Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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domingo, 28 de novembro de 2010

Poemas de Alípio Freire

Rapsódia de ordem política e social

(Fonte:Carta O Berro..........................................................repassem)

  

Alipio Freire: Rapsódia de ordem Política e Social Na edição deste final de semana do suplemento Prosa, Poesia e Arte, o Vermelho publica uma série de poemas do escritor e jornalista baiano Alipio Freire. Os sete poemas que compõem esta edição fazem parte de um livro que será lançado no próximo ano: "Rapsódia - De Ordem Política e Social".
Alipio Freire nasceu em Salvador-BA, em 1945, e vive em São Paulo desde 1961. É jornalista, escritor, artista plástico, roteirista e diretor de cinema e vídeo. Graduou-se na Escola de Jornalismo Cásper Líbero (1964-1966), onde participou de diretorias do Centro Acadêmico daquela Faculdade, do qual foi presidente durante o ano de 1966. Militou na organização clandestina Ala Vermelha (1967-1983), ficando preso de 31 de agosto de 1969 a 2 de outubro de 1974.

Colabora com a imprensa popular, sindical e de esquerda e participou da fundação, dirigiu e editou diversas publicações nessa área. Pertence aos conselhos editoriais das revistas "Fórum", "Teoria & Debate" e "Revista Sem Terra"; dos jornais "Correio da Cidadania" e "Brasil de Fato", e da Editora Expressão Popular. Colabora com diversas publicações - jornais, boletins, revistas, sites etc. - sindicais, de movimentos populares e da esquerda.

Coordenou - juntamente com Izaías Almada e J. A. de Granville Ponce, o livro "Tiradentes - um presídio da ditadura" (Scipione Cultural - 1997), e tem textos publicados em diversos livros e coletâneas. Em dezembro de 2007 lançou o livro de poemas "Estação Paraíso", pela Editora Expressão Popular - SP.


Poemas encadeados


Da luta armada ou Da violência justa
Em memória de Luiz Gama e Luiza Mahin

No Brasil o ordenamento jurídico do escravismo
considerava:

Todo senhor que matar seu escravo
em qualquer circunstância
o fará sempre em legítima defesa.

O abolicionista Luiz Gama
retrucou:

Todo escravo que matar o seu senhor
em qualquer circunstância
o fará sempre em legítima defesa.

NB*
Assim reza o mais legítimo proceder contra todo tirano.

Em qualquer circunstância.


De poetas e de pedras

As pedras não falam
mas quebram vidraças

nos ensina o poeta Sérgio Vaz
- colecionador de pedras.

Para os melhores poetas do povo
resistir é fundamental.

Ainda que nem sempre palavras sejam suficientes.


As pedras e os caminhos

Dos diálogos com Bob Dylan e Sérgio Vaz

As pedras do caminho nunca as deixem para trás.

Recolham uma a uma
e guardem com todo cuidado

de modo a preservar cada aresta
cada reentrância cada saliência

de modo a preservar peso e volume.

Ajam como zelosos colecionadores de preciosidades.

Mais adiante
teremos muitas vidraças a enfrentar.

Vidraças blindados mísseis metralhadoras e fuzis não se vergarão às nossas simples palavras.

Daí então
as pedras falarão por nós.


Dos poemas de pedra
Dos diálogos com a poeta Lara de Lemos

Cantarei versos de pedras.

Dos poemas de pedra
Dos diálogos com a poeta Lara de Lemos

Cantarei versos de pedras.

Não quero palavras débeis
para falar do combate.

Assim escreveu a poeta Lara de Lemos
que conheceu como poucos o caminho das pedras.

Lara sempre teve consciência de que
somente enquanto pedras
seus versos atingiriam seus objetivos.


Das pedras e do seu momento exato

Não atiremos pedras precipitadamente.

Avaliemos o alvo preciso
para evitar fogo amigo;

Avaliemos a dimensão do nosso exército
e a dimensão do exército inimigo;

Avaliemos o momento correto
e preparemos cuidadosamente a hora adequada

Façamos enfim todo um estudo balístico para o arremesso
de modo a garantir que nossas pedras jamais tenham efeito bumerangue.

NB
Mas se mesmo com todos esses cuidados errarmos
nosso gesto terá sido legítimo.


Romance sonâmbulo
Dos diálogos com Federico García Lorca e
Fernando Pessoa

A metafísica dos ideais abstratos
me indica como caminho
a negociação e a paz entre as classes
na disputa dos seus interesses e poder.

Mas nesta vida em que sou meu dono
(e não sou meu sono)
a crua objetividade dos fatos
e o seu desenrolar em História
prontamente me fazem acordar
dos meus sonhos de sonâmbulo.

NB
- Camaradas quero morrer com decência
(com os bolsos cheios de pedras).


Ad astra per aspera
Dos diálogos com Armando Cavalcanti e
Klecius Caldas

Não pode alcançar os astros
quem leva a vida de rastros
quem é poeira do chão.

- Afirma nosso cancioneiro popular

O poeta concorda
E subscreve

NB
... por fim traduz o título um tanto pedante:

Rumo às estrelas
mesmo com dificuldade.

(Apenas um provérbio latino
popular em sua época).


* NB ou "Nota Bene" é uma expressão latina que deu em português ao Note Bem (NB)