisificar’ até mesmo o ar que respiramos, mas é incapaz de transformar o mundo em um lugar menos desigual”, afirmou.
     Fotos: Felipe Blumen 
    Fonte: Carta Maior