Dois casos de amor
Mirian Cintra
Este conto é uma
homenagem a Célia e Arlindo, o primeiro caso de amor e foi escrito a pedido de
sua filha, a destemida Juliana que vive o segundo caso.
1. A podóloga surpreende a escritora
-
Boa tarde. Você é Juliana?
- Sim. Boa tarde.
A senhora é Dona Pandá? Está marcada para agora, às 14 horas. Entre. Fique à
vontade. Pode deixar suas coisas na cadeira. Deite-se, aqui – disse, apontando
a maca.
- Obrigada.
- A senhora está
confortável? Tem algum problema
específico nos pés ou precisa apenas da pedologia comum?
- Preciso de um
cuidado especial com a unha do dedão no pé direito. Veja como está encravada.
Juliana, com mãos
habilidosas, pegou os pés de sua nova cliente e delicadamente foi apertando
aqui e ali até formar seu diagnóstico.
- Vamos
desencravar esta unha que está aporrinhando a senhora. Vamos bem devagar e acho
que seria bom colocar uma fibra para abrir a unha e melhorar seu formato. Aí
vai impedir que fique deste jeito – falou, mostrando os cantos encravados -.
- Vamos lá – respondeu
Dona Pandá – qualquer coisa que pare este incômodo. Não posso nem colocar um
sapato fechado!
A partir daí, a
podóloga se concentrou em seu trabalho e só se ouvia, de vez em quando, uns ais, caraca, mama mia e outras
expressões que traduziam a tortura a que se submetia a pobre e corajosa
cliente. Quando aquela unha foi abandonada, podóloga e cliente não reprimiram
seu alívio, fizeram um pequeno intervalo com direito a um copo de água. Juliana, então, perguntou:
- A senhora é
mesmo escritora? – Dona Pandá achou engraçado o jeito da pergunta e devolveu: -
Sou por que?
- Então vou lhe
contar minha vida e a senhora escreve um livro.
Assim, começou a
estória que vão ler e também se iniciou uma amizade entre a podóloga e a
escritora.
2. O pai demora
As quatro crianças sentiram que o pai estava demorando
mais do que o usual. Como de costume, ele saíra para buscar a mulher no ponto
do ônibus. Ela dava aula num povoado próximo e ele aproveitava para passear com
ela na garupa da bicicleta. A distância não era grande e, muitas vezes, paravam
debaixo de uma árvore para conversar. Com a casa pequena, as crianças e muito
trabalho, ficava difícil roubarem um momento para eles.
Havia poucos dias, Juliana comemorara seus 14
anos. Era a mais velha dos quatro irmãos – Jusceliane (13 anos), Ademair (12),
Júnior (10) - e seria, dali pra frente,
seu Norte, seu amparo -. Já o Sol descia no horizonte e os meninos começaram a
perceber que logo estaria escuro.
- Ju, por que Pai e Mãe estão demorando? –
Ademair, querendo se mostrar indiferente, perguntou ao mesmo tempo em que
provocava Júnior, jogando-lhe gravetinhos que pegava do monte armazenado para
acender o fogo. Jusceliane, percebendo que a irmã mais velha nem ouvia,
respondeu por ela:
- Para com isto, Ademair, Mãe vai precisar dos
gravetos pra fazer a janta.
Juliana saiu para fora da casa com intenção de
ir ao encontro dos pais, mas seu pensamento, como uma voz fora dela e
impositiva, parecia dizer alto não vá. Falou,
então, para os irmãos:
- Vou à casa do Tio Célio pedir pra ele ir ver
se aconteceu alguma coisa com Pai e Mãe. - Imediatamente, todos saíram atrás, correndo
em direção à casa do tio.
Viviam em uma fazenda, propriedade dos avós. Quando Maria Célia se casou com Arlindo,
fizeram, como os irmãos já casados, uma casinha não muito distante das outras e
começaram sua vida.
Na região, era costume na medida em que os
filhos iam se casando, construíam suas moradas e começavam a plantar suas roças
de milho, mandioca, feijão e a criar suas cabeças de gado, porcos e galinhas.
Como a maioria das famílias tinham muitos
filhos, era comum esse aglomerado familiar iniciar um vilarejo, onde a
necessidade acabava trazendo uma venda – pequeno armazém com os produtos mais
usados pelos moradores – e, com o passar do tempo, casamentos com membros de
outras famílias traziam pessoas alheias ao núcleo inicial que contribuíam para
a expansão da vila. Algumas acabam se encontrando com o núcleo urbano próximo,
aumentando a cidade.
Bem, mas não foi o caso da família Camargo. O
senhor Fernando era um homem quieto, passivo, triste, pouco chegado a
enfrentamento. Seu tipo físico bem mostrava seu interior, baixo, barriga
avançada de quem prefere uma cadeira de balanço a grandes corridas, pele branca
combinando com os olhos claros. Trabalhava com madeira, fazendo quebra-cabeças.
Já dona Ana mostrava sua vocação de matriarca na estatura, mais alta que o
marido, magra, cabelos e olhos castanhos. Para ela nada de balanços, preferia a
vigília, andando quase correndo a fim de tudo ver e controlar. Pouco afeita a
estranhos, riscos de quebra de sua rígida rotina a que todos deviam obedecer.
Parecia sentir-se senhora do destino de cada membro de seu clã.
Dona Ana era despudorada em suas preferências
maternais. Teve 10 filhos, um bebê não sobreviveu. Havia o filho predileto e a filha rejeitada,
quase odiada. Célia contrariou a matriarca e pagou um preço alto. Resolveu, ao
invés de ir para a enxada, ser professora. Os filhos, segundo dona Ana,
deveriam tocar as roças para alimentar a família e ter um excedente, cuja venda
abasteceria sua poupança. Todos a obedeceram, exceto Célia que punha o cabo da
enxada no queijo, congelava, olhando pro infinito e dizia bem alto: - Não nasci
pra enxada, nasci sim para a lousa. Vou estudar, ser professora. Imperdoável!
Célia sabia o que queria e costumava batalhar até
chegar ao seu destino. Sabia impor sua vontade e pagava suas contas mesmo que
fossem altas e até injustas, como as que a mãe lhe cobrava por sua desobediência.
Com muita dificuldade estudou, formou-se, prestou concurso e foi nomeada
professora de uma escola localizada num pequeno povoado não muito distante do
sítio onde moravam. Ela era inteligente, bonita, alegre, gostava de tocar violão
e cantar.
Arlindo era alto, magro, rosto fino, nariz
aquilino, cabelos e olhos castanhos, caladão, mas também alegre.
3. A bitaca
Um pequenino empório à beira da uma estrada, ou venda,
como as donas de casa diziam ao gritar a um filho - “vai lá na venda pegar um
quilo de açúcar pra mim” – foi onde Arlindo, passando por lá viu, pela porta
aberta, a vendedora que lhe pareceu estar sorrindo pra ele.
- Ora, ora – pensou, ralhando consigo mesmo – estou
ficando é bobo. A moça nem chegou a me ver e já estou sonhando.
No dia seguinte, deu o jeito de passar pela bitaca
e sua decepção foi enorme, onde deveria estar o sorriso que ele “viu”, estava
um marmanjo. No outro dia, só por curiosidade, passou devagarinho em frente à
venda e lá estava o sorriso que, ao vê-lo, se ampliou... Arlindo parou, olhou sério
e, como depois iria ficar recordando, tirou uma linha na moça, mas a coragem para
lhe falar foi embora antes dele. Alguns dias se passaram para ele criar a
coragem de entrar na bitaca.
- Bom dia.
- Bom dia.
E foi só para tanto que a coragem deu. Precisou
de mais tempo para conseguir o bom dia se arrastar até o que se poderia chamar
de um flerte.
A moça do sorriso - Maria Célia - tomava conta, pela
manhã, da venda. Ela havia notado o rapaz sério e já descobrira algumas
informações a seu respeito. Ajuizada e inteligente, aguardava se divertindo com
a falta de jeito do rapaz. Depois de muitas desculpas para entrar na Bitaca,
uma hora, perguntava se ela vendia fumo de rolo, outra, se havia gergelim para
matar formiga. Sempre cuidava para perguntar sobre um item que, segundo sua
avaliação, não haveria. Assim, foram dias nesta peleja da busca de inspiração
para a verdadeira abordagem.
Num dia abençoado, sentindo que estava a ponto
de perder o trem e a moça se escafeder, deixou a timidez debaixo de um balaio,
e foi direto e reto para a Bitaca. Para não correr risco, entrou logo sem
qualquer paradinha na porta. Esqueceu o bom dia e quase gritou:
- Quer namorar comigo?
Primeiro o susto. Depois a risada. Ele virou as
costas e saiu. Maria Célia saiu de trás do balcão e, correndo até a porta,
gritou:
- Arlindo! - Ele parou e ela rapidamente
completou:
- Quero! – Ele voltou e de cara fechada, a
encarou.
- Você riu de mim!
- Você foi tão engraçado! Não fique amuado
comigo – ela falou sorrindo, fazendo charme – Gostei de você me pedir em
namoro. Demorou tanto!
- Demorei?!
- Você ficava me espiando e eu querendo que você
entrasse para conversar comigo, mas você parecia que nem me via. Depois, no
outro dia, me olhava, olhava e ia embora!
- E se você não quisesse namorar comigo?!
- Ô gente, pois não estava na cara que eu
queria?!
- Na cara de quem? Perguntou ele todo sério.
- Você está de troça comigo? Ou você gosta mesmo
é de fazer graça? – Célia olhava pra ele e ria. – Vai ficar nesta casmurrice ou
vai me dar um sorriso? Assim, está bom. – E, finalmente, Arlindo conseguiu
baixar a tensão e sorriu.
Na realidade, o rapaz era muito tímido e, via
Célia como a moça muito bonita e estudada. Sua insegurança só foi menor que a
atração que sentia por ela. Arlindo havia parado os estudos ao final do curso básico,
então, Célia, uma professora, podia não considerá-lo adequado.
Passaram
a namorar, mas alguns meses depois, Arlindo terminou o namoro e arrumou outra
namorada. Célia se dedicou mais ainda
aos estudos, sem entender direito o que ocorrera.
Ela continuava suas atividades que incluía um
período na bitaca e ele evitava passar por lá. De repente, as coisas começaram
a se repetir e Célia teve a sensação do
dejá vu. O rapaz passava, olhava e
seguia adiante. Mais uns dias e ela, indo embora pra casa, depois de seu
expediente, o encontrou sentado em um tronco de árvore no meio de seu caminho. Quando,
o viu de longe, seu coração gritou, mas ela tomou a decisão de passar ao largo.
Ele, porém, não havia esperado mais de uma hora para perder a chance de lhe falar. Levantou-se
e, mostrando a bicicleta, perguntou: - Posso levar você para casa? - Agora ele
sorria e ela, séria, respondeu: - Na garupa da sua bicicleta?! Não, obrigada e
foi andando. - Ele, empurrando a bicicleta, a acompanhou, em silêncio. Quando
faltava pouco para chegarem, Célia lhe disse:
- Olha, agradeço a companhia, mas acabo de
chegar sozinha e, por favor, não faça mais isto. Você tem namorada e... – Ele a
interrompeu: - Não tenho mais.- Ela só olhou para ele com a interrogação nos
olhos e Arlindo, vendo que apesar da dureza do semblante, Célia aguardava
parecia que com alguma expectativa. Então, haveria de lhe dar uma nova
oportunidade. Os dois ficaram se olhando alguns segundos até que ela tomou a
dianteira, cobrando:
- Fala, homem.
- Terminei com Sandra.
- E por que?
- É de você que eu gosto.
- Por causa disso é que terminou comigo? Você
quer ficar um pouco comigo, um pouco com ... como é que você a chamou?
- Sandra. Não quero ficar com ela.
- Arlindo, sua atitude não me agradou e continua
não me agradando.
- Sabe, eu lhe dou razão, mas errar é humano –
Célia lhe ofereceu um sorriso malicioso e completou: - e perdoar é divino. Você
pensa que sou besta? – Virou-se e foi andando.
No dia seguinte, lá estava Arlindo sentado no
mesmo tronco. Ela passou, disse um boa tarde e apressou o passo. Ele ficou
perplexo e resmungou: - Diacho de moça difícil! Vamos ver quem desiste. Não há
de ser eu!
No terceiro dia, ele ficou atento e quando teve
certeza de que ela estava sozinha, foi a seu encontro e logo já disse:
- Olha aqui, Célia, não vou desistir de você.
- Ah! É?! Então, me explique primeiro por que me
deu o fora e foi namorar outra.
- Quero namorar você.
- Arlindo, você não me ouviu?! Enquanto não me
disser o que fez você me dar o fora, não vou começar tudo de novo com você. – Ele
percebeu que não tinha saída e como iria explicar? Com os olhos fixos em uma
touceira de mato a chamou para sentar no tronco onde estivera esperando por
ela, dizendo que precisava falar com calma.
Os dois se sentaram e Arlindo, com certa dificuldade, contou do seu medo
de não dar certo devido à diferença de estudo. Ele se sentindo quase analfabeto
e ela a professora. Daí, achou que podia casar com a moça Sandra, porém, logo
entendeu que não era bem assim.
- O coração da gente é mandão, não obedece e
ainda quer ser obedecido. Meu coração é que nem burro quando empaca. Encasquetou
que é você. O que eu posso fazer?
- Célia deu uma risada e percebeu que aquele
moço, com aquela conversa de coração, burro empacador, sabia era manobrar o seu
coração. O resultado foi o retorno do namoro.
Não foi um casamento de arromba. Foi uma festa a
dois. Houve convidados, alguns amigos, parentes, mas a alegria dos noivos foi a
principal nota.
4. O aviso no sonho
Enquanto corriam à procura do tio, Juliana se
lembrou do sonho que teve naquela noite. Acordou chorando e o pai chegou logo para
acalmá-la: - Filha, você estava sonhando. Veja, estou aqui. Estamos em nossa
casa. O que foi que sonhou? Conta pro Pai. – Arlindo havia abraçado a filha e
passava a mão carinhosamente em sua cabeça. Quando a menina parou de soluçar,
contou que no sonho sua mãe havia morrido. O pai aproveitou a superstição e
falou: - Ora, isto é bom. Quando sonha que alguém morre é sinal de vida longa
para a pessoa. Quer dizer que seu sonho trouxe a mensagem de que sua mãe vai
viver até os 100 anos. Já pensou a Celinha toda enrugada, andando com bengala e
falando sozinha? – Juliana começou a rir com a imagem da mãe velhinha e, depois
de outro beijo do pai, dormiu tranquila.
Parou, então, sua corrida e falou alto: - Mãe
vai ficar velhinha.
Ademair, que estava logo atrás, perguntou: - Mãe
vai ficar velha ?! O que você está falando, Ju?
- O pai me disse que quando a gente sonha que
uma pessoa morre, é sinal de que a pessoa vai viver muito. – Com este pensamento, Juliana se acalmou,
deu uma parada, esperou os outros irmãos e ficou pensando no que teria
acontecido para os pais se demorarem tanto. Ademair, curioso queria uma
explicação: - Ju, por que pai falou que mãe vai ficar velhinha.
- Porque eu sonhei que mãe morreu. – Jusiliane e Júnior chegaram perto e Ademair
contou o sonho da irmã. Como já haviam chegado à casa do tio que estava, com um
prato na mão, à beira do fogão, pretendendo servir seu jantar, parou e olhando
surpreso os sobrinhos, perguntou: - Você sonhou que Célia havia morrido,
Ademair?
- Eu não. Foi Ju.
- Onde estão seus pais?
- Ô tio, eles ainda não chegaram.
- É mesmo?! Já está tarde. O que pode ter acontecido?
Será que eles iam passar na casa da Marlene?
- Não – Respondeu a sobrinha mais velha – quando
eles vão se atrasar, pai fala antes. Está na hora da janta. Mãe não deixa a
gente com fome. O tio pode ir ver se mãe não chegou e pai ainda está lá
esperando? – Célio percebeu que as crianças estavam bem ansiosas e começavam a
contaminá-lo, pois perdera o apetite. Vou chamar o Nardo pra gente ir até o
ponto do ônibus. Vocês voltam pra sua casa e ficam lá esperando.
Célia, Nardo e Célio eram vizinhos, suas casas
ficavam bem próximas umas das outras. Célio tinha uns 30 anos, era alto, claro,
cabelos cacheados, olhos castanhos que pareciam verdes, dependendo de seu
humor. Era brincalhão. Morava com a mulher e dois filhos, um garoto e uma
menina de quem Ju gostava de se fazer babá. Nos raros momentos de brincadeira,
a garotinha cumpria um belo papel de boneca. Célio plantava junto com Arlindo,
colhiam e vendiam seus produtos em parceria.
Arnaldo, como não podia deixar de ser, era Nardo.
Apelido apropriado para o garoto que, com hipotireoidismo mal tratado, parecia
anão. Os adultos da família, caçoando dele, ensinaram as crianças e, logo,
todos o elegeram como a vítima da zombaria geral e maldosa. Devido a suas
limitações para o trabalho pesado, era muito pobre e só conseguiu fazer uma
tapera de adobe. Morava sozinho. Criava galinhas, cuja venda era seu sustento.
No entanto, extremamente bondoso, muito ajudava a irmã e o cunhado. Ficava com
as crianças que gostavam bastante do tio anão.
Célio e Nardo andavam apressados, o dia estava
pra acabar e o ponto do ônibus não era tão perto.
– Eu devia ter lembrado da lanterna. – Falou Célio.
– É mesmo. Também os meninos naquela gritaria
que nem dava pra saber o que falavam... – O irmão respondeu, com a voz de quem
deixou o prato cheio e o estômago vazio. Os dois quase corriam, demostrando que
não queriam precisar da lanterna esquecida.
De repente, Arnaldo gritou:
- O que é aquilo?
- Parece fogo! E é fogo!
Chegaram mais perto e se assustaram. Deram meia
volta e correram até botarem a língua pra fora.
Foram direto para a casa da dona Ana, dois homens de olhos arregalados,
sem fôlego para falar. As crianças viram os tios e foram saber por que os pais
não estavam com eles. Ao entrarem na cozinha, ouviram os dois, com palavras
entrecortadas, meio sem nexo, contando que Arlindo e Célia estavam caídos na
estrada e o pai pegando fogo!
Calamidade se aproximando!
Não entendiam, sentiam o horror! Os três
pequenos, perplexos, em choque, depois de choros, o silêncio do desespero, do
desamparo. Saíram da casa e ficaram sentados no chão perto da porta.
Juliana, num segundo, começou a agir por
instinto, procurou o telefone e ligou para a polícia. Uma tia, vendo a menina
ao telefone, pegou o aparelho e pediu a presença de policiais e de uma ambulância.
Os adultos não tiveram olhos para as crianças e
Juliana virou adulta. Pressentiu a extensão da desgraça e soube que a vida
havia lhe dado uma carreta para puxar morro acima. Seus irmãos iriam precisar
de uma leoa para defendê-los. Ela era, agora, pai e mãe aos 14 anos. Mãe?!
Juliana foi atrás dos tios, questionando-os:
- E mãe?!
Com a sensibilidade dominada pelo medo, Célio
respondeu:
- Deve
estar morta, ela não gemia. – Juliana
saiu correndo num choro seco, doído e chamando os irmãos, levou-os para casa,
numa tentativa de proteção.
Os quatro foram para o quarto do casal e se
sentaram na cama. Júnior buscou a mão da Jusiliane e balbuciou:
- Quando
pai chegar, vai perguntar...
– Pai não
vai chegar – gritou histericamente o irmão. Todos se assustaram com o presente
caindo-lhes sobre a cabeça como chuva de espinhos. Calaram-se, cada um rejeitando
o que vivia, entrando no mundo mais seguro, o das lembranças.
Jusiliane, tendo a mãozinha do irmão na sua para
lembrá-la que devia cuidar dele, começou a falar com a voz perto do choro:
- Vocês
se lembram quando mãe chegou mais o pai e encontrou a gente correndo atrás do
gato amarelo? – Juliana, percebendo que a irmã se fazia de forte, aderiu
prontamente.
- O gato apareceu no paiol e pai falou para
deixar ele lá para cuidar dos ratos que queriam comer o milho.
- Mãe ficou brava comigo porque eu tinha uma pedra
na mão. Ela gritou que ia me bater e saiu correndo atrás de mim. - Falou
Ademair. - Todos foram buscar na cena vivida, em momento feliz, o refúgio
contra o presente tão assustador. Cada um se lembrava de detalhes e chegaram a
rir quando veio à baila o escorregão de Ademair, a perda da pedra e o ganho da palmada
na bunda.
- Mãe tem a mão pesada. – A lembrança da palmada
se misturou ao presente e o desespero se fez forte. O caçula, querendo tirar
alguma coisa que o estava estrangulando, começou a gritar:
- vou brincar de taquenalata , vou brincar de taquenalata
– Júnior repetia sem parar. Ademair olhou assustado para o irmãozinho e
falou um cala a boca, moleque, que
foi a senha para a volta à realidade e os choros chegaram para todos. Juliana
também não se conteve mais e com as lágrimas rolando, chamou: - Vamos para a
cozinha fazer a janta.
A polícia encontrou Célia morta com fratura
craniana e Arlindo todo queimado, cheirando a gasolina. Ele foi levado, ainda
vivo, para o hospital, acompanhado por um dos seus irmãos que lhe ouviu as
últimas falas. Estas contradisseram a precipitada versão da polícia. Começam aí
as perguntas não respondidas sobre o duplo assassinato. As investigações se
basearam no fato de a morte da mulher ter sido provocada por agressão, com um
cano, na base do crânio.
Nabuco, um policial aposentado, achou, na área
do crime, o tal cano e o entregou à polícia, identificando-o como sendo de
propriedade de Arlindo, já que havia visto o objeto em sua casa. O ex-policial frequentava as casas da família e
assediava Juliana, tentando boliná-la, o que sempre foi motivo de rejeição e
grande desconforto para a garota. Concluíram que a arma do crime era o cano e o
assassino, seu proprietário. Assim, a conclusão rápida da polícia foi que
Arlindo matou Célia e se colocou fogo. As investigações posteriores – se as
houve – confirmaram, segundo a polícia, essa versão. A partir daí, múltiplas
dúvidas, e muitas perguntas ficaram sem respostas. A mais intrigante é por que,
logo no início do inquérito, as investigações foram paralisadas e o caso
encerrado? As pessoas que conviviam com a família, sem exceção, sempre
afirmaram que o casal era apaixonado, muito feliz. As lembranças dos filhos são
de uma família bem estruturada, sem indicação de ruptura de qualquer natureza. A
pergunta Quem matou Célia e Arlindo não
foi respondida.
5. O pula-pula na busca de um lar
A avó Ana não permitiu que as crianças ficassem
na casa onde viviam com os pais e as levou para sua própria morada. Lá, pelo
menos, os quatro ficaram juntos. Na situação tão traumática, sem apoio familiar
compensatório e confiável, apoiavam uns nos outros. Não podiam imaginar uma
separação, estavam de mãos fortemente enlaçadas.
A passagem por essa casa ficou na memória dos
netos como mais uma prova que a vida lhes estava passando. Cada um guardou para
si, na tentativa de proteger os outros, os descalabros sofridos na casa da avó
que lhes servia comida no prato feito por ela. Essa comida era menos em
quantidade e pior em qualidade que a oferecida às outras pessoas da casa, sem o
cuidado de não deixar as crianças perceberem essa mesquinharia.
Após o almoço, as crianças eram obrigadas a colocar
cada uma a enxada no ombro e ir para a roça capinar. Juliana se parece muito
com sua mãe, o que era motivo para a avó amaldiçoá-la, dizendo-lhe
grosseiramente que ela não teria filhos e nunca conseguiria formar uma família.
Muitos anos depois, Juliana mostrou à avó o seu grande equívoco.
Havia um toque de sadismo no autoritarismo da
matriarca, não somente em relação aos netos, mas também para com o marido e os
filhos não prediletos. As características negativas da avó foram marcantes para
as crianças, porém como elas já haviam recebido dos pais os valores, onde a
solidariedade e a honestidade se faziam presentes, conseguiram superar, não sem
enorme sofrimento, o período macabro do início da orfandade.
Esse período durou dois longos anos.
Júnior, com 12 anos, e Ademair, com 14, foram
morar cada um com um tio. O primeiro, ao completar 18 anos, mudou-se para a
casa de um amigo com quem começou a trabalhar. Logo iniciou a construção de sua
própria casa para onde se mudou tão logo a construção o permitiu. Casou-se e
continua morando lá.
Dois anos antes de Júnior, Ademair completou
seus 18 anos e foi morar sozinho no Quemquem, distrito de Janaúba, numa casa que
conseguiu comprar e lá ficou mais quatro anos. Daí foi para Betim, onde Juliana
já estava e ficou morando com a irmã dois anos, quando, então, mudou-se para
sua própria casa.
Jusceliane saiu da casa de Dona Ana aos 16 anos,
indo morar com sua madrinha, onde ficou por dois anos. Em seguida foi para a
casa de uma cunhada da madrinha e lá ficou para fazer o curso de auxiliar de
enfermagem e ter experiência em farmácia. Foi para uma república, mas não
suportou a desorganização do lugar. Negociou com seu padrinho para morar em um
pequeno apartamento que ele possuía, pagando um aluguel razoável. Esse arranjo
durou 10 anos. Jusceliane continua em Janaúba, trabalha em um hospital e tem
dois filhos.
Juliana foi convidada a ficar com as três
meninas – a mais velha tinha oito anos, a caçula, três e a do meio, seis -
filhas de um primo. Convite que aceitou com uma grande sensação de liberdade por
deixar a casa da avó e poder visitar os irmãos nas casas dos tios. Depois de três
meses, a prima, frustrada por Juliana recusar seu irmão, levou-a à presença da promotora que a encaminhou
ao Conselho Tutelar, tendo lá permanecido por quase dois meses. Uma prima
distante foi buscá-la e Juliana esteve, então, em sua casa, por dois anos,
quando foi solicitada a se mudar. Sua amiga do grupo de orações alugou uma quitinete
e foram morar juntas. Ju pagava água e luz com o que ganhava fazendo unhas.
6. A gota d’água e o recomeço
Conseguiu, então, um emprego de caixa na loja de
uma de suas clientes.
Nessa época, a vida já havia lhe proporcionado
as dores que não mais cabiam em seus pequenos ombros e os resultados das
batalhas travadas mal davam para conseguir caminhar alguns passos. Juliana, uma
garota linda, cobiçada por muitos homens, numa cidade pequena do interior
mineiro, onde impera a maledicência, pagou caro sua firmeza e honestidade. Aquele policial aposentado, na realidade era
doente, concupiscente, tentou agarrar Juliana que conseguiu sair fisicamente
ilesa, mas sofreu a vingança do homem rejeitado. Nabuco se encarregou de montar uma imagem negativa da
garota que o humilhou. Espalhou o ocorrido exatamente da forma inversa à
verdade e a menina passou a ser vista pelas pessoas – que não se preocuparam
com sua situação dolorosa, tampouco em saber se os boatos eram verdadeiros – daquela
cidade como uma leviana. Depois de tantos episódios tétricos, Juliana se
abateu, foi ficando depressiva, terminou com o namorado, perdeu o emprego e,
por seis meses, não pode sequer sair de casa. Superando mais
essa batalha, saiu a procurar emprego, já que era questão de sobrevivência, o
instinto de vida e sua coragem venceram a depressão.
Soube de uma loja que
estava se preparando para abrir, portanto, deveria estar contratando funcionários.
Era uma loja pequena, mas foi contratada e imediatamente já começou a ajudar o gerente,
irmão do dono. A loja foi inaugurada e
Juliana passou a tomar conta do caixa.
O gerente Adilson sabendo
das fofocas contra a nova funcionária, deu-lhe apoio e procurou mostrar o
caminho positivo da vida, sem levar em conta as maledicências. As pessoas fortes atraem inveja, ele gostava
de repetir, mostrando à Juliana a importância zero das pessoas que a invejavam
por ter conseguido superar as adversidades, os terríveis sofrimentos advindos da morte dos pais. Essas conversas
acabaram por aproximar bastante os dois. Ele, 20 anos mais velho, encantou-se
com a garota linda, corajosa e, o que mais admirava era o fato de, com todos os
infortúnios, ela ainda ser alegre.
Adilson namorava Dalva
jovem viúva, mãe de três crianças. Após conhecer Juliana, o noivado foi ficando
sem graça e havia pouco tempo para esse namoro. Até que o rapaz percebeu que
precisava terminar aquele relacionamento para ser honesto com Dalva e com ele
próprio. No entanto, a diferença de idade com Juliana trouxe inquietações. Foi
falar com seu irmão sobre essa dúvida que o estava angustiando e o impedia de
se abrir com ela. Quando contou ao
Marcos seu problema, fechou dizendo:
- Quando eu tiver 70 anos,
ela terá apenas 50. Vou estar caquético e ela bonitona. Estou pensando em me
mandar daqui e procurar meu caminho, mas não está fácil pensar que não verei
mais aquele sorriso tão doce quando me dá bom dia. – Sorriu sonhador e
completou:
- Não há poder no mundo que
faça meu dia não ser bom!
- Marcos riu com vontade,
deixando o irmão entre sem graça e com raiva. - Ao invés de rir de mim poderia me
ajudar.
- Como você quer que eu o
ajude? Você estava com uma mulher de sua idade. Terminou com ela e, agora, está
na dúvida se namora a garota mais nova.
- Se falo com ela, pois nem
sei se vai querer namorar com o coroa aqui.
- Cara, você parece que foi
expulso do campo antes de começar o jogo.
- Ora, me diga o que você
acha que devo fazer?
- Depende.
- Depende de quê?!
- Depende de como você quer
chegar aos 70. Você quer chegar como um homem sério que procura uma mulher pela
idade ou quer chegar aos 70 tendo vivido o grande amor?
- Adilson olhou espantado
para o irmão e resmungou: - o que estou esperando?! – Saiu apressado e quando
se deu conta estava em frente à loja, mas era à noite, O expediente terminara
há algumas horas e ele nem sabia onde a moça do sorriso de bom dia morava.
Agora, ele tinha urgência! O que fazer senão esperar até o dia seguinte? Quase que
por puro hábito fora parar lá, lembrou-se que Juliana, quando de sua
contratação, preencheu a ficha de funcionários. Feliz com a ideia que lhe
ocorreu, abriu a porta da loja e foi buscar os documentos do pessoal. Lá estava
a foto da garota e seu endereço. Adilson falou em voz alta: - Peguei você! - Rapidamente, fechou tudo e saiu correndo a
procura do endereço.
7. Juliana, a intrépida alegre
Juliana foi abrir a porta e
deu de cara com seu gerente que, sem um boa noite, lhe disse: - Preciso falar
com você, vamos dar um passeio. – O tom não era de interrogação e pegando sua mão
a puxou para a calçada. Juliana meio preocupada com a seriedade de Adilson, mas
achando graça no seu jeito, mostrou que estava de chinelos e penhoar ao que ele
aquiesceu, pedindo que fosse se trocar rapidamente.
- Pronto. Vamos logo para
eu saber onde está pegando fogo...
- Fogo! eu é que estou pegando fogo, menina – pensou o rapaz.
Foram andando e ela cobrou:
- Fala, Adilson, você está
me deixando nervosa.
- Acho que estou gostando
de você.
- Acha?
- Juliana, podemos namorar?
Quer dizer você tem namorado?
- Tenho, mas...
- Mas o quê?
- Eu já ia mesmo terminar
esse namoro porque não está dando certo. Ele é muito criança pra mim.
- E você me acha muito
velho? É, acho que posso dizer que você
é que é muito criança pra mim.
Juliana estava ficando
chateada e perguntou meio agressiva:
- Você está me deixando
confusa. Vem na minha casa, me chama para ir dar um passeio, diz que quer me
namorar e, agora, vem dizer que eu sou muito nova pra você!
Adilson segurou o braço
dela, olhou em seus olhos com tanto carinho que Juliana ficou também olhando
pra ele enquanto sentia sua mão nos cabelos e ouvia sua voz baixa: - Sabe o que
é? Sou muito mais velho que você por isto tive medo de lhe falar antes.
- Estamos perto da
pracinha, vamos sentar num banco? – Foram andando, com as mãos entrelaçadas.
Quando sentaram, foi ela que falou:
- Faz tempo que olho pra
você e sinto que gostaria de me aproximar mais. Fico contente por me procurar,
mas me dê um tempo para eu resolver com o Juarez, o rapaz com quem ando saindo.
A verdade é que antes dele, tive a infelicidade de namorar um cara bastante
ciumento e violento. Fiquei com medo de ficar sozinha e ele vir me aporrinhar.
Daí, o Juarez apareceu. Ele é muito correto, não posso ser diferente. - Adilson
concordou. Embora não tenha gostava da tal espera, achou a atitude da moça louvável.
Quando Juliana avisou que
estava liberada, os dois passaram a sair juntos. Ela saiu da loja e foi
trabalhar em outra, onde, todo final de tarde, ele passava par acompanhá-la até
sua casa. Na medida em que a convivência ia mostrando as preferências de cada
um, seus jeitos de encarar a vida, iam percebendo maravilhados o quanto se
acertavam, se complementavam. Como Juliana sempre foi um hino à alegria de
viver e Adilson a admirava também por sua coragem nos enfrentamentos que a vida
lhe imponha, o casal tinha uma convivência fácil.
Uma tarde, Adilson
encontrou Juliana sentada no beiral do portão da loja.
- O que aconteceu? Por que
você chorou?
- Roubaram minha bicicleta.
– Havia um componente psicológico naquela bicicleta que a transformara em um
objeto importante, quase um fetiche. Quando criança, o pai carregava Juliana na
garupa para levá-la ao ponto do ônibus escolar. Ela conseguiu, com todos os
percalços de suas idas pra lá e pra cá, nas várias moradias por onde passou,
conservar a bicicleta. Adilson sabia de
todo o significado e se condoeu. Pegou as mãos dela e a levantou, puxando-a num
abraço. Ela se entregou à sua nova dor e chorou. Ao se acalmar começou a falar
o quanto estava cansada de tudo dar errado e, num sofrido desabafo, falou:
- Não quero ficar mais
nesta cidade. Só tive sofrimento. – Adilson que já estivera fazendo planos para
voltar a Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ficou acariciando
seus cabelos, na tentativa de acalmá-la.
- Vamos pra casa, tomamos
um lanche e quero lhe contar os meus planos de sair daqui. – Ela sorriu e
pensou: deve ser a janela abrindo no lugar de todas as portas que já se
fecharam para mim.
Não demorou muito e
realmente, ele deixou a loja com seu irmão que afinal era o proprietário do
negócio. Em Betim, foi morar com a irmã. Ficara combinado que Adilson iria
arrumar um emprego, alugar uma casa e, então, Juliana iria. Acontece que ela
havia chegado a seu limite e avisou que não podia esperar mais. Combinaram,
pois, de ela ir e ajudar a procurar casa para alugar. A irmã concordou e
ficaram alguns dias morando com ela. Logo, conseguiram alugar uma casa e foram,
então, para o lugar que, pela primeira vez, Juliana pode chamar de minha casa.
Há muitos anos, sonhava em ter seu lar com sua família. Começou a procurar trabalho e foi ser
manicure em uma salão de beleza. Ele conseguiu um lugar para vender peças
automotivas, já que tinha experiência nesta área. Prestou um concurso na
Prefeitura de Belo Horizonte, passou e tomou posse, iniciando suas idas de
manhã bem cedo para a Capital.
Foi um tempo difícil,
levantavam de madrugada, trabalhavam muito e se viravam, na maior economia com
o dinheirinho que ganhavam. Entretanto, Juliana não se abatia e se acostumou a
buscar o melhor do que vivia. Adilson oferecia a ela a segurança de que
precisava, sobretudo pelo carinho.
Ela começou um curso de
podóloga, enquanto Adilson se preparava para prestar outro concurso, agora para
o Estado de Minas Gerais. Juliana
passou, então, a trabalhar como podóloga, ganhando um pouco mais e ele como
funcionário do Estado. Compraram uma casa em Mateus Leme, pertinho de Betim.
Juliana engravidou. Felicidade! Toda gravidez desejada traz à mulher uma luz de
alegria que a ilumina, como se fosse um aviso para o mundo se preparar para a
chegada de uma nova era.
Passaram alguns meses, a
preparação para o enxoval do bebê já se iniciara, porém Juliana começou a se
preocupar porque não sentia mais os movimentos da criança. Foi constatada a
morte do feto e o médico achou que deveriam esperar para o próprio organismo
expulsar, num aborto espontâneo. Juliana sofreu muito por perder o filho que
tanto queria e por ficar com o feto morto dentro de si. Aguardaram um mês ao
final do qual, ela não suportou e foi, então, feita a cirurgia. Tristeza maior!
De novo o infortúnio!
Juliana carrega a
contradição: de um lado os acontecimentos nefastos a acompanhando e de outro,
sua intrepidez lhe apontando batalhas vencidas num convite à vida. Lembra com
angústia das palavras amaldiçoadas da avó, prenunciando seu fracasso de nunca
formar uma família, de ser incapaz de ter filhos. Junto à lembrança, vem o
abatimento. No entanto, logo chega o outro lado, se houve tanta desdita e ela
conseguia até ser uma jovem alegre – como seu marido gostava de dizer –
significava que sua força era grande. Começou a reagir e, durante o
churrasquinho – o casal tinha o costume de toda segunda-feira ficar em casa,
curtindo um ao outro - avisou ao Adilson que queria outro filho. De fato, logo
engravidou novamente.
Nasceu Ana Júlia que trouxe
alegria e coragem maiores ao seus pais. Como não poderia deixar de acontecer, quando
a criança completou cinco anos, Juliana a levou e ao marido para apresentá-los
à avó. Mais uma vitória a comemorar!
Mudaram para outro município
mais perto do trabalho dos dois. O futuro está se delineando com mais um filho
e uma nova mudança, agora, para uma cidade pequena à beira mar, um sonho que
tem tudo para ser realizado.
Em, 7 de dezembro de 2018