Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade
Clic sobre o livro (download gratuito). LEIA E DÊ SUA OPINIÃO

domingo, 11 de novembro de 2012

As visitas ganham pão de queijo e receitas de cal


 Dona Pandá recebeu a visita de algumas vizinhas. Vieram lhe dar as boas-vindas pelo seu retorno à Chácara Xury. Durante a conversa, Mariazinha, filha de Dona Bartô, a farinheira, estava muito quieta, não dizia uma palavra e quando alguém contava algo que levava todas às risadas, ela parecia nem ouvir, quanto mais rir. Dona Pandá, então, lhe perguntou por que estava tão triste. A resposta foi um “nada não”, mas Dona Bartô  contou que seu marido, pai de Mariazinha, havia gritado com a garota por conta de umas ferramentas enferrujadas. Segundo ele, a filha não limpou, nem guardou direito, daí a ferrugem. 
- Eu limpei e guardei. Pai foi injusto, não tive culpa.
Dona Pandá foi logo dizendo: - vou lhe ensinar uma receita que vai salvar suas ferramentas e nunca mais seu Olívio vai se zangar por elas. Quer saber como faz?
- Quero sim – Mariazinha resmungou.
- Você coloca em uma vasilha – é bom que não seja de metal, mas se não tiver uma de plástico, pode usar uma lata, procurando não deixar muito tempo a mistura que vou lhe ensinar na lata – um litro de água  e 600 gramas de cal hidratada. Mexe bem até dissolver e a mistura ficar homogênea, quer dizer não ficar a cal separada da água. Pegue um pincel ou uma brocha e pinte as ferramentas com essa mistura. Agora, como as suas ferramentas já estão oxidadas, você vai precisar lixar primeiro até tirar toda a ferrugem e só, então, pintar. Entendeu? Seu pai vai ficar contente.

Já com um tímido sorriso, a menina agradeceu, dizendo que só não sabia se em sua casa havia pincel ou brocha, quando outra senhora falou:
- Já pintei uma parede com uma brocha de pano. Você arruma uns trapos e amarra tudo junto, fazendo uma bola, mas não redonda, meio comprida.
- Como a daquele jogo de que os americanos gostam?
- É isso mesmo. Daí prega a bola num bambu para fazer de cabo e pinta.

- A cal é muito importante numa chácara – começou a dizer Dona Pandá -, sobretudo aqui no nosso bairro, onde não temos rede de esgoto. Nós jogamos, a cada duas semanas, uma mistura de meio kg de cal hidratada e quatro litros de água, nas fossas sépticas. Ajuda a desinfetar e a fossa não chama insetos.

Dona Rosa, uma mulata dos seus 40 anos bem bonitona, contou que usa cal nos troncos das árvores de frutas. Ela aprendeu com um agrônomo que antigamente vinha nas roças.  - Vou dar a receita como ele ensinou: a gente faz uma pasta de cal com sulfato de cobre e pinta os troncos. Essa pasta protege contra os fungos, pulgões e outros bichinhos.  
O agrônomo - continuou Dona Rosa - também ensinou a colocar cal virgem nas covas onde a gente enterra quando os cachorros e gatos morrem. Faz a cova, joga a cal, põe o animalzinho morto e cobre também com a cal para depois jogar a terra por cima. Aí não dá cheiro ruim.

- Eu também sei de uma receita com cal – Desta vez foi Manuela, que vinha chegando com uma bandeja de pão de queijo e café, quem falou  e todas ficaram olhando para ela, esperando a continuação. – Quando a gente tem mais frutas do que dá conta de comer logo, coloca, numa vasilha, cinco litros de água, duas colheres de detergente (não pode fazer muita espuma) e 10 gramas de cal. Pega as frutas e deixa de molho por uns 10 minutos e depois lava em água limpa. Pode guardar e comer aos pouco. Só se demorar muito para as frutas  perderem. E agora, vamos ao café que este pão de queijo é receita das Gerais, terra de Dona Pandá.

Nota do blog: Estas e outras receitas constam do livro de autoria de José Epitácio Passos Guimarães “Aplicações da cal no meio rural”.