Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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domingo, 30 de outubro de 2011

Nelson Cavaquinho, o “profeta dos desenganos”


 

O compositor completaria 100 anos no dia 29. Ele, que deixou nosso convívio há 25 anos, permanece com sua obra na vida dos brasileiros com seu canto vívido que registra os anseios e experiências do povo mais humilde.

Por Marcos Aurélio Ruy*

     Nelson Cavaquinho foi o homenageado por sua escola do coração, a Mangueira, no carnaval deste ano pelo centenário de seu nascimento. O enredo “O filho fiel, sempre Mangueira” traduziu na avenida a trajetória de um dos maiores sambistas do país, representante da chamada velha guarda da Mangueira.
      Para muitos ele era o “profeta dos desenganos”, das desilusões amorosas, das angústias da vida, devido aos seus sambas com certa dose de pessimismo, Nelson Antônio da Silva nasceu no dia 29 de outubro de 1911 e ganhou o apelido de Nelson Cavaquinho por tocar esse instrumento nas rodas de choro que frequentava na juventude. O apelido permaneceu mesmo após ele trocar o cavaquinho pelo violão.
       Seu pai era músico da banda da Polícia Militar carioca e ele próprio tornou-se policial fazendo rondas noturnas a cavalo pela cidade. Dessa maneira estabeleceu contato com músicos boêmios como Cartola e Carlos Cachaça entre outros. E adotou a Mangueira como usa escola de samba, aderiu ao ritmo brasileiro, à boemia e evidente largou o trabalho na PM. 
      Arte e vida
      “Totalmente desapegado de bens materiais, vendeu grande parte de sua produção, ou pagou dívidas dando parcerias a desconhecidos”, diz Arley Pereira em “A história da música popular brasileira por seus autores e intérpretes”, relatando uma prática comum dos sambistas da época em vender seus trabalhos ou vender parcerias para terem um dinheiro mais rápido nas mãos, muitos fizeram isso. Essa atitude de Nelson acabou por barrar suas parcerias com o grande Cartola, que não aceitava vender seus trabalhos. Para não haver rompimento entre eles decidiram não trabalhar juntos para manter a amizade. Segundo Arley, “a melhor fase de seu trabalho surge quando se une com Guilherme Brito” e complementa que Nelson “jamais conseguiu (nem pretendeu) ganhar mais que o necessário para sobreviver”.
       Nelson Cavaquinho eternizou canções na memória dos brasileiros como “A flor e o espinho”, “Rugas”, “Folhas Secas”, “Quando eu me chamar saudade”, “Eu e as flores”, Juízo final”, entre as mais de 400 canções que deixou. Sua primeira canção gravada foi “Não faça vontade a ela”, em 1939. Porém, apenas quando foi descoberto por Cyro Monteiro, anos mais tarde, é que Nelson se destacaria no meio artístico. Seu primeiro disco só apareceu em 1970 com o nome “Depoimento de poeta”.
      Suas obras sempre tiveram um toque fortemente religioso, como em “Juízo Final”, onde diz: “O sol há de brilhar mais uma vez/A luz há de chegar aos corações/Do mal será queimada a semente/O amor será eterno novamente”. Como se vê em raro momento poético e otimista desse grande músico-poeta com uma crença num futuro promissor, pois ele diz na música “Quero ter olhos pra ver/A maldade desaparecer”. Usa de uma figura bíblica, o juízo final, e faz uma concatenação positiva de futuro. Já em “A flor e o espinho” canta: “Espinho não machuca a flor / Só errei quando juntei minh’alma a sua/O sol não pode viver perto da lua”. 
      O grande compositor morreu em 18 de fevereiro de 1986, aos 74 anos, de enfisema pulmonar. Foi gravado por Cyro Monteiro, Clara Nunes, Beth Carvalho, Chico Buarque, Cazuza, Maria Bethânia, Elizeth Cardoso, entre muitos outros grandes intérpretes. Nelson Cavaquinho enobrece a cultura brasileira com suas músicas autênticas e delicadas contando a vida do morro e a sua própria através de amores e desamores, através da vida. A obra desse grande artista nacional merece destaque em seu centenário e em toda a vida cultural brasileira.
     Embora não fale explicitamente de política ou questões sociais, sua obra cantou a vida dos morros, da periferia, do pobre, enfim a vida e inquietações dos brasileiros.

Nossa fonte: VERMELHO

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

"Um Gato em Paris”: Brincando no telhado


Cloves Geraldo *


Dupla francesa Alain Gagnol/Jean-Loup Felicioli usa desenho animado para projetar problemas da sociedade moderna e lembra comédia maluca dos anos 10 e 20.


        “Um Gato em Paris”, da dupla francesa Alain Gagnol e Jean-Loup Felicioli, mescla aventura, comédia e belas sequências de perseguição, para encantar o espectador empanturrado de violência gratuita e filmes pretensamente inteligentes. E, além disto, é um desenho animado que foge ao padrão animal fala e dança, repetindo mofado antropomorfismo. Em seus 62 minutos, mais voltados para adolescentes e adultos, mergulha-os num clima dos anos 50, quando tudo parecia cor-de-rosa, mas na verdade a Guerra Fria colocava o planeta à beira de um confronto nuclear.
       Seus heróis são o gato Dino e o ladrão de jóias, Nico, que equilibram a rispidez dada pelo vilão Vitor Costa à história. A dupla rouba apartamentos e escapa pelos telhados, numa velocidade vertiginosa, sem as brutalidades dos filmes policiais estadunidenses e imitadores. Enquanto Costa, parecendo ressuscitar de uma dessas produções, exala com seus comparsas sinistra maldade. Os contrapontos a ambos são a garotinha Zoé, na casa de quem vive Dino, e sua mãe Jeanne, delegada de polícia, disposta a se vingar de Costa. Mas o filme é mesmo de Zoé, Dino e Nico.
       São eles que contribuem para a narrativa adquirir o tom de aventura, de humor, amizade e credibilidade. Zoé é a garotinha indefesa, carente, devido à atividade da mãe. Dino é o gato misterioso, cujas escapadas à noite, sempre rendem presentes à amiga. Até lhe trazer o que impulsiona a ação. Então, a dupla Gagnol/Felicioli divide a narrativa em três fios: a da relação Zoé/Dino, a da luta de Costa para roubar a escultura Colosso de Nairóbi e a da perseguição que lhe empreende Jeanne. Às vezes, eles se entrelaçam com o quarto fio, no qual se enovelam Dino, Nico, Zoé e Jeanne, sem perder a simplicidade narrativa.
      O que conta em “Um Gato em Paris” não é apenas a clareza da história, mas a forma como a dupla Gagnol/Felicioli a desenvolve. Usa a linguagem cinematográfica em sua inteireza, mudando ângulos de câmera, pondo o espectador com contato com os personagens, numa liberdade que o gênero lhe permite. Principalmente nas perseguições e fugas pelos telhados de Paris. Há panorâmicas, com profundidade de campo, numa Paris sem torres ou espigões e cálida luz, que situam a grandiosidade do espaço e a pequenez dos personagens.
Método de Nico é 
puro romantismo
       De repente, está-se nas rocambolescas ações de Arséne Lupin, do Cary Grant de “Ladrão de Casaca” ou nas estripulias nada nostálgicas do ítalo-brasileiro Gino Amleto Meneghetti (Pisa/Itália, 1878/São Paulo, 1976). A dupla Gagnol/Felicioli não perde a chance de retornar às comédias malucas, de perseguições infindas por telhados e muros. É como se Nico e Costa se encarnassem em Dino. Puro malabarismo. Tira o filme do falso realismo dos desenhos animados atuais e volta-se para o cinema puramente visual dos anos 10 e 20. Recurso pouco usado hoje.
       Estas sequências dão certo romantismo ao filme, pois o método de Nico e de seu fiel parceiro Dino é de pura habilidade, sem uso da força. Algo que se perdeu, também nesse tipo de filme. Contrapõe-se à crueza das ações e da linguagem pesada de Costa. Este dá a narrativa o tom bélico atual, da ameaça, da violência a qualquer custo. Chega a ser assustador, quando surge como polvo para amedrontar Jeanne, ou quando numa sequência à Tarantino, desanda numa falação sobre sanduíche, que acaba em agressão ao comparsa ao volante. Encarna o triunfo através do medo.
       Entre Costa e Jeanne há, por certo, mais que ajuste de contas. Ele é o perigo que ameaça não só a ela e a filha, mas toda Paris. Porém, como se trata de filme voltado para adolescentes ou mais do que isto, a dupla Gagnol/Felicioli transforma Costa e seus cúmplices em trapalhões. É preciso rir dos pretensos “senhores do crime”, com seus humores funéreos. Quando eles enfrentam Nico, além da comédia maluca, vê-se o cérebro vencendo a violência e a lei se impondo. Otimista, sem dúvida.
      No entanto, a dupla Gagnol/Felicioli não deixa de trabalhar a relação Dino/Zoé, sendo o gato o companheiro a amenizar a solidão da garota, e a relação Zoé/Jeanne, por esta não ter tempo para filha e estar interessada em resolver a pendência entre ela e Costa. Para a menina, Dino é só o gato que lhe traz presentes, a mãe uma mulher atarefada. O papel da mulher atual surge numa afirmação de sua dupla função, a de mãe e a de profissional. E no meio a filha que espera dela tudo, até ser heroína.
     Não se pode deixar de ver nesta caracterização o retrato das relações sociais de hoje, quando a ameaça brota da violência urbana. Mesmo num desenho animado “despretensioso”, isto é verdadeiro. Mostra uma garota órfã, tendo como companhia um gato, parceiro de um ladrão de residências. A visão da dupla Gagnol/Felicioli é de que dá para tratar deste tema num gênero tido como inadequado para isto. E de maneira quase subliminar. É necessário.
 “Um Gato em Paris”. (“Une vie de chat”). Desenho animado/aventura. Bélgica/França/Holanda/Suíça. 2010. 62 minutos. Roteiro: Alain Gagnol. Grafismo: Jean-Loup Felicioli. Diálogos: Jacques-Rémy Gired. Música: Serge Besset. Imagem: Izu Troin.  Direção: Alain Gagnol/ Jean-Loup Felicioli.

* Jornalista e cineasta, dirigiu os documentários "TerraMãe", "O Mestre do Cidadão" e "Paulão, lider popular". Escreveu novelas infantis,  "Os Grilos" e "Também os Galos não Cantam".
* Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.
Nossa fonte:Vermelho

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

DO CAPITAL AO SOCIAL

Frei Betto

     O economista Raul Velloso, especialista em contas  públicas, calcula que, em 2010, através de programas sociais, o governo  federal repassou a 31,8 milhões de brasileiros - a maioria, pobres - R$ 114  bilhões. Ao incluir programas de transferência de renda de menor escala, o  montante chega a R$ 116 bilhões.
     Este valor é mais que o dobro de todo o investimento  feito pelo governo no mesmo ano - R$ 44,6 bilhões, incluindo construção de  estradas e obras de infraestrutura.
     Os R$ 116 bilhões foram destinados à rede de proteção  social, que abarca aposentadoria rural, seguro-desemprego, Bolsa Família,  abono salarial, Renda Mensal Vitalícia (RMV) e Benefício de Prestação  Continuada (BPC). Esses programas abocanharam 3,1% do  PIB.
      A RMV, criada em 1974, era um benefício  previdenciário destinado a maiores de 70 anos ou inválidos, definitivamente  incapacitados para o trabalho, que não exerciam atividades remuneradas, nem  obtinham rendimento superior a 60% do valor do salário mínimo. Também não  poderiam ser mantidos por pessoas de quem dependiam, nem dispunham de outro  meio de prover o próprio sustento.
      Em janeiro de  1996, a RMV foi extinta ao entrar em vigor a concessão do BPC. Hoje, a RMV é  mantida apenas para quem já era beneficiário até 96. Já o BPC é pago a idosos  e portadores de deficiências comprovadamente desprovidos de recursos  mínimos.
     
Há quem opine  que o governo federal “gasta” demais com programas sociais, prejudicando o  investimento. Ora, como afirma Lula, quando o governo canaliza recursos para  empresas e bancos, isso é considerado “investimento”; quando destina aos  pobres, é “gasto”...
     O Brasil, por muitas décadas, foi considerado campeão  mundial de desigualdade social. Hoje, graças à rede de proteção social, o  desenho da pirâmide (ricos na ponta estreita e pobres na ampla base) deu lugar  ao losango (cintura proeminente graças à redução do número de ricos e  miseráveis, e aumento da classe média).
     Segundo o Ipea, entre 2003 e 2009, 28 milhões de  brasileiros deixaram a miséria. Resultado do aumento anual do salário mínimo e  da redução do desemprego, somados ao Bolsa Família, às aposentadorias e ao  BPC.
     A lógica capitalista considera  investimento o que multiplica o lucro da iniciativa privada, e não o que  qualifica o capital humano. Essa lógica gera, em nosso mercado de trabalho, a  disparidade entre oferta de empregos e mão de obra qualificada. Devido à baixa  qualidade de nossa educação, hoje o Brasil importa profissionais para funções  especializadas.
     Se o nosso país resiste à crise financeira que, desde  2008, penaliza o hemisfério Norte, isso se deve ao fato de haver mais dinheiro  em circulação. Aqueceu-se o mercado interno.
     Há queixa de que os nossos aeroportos estão  superlotados, com filas intermináveis. É verdade. Se o queixoso mudasse o  foco, reconheceria que nossa população dispõe, hoje, de mais recursos para  utilizar transporte aéreo, o que até pouco tempo era privilégio da  elite.
     Há, contudo, 16,2 milhões de brasileiros  ainda na miséria. O que representa enorme desafio para o governo Dilma. Minha  esperança é que o programa “Brasil sem miséria” venha resgatar propostas do  Fome Zero abandonadas com o advento do Bolsa Família, como a reforma  agrária.
      Não basta promover distribuição de renda  e facilitar o consumo dos mais pobres. É preciso erradicar as causas da  pobreza, e isso significa mexer nas estruturas arcaicas que ainda perduram em  nosso país, como a fundiária, a política, a tributária, e os sistema de  educação e saúde.

Frei Betto é escritor, autor de “Sinfonia Universal –  a cosmovisão de Teilhard de Chardin” (Vozes), entre outros  livros. http://www.freibetto.org/>    twitter:@freibetto.
Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)


Encontro Mundial de Blogueiros


Encontro mundial debate papel da blogosfera a partir desta quinta

    A partir desta quinta (27), acontece em Foz do Iguaçu (PR) o 1º Encontro Mundial de Blogueiros, que reunirá comunicadores e demais interessados nas mídias alternativas para uma extensa programação de debates, com diversos convidados internacionais. O evento segue até o sábado (29) e vai discutir “O papel da blogosfera na construção da democracia”, a partir da constatação de que as novas mídias absorveram grande parte da audiência da imprensa tradicional. 
     Participarão de debates no encontro personalidades como Ignácio Ramonet, criador do Le Monde Diplomatique e autor do livro “A explosão do jornalismo”; Kristinn Hrafnsson, porta-voz do WikiLeaks; Luis Nassif, jornalista e blogueiro; Jesse Chacón, ex-ministro das Comunicações da Venezuela, Pascual Serrano, fundador de um dos maiores sites de esquerda da Europa, o Rebelión, entre outros.
      Jornalista da Carta Capital, Leandro Fortes, comenta que a blogosfera cumpre um papel reestruturante no consumo de informação. “Por meio dos blogs e redes sociais, tornou-se possível estabelecer um contraponto crítico à hegemonia da grande mídia, seu pensamento único e seus interesses privados”, afirma, complementando: “essas ferramentas virtuais estabeleceram novos parâmetros de mobilização social e uma nova dinâmica de relacionamento entre pessoas e instituições”. Fortes participa do painel que discute as experiências brasileiras, no sábado (29), às 14h.
      Já Maria Inês Nassif, da Carta Maior, dirige o painel de experiências brasileiras e diz que o evento representa, além da troca de experiências, a articulação de canais que se oponham à concentração de informação nas mãos das grandes empresas. “Minha expectativa é que esse encontro promova um salto de qualidade na discussão da democratização da informação via blogosfera e aponte caminhos para romper com a hegemonia dos grandes grupos de comunicação”, diz Nassif.
      Pepe Escobar, jornalista e colunista do Asia Times Online, compõe a mesa que debate as experiências asiáticas e africanas, na sexta-feira (28), às 16h. Para Escobar, os blogueiros levam vantagem em relação aos grandes veículos por poderem postar em menor quantidade, mas com maior capacidade analítica. “Creio que o grande desafio da blogosfera é conquistar credibilidade suficiente para que o público entenda que a melhor informação nem sempre é a que vem da mídia corporativa”, afirma.
     Iroel Sánchez Espinosa, jornalista cubano que escreve no CubaDebate e no blog La pupila insomne, integrará a mesa que discute a situação da América Latina, no sábado (29), às 9h. Para ele, a blogosfera está dando voz aos que são silenciados há muito tempo pela grande imprensa. “Os blogs e as redes sociais vem se articulando junto aos movimentos sociais organizados, e isso tem colocado um desafio para os que desejam a continuidade de uma ordem social que se revela cada vez mais injusta”, afirma.
      O evento é promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e pela Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom), com patrocínio da Itaipu Binacional e da Sanepar. Já colocando em prática a defesa da democratização da comunicação, o encontro será transmitido em tempo real pela internet através do site oficial no endereço www.blogueirosdomundo.com.br/ao-vivo.
      Assim, internautas do mundo todo que não conseguiram estar presentes no encontro poderão acompanhar a programação e interagir com os participantes através do Twitter e do Facebook. No primeiro a forma de manter contato é através da hashtag #blogmundofoz e pelo Facebook basta curtir a página oficial e se manter atualizado.
      Esta integração já é marca registrada do encontro de blogueiros. O 2º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas que aconteceu em março deste ano mobilizou mais de 30 mil internautas em todo o mundo durante os três dias de transmissão. A hashtag do evento ficou em primeiro lugar no Tranding Topics Brasil do Twitter por dois dias e até o presidente do Peru, Ollanta Humala, enviou uma saudação aos blogueiros através de seu perfil pessoal no Twitter.
      Além disso, os principais palestrantes serão entrevistados em coletiva, as entrevistas serão gravadas e disponibilizadas no canal do Clickfoz no Youtube. O resultado dos dois dias de intenso debate será transformado em uma carta com as resoluções e também em um livro, patrocinado pela Petrobrás.
Programação:
27 de outubro – quinta-feira14 horas - credenciamento
19 horas - abertura oficial do evento com coquetel e iluminação da barragem de Itaipu – Mirante Central da usina
28 de outubro – sexta-feira
9 horas – Debate: “O papel das novas mídias”
- Ignácio Ramonet – criador do Le Monde Diplomatique e autor do livro “A explosão do jornalismo”;
- Kristinn Hrafnsson – porta-voz do WikiLeaks;
- Dênis de Moraes – autor do livro “Mutações do visível: da comunicação de massa à comunicação em rede”;
- Luis Nassif – jornalista e blogueiro;
* Mesa dirigida por Natalia Vianna (Agência Pública) e Tatiane Pires (blogueira do RS)
14 horas – Painel: “Experiências nos EUA e Europa”
- Pascual Serrano – blogueiro e fundador do sítio Rebelión (Espanha);
- Andrés Thomas Conteris - fundador do Democracy Now em Espanhol (EUA);
- Henrique Palma – criador do blog “A perdre La raison” (França) ;
- Jillian York – blogueira, colunista do Huffington Post, Guardian e da TV Al Jazeera (EUA);
* Mesa dirigida por Renata Mielli (Barão de Itararé) e Altino Machado (blogueiro do Acre);
16 horas – Painel: “Experiências na Ásia e África”.
- Ahmed Bahgat – blogueiro e ativista digital na “revolta do mundo árabe” (Egito);
- Atanu Dey – blogueira da Índia e especialista em Tecnologia da Informação (Índia);
- Pepe Escobar – jornalista e colunista do sítio Ásia Times Online (Japão);
- Mar-Jordan Degadjor – blogueiro e diretor da ONG África para o Futuro (Gana);
* Mesa dirigida por Renato Rovai (Altercom) e Sérgio Telles (blogueiro do Rio de Janeiro);
Dia 29 de outubro – sábado:
9 horas – Painel: “Experiências na América Latina”.
- Iroel Sánchez – blogueiro da página La Pupila Insomne e do sítio CubaDebate (Cuba);
- Osvaldo Leon – editor sítio da Agência Latinoamericana de Informação – Alai (Equador);
- Martin Becerra – professor universitário e blogueiro (Argentina);
- Jesse Freeston – blogueiro e ativista dos direitos humanos (Honduras);
* Luis Navarro (Editor do jornal La Jornada – México)
* Martin Granovsky (Editor Especial do jornal Página 12 – Argentina)
* Mesa dirigida por Sérgio Bertoni (blogueiro do Paraná) e Cido Araújo (blogueiro de São Paulo);
14 horas – Painel: “As experiências no Brasil”
- Leandro Fortes – jornalista da revista CartaCapital, blogueiro e da comissão nacional do BlogProg;
- Esmael Moraes – criador do blog do Esmael.
- Conceição Oliveira – criadora do blog Maria Frô e tuiteira.
- Bob Fernandes – editor do sitio Terra Magazine [*];
* Mesa dirigida por Maria Inês Nassif (Carta Maior) e Daniel Bezerra (blogueiro do Ceará);
16 horas – Debate: A luta pela liberdade de expressão e pela democratização da comunicação.
– Paulo Bernardo – ministro das Comunicações do Brasil [*];
- Jesse Chacón – ex-ministro das Comunicações da Venezuela;
- Damian Loreti – integrante da comissão que elaborou a Ley de Medios na Argentina;
- Blanca Josales – ministra das Comunicações do Peru;
* Mesa dirigida por Julieta Palmeira (associação de novas mídias da Bahia) e Tica Moreno (blogueiras feministas);
18 horas – Ato de encerramento.
- Aprovação da Carta de Foz do Iguaçu (propostas e organização).


Da Redação, com Barão de Itararé

Nossa fonte: Vermelho

Em busca de uma praça Tahrir universal contra o capitalismo



     No fundo, esse é o sonho de todos: uma praça Tahrir Universal contra o capitalismo, pela democracia participativa, um retorno aos valores e à moral fundadores. Por isso resistem a tudo: à ironia, à indiferença, ao cinismo, à estupidez, à ignorância, à fome, ao frio outonal de Londres, a estas palavras. São poetas. E como todos os poetas não vivem envoltos em sonhos senão na nudez da realidade. O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Londres.

     A crueza brumosa e úmida do outono não os dissuadiu. Apenas terminou a marcha mundial dos indignados de 15 de outubro, os indignados ingleses seguiram ou exemplo de Nova York e Madri. As 150 barracas nas que se instalaram na parte externa da Catedral San Pablo de Londres suscitam olhares de ironia dos elegantes transeuntes que circulam por esta zona da capital inglesa. San Pablo é a ante-sala ao coração da “City”, ao antro das finanças mundiais contra as quais os membros do Occupy London Stock Echange se manifestam. 
      ”Com o passar dos dias fomos nos organizando. Faz frio, muita gente nos olha com ironia mas também há muita solidariedade de outros passeantes”, relata Danielle Allen, uma professora de 25 anos, sem trabalho, que descobre pela primeira vez a ação social em plena rua.”Capitalisme is crisis”, diz uma bandeirola desfraldada na explanada da catedral. O quadro é insólito: cavalheiros famélicos, trajados como lordes caminham entre as barracas do acampamento com ar de atravessar um jardim. Os jovens que montaram as barracas obtiveram uma vitória, por mais passageira que fosse. Com a benção do Reverendo Giles Frases transformaram este centro mundial das finanças em sua moradia sem que, até agora, a polícia os forçasse a partir. Instalaram banheiros móveis, uma “barraca cozinha”, uma “barraca enfermaria”, outra que funciona como um jardim de infância e uma onde se realizam oficinas de todo tipo. 
     Odiados e odiadores se cruzam às vezes com interesse, outras com uma indiferença de seres invisíveis. À hora do almoço, muitos dos empregados da City se detêm para ler as mensagens das bandeirolas e alguns estabelecem diálogos com eles. ”Me parecem simpáticos, porque são combativos, mas não estou de acordo com eles. As finanças produzem riquezas para todos. As bandeirolas são divertidas, mas refletem um mundo imaginário”, diz um dos eminentes habitantes da City. Está vestido segundo a última moda: traje impecável, mas sem gravata. O sonho era ocupar o London Stock Echange, isto é, a bolsa. 
     Spyro Van Leemen, um dos representantes do movimento OLSX, Occupy London Stock Echange, assegura que ninguém os moverá dali: ”nós vamos ficar todo o tempo que faça falta para que o governo entenda e se decida a mudar a ordem das coisas”. O jovem tem, como os outros, uma convicção inquebrantável e um montão de causas que convergem em uma: a reparação das injustiças, começando pelas que provoca o impune sistema financeiro. As conversões entre os ocupantes traduzem suas preocupações, perfeitamente refletidas nas bandeirolas e grafittis: a democracia, a justiça, o excremencial sistema financeiro, a corrupção, as mãos manchadas dos políticos, o desemprego, o preço alucinante dos alugueis, o fim da ocupação dos territórios palestinos. 
     Não são nem marxistas, nem revolucionários, nem comunistas, nem anarquistas, nem de extrema esquerda. ”Somos do partido da solidariedade mundial”, diz Andrew, um rapaz de 25 anos que trabalha três dias por semana em um depósito de Londres e vem ao acampamento nos dias livres. Andrew é membro do outro movimento que organiza a ocupação da esplanada da catedral, Uncut, cuja meta é protestar contra a massa de recortes nos gastos públicos decretada pelo governo do Primeiro Ministro David Cameron. Spyro Van Leemen –27 anos- explica aos demais que o que estão vivendo são os “primeiros passos de uma grande mudança planetária que terminará por democratizar o sistema financeiro”. 
      Sean e John, outros dois jovens que vem dos subúrbios de Londres, contam que não se trata de desencadear uma revolução “e sim de forçar desde a sociedade para que se instaure uma regulamentação financeira constatável”. Sean comenta com ironia: ”os banqueiros e os traders se outorgam bônus e recompensas por milhões e milhões de dólares e deixam a nós a pior parte: políticas de austeridade, recessão, sacrifícios”. Em volta deles o vento agita as bandeirolas com as mensagens já universais:”Salven a la gente, no a los bancos”. O sinos soam e os jovens dançam. 
     O Reverendo Giles Frases fez um pacto com os acampados para que se afastem das escadarias e à policia pediu que não rondassem os arredores da catedral anglicana. O cordão policial se formou um pouco mais longe, no Square Paternoster, por onde se ingressa à bolsa de Londres. O reverendo Frases simpatiza em silêncio com esta juventude que se instalou nas portas de seu reino de forma pacífica e fazendo sacrifícios. Mas com o passar dos dias as coisas se complicaram. As 70 barracas do início se tornaram agora mais de 150. A visita da Catedral é paga, mas a presença dos indignados afugenta os turistas e curiosos. O acampamento é uma atração maior que a própria catedral e as pessoas não entram. A Catedral emitiu um comunicado indicando que “talvez tenha chegado a hora de que as barracas se levantem”. 
     « Isso são as nossas democracias, pura aparência, falsa liberdade », diz com raiva Clem OU’Neil asssinalando o cordão policial que protege os tesouros financeiros da City. As noites são longas. O frio se gruda sem piedade. Dois rapazes de uma barraca vizinha tocam violão e cantam uma balada imperdível de John Martyn: “The early sun of London morning / Burned the darkness with unanswered Light”. As vozes são suaves, novas calorosas na manhã gelada. Os indignados londrinenses têm um inimigo mais poderoso que a polícia ou a bolsa: o frio. Por momentos o vento sopra com uma veemência já invernal. A jornada no acampamento transcorre com muitas atividades. 
     Oficinas de reflexão sobre a economia, a política ou o sistema financeiro, encontros com a imprensa e um montão de trabalhos práticos impostos pela vida em um acampamento urbano. Um dos maiores problemas que têm é a limpeza, depois vem a alimentação e melhorar o inexistente conforto. A questão da limpeza é essencial para evitar que as autoridades encontrem na sujeira um argumento para desalojar-los. O principio é inamovível: ”fazer do acampamento uma base permanente”, explica um dos porta-vozes dos indignados. 
     Estão bem organizados e se repartem nas tarefas segundo uma ordem já pactuada. Conseguir comida para tanta gente é uma façanha diária, mas os indignados não se vendem a qualquer um. Durante uma assembléia decidiram de quem iam aceitar ajuda e de quem não. Por unanimidade excluíram qualquer contribuição que venha do Mc Donalds. Ninguém parece estar em conflito. Os turistas aparecem, tiram fotos, outras pessoas vêm trazer cadeiras, cobertores, comida, alguns banqueiros, os autênticos, se detêm a falar com os rapazes. ”Me dá curiosidade, ver tanto sacrifício e saber, no fundo, que esses meninos não entendem como funciona o mundo e como são indispensáveis os bancos”, explica Peter, um analista financeiro da City que esparrama bom humor com o tom de sua voz. Claro –reconhece --há banqueiros desonestos e isso dos bônus em momentos como estes, não é uma boa idéia, é injusto, mas não por isso queimaremos um sistema que move o mundo e cria riquezas”, explica vai embora olhando seu relógio”. 
      Dan Gregory, um corretor de bolsa, é menos condescendente. ”Esta gente quer que volte o comunismo, estão loucos”, espeta bravo. É inexato. São democratas sem trabalho, excluídos, são os eleitos para alimentar o tributo da corrupção, a impunidade, a irresponsabilidade de um mundo que se destrói a si mesmo. O tempo parece ter-se detido. Isso não é Londres senão um lugar no Universo. Um lugar exposto e incompreendido. Tanta vontade, tanto empenho, tanta solidão. ”In a foreign city once again / You waved weekly in the night”, diz a canção de John Martín. ”Tenho fé assim mesmo”, reconhece Michael, um indignado de olhos que soam despertos. ”Fé de que pouco a pouco o mundo tome consciência e de que, todos juntos, sejamos capazes de pôr em movimento, em cada lugar deste planeta agonizante, uma força tão grande como a que os egípcios colocaram na Praça Tahrir”. 
       No fundo, esse é o sonho de todos: uma praça Tahrir Universal contra o capitalismo, pela democracia participativa, um retorno aos valores e à moral fundadores. Por isso resistem a tudo: à ironia, à indiferença, ao cinismo, à estupidez, à ignorância, à fome, ao frio outonal de Londres, a estas palavras. São poetas. E como todos os poetas não vivem envoltos em sonhos senão na nudez da realidade. Sob a pálida luz da manhã londrinense, nada têm de “indignados”. São, sim, seres que não se resignam a aceitar a voraz desproporção do mundo, que não caem em depressões metafísicas profundas porque não podem comprar o último modelo do iphone ou do ipad. 
Tradução: Liborio Junior
Fotos: Cris Rodrigues 
Nossa fonte: CARTA MAIOR

CONVITE: Seminário debaterá democratização da mídia




Mídia, democracia, regulação, liberdade de imprensa e de expressão: estes serão os temas centrais do seminário promovido pela Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (AJURIS), Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação (Altercom) e Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, no dia 3 de novembro, em Porto Alegre. O evento será na Escola Superior da Magistratura (rua Celeste Gobbato, nº 229, bairro Praia de Belas). A programação do encontro é a seguinte:
 8h30min – credenciamento
9h às 12h – Abertura e 1º Painel
Democracia e Liberdade de imprensa
Presidente de mesa: Leoberto Narciso Brancher – Conselheiro de Comunicação da AJURIS
Participantes:
Claudio Baldino Maciel – Desembargador TJRS
Paulo Henrique Amorim – Jornalista do site Conversa Afiada
Pascual Serrano – Jornalista espanhol
Breno Altmann – Jornalista e Diretor da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação (Altercom)
Juremir Machado – Jornalista do Correio do Povo e Rádio Guaíba e professor da PUCRS
15h às 18h – 2º Painel e Encerramento
Regulação e Liberdade de expressão
Presidente de Mesa: Ronaldo Adi Barão Castro da Silva – Assessor da Presidência da Ajuris
Participantes:
Eugênio Facchini Neto – Desembargador do TJRS e professor da Escola Superior da Magistratura e da PUCRS
Franklin Martins – Jornalista e Ex-ministro da Comunicação Social do Governo Lula
Venício Lima – Jornalista, Sociólogo e Professor da UNB
Luiza Erundina – Deputada Federal PSB (a confirmar)
Elton Primaz – Jornalista, chefe de Redação do jornal O Sul
Bia Barbosa – Jornalista e integrante do Conselho Diretor do Intervozes Coletivo Brasil de Comunicação Social
As inscrições podem ser feitas
neste endereço.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Lavagem: Brasil não prende ninguém; juízes, MP e MJ pedem nova lei

    Fonte:Carta Maior

     Na população carcerária brasileira de 512 mil pessoas, não há um só caso de lavagem de dinheiro, crime que não raro envolve gente de colarinho branco. Para dois juízes federais e um procurador da República, lei de 1998 precisa ser reformada e dotada de regras mais duras e efetivas. Segundo Ministério da Justiça, impunidade ameaça bloqueio de bens no exterior.

      BRASÍLIA – O Brasil tem hoje 512 mil pessoas presas cumprindo pena ou à espera de julgamento. Há 1,8 mil diplomados, 15 vezes menos do que o número de analfabetos, e 535 corrompedores, sete vezes mais do que o total de servidores públicos comprados. O perfil da população carcerária ajuda a entender porque, no país, não existe ninguém detido por lavagem de dinheiro, crime tipicamente cometido por gente de colarinho branco, com influência política e poderio econômico. 
      Essa é uma situação que juízes federais, Ministério Público e ministério da Justiça querem mudar. Eles cobram do Congresso a reforma da atual lei da lavagem, inserindo nela regras mais duras e efetivas contra os autores. “Urge uma atualização do nosso arsenal legislativo, que está extremamente carente de eficácia”, afirma o juiz Sérgio Fernando Moro, da sessão Judiciária do Paraná.
     Moro condenou, em 2003, dirigentes e executivos do Banestado, banco que parte da elite nacional usou para mandar ao exterior, ilegalmente, dinheiro muitas vezes com origem irregular e que, um dia, poderia voltar ao país devidamente ensaboado. Todos os condenados estão soltos, pois recorreram a tribunais superiores. “É escandalosa a morosidade da Justiça, a estrutura é totalmente esclerosada”, diz.
      “Hoje o crime econômico compensa. Não tem nenhuma ação penal que avance no Brasil e isso é de conhecimento internacional”, afirma o desembargador Fausto de Sanctis, que condenou o banqueiro Daniel Dantas. 
      A angústia dos dois juizes não acabaria apenas mudando-se a lei 9.613, de 1998, mas seria um começo. Projeto prestes a ser votado na Câmara amplia, por exemplo, as possibilidades de confisco de bens dos “lavadores”, o que ajudaria a inibir este tipo de crime. 
      “A punição é muito mais dolorosa quando se alcança o patrimônio”, diz o procurador Vladimir Aras, do grupo de trabalho sobre Lavagem de Dinheiro e Crimes Financeiros da Procuradoria-Geral da República.
        O projeto tem mais dos dispositivos considerados importantes contra lavanderias. Um é o fim da lista de crimes praticados antes da lavagem, lista esta que precisa ser observada para que se caracterize a lavagem propriamente dita. 
       Na legislação atual, há oito situações que podem dar origem a lavagens, como lesão aos cofres públicos (sonegação de impostos, por exemplo) ou ao sistema financeiro. A lista seria uma amarra, porque deixaria de fora situações que também levariam a lavagens.
       Outro dispositivo relevante seria um maior constrangimento daqueles setores econômicos que, por suas atividades, têm obrigação de colaborar na identificação de crimes de lavagem. 
        A lei de 1998 criou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e mandou 12 setores prestarem informações a órgãos públicos sobre operações estranhas com as quais se deparem. É o caso dos bancos, que precisam relatar movimentações volumosas de quem não costuma fazer isso.
      O projeto aumenta para 18 o número de setores obrigados a prestar informações. Entram na dança auditores, contadores, consultorias, juntas comerciais, empresas que transportam valores e até quem negocia jogadores de futebol. Além disso, a proposta eleva de R$ 200 mil para R$ 20 milhões, o teto da multa aplicada a empresa ou pessoa física que não contribuir como devia.
      Para o chefe do Departamento de Combate a Ilícitos Financeiros do Banco Central (BC), Ricardo Liao, uma multa deste tamanho “vai inibir um pouco ou vai fazer refletir um pouco mais”, aqueles que deveriam prestar informações mas acabam tentados a não fazê-lo porque o cliente que denunciariam seria poderoso ou parceiro em negócios futuros, por exemplo.
      A falta de combate efetivo à lavagem de dinheiro dentro do Brasil está a ponto de causar problemas internacionais ao país. Como ninguém é condenado de forma definitiva, as autoridades de outros países começam a pensar duas vezes, antes de atender pedido de bloqueio de bens.
      “Os criminosos se aproveitaram da globalização, ninguém mais guarda dinheiro aqui no Brasil”, disse o chefe do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional do ministério da Justiça, Ricardo Saadi. “Por causa da falta de sentenças transitadas em julgado, teremos problemas logo.”
     Fornecedor dos dados sobre população carcerária que abriram esta reportagem, ele se pergunta: "Será que a lei serve para todos no Brasil ou só para a população mais baixa?"
     Saadi, Moro, de Sanctis, Liao e Aras participaram nesta terça-feira (25) de audiência pública na Câmara dos Deputados sobre o projeto de reforma da lei de lavagem.

Salve Andrea del Fuego


     Brasileira vence Prêmio Saramago de literatura


         A escritora paulista Andrea del Fuego, 36 anos, recebeu hoje (25), o prêmio Saramago de literatura. A organização da premiação, que ocorre a cada dois anos, fez o anúncio nesta terça-feira, em Lisboa.


Andrea del Fuego premiada
A escritora paulista, autora da obra Os Malaquias, recebe prêmio Saramago  crédito: divulgação
      A brasileira foi reconhecida pelo seu romance Os Malaquias (editora Lingua Geral) e receberá 25 mil euros (R$ 61 448) na sétima edição do evento, que premia autores lusófonos com menos de 35 anos – idade de Del Fuego à época da premiação.
     O júri foi presidido pela editora Guilhermina Gomes e também contou com a escritora Nélida Piñon; a poetisa Ana Paula Tavares; a presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Rio; o escritor Vasco Graça Moura; entre outros. 

A crise do capitalismo e o desenvolvimento desigual das nações

     O mundo vive, desde 2007, sob o signo da crise mais global da história do capitalismo. Em maior ou menor medida, seus efeitos são sensíveis em todos os continentes, sobretudo para a classe trabalhadora, sua principal vítima. 

Umberto Martins



     Mas uma característica fundamental da crise é sua diversidade. Ela se manifesta de maneira diferente nos países e impulsiona, com isto, o processo de desenvolvimento desigual das nações, que já vinha se verificando anteriormente. 
     Os estragos são bem maiores nos Estados Unidos, na Europa e no Japão do que na China e nos Brics. Dentro da Europa, a crise é generalizada, mas a situação da Grécia, elo mais frágil da cadeia imperialista, não é a mesma da Alemanha.
     Ascensão da China
     A indústria chinesa sofreu com a contração do mercado nos Estados Unidos e na Europa, em 2008. Muitas empresas faliram e milhões de operários foram demitidos. Mas a economia reagiu aos estímulos do Estado e se recuperou rapidamente, de modo que mesmo em 2009, quando o PIB mundial caiu 0,6% (os EUA recuaram 2,6%, a zona do euro 4% e o Japão 6,3%), a China cresceu 9,2%. Em 2010, mesmo com as economias europeia e norte-americana estagnadas, o país avançou 10,3% e ainda deve crescer mais de 9% este ano. 
     O crescimento desigual não é de hoje. Ao longo das últimas décadas o PIB chinês progrediu em média cerca de 10% ao ano enquanto os EUA e outras potências ocidentais cresceram entre 2 e 3%. O resultado deste desenvolvimento desigual foi uma revolução silenciosa na geografia econômica mundial, com o deslocamento da produção industrial, e por extensão do poder econômico, do Ocidente para o Oriente e dos EUA para a China. 
    Refletindo o avanço da indústria, nas condições de uma “economia de mercado socialista”, o país ocupa o primeiro lugar no ranking mundial das exportações, depois de superar a Alemanha e Estados Unidos. Acumula reservas superiores a 3 trilhões de dólares, as maiores do mundo e se transforma, por consquencia, num relevante investidor externo. É o maior credor dos EUA, onde aplicou parte substancial de suas reservas. 
     Para um número crescente de nações da África, Ásia e América Latina as relações comerciais e financeiras com a China já são mais relevantes que o intercâmbio com os EUA e a Europa. 
     Convergência das crises
     A particularidade mais notável da crise econômica em curso reside em sua convergência com o declínio da importância relativa das grandes potências e dos Estados Unidos em especial, que reflete o esgotamento da ordem econômica e política mundial remanescente dos acordos de Bretton Woods, erigida de acordo com a realidade do capitalismo após a Segunda Guerra, na época em luta com o socialismo soviético.
     Ao longo das últimas décadas, em sintonia com a globalização neoliberal e a desregulamentação do sistema financeiro, moldou-se um modelo de desenvolvimento mundial sustentado no excesso de consumo dos EUA e alguns países europeus, que alimentou a reprodução do capital em âmbito internacional e também contribuiu para a prosperidade chinesa. O déficit americano passou a ser financiado pela poupança asiática numa relação que chegou a ser caracterizada equivocadamente como uma perfeita simbiose.
      Mas este padrão de reprodução do capital, fundado no crescente endividamento e na hipertrofia do sistema financeiro, entrou em crise e hoje parece insustentável. Os EUA não são mais a locomotiva do globo; as economias emergentes, lideradas pela China, já respondem por mais de 50% do crescimento da economia mundial.
     Objetivamente, o mundo está mudando e demanda uma nova ordem internacional, uma nova moeda ou novas moedas e novas instituições. A transformação da geografia econômica de certa forma sugere uma transição neste sentido, mas a verdade, de resto evidente, é que o globo, em crise, ainda é prisioneiro da velha ordem, da liderança capenga e instável do dólar, do arbítrio dos EUA e da Otan e de governos submissos ao capital financeiro. A transição para uma nova ordem não se completará sem luta.
     Acirramento da luta de classes
     Outro aspecto fundamental é que a recessão e as perturbações no processo de reprodução do capital provocam um notável acirramento da luta de classes entre capital e trabalho, verdade que se revela com força na Europa e nos países mais afetados pela crise. Isto ocorre porque a estagnação da economia tem a sua tradução para a classe trabalhadora no desemprego em massa, na redução de salários e direitos. O número de desempregados no mundo excede 200 milhões, 40 milhões nos países mais desenvolvidos. 
       Além disto, a intervenção dos governos para resgatar o sistema financeiro, derramando trilhões de dólares e euros na economia, agravou os problemas, elevando os déficits públicos e detonando a crise da dívida. Frente à nova situação, programas de ajuste fiscal são impostos, especialmente às nações mais frágeis da Europa, com doses de sacrifícios extras para os trabalhadores. O FMI, refratário a reformas, cumpre a missão neocolonial de monitorar a execução dos pacotes antissociais, a exemplo do que fez no Brasil e na América Latina durante os anos 1980. 
     A crise, em vez de arrefecer, ganha novo fôlego com as medidas que reduzem o nível de emprego e o poder de compra dos salários, deprimindo o consumo e empurrando as economias para uma espécie de círculo vicioso no qual as políticas econômicas, que deviam contornar a crise, reproduzem mais recessão. Para superar o drama, conforme recomendou a presidente brasileira Dilma Rousseff, seria necessário estimular o consumo e os investimentos produtivos, ao contrário da receita imposta pelo FMI, ditada pelos interesses dos banqueiros.
      A burguesia europeia, embriagada de neoliberalismo, aproveita o ambiente de crise para desmantelar o chamado Estado de Bem Estar Social e aumentar o grau de exploração da força de trabalho, de forma a se apropriar de uma parte maior do excedente econômica (trabalho excedente) e enfrentar a concorrência asiática, cuja competitividade é também lastreada em outros padrões salariais. É uma ofensiva capitalista radical, que está acirrando a luta de classes e despertando uma notável revolta na classe trabalhadora.
     Protecionismo e guerra comercial
     Ao lado da instabilidade monetária e financeira, a contração dos mercados acirrou a concorrência entre as grandes empresas que dominam o comércio internacional, bem como as contradições entre as nações, desembocando no crescimento do protecionismo e em guerras cambiais e comerciais. 
      É conveniente lembrar Lênin, que aponta a tendência do imperialismo em crise para o reacionarismo em toda linha. A exacerbação da intolerância, voltada principalmente contra trabalhadores imigrantes, o fortalecimento da extrema direita nos Estados Unidos e na Europa, são sinais preocupantes da manifestação desta tendência política, ao lado da intensificação da agressividade militar do imperialismo e dos conflitos políticos no Oriente Médio.
      Os acontecimentos sugerem que não se deve esperar uma saída positiva para a crise do imperialismo, do ponto de vista da civilização humana, nos marcos do capitalismo. 
      Os interesses do capital financeiro já não conduzem ao desenvolvimento e entraram em franca contradição com as demandas sociais. Como em outras ocasiões da história, o sistema caminha para a barbárie. Uma solução progressista só virá pelas mãos do povo.
      Desafio das forças revolucionárias
      A reação dos povos europeus, com protagonismo crescente da classe trabalhadora e de suas organizações, é de revolta, resistência e luta. Eleva-se a dezenas o número de greves gerais realizadas na Grécia e em outros países do continente. Manifestações de protesto pipocam em todo o mundo, inclusive no centro do império americano. 
      O desafio das forças progressistas e revolucionárias é pavimentar nas batalhas em defesa dos direitos sociais, dos salários, das aposentadorias e do emprego, o caminho da luta maior contra o imperialismo e o capitalismo, entrelaçando a peleja por uma nova ordem internacional, efetivamente democrática, solidária e multilateral, com o objetivo estratégico e revolucionário de construir uma sociedade socialista. 
     O imperialismo, como disse Lênin, é o capitalismo dos nossos dias. Por isto, a luta contra o imperialismo não terá maior consequência se não contemplar o objetivo de liquidar o modo de produção capitalista, que está na raiz do imperialismo, e promover o socialismo.
      A par de seus objetivos gerais, a desigualdade das realidades nacionais confere características e particularidades à luta em cada país. A América Latina vive um novo cenário político, com um grande número de países governados por forças políticas progressistas, que buscam uma alternativa ao neoliberalismo. 
      São experiências diferenciadas, em que o objetivo mais avançado é o do socialismo bolivariano, proclamado pela Venezuela. Mas há em comum o objetivo de buscar uma maior integração econômica e política das nações latino-americanas e procurar um modelo de desenvolvimento alternativo ao projeto dos EUA, sinalizado na rejeição da Alca e na criação da Unasul, da Celac (Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos) e da Alba (Aliança Bolivariana para os povos da Nossa América), entre outros fatos. São acontecimentos que confrontam objetivamente a hegemonia dos EUA e apontam na direção de uma nova ordem mundial. 
      Cabe registrar que, diferentemente do que ocorre na Europa, os governantes latino-americanos não estão adotando receitas recessivas ditadas pelo FMI para descarregar o ônus da crise sobre a classe trabalhadora. Os indicadores revelam uma relativa valorização do trabalho e redução das desigualdades sociais em grande número de países da região. 
      Os comunistas apoiam a integração regional, compreendendo o seu caráter objetivamente antiimperialista, e lutam, no Brasil, para que o processo de mudanças avance no sentido de novos projetos de desenvolvimento, antineoliberais e antiimperialistas, ancorados nos movimentos sociais, nos quais a classe trabalhadora deve ter papel proeminente e que abram caminho para o socialismo.

Nossa fonte: Vermelho 

segunda-feira, 24 de outubro de 2011



Lançado o Acervo Digital de Chiquinha Gonzaga, acesso livre a mais de 300 partitras da compositora.

Pablo Picasso: os 130 anos de um gênio


     Após pintar seu primeiro quadro com sete anos, o espanhol Pablo Picasso, que nesta terça-feira completaria (25) 130 anos, não abandonou mais os pincéis e se tornou um dos gênios do século XX. Pintor, escultor, desenhista, ceramista, gravador... Picasso é o artista espanhol mais influente do século passado e um dos grandes gênios da história da arte.




     Mestre da Modernidade, revolucionou e marcou um novo rumo da história artística quando pintou em 1907 "As Meninas de Avignon", marco e ponto de referência para o desenvolvimento das vanguardas artísticas posteriores.
     O espanhol introduziu na arte novas concepções revolucionárias que originaram o cubismo, movimento criado por ele junto com George Braque.
     Nascido em Málaga em 1881, a família se mudou para La Coruña e depois para Barcelona, onde se formou em um estilo acadêmico, mas um breve contato com grupos modernistas o fizeram mudar sua forma de expressão.
     Após sua passagem por Madri e como a maioria dos artistas da época, Picasso ganhou notoriedade em Paris, onde se instalou no atelier do pintor espanhol Isidro Nonell.
     Em 1904 se mudou definitivamente para a capital francesa, trabalhando no atelier Bateau Lavoir. Este é o ponto de partida de sua "fase azul" (1901-1904), caracterizada pelo predomínio desta cor junto à representação de personagens esquálidos com expressão trágica.
     Entre 1905 e 1906, a "fase rosa", Picasso mostra uma faceta menos triste em que representa cenas de circos e comediantes, entre outras coisas.
     Em 1906 conheceu Matisse e um ano mais tarde terminou "As Meninas de Aviñon". A partir de então trabalhou sobre dois princípios opostos de representação, um figurativo e outro dissociado da forma. Um ano depois conheceu Braque com o qual iniciou o chamado "cubismo analítico", até que em 1913 passou ao "cubismo sintético".
     Cansado das estruturas geométricas, Picasso retornou ao clássico, ao nu monumental, ao equilíbrio e ao desenho de Ingrés.
     Aberto a todos os movimentos, em 1925 se aliou ao surrealista André Breton, quando combinou o monstruoso e o sublime na composição de figuras meio máquinas, meio monstros, de aspecto aterrorizante. Esta etapa terminou em 1932.
     Em 19 de setembro de 1936, início da Guerra Civil espanhola, foi nomeado diretor do Museu do Prado, cargo que não chegou a exercer, mas ajudou a levar as peças mais valiosas do museu para protegê-las em Paris.
     Em 1937 pintou um mural para representar a Espanha no Pavilhão de Exposição Universal de Paris. O bombardeio de Guernica provocou a criação da mais famosa obra de arte contemporânea, que critica a guerra e a injustiça causada pelo confronto.
    
     A obra retornou em 1981 à Espanha procedente do Museu de Arte Moderna de Nova York onde se encontrava temporariamente, cedida pelo próprio artista.
     Com isso, se respeitou a vontade de Picasso que a tela monumental voltasse ao seu país assim que este recuperasse suas liberdades democráticas. Poucos eventos como a chegada do Guernica marcaram o antes e o depois da transição política espanhola.
     Picasso passou os últimos anos de sua vida no sul da França trabalhando em um estilo muito pessoal e morreu na vila de Notre-Dame-Vie, em Mougins, em 8 de abril de 1973, de um edema pulmonar quando preparava uma exposição para o Palácio dos Papas, em Avignon.
     O artista malaguenho, autor com mais obras em museus de todo o mundo, teve uma longa e produtiva trajetória com 1.876 quadros, 1.355 esculturas, 7.089 desenhos, 25.388 gravuras, 2.880 cerâmicas e 149 cadernos - um total de 4.659 trabalhos.
     Picasso se casou seis vezes e teve quatro filhos. 
     Fonte: Efe

Nossa fonte: Vermelho