Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Redução da Pobreza e Segurança Alimentar: as verdadeiras lições do Brasil


Reetika Khera*
Recentemente passei uma semana no Brasil estudando seu reconhecido programa de transferência de renda – Bolsa Família. O Bolsa Família é visto como um programa bem-sucedido de combate à pobreza e também como um programa de segurança alimentar. Meu interesse no tema deriva de impulso recente, a propósito de um programa semelhante na Índia que substituiu o PDS (“Sistema de Distribuição Pública” local). A 4ª Conferência Nacional do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) foi uma ótima oportunidade para conhecer alguns dos envolvidos na formulação de políticas públicas e me informar sobre sua implementação. Além disso, visitei dois municípios para conversar com as administrações locais e também com alguns beneficiários dos programas de governo. Neste breve artigo, relato o que vi e o que se pode aprender com o Brasil.
Brasil e Índia são muito diferentes
Durante minha breve visita fiquei mais impressionado com o quão diferentes são o Brasil e a Índia. Sendo eu proveniente da Índia, tive dificuldade em acreditar que o Brasil ainda consta como um país em desenvolvimento. Isso me levou a comparar os dados dos dois países. Em 1990, o PIB per capita anual brasileiro foi cinco vezes maior do que o da Índia – e é agora cerca de três vezes maior. A Tabela 1mostra que, mesmo há 20 anos, o Brasil estava à frente da Índia em vários indicadores de desenvolvimento, posição que se consolidou ao longo das últimas duas décadas.
Pobreza no Brasil tem sido o problema de uma pequena minoria da população. Em um artigo que compara Brasil, China e Índia, Martin Ravallion calcula que em 1981 menos de um quinto (17,6%) da população estava em "extrema pobreza" (ou seja, viviam com menos de US$ 1,25 por dia). Essa proporção caiu para menos de 10% até 2005. Na Índia, por outro lado, até 42% viviam em extrema pobreza – ou seja: em 2005, o nível de extrema pobreza na Índia era maior do que os dados brasileiros de 25 anos atrás.
Indo além da renda e da pobreza, o Brasil tem uma infraestrutura de serviços públicos muito bem desenvolvida. Uma proporção muito pequena (menos de 15%) da população do Brasil está nas áreas rurais. Há de se considerar que a definição de "rural" é diferente nos dois países, sendo improvável estabelecer uma “ponte” que forneça boa comparação – de acordo com o censo de 2011, quase 70% da população da Índia ainda vive em aldeias. A comparação de indicadores de outros dados de infraestruturas é ainda mais reveladora: quase todos os domicílios no Brasil possuem acesso à eletricidade e a saneamento básico (ver Tabela 1). Eu não experimentei quaisquer cortes de energia durante a minha visita.
Além disso, grande parte do Brasil é administrada através de uma rede viva de municípios, que são órgãos funcionais dotados de infraestrutura administrativa adequada, incluindo pessoal, prédios, móveis, computadores, etc. (Além disso, o alcance de instituições bancárias também é altamente desenvolvido no Brasil. De acordo com uma pesquisa realizada pelo IPEA, 60% dos adultos no Brasil possuem conta bancária. Em comparação, apenas 5% das aldeias na Índia possuem uma agência bancária local).
É importante ter em mente essas diferenças básicas entre a Índia e o Brasil quando se pensa em programas de alimentação e de nutrição ou, genericamente, quando se pensa em políticas de combate à pobreza. No Brasil, essas questões ganharam destaque quando Lula chegou ao poder em 2003 – a fome, a pobreza e a desnutrição afligiam menos de um décimo dos brasileiros. Em 2003, o governo Lula enfatizou o fato de que o Brasil era um país com uma desigualdade intolerável. O problema da privação estava concentrado em um segmento tão pequeno da população, que tendia a ser ignorado. Seu governo procurou colocar os holofotes sobre esse segmento com o propósito de eliminar tal privação.
Na Índia, por outro lado, os problemas de pobreza, de falta de saúde, de subnutrição e de analfabetismo permanecem difundidos – e, talvez, por serem tão difundidos, são tolerados por todos.
Previdência Social no Brasil
Apesar de o problema ter uma dimensão diferente, há de se considerar que as conquistas do Brasil nos últimos 10 anos têm sido louváveis. De fato, chegar aos grupos mais carentes tende a ser a parte mais difícil da batalha contra a pobreza e contra a fome. O Brasil pôs em prática uma estratégia bem-sucedida para completar a etapa mais difícil desta viagem. Esta seção descreve alguns aspectos dessa estratégia bem-sucedida do Brasil.
Sempre que eu mencionei o meu interesse no Bolsa Família em minhas discussões, a primeira coisa que as pessoas me disseram foi que Bolsa Família foi apenas uma dentre uma série de intervenções do governo. Como Ísis Ferreira, que trabalha no Ministério do Desenvolvimento Social, disse: "Fome Zero é uma estratégia e Bolsa Família é um programa que está inserido nessa estratégia". Na verdade, saúde, acesso à água e salário mínimo mais elevado são vistos como essenciais para alcançar segurança alimentar e nutricional.
Em geral, o alcance e a qualidade dos serviços básicos são bastante elevados no Brasil. Como a Tabela 1 indica, o Brasil gasta quase 10% do seu PIB em educação e saúde. Gastos públicos da Índia em saúde e despesas com saúde “empalidecem” se comparados, parcamente superando os 5% do PIB. Os níveis mais elevados de despesas médicas são visíveis – em Formosa (GO), visitamos um centro de saúde pública que serve uma população de 4.000 pessoas e possui 13 profissionais de saúde de campo, além de um médico geral, uma enfermeira e um dentista. Da mesma forma, o acesso à escolaridade é impressionante – para uma população total de 100.000 pessoas o distrito tem cerca de 60 escolas do governo.
O Brasil possui uma rede muito extensa de programas de proteção social. Há grande diversidade de programas de governo: um programa de "cesta de alimentos" (fornecimento de alimentos frescos); uma rede de restaurantes populares (que fornecem refeições muito nutritivas a R$ 1,00 por refeição), um programa de "banco de alimentos" (que compra produtos perecíveis de agricultores), um programa para a erradicação do trabalho infantil (não apenas para as crianças trabalhadoras, mas também para as crianças vulneráveis ao trabalho infantil); um programa de habitação popular; abrigos de jovens que tiveram suas casas danificadas e até mesmo um programa de "entretenimento" para idosos. Os municípios também parecem desempenhar um papel na formação de cooperativas e no desenvolvimento de programas de treinamentos e de preparação laboral (como cabeleireiros, manicures etc.) para beneficiários do Bolsa Família.
Além disso, muitos desses programas agora são direitos – há uma lei para o sistema único de saúde (1990), uma lei sobre a assistência social (1993), uma renda básica para garantir direitos de cidadania (2004), e, claro, a lei de segurança alimentar e nutricional (2006), além do programa de merenda escolar, promulgada em 2009.
O que parece ser realmente especial sobre a batalha do Brasil contra a pobreza e a privação é a abordagem e atenção a cada pessoa necessitada sob um "zelo intensivo". Em 2003, o Brasil apresentou o Cadastro Único, um registro que permite que as pessoas avancem etapas e se inscrevam em diversos programas de governo. As pessoas preenchem, em órgãos municipais, um detalhado formulário de 10 páginas que auxilia a administração "diagnosticar" problemas e a fazer uma prescrição personalizada para cada família. Algumas famílias só podem exigir o apoio ao rendimento por meio da Bolsa Família, outras podem precisar de assistência alimentar; crianças de famílias que parecem em uma posição muito vulnerável podem ter seus filhos matriculados para o programa de erradicação do trabalho infantil, por meio do qual o governo não apenas garante que a criança não abandone a escola, mas ainda que essa criança desenvolva competên cias. A abordagem do "zelo intensivo" foi possível por duas razões: 1) é centrada nas camadas mais desfavorecidas da população e 2) o regime de Lula desde 2003, veio com a vontade política necessária para lidar com o problema.
Transferência de renda por meio do Bolsa Família
Nesse contexto mais amplo de intervenções sociais, não era fácil dizer se o programa Bolsa Família foi a intervenção mais importante. Embora certamente possua o maior orçamento (0,5% do PIB em 2006), é amplamente visto como a intervenção de maior sucesso.
A ajuda do Bolsa Família é baseada em renda auto-declarada. O Bolsa Família é supostamente dado a qualquer pessoa cuja renda per capita seja inferior a R$ 140,00 mensais. Sabe-se que as pessoas do setor informal possuem rendimentos variáveis e incertos, de modo que há períodos em que os seus rendimentos excedem a linha de corte do Bolsa Família e há períodos em que a família não ganha nada. O Brasil possui um grande setor formal (aproximadamente 60% da economia) e, quando as pessoas entram em emprego no setor formal, precisam se candidatar por um número de segurança social. O banco de dados do Cadastro Único é periodicamente cruzados com o banco de dados de quem possui emprego formal, de modo que as pessoas não-elegíveis deixam de receber transferências de renda do Bolsa Família.
Bolsa Família é um programa de transferência de renda bem-sucedido, que inclui um componente de transferência incondicional de renda, bem como uma transferência condicional, vinculada ao atendimento e à imunização das crianças. Inicialmente, os benefícios foram fornecidos para até três filhos, este limite já foi relaxado e os benefícios são dados para até cinco crianças. Uma vez que a frequência escolar e a vacinação são quase universais, as condições são facilmente alcançadas na maioria dos casos. Quando não estão, medidas corretivas supostamente são tomadas – a interrupção das transferências é o "último recurso".
A popularidade do programa Bolsa Família ficou clara na minha entrevista com Hilma, uma estudante da 8ª série, atualmente beneficiária do Bolsa Família. Ela vive em Formosa (GO), a 80 quilômetros de Brasília. Seu marido é motorista de caminhão com uma renda incerta. Quando eu lhe perguntei qual era a maior diferença em sua vida como resultado do dinheiro do Bolsa Família, ela respondeu que era a autonomia financeira em relação a seu marido. Antes, quando ela queria comprar coisas para as crianças (ela possui três filhas), precisava "implorar" a ele por dinheiro. Agora, ela está livre dessa dependência do dinheiro do marido. Sua mãe era beneficiária do programa enquanto Hilma estava crescendo, então ela está acostumada a tal assistência. Quando ela começou a receber o dinheiro, gastou tudo em alimentação. Ela ficou com a impressão de que não foram autorizados outros usos. Então ela pediu à prefeitura local e foi informada de que poderia gastar o dinheiro como ela gosta. Ela agora gasta parte da renda para comprar leite e outros alimentos, roupas e material escolar para suas meninas e, o mais importante, ao longo dos anos ela adquiriu um fogão, uma geladeira e um conjunto de sofás.
Tendo emergido de um longo período de ditadura, o Brasil não perdeu tempo ao focar nos mais pobres. Uma forte e abrangente estrutura jurídica, a prioridade política para a questão, os recursos financeiros adequados e a mobilização popular contribuíram para realizações impressionantes do Brasil neste campo nas últimas duas décadas. A promulgação de uma abrangente e eficaz Lei Nacional de Segurança Alimentar será um passo importante para erradicar o flagelo da fome, subnutrição e da pobreza na Índia.
 
 Índia   
Brasil     

1990               2009               1990               2009               
PIB per capita (em dólares)                                                    
1.29023.25015.04010.140
População rural em 2011 (%)1
 69,7 13,1
Domicílios com energia elétrica (%)2
Água potável canalizada2
Saneamento básico2
Sem instalações sanitárias

 
 
18
 

68
42
39
55
 

69

98,9
73
48
11
Taxa de alfabetização (%), idade 15-24
Feminino
Masculino
 
49,3
73,5
 
74
88
 
 
99
97
Média de anos de escolaridade234.43,87,2
Taxa de mortalidade infantil577505018
Proporção de crianças imunizadas (%)
(crianças menores de 3 anos)
 4473 (1996) 
Subnutrição
Abaixo do peso
Atrofia
 
 
46
38
 
6 (1996)
10 (1996)
2
Despesa pública (% do PIB) em
Educação1
Saúde1
 
 
3,1
1,1
 
 
5,1
3,5
 
Fontes:
1 Indicadores do Desenvolvimento Mundial 2009 (online);
2 Relatório de Desenvolvimento Humano 2010;
3 Nações Unidas (2010). Perspectivas da População Mundial: Revisão 2008. Nova Iorque;
4 Relatório de Desenvolvimento Humano 1990
5 Grupo inter-agências para a Estimativa da Mortalidade Infantil
8 Sistema de Informações Estatísticas da OMS
 
* Reetika Khera possui PhD em economia pela Escola de Economia de Delhi (Índia). Ela luta pelos direitos das pessoas pobres nas periferias do país, é associada ao GB Pant Instituto de Ciências Sociais, da Universidade de Allahabad. Ela é professora-visitante do Centro para a Economia do Desenvolvimento, da Escola de Economia de Economia de Delhi. Atualmente, está lecionando no Instituto Indiano de Tecnologia Delhi.

Dom Casmurro de Machado de Assis ganha versão em quadrinhos


      Um dos maiores clássicos escritos por Machado de Assis, que conta com inúmeras traduções em vários idiomas e adaptações no cinema e na TV, ganha agora sua versão em quadrinhos. A Editora Nemo lançaDom Casmurro de Machado de Assis, uma adaptação de Wellington Srbek e José Aguiar.



      Dom Casmurro se destaca por sua engenhosidade na construção de cada elemento da narrativa. Utilizando-se de uma linguagem digressiva, em flashbacks, Machado de Assis criou uma espécie de livro de memórias ficcional, cujo narrador protagonista, Bentinho, tem a intenção de “atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência”. E assim convencer o leitor do adultério cometido por sua esposa, Capitu.
      O roteirista Wellington Srbek consegue preservar toda a riqueza do texto machadiano, reunindo os 148 capítulos curtos que integram a obra original em 20 partes, que resgatam tanto o enredo como a riqueza da linguagem culta machadiana, repleta de ironias e metáforas. O realismo que caracteriza a obra é também transposto nos traços dos desenhos em preto e branco de José Aguiar, que trazem dois estilos para diferenciar a narração feita por Casmurro dos fatos que ele narra. A HQ conserva o estilo machadiano, com as ações sendo relatadas conforme surgem na memória e na vontade personagem-narrador.
       Fundador da Academia Brasileira de Letras, Machado de Assis demonstra todo seu talento ao centrar a narrativa em elementos psicológicos, revelando o mundo interior de seus personagens, investigando a alma humana, trazendo à tona contradições e problemáticas. Sua versão em quadrinhos logra com sucesso o mesmo intento, proporcionando ainda elementos imagéticos que enriquecem a leitura do texto clássico. 

Sobre o autor
      Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro em 1839, é considerado o maior dos escritores brasileiros. Um apaixonado pela literatura e observador atento da vida social, suas obras têm o caráter atemporal de verdadeiros retratos da alma humana. Com a força de seu texto irônico e sua narrativa cativante, os clássicos machadianos vencem o tempo, renovando-se a cada leitura.

Sobre o roteirista 
      Wellington Srbek nasceu em Belo Horizonte em 1974, é formado em História, mestre e doutor em Educação pela UFMG. Pesquisador e professor de quadrinhos, recebeu os principais prêmios nacionais como roteirista e editor de HQs. Entre seus trabalhos mais conhecidos estão o álbum Estórias Gerais e série Solar.

Sobre o desenhista 
      José Aguiar nasceu em Curitiba em 1975, é arte-educador formado pela FAP, roteirista, ilustrador e editor, premiado com o troféu HQ Mix. Entre suas obras destacam-se Folheteen, Vigor Mortis Comics e Quadrinhofilia, além de dois volumes de Ernie Adams e da coletânea Un Jour de Mai, publicados na França.

Nossa fonte: Vermelho
Nossa fonte

A esquerda europeia e a crise da dívida

terça-feira, 29 de novembro de 2011

A COPA (NÃO) É NOSSA


Frei Betto
Para bem funcionar, um país precisa  de  regras. Se carece de leis e de quem zele por elas, vale a anarquia.  O Brasil  possui mais leis que população. Em princípio, nenhuma delas  pode contrariar a  lei maior – a Constituição. Só em princípio. Na  prática, e na Copa, a teoria é  outra.

Diante do megaevento da  bola, tudo se enrola. A legislação corre  o risco de ser escanteada e,  se acontecer, empresas associadas à Fifa ficarão  isentas de pagar  impostos.

A lei da responsabilidade fiscal, que  limita o  endividamento, será flexibilizada para facilitar as obras destinadas  à  Copa e às Olimpíadas. Como enfatiza o professor Carlos Vainer, especialista   em planejamento urbano, um município poderá se endividar para  construir um  estádio. Não para efetuar obras de saneamento...

A  Fifa é um cassino.  Num cassino, muitos jogam, poucos ganham. Quem  jamais perde é o dono do  cassino. Assim funciona a Fifa, que se  interessa mais por lucro que por  esporte. Por isso desembarcou no  Brasil com a sua tropa de choque para obrigar  o governo a esquecer  leis e costumes.

A Fifa quer proibir, durante a  Copa, a  comercialização de qualquer produto num raio de 2 km em torno dos   estádios. Excetos mercadorias vendidas pelas empresas associadas a  ela. Fica  entendido: comércio local, portas fechadas. Camelôs e  ambulantes, polícia  neles!

Abram alas á Fifa! Cerca de 170 mil  pessoas serão removidas de  suas moradias para que se construam os  estádios. E quem garante que serão  devidamente indenizadas?

A  Fifa quer o povão longe da Copa. Ele que se  contente em acompanhá-la  pela TV. Entrar nos estádios será privilégio da  elite, dos  estrangeiros e dos que tiverem cacife para comprar ingressos em  mãos  de cambistas. Aliás, boa parte dos ingressos será vendida antecipadamente   na Europa.

A Fifa quer impedir o direito à meia-entrada.  Estudantes e  idosos, fora! E nada de entrar nos estádios com as  empadas da vovó ou a  merenda dietética recomendada por seu médico. Até  água será proibido.

Todos serão revistados na entrada. Só uma  empresa de fast food  poderá vender seus produtos nos estádios.  E a proibição de bebidas alcoólicas  nos estádios, que vigora hoje no  Brasil, será quebrada em prol da marca de uma  cerveja made in  usa.

Comenta o prestigioso jornal Le Monde   Diplomatique: “A recepção de um megaevento esportivo como esse  autoriza  também megaviolação de direitos, megaendividamento público e   megairregularidades.”

A Fifa quer, simplesmente, suspender,  durante a  Copa, a vigência do Estatuto do Torcedor, do Estatuto do  Idoso e do Código de  Defesa do Consumidor. Todas essas propostas  ilegais estão contidas no Projeto  de lei  2.330
/2011, que se  encontra no Congresso. Caso não  seja aprovado, o Planalto poderá  efetivá-las via medidas provisórias.

Se você fizer uma  camiseta com os dizeres “Copa 2014”, cuidado. A Fifa  já solicitou ao  Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) o registro  de mais  de mil itens, entre os quais o numeral “2014”.

(Não) durmam   com um barulho deste: a Fifa quer instituir tribunais de exceção  durante a  Copa. Sanções relacionadas à venda de produtos, uso de  ingressos e  publicidade. No projeto de lei acima citado, o artigo 37  permite criar  juizados especiais, varas, turmas e câmaras  especializadas para causas  vinculadas aos eventos. Uma Justiça  paralela!

Na África do Sul, foram  criados 56 Tribunais  Especiais da Copa. O furto de uma máquina fotográfica  mereceu 15 anos  de prisão! E mais: se houver danos ou prejuízo à Fifa, a culpa  e o  ônus são da União. Ou seja, o Estado brasileiro passa a ser o fiador da   FIFA em seus negócios particulares.

É hora de as torcidas  organizadas e  os movimentos sociais porem a bola no chão e chutar em  gol. Pressionar o  Congresso e impedir a aprovação da lei que deixa a  legislação brasileira no  banco de reservas. Caso contrário, o torcedor  brasileiro vai ter que se  resignar a torcer pela  TV.

Frei Betto é escritor, autor de “A  arte de semear  estrelas” (Rocco), entre outros livros.
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Os 10 melhores medicamentos caseiros

Por Bernardo Staut
Às vezes, nos entupir de remédios não parece uma boa ideia. Remédios caseiros, geralmente mais naturais, podem ser tão eficazes quanto, senão mais. Mas cuidado: se estiver doente, é sempre bom consultar um médico antes de tomar qualquer medicamento. Confira algumas soluções caseiras:

10 - Canja
Para tratar: resfriado comum
Servida há anos para crianças afetadas pelo tempo, a canja de galinha é um remédio comum nas estações frias. Para alguns, ela não apenas esquenta, mas também é responsável por reduzir a atividade dos glóbulos brancos, responsáveis por causar os sintomas respiratórios de um resfriado.
9 - Óleo de cravo
Para tratar: dor de dente
Óleo de cravo é uma ótima fonte de eugenol, um antibactericida natural e medicamento popular para dor de dente. Geralmente é administrado colocando poucas gotas em um quarto de uma colher de chá de azeite de oliva. Aplica-se então um algodão umedecido com a mistura no local dolorido.
Mas existem alguns riscos. Óleo de cravo não diluído em contato com a boca pode causar queimaduras, danos no tecido ou nos nervos, e dor, com doses altas podendo causar vômitos, garganta dolorida, dificuldades de respiração e até problemas no fígado. O óleo também não deve ser usado em peles machucadas.
8 - Bicabornato de Sódio
Para tratar: desarranjo estomacal
Comumente usado na cozinha, o bicarbonato de sódio é o ingrediente principal na maioria dos antiácidos. Ele funciona através de uma reação com o excesso de suco gástrico, tornando o pH do estômago mais neutro. Uma colher de chá dissolvida em um copo de água resulta em uma maneira fácil e barata de ajudar sua digestão. Só o gosto é que não é tão bom.
7 - Leite integral
Para tratar: bolhas de herpes
A herpes não pode ser curada, mas há muitas maneiras simples de acelerar a recuperação da pele machucada. Um modo popular e simples é tomar leite integral, que contém monocaprina. Ela reduz a atividade do vírus e o leite promove a recuperação das áreas afetadas.
6 - Mel
Para tratar: garganta dolorida
Essa pelo menos tem gosto bom. Consumido sozinho ou como ingrediente de um chá com limão e gengibre, o mel foi comprovado cientificamente como sendo tão efetivo quanto os xaropes de marca.
5 - Vinagre
Para tratar: queimaduras de sol
Melhor seria se você tivesse usado guarda-sol e protetor solar, mas há algumas formas de diminuir os efeitos da exposição prolongada ao sol. Surpreendentemente, aplicar vinagre, puro ou diluído, na pele com um borrifador pode aliviar as dores. Cobrir a área queimada durante a noite com uma toalha também ajuda a refrescar. O único problema é o cheiro do vinagre.
4 - Silver tape
Para tratar: verrugas
Outro produto do dia-a-dia que tem provas científicas para sustentar seu poder de cura é a silver tape, que pode ser usada para remover verrugas. Apesar de levar cerca de 28 dias para curar o problema, em um estudo a fita resolveu completamente as verrugas de 85% dos casos estudados, em oposição a 60% resolvidos com crioterapia.
3 - Base de unhas
Para tratar: picadas de insetos
Usada para formar uma camada protetora em volta da área picada, a base de unhas é conhecida por prevenir a irritação, permitindo que o corpo cure a ferida sem que você fique toda hora coçando.
2- Talco
Para tratar: cabelos oleosos
Na bagunçada vida moderna, às vezes não há tempo nem para um banho. Enquanto um perfume pode mascarar o cheiro ruim, talco pode ser usado para esconder o cabelo oleoso. Apenas uma colher de chá espalhada pelo cabelo com um pente ou mãos e seu penteado vai ficar muito melhor.
1 - Azeite de oliva
Para tratar: dor de ouvido
Azeite de oliva morno é usado por muitos pais com crianças pequenas para combater o desconforto de uma dor de ouvido. Acredita-se que o azeite morno alivia a inflamação, diminuindo as dores causadas por muco, que bloqueia o sistema usado para equalizar a pressão interna do ouvido.

Nossa fonte: O Berro

domingo, 27 de novembro de 2011

DIMENSÃO HOLÍSTICA DA ÉTICA

Frei Betto



  Sócrates foi condenado à morte por heresia, como Jesus. Acusaram-no de pregar novos deuses aos jovens. Tal iluminação não lhe abriu os olhos diante do céu, e sim da Terra. Percebeu não poder deduzir do Olimpo uma ética para os humanos. Os deuses do Olimpo podiam explicar a origem das coisas, mas não ditar normas de conduta.

A mitologia, repleta de exemplos nada edificantes, obrigou os gregos a buscar na razão os princípios normativos de nossa boa convivência social. A promiscuidade reinante no Olimpo, objeto de crença, não convinha traduzir-se em atitudes; assim, a razão conquistou autonomia frente à religião. Em busca de valores capazes de normatizar a convivência humana, Sócrates apontou a nossa caixa de Pandora: a razão.

Se a moral não decorre dos deuses, então somos nós, seres racionais, que devemos erigi-la. Em Antígona, peça de Sófocles, em nome de razões de Estado, Creonte proibiu Antígona de sepultar seu irmão Polinice. Ela se recusou a obedecer “leis não escritas imutáveis, que não datam de hoje nem de ontem, que ninguém sabe quando apareceram”. Foi a afirmação da consciência sobre a lei, da cidadania sobre o Estado.

Para Sócrates, a ética exige normas constantes e imutáveis. Não pode ficar na dependência da diversidade de opiniões. Platão trouxe luzes ensinando-nos a discernir realidade e ilusão.  Em República, lembrou que para Trasímaco a ética de uma sociedade reflete os interesses de quem ali detém o poder. Conceito retomado por Marx e aplicado à ideologia.

O que é o poder? É o direito concedido a um indivíduo ou conquistado por um partido ou classe social de impor a sua vontade aos demais.

Aristóteles nos arrancou do solipsismo ao associar felicidade e política. Mais tarde, Santo Tomás de Aquino, inspirado em Aristóteles, nos deu as primícias de uma ética política, priorizando o bem comum e valorizando a soberania popular e a consciência individual como reduto indevassável.

Maquiavel, na contramão, destituiu a política de toda ética, reduzindo-a ao mero jogo de poder, onde os fins justificam os meios.

Para Kant, a grandeza do ser humano não reside na técnica, em subjugar a natureza, e sim na ética, na capacidade de se autodeterminar a partir da própria liberdade. Há em nós um senso inato do dever e não deixamos de fazer algo por ser pecado, e sim por ser injusto. E nossa ética individual deve se complementar pela ética social, já que não somos um rebanho de indivíduos, mas uma sociedade que exige, à boa convivência, normas e leis e, sobretudo, cooperação de uns com os outros.

Hegel e Marx acentuaram que a nossa liberdade é sempre condicionada, relacional, pois consiste numa construção de comunhões, com a natureza e os nossos semelhantes. Porém, a injustiça torna alguns dessemelhantes.

Nas águas da ética judaico-cristã, Marx ressaltou a irredutível dignidade de cada ser humano e, portanto, o direito à igualdade de oportunidades. Em outras palavras, somos tanto mais livres quanto mais construímos instituições que promovam a felicidade de todos.

A filosofia moderna fez uma distinção aparentemente avançada e que, de fato, abriu novo campo de tensão ao frisar que, respeitada a lei, cada um é dono de seu nariz. A privacidade como reino da liberdade total. O problema desse enunciado é que desloca a ética da responsabilidade social (cada um deve preocupar-se com todos) para os direitos individuais (cada um que cuide de si).

Essa distinção ameaça a ética de ceder ao subjetivismo egocêntrico. Tenho direitos, prescritos numa Declaração Universal, mas e os deveres? Que obrigações tenho para com a sociedade em que vivo? O que tenho a ver com o faminto, o excluído e o meio ambiente?

Daí a importância do conceito de cidadania. Os indivíduos são diferentes e numa sociedade desigual são tratados segundo sua importância na escala social. Já o cidadão, pobre ou rico, é um ser dotado de direitos invioláveis, e está sujeito à lei como todos os demais.

O capitalismo associa liberdade ao dinheiro, ou seja, ao consumo. A pessoa se sente livre enquanto satisfaz seus desejos de consumo e, através da técnica e da ciência, domina a natureza. A visão analítica não se pergunta pelo significado desse consumismo e pelo sentido desse domínio.

Agora, a humanidade desperta para os efeitos nefastos de seu modo de subjugar a natureza: o aquecimento global faz soar o alarme de um novo dilúvio que, desta vez, não virá pelas águas, e sim pelo fogo, sem chances de uma nova Arca de Noé.

A recente consciência ecológica nos amplia a noção de ethos. A  casa é todo o Universo. Lembrem-se: não falamos de Pluriverso, mas de Universo. Há uma íntima relação entre todos os seres visíveis e invisíveis, do macro ao micro, das partículas elementares aos vulcões. Tudo nos diz respeito e toda a natureza possui a sua racionalidade imanente.

Segundo Teilhard de Chardin, o princípio da ética é o respeito a todo o criado para que desperte suas potencialidades. Assim, faz sentido falar agora da dimensão holística da ética.

O ponto de partida da ética foi assinalado por Sócrates: a polis, a cidade. A vida é sempre processo pessoal e social. Porém, a ótica neoliberal diz que cada um deve se contentar com o seu mundinho.

Mas fica a pergunta de Walter Benjamin: o que dizer a milhões de vítimas de nosso egoísmo?

Frei Betto é escritor, autor  de “Sinfonia universal – a cosmovisão de Teilhard de Chardin”  (Vozes), entre outros livros.
http://www.freibetto.org/>    twitter:@freibetto.

Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Centrais apoiam distribuição dos lucros do FGTS


A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e a Força Sindical apoiam o estudo no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) de distribuir o lucro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) entre os trabalhadores que possuem contas abertas.
Além de apoiar a medida, a CTB ressalta que o repasse é um direito do trabalhador, já que os recursos do FGTS são utilizados para diversas finalidades obras públicas, aquisição de imóveis, emprestados com juros praticados no mercado.
“Há tempos somos críticos e reclamamos da baixa remuneração do Fundo de Garantia. É uma das piores remunerações do mundo, ficando abaixo da inflação”, declarou o secretário-geral da CTB, Pascoal Carneiro, ao Vermelho.
O presidente da entidade, Wagner Gomes, lembrou que é preciso assegurar o direito do trabalhador poder aplicar os recursos retirados aonde quiser.
“É uma medida importante, que deve ser pensada em conjunto, entre trabalhadores, governo e empresas. Mas é importante assegurar liberdade aos cotistas do Fundo (trabalhadores)”, reforçou Wagner.
A Força Sindical disse, em nota oficial, que vai propor uma mesa de negociação envolvendo representantes das centrais, empresários e governo para a elaboração de um projeto de consenso visando a rapidez na aprovação de um Projeto de Lei no Congresso Nacional.
Em 2010, o FGTS teve lucro de R$ 5,4 bilhões. Caso seja aprovada, poderá até dobrar a atual remuneração, que é de 3% de juros mais a variação da Taxa de Referência (TR) no ano.
A senadora Marta Suplicy (PT-SP) apoiou, em pronunciamento no plenário, nesta quarta-feira (23), a intenção do governo federal de estudar uma distribuição mais vantajosa do rendimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) aos trabalhadores participantes.
Marta tem um projeto, apresentado há cerca de dois meses, que garante aos trabalhadores a real condição de cotistas do fundo, uma vez que se tornam beneficiários de pelo menos 50% do lucro obtido com as aplicações.
Nossa fonte:Vermelho

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Arte e Cultura Popular


A 9ª edição do Seminário Temático de Arte e Cultura Popular acontece no Rio de Janeiro

Seminários Temáticos de Arte e Cultura Popular
O 9º Seminários Temáticos de Arte e Cultura Popular tem como tema Cultura e Arte Popular no Estado do Rio de Janeiro
Com apoio do MinC, Museu Casa do Pontal realizará seminário nesta segunda-feira , no Rio de Janeiro.
Nesta segunda-feira e no dia 2 de dezembro, o Museu Casa do Pontal realizará a 9ª edição dos Seminários Temáticos de Arte e Cultura Popular, com o tema Cultura e Arte Popular no Estado do Rio de Janeiro. O evento tem o apoio do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). A iniciativa é resultado de parceria com a Secretaria de Estado da Cultura do Rio de Janeiro e privilegiará questões relacionadas ao universo da arte e da cultura popular fluminense.
Durante o seminário serão realizadas palestras, abertas ao público em geral, e oficinas culturais direcionadas a educadores e gestores socioculturais, além de uma visita comentada ao acervo do Museu. As palestras serão ministradas pelo antropólogo Daniel Bitter, professor da Universidade Federal Fluminense e integrante da Associação Cultural Caburé; pelo artista Manoel Batista; e pela psicóloga e atriz Numa Ciro, doutora em Ciência da Literatura e coordenadora da Universidade das Quebradas, um projeto itinerante também coordenado pela professora Heloísa Buarque de Hollanda.
A antropóloga e diretora do Museu Casa do Pontal, Ângela Mascelani, será a responsável pela visita ao acervo do Museu e abordará mais especificamente a obra do artista fluminense Adalton Lopes. As oficinas serão ministradas pelo Grupo Cultural Jongo da Serrinha e pela atriz e arte-educadora Juliana Prado, coordenadora do programa Educacional e Social do Museu.
O Museu Casa do Pontal está situado na Estrada do Pontal, 3295, Recreio dos Bandeirantes – RJ.
As inscrições são gratuitas e podem ser feitas aqui ou pelo email producao@museucasadopontal.com.br
A programação completa está no site http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2011/11/Cultura-e-Arte-Popular-1.jpg

Nossa fonte: Correio do Brasil

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Pretinho, o sobrevivente


O carro era uma caminhonete preta, eu estava ao volante, sozinha. Pelo retrovisor eu o via correndo atrás, um cachorrinho. O carro, numa descida, parecia querer parar. Meu pé não achava o acelerador, buscava o freio, meu coração fazia um barulho esquisito, meus olhos se esqueciam de ver a estrada pela frente, não largavam o retrovisor e o Pretinho corria e eu chorava por ele e por mim, impotente. Por fim, ele parou e meu pé voltou ao acelerador, meu peito segurou um coração que emudeceu jogando um grito gutural para o ar que não passava por meu pulmão. As lágrimas caíram e a caminhonete, por alguns metros, se dirigiu sem que meus olhos vissem o caminho. Eta vida desgraçada!

Pretinho é um sobrevivente. Nasceu em algum lugar, com alguns defeitos e muita capacidade de amor. Sua carinha gosta de se encostar nas minhas pernas, num pedido tão dele de carinho. Seu olhar, mostrando muita vivacidade, parece estar sorrindo. Ele quer ser feliz e batalha para isso, contra quem o rejeita. Tem o pelo bem curto, preto, com uma pincelada de branco na carinha, ajudando a imagem do sorriso. Uma perna dianteira, com o atropelamento e sem assistência, ficou torta lhe dando um andar manquitola que não o impede de correr buscando uma proteção – que não consegui lhe dar – ou um brinquedo.
Nós nos conhecemos no quintal da casa de Isa, uma amiga. Na primeira vez que o vi, estava com um pequeno machucado perto dos quadris, onde coloquei um remedinho cicatrizante. Na segunda vez, ele estava com um buraco muito feio no pescoço. Fiquei assustada com o aspecto, percebendo que não daria conta de cuidar,  peguei-o no colo e o levei à veterinária Cláudia que com toda sua competência e sensibilidade o tratou com antibiótico, cicatrizante, vacinas, vermífugo e antipulgas. Como precisava tomar o antibiótico por mais dois dias, ficou internado.
Ao retornar à casa de minha amiga, perguntei a ela se concordava em cuidar do Pretinho, ficando comigo a responsabilidade da ração e do que mais ele precisasse. Nessa casa, já havia um pequeno cão que ganharia um companheiro para suas brincadeiras. Esse cachorrinho fica na varanda da cozinha, onde as pessoas da casa passam a maior parte do tempo. Isa aquiesceu. Então, providenciei uma casinha, comedouro-bebedouro, cobertor, toalha, coleira e guia e fui buscar o meu amigo que já me reconheceu como tal. Não me deixou nenhuma dúvida. Ao me ver, veio correndo e quis subir no meu colo, maneira sua de me cumprimentar que mantém sempre que me vê. Isa colocou as coisinhas do Pretinho na varanda da frente da casa.
Moro em uma chácara que, por questão de segurança, tem um casal de cachorros grandes, territoriais e que não permitem a entrada de nenhum estranho. Por infelizes experiências, sei que não posso trazer o Pretinho, como eu gostaria tanto. Já passei horas buscando uma alternativa, porém seria um risco demasiado grande.
Começou um período de queixas. Toda vez que eu  ia visitar minha amiga – que cuida sozinha de sua mãe, uma idosa deficiente visual e auditiva, além de também não ter total  mobilidade devido a suas pernas sem forças – era recebida com alguma reclamação contra o Pretinho. Até que há dois dias atrás o ambiente ficou insustentável. Apareceu lá um terceiro cachorro que foi recebido na varanda da cozinha. Quando lá cheguei, a primeira frase que ouvi foi: - Não dou conta de cuidar de três cachorros. – Em seguida, uma descrição das traquinices do Pretinho que, na versão de minha amiga, é o líder responsável pelo grande trabalho que estava tendo.  Considerando sua situação estressante de cuidadora, percebi imediatamente que Pretinho precisava de outro lar.
Meu amigo é um cachorro de rua – no caso, de estrada, pois estamos no campo -, um buscador desesperado de um dono. Ele me escolheu e eu não posso cuidar dele, sem colocá-lo numa situação de risco. Lembrei-me que há outra casa onde ele vai muito e lá fomos, então, minha amiga e eu pedir a essa senhora para aceitar o Pretinho. Assumi com ela o mesmo compromisso de levar a ração. Fui buscar mais uma vez o cãozinho e suas coisinhas. Ele sentindo que estava sendo expulso, colocou as duas patas dianteiras nas pernas da Isa e lhe deu um olhar pidão. Cheguei a pensar que haveria uma comoção e desistência, mas me enganei. Peguei-o no meu colo e, imediatamente, ele começou a lamber minha mão, num pedido mudo e eloqüente de socorro. No carro, ele confiante parecia estar contente, querendo subir no meu ombro. Levei-o para a casa de Dona Saturnina. Pessoa muito pobre que mora num terreno com mais duas outras casas da família, mãe e irmã, além de mais três cachorros. Foram todos bastante receptivos, já conheciam o Pretinho a quem chamam de Neguinho. Depois de arrumar as coisinhas dele, pedi para colocar água no bebedouro e Dona Saturnina levantou a tampa de um grande galão de onde tirou a água e me entregou. Percebi que as casas não tinham água encanada.
O cachorro Bidu se mostrou ciumento e eu perguntei se não haveria problemas ao que alguém da casa me respondeu logo: - Não. Eles são amigos.
Acariciei o Pretinho e me despedi, informando que ficaria fora por uma semana e tão logo retornasse iria visitar o Pretinho.
Duas imagens estão na minha retina, no meu coração e na minha cabeça. O Pretinho suplicando à dona da casa para não expulsá-lo e correndo atrás do meu carro. Ele confiou em mim e eu o tirei de onde ele acreditava ser seu lar, deixei-o em outro lugar e vim embora. Coloquei toda minha energia para desejar que o novo lar do meu amigo seja um pouco mais duradouro, que ele consiga pessoas melhores. Minha impotência é, hoje, minha marca. 

domingo, 20 de novembro de 2011

Valeu, Zumbi


      Em 20 de novembro de 1695, Zumbi, o último líder do quilombo dos Palmares, foi morto pelos escravocratas. O quilombo que resistiu por mais de cem anos entra em fase de extinção. Naquela cidadela de resistência à escravidão, viviam em comunhão negros, indígenas e não negros perseguidos na colônia.


Eloi Ferreira de Araujo, na Folha de São Paulo


     Chegaram a mais de 20 mil habitantes. A destruição física do quilombo dos Palmares foi uma derrota. Contudo, o sonho de liberdade, de colocar fim à escravidão de africanos, ficou dormitando.
     Assim, passados quase 200 anos da epopeia de Palmares, a luta pelo fim da escravidão foi para as ruas do Brasil. O movimento abolicionista ganha os corações e as mentes: em 13 de maio de 1888, é aprovada a Lei Áurea.
     É iniciada a colheita dos frutos semeados em Palmares. Contudo, a Lei Áurea não veio acompanhada de mecanismos de inclusão para assegurar aos ex-cativos as oportunidades que foram dadas aos imigrantes europeus.]
     Passados 123 anos desde a abolição, o país incorporou ao seu arcabouço jurídico legislação não penal para a população negra que merece destaque. A lei nº 10.639/2003, que institui o ensino de história e cultura afro-brasileira, é uma delas.
     Sua importância reside, entre inúmeros aspectos, em estimular o conhecimento sobre a importância do negro na formação da nação, da identidade nacional e da contribuição dos escravos para a construção do Estado brasileiro.
     Vale ressaltar também a lei nº 12.288, o Estatuto da Igualdade Racial, primeira legislação, desde 1888, que, por meio de ações afirmativas, cria possibilidades para reparar um pouco das desigualdades históricas entre negros e não negros.
     Há quem diga que os problemas existentes no Brasil são apenas sociais, e não raciais. Um discurso de cabra-cega, que ignora o desenvolvimento desigual do país e que, na prática, ignora que os negros foram escravizados.
     As ações afirmativas são medidas especiais que o Estado e a iniciativa privada podem adotar para reduzir as desigualdades. Um exemplo são as cotas nos concursos e demais processos de seleção para o ingresso de negras e negros nas instituições públicas e privadas.
     Direitos das comunidades dos remanescentes dos quilombos, proteção às religiões afro-brasileiras, empreendedorismo, saúde da população negra, acesso a financiamentos públicos, presença nas peças de publicidade e nos meios de comunicação, entre outras possibilidades, constam do Estatuto da Igualdade Racial e dão vigor a um diploma novo, que precisa ser apropriado pela nação, para que esta exija seu cumprimento.
     É o início de uma longa caminhada que o Brasil precisa percorrer para reparar o mais bárbaro de todos os crimes: a escravidão de africanos e de seus descendentes.
     O sonho dos quilombolas de Palmares caminha para ser uma realidade. O país está avançando para a construção da igualdade de oportunidades entre todos os filhos da nação. 
     Valeu, Zumbi. 

Eloi Ferreira de Araujo
é presidente da Fundação Cultural Palmares

HERÓIS CONDENADOS


 Frei Betto
      “Os últimos soldados da guerra fria”, livro de Fernando Morais editado pela Companhia das Letras (2011), teria suscitado inveja em Ian Fleming, autor de 007, se este não tivesse morrido em 1964, sobretudo por comprovar que, mais uma vez, a realidade supera a ficção.
       Suponhamos que na esquina de sua rua haja um bar que abriga suspeitos de assaltarem casas do bairro. Como medida preventiva, você trata de infiltrar um detetive entre eles, de modo a proteger sua família. A polícia, de olho nos meliantes, identifica o detetive. E ao invés de prender os bandidos, encarcera o infiltrado...
       Foi o que ocorreu com os cinco cubanos que, monitorados pelos serviços de inteligência de Cuba, se infiltraram nos grupos anticastristas da Flórida, responsáveis por 681 atentados terroristas contra Cuba, que resultaram no assassinato de 3.478 pessoas e causaram danos irreparáveis a outras 2.099.
       Desde setembro de 1998, encontram-se presos nos EUA os cubanos Antonio Guerrero, Fernando González, Gerardo Hernández e Ramón Labañino. O quinto, René González, condenado a 15 anos, obteve liberdade condicional no último dia 7 de outubro, mas por ter dupla nacionalidade (americana e cubana) está proibido de deixar o país.
       Os demais cumprem pesadas penas: Hernández recebeu condenação de dupla prisão perpétua e mais 15 anos de reclusão... Precisaria de três vidas para cumprir tão absurda sentença. Labañino está condenado à prisão perpétua, mais 18 anos; Guerrero, à prisão perpétua, mais 10 anos; e Fernando a 19 anos.
       Os cinco constituíam a Rede Vespa, que municiava Havana de informações a respeito de terroristas que, por avião ou disfarçados de turistas, praticaram atentados contra Cuba, contrabandearam armas e detonaram explosivos em hotéis de Havana, causando ferimentos e mortes.
       Bush e Obama deveriam agradecer ao governo cubano por identificar os terroristas que, impunes, usam o território americano para atacar a ilha socialista do Caribe. Acontece, no entanto, exatamente o contrário, revela o livro bem documentado de Fernando Morais. O FBI prendeu os agentes cubanos, e continua a fazer vista grossa aos terroristas que promovem incursões aéreas clandestinas sobre Cuba e treinamentos armados nos arredores de Miami.
       Em 15 capítulos, o livro de Morais relata como a segurança cubana prepara seus agentes; a saga do mercenário salvadorenho que, a soldo de Miami, colocou cinco bombas em hotéis e restaurantes de Havana; o papel de Gabriel García Márquez, como pombo-correio, na troca de correspondência entre Fidel e Bill Clinton; a visita sigilosa de agentes do FBI a Havana, e o volume de provas contra a Miami cubana que lhe foram oferecidas por ordem de Fidel.
      “Os últimos soldados da guerra fria” é fruto de exaustivas pesquisas e entrevistas realizadas pelo autor em Cuba, EUA e Brasil. Redigido em estilo ágil, desprovido de adjetivações e considerações ideológicas, o livro comprova por que Cuba resiste há mais de 50 anos como único país socialista do Ocidente: a Revolução e suas conquistas sociais incutem na população um senso de soberania que a induz a preservá-las como gesto de amor.
       Em país capitalista, para quem, graças à loteria biológica, nasceu em família e classe social imunes à miséria e à pobreza, é difícil entender por que os cubanos não se rebelam contra as autoridades que os governam. Ora, quando se vive num país bloqueado há meio século pela maior potência militar, econômica e ideológica da história, da qual dista apenas 140 km, é motivo de orgulho resistir por tanto tempo e ainda merecer elogios do papa João Paulo II ao visitá-lo em 1998.
       Em mais de 100 países – inclusive no Brasil – há médicos e professores cubanos em serviços solidários em áreas carentes. O número de desertores é ínfimo, considerada a quantidade de profissionais que, findo o prazo de trabalho, retornam a Cuba. E a Revolução, como ocorre agora sob o governo de Raúl Castro, tem procurado se atualizar para não perecer.
       Talvez este outdoor encontrado nas proximidades do aeroporto de Havana, e citado com frequência por Fernando Morais, ajude a entender a consciência cívica de um povo que lutou para deixar de ser colônia, primeiro, da Espanha e, em seguida, dos EUA: “Esta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana.”
 Frei Betto é escritor, autor de “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.
Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)

sábado, 19 de novembro de 2011

AMAZÔNIA: UM IMENSO PASTO

Frei Betto

 Para preservar a Amazônia, melhor que códigos florestais e fiscalizações seria a reforma agrária adaptada ao seu grandioso ecossistema, de modo a impedir a atividade predatória do agronegócio, do latifúndio e de empresas de mineração.

       Os dados são do governo federal: 17,5% da Amazônia brasileira é área desmatada. Desse total, 62% foram transformados em pasto de bois e vacas. Imagens de satélites comprovam que, até 2008, uma área de 719 mil km2 – três vezes o Estado de São Paulo ou pouco menos que a extensão do Chile - teve todas as suas árvores abatidas. E, certamente, rios e lagoas poluídos.
       Ao contrário do que se imagina, a agricultura, em especial a destinada à produção de grãos, como soja, ocupa menos de 5% da área total desmatada.
       A principal arma de devastação da Amazônia, a motosserra, derruba árvores e abre pastos de baixíssima produtividade, a ponto de uma área do tamanho de um campo de futebol ser ocupada por apenas um boi.
       Concentram-se na Amazônia 71 milhões de cabeças de gado. Quase todas destinadas a produzir carne de exportação. A maioria dos pecuaristas não apresenta condições de assegurar produtividade de seus rebanhos e, ao mesmo tempo, preservar a floresta. O investimento para obter produtividade combinada com preservação é caro e exige, no mínimo, 5 mil cabeças de gado.
       Os satélites monitorados pelo governo federal revelam, entretanto, que há amplas áreas amazônicas em processo de recuperação – 21% do tal desmatado. Ao todo, 150,8 km2, cerca de 100 vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
       Frente aos dados apresentados pelo INPE (instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) não faz sentido decretar moratória aos responsáveis pelo desmatamento da Amazônia, como chegou a propor o texto do novo Código Florestal com o apoio do ministro Aloizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia.
       Portanto, há que reformular o projeto do Código e aplicar pesadas multas e punições aos responsáveis pelo manejo das motosserras que, ao desmatar, provocam aumento do aquecimento global e do desequilíbrio ambiental.
      Para preservar a Amazônia, melhor que códigos florestais e fiscalizações seria a reforma agrária adaptada ao seu grandioso ecossistema, de modo a impedir a atividade predatória do agronegócio, do latifúndio e de empresas de mineração.
Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros.
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Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Cineasta Francis Ford Coppola critica comercialização da arte


      O célebre diretor de cinema estadunidense Francis Ford Coppola afirmou que "quem controla o mundo tem os artistas trabalhando para ele", em referência à relação que tem sido mantida entre o dinheiro e a arte.

      "Agora as empresas, que são as que têm o dinheiro, pagam aos artistas para que lhes façam os anúncios; antes era o Vaticano quem contratava aos artistas para pintar as catedrais", disse. Coppola participou de uma conferência no marco do evento "ExpoManagement 2011", que se celebra no México.
       O diretor do filme O Poderoso Chefão falou sobre os confrontos que costumam acontecer no cinema entre o mundo empresarial e o artístico. "Se o que está à frente é criativo, os artistas têm suas ideias como aval; mas se é alguém do departamento de vendas, não me sinto seguro".
       Seguidamente agregou que ele sempre tem conflitos com gente de marketing. O artista deve iluminar a vida contemporânea, prosseguiu Coppola, animando os jovens a lutarem por fazer o que gostam.
      Comentou que atualmente ele se encontra fora da indústria e faz filmes pessoais e de não muito sucesso na bilheteria. "A arte nunca deve menosprezar sentimentos ou utilizá-los para ganhar dinheiro".
       Listou a seguir dois ingredientes essenciais para que um filme triunfe: a atuação e o roteiro. "Quando ambos se misturam de maneira correta podemos fazer magia".
        No caso concreto de O Poderoso Chefão, para explicar seu sucesso, Coppola afirmou que "os atores estavam em seu lugar e o público queria ver um filme assim, com essas grandes estrelas, sem lhe tirar importância à sorte".

Fonte: Prensa Latina

Nossa fonte:Vermelho

Comissão da Verdade



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ALUNOS ANALFABETOS



Frei Betto 

       No primeiro semestre deste  ano, aplicou-se a Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de  Alfabetização) em turmas de alunos que concluíram o 3o ano do ensino  fundamental, em todas as capitais do país. Uma iniciativa do movimento Todos  pela Educação com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas  Educacionais Anísio Teixeira).
       O resultado é alarmante.  Constatou-se que 43,9% dos alunos são deficientes em leitura e 46,6% em  escrita. Ou seja, são semialfabetizados. Não captam o significado do que leem  e redigem uma simples carta com graves erros de sintaxe e concordância.
       Quanto à leitura, quase metade (48,6%) dos alunos da rede  pública correspondeu ao resultado esperado. Na rede de escolas particulares, o  desempenho foi bem melhor: 79%. No item escrita tiveram bom resultado apenas  43,9% do alunos da rede pública. Na rede particular, 86,2% dos alunos se  saíram bem em redação.
       Os índices demonstram que, no Brasil, a  desigualdade social se alia à desigualdade educacional. Alunos da rede  pública, oriundos, na maioria, de famílias de baixa renda, não trazem de berço  o hábito de leitura. Seus pais possuem baixa escolaridade e o livro não é  considerado um bem essencial a ser adquirido, como ocorre em famílias de renda  mais elevada.
       De qualquer modo, é preocupante o fato de alunos,  tanto da rede pública quanto da particular, não atingirem 100% de  alfabetização ao concluir o 3o ano do ensino fundamental. O que demonstra  falta de método de alfabetização, embora esta seja a nação que gerou Paulo  Freire.
       Uma criança que, aos 8 anos, tem dificuldade de leitura  e escrita, sente-se incapaz de lidar com os textos de outras disciplinas  escolares, o que prejudicará seu aprendizado. Uma alfabetização incompleta  constitui um incentivo ao abandono da escola ou a uma escolaridade medíocre.
       É hora de se perguntar se a progressão automática, isto é, fazer  o aluno passar de ano sem provar estar em condições, é uma pedagogia  recomendável. Com certeza, no futuro, o adulto com insuficiente escolaridade  não merecerá aprovação automática em empregos que exigem concurso e  qualificação.
       Priscila Cruz, do Todos pela Educação, frisa a  importância da educação infantil (creches, jardim da infância etc.) para dar à  criança uma boa alfabetização. Para que se desperte na criança a facilidade de  síntese cognitiva é importante que ela comece a ouvir histórias ainda no  ventre materno.
       O Brasil é um país às avessas. A Constituição de  1988 cometeu o erro de incumbir a União do ensino superior, o estado do ensino  médio, e o município do ensino fundamental. Ora, uma nação se faz com  educação. E a base reside no ensino fundamental. Dele devia cuidar o  MEC.
       Nenhum governo implementou, ainda, a revolução educacional  sonhada por Anísio Teixeira, Lauro de Oliveira Lima, Paulo Freire e tantos  outros educadores. Como acreditar que apenas 4 horas de permanência na escola  são suficientes para uma boa educação? Por que os alunos não permanecem de 6 a  8 horas por dia na escola, como ocorre em tantos países?
       No  Brasil, 10% da população adulta é considerada analfabeta. No Chile, 3,4%. Na  Argentina, 2,8%. No Uruguai, 2%. Em Cuba e na Bolívia, 0%.
       Outros fatores que contribuem para a semialfabetização são o  desinteresse dos pais pelo desempenho escolar do filho e o longo tempo que  este dedica à TV  e a navegar aleatoriamente na internet. Nessa era  imagética, há o sério risco de se multiplicar o número de analfabetos  funcionais ou de alfabetizados iletrados, aqueles que sabem ler, mas não  interpretar o texto, e muito menos evitar erros primários na  escrita.
       O governo deve à nação uma eficiente campanha nacional  de alfabetização, inclusive entre alunos dos 3º e 4º anos. Para isso, há que  ter método. Há vários. Quem se interessar por um realmente eficiente, basta  indagar do deputado Tiririca como ele se alfabetizou em dois meses, a tempo de  obter seu diploma na Justiça Eleitoral.
Frei Betto é  escritor, autor de “Alfabetto – autobiografia escolar” (Ática), entre outros,
http://www.freibetto.org/>    twitter:@freibetto.
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