Dona Pandá
recebeu a visita de algumas vizinhas. Vieram lhe dar as boas-vindas pelo seu
retorno à Chácara Xury. Durante a conversa, Mariazinha, filha de Dona Bartô, a
farinheira, estava muito quieta, não dizia uma palavra e quando alguém contava
algo que levava todas às risadas, ela parecia nem ouvir, quanto mais rir. Dona
Pandá, então, lhe perguntou por que estava tão triste. A resposta foi um “nada
não”, mas Dona Bartô contou que seu
marido, pai de Mariazinha, havia gritado com a garota por conta de umas
ferramentas enferrujadas. Segundo ele, a filha não limpou, nem guardou direito,
daí a ferrugem.
- Eu limpei
e guardei. Pai foi injusto, não tive culpa.
Dona Pandá
foi logo dizendo: - vou lhe ensinar uma receita que vai salvar suas ferramentas
e nunca mais seu Olívio vai se zangar por elas. Quer saber como faz?
- Quero sim
– Mariazinha resmungou.
- Você
coloca em uma vasilha – é bom que não seja de metal, mas se não tiver uma de
plástico, pode usar uma lata, procurando não deixar muito tempo a mistura que
vou lhe ensinar na lata – um litro de água
e 600 gramas de cal hidratada. Mexe bem até dissolver e a mistura ficar
homogênea, quer dizer não ficar a cal separada da água. Pegue um pincel ou uma
brocha e pinte as ferramentas com essa mistura. Agora, como as suas ferramentas
já estão oxidadas, você vai precisar lixar primeiro até tirar toda a ferrugem e
só, então, pintar. Entendeu? Seu pai vai ficar contente.
Já com um
tímido sorriso, a menina agradeceu, dizendo que só não sabia se em sua casa
havia pincel ou brocha, quando outra senhora falou:
- Já pintei
uma parede com uma brocha de pano. Você arruma uns trapos e amarra tudo junto,
fazendo uma bola, mas não redonda, meio comprida.
- Como a
daquele jogo de que os americanos gostam?
- É isso
mesmo. Daí prega a bola num bambu para fazer de cabo e pinta.
- A cal é
muito importante numa chácara – começou a dizer Dona Pandá -, sobretudo aqui no
nosso bairro, onde não temos rede de esgoto. Nós jogamos, a cada duas semanas,
uma mistura de meio kg de cal hidratada e quatro litros de água, nas fossas
sépticas. Ajuda a desinfetar e a fossa não chama insetos.
Dona Rosa,
uma mulata dos seus 40 anos bem bonitona, contou que usa cal nos troncos das
árvores de frutas. Ela aprendeu com um agrônomo que antigamente vinha nas
roças. - Vou dar a receita como ele
ensinou: a gente faz uma pasta de cal com sulfato de cobre e pinta os troncos.
Essa pasta protege contra os fungos, pulgões e outros bichinhos.
O agrônomo - continuou Dona Rosa - também ensinou a colocar cal virgem nas covas onde a gente enterra quando os cachorros e gatos morrem. Faz a cova, joga a cal, põe o animalzinho morto e cobre também com a cal para depois jogar a terra por cima. Aí não dá cheiro ruim.
O agrônomo - continuou Dona Rosa - também ensinou a colocar cal virgem nas covas onde a gente enterra quando os cachorros e gatos morrem. Faz a cova, joga a cal, põe o animalzinho morto e cobre também com a cal para depois jogar a terra por cima. Aí não dá cheiro ruim.
- Eu também
sei de uma receita com cal – Desta vez foi Manuela, que vinha chegando com uma
bandeja de pão de queijo e café, quem falou
e todas ficaram olhando para ela, esperando a continuação. – Quando a
gente tem mais frutas do que dá conta de comer logo, coloca, numa vasilha,
cinco litros de água, duas colheres de detergente (não pode fazer muita espuma)
e 10 gramas de cal. Pega as frutas e deixa de molho por uns 10 minutos e depois
lava em água limpa. Pode guardar e comer aos pouco. Só se demorar muito para as
frutas perderem. E agora, vamos ao café
que este pão de queijo é receita das Gerais, terra de Dona Pandá.
Nota do blog:
Estas e outras receitas constam do livro de autoria de José Epitácio Passos
Guimarães “Aplicações da cal no meio rural”.