Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Crônica de sábado


(Roberto vai à Feira)

Roberto Regensteiner



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FEIRAS LIVRES são fonte inesgotável de riqueza humana. 
Veja as amostras colhidas hoje, na manhã deste sábado, 
dezoito de janeiro.

A caminho da Alameda Rio Claro encontro um ex-ministro da 
previdência de Lula! um velho conhecido de escola, colega de 
trabalho e agora vizinho de bairro. Me alegro. Nos saudamos. 
Pergunto se viu a recente entrevista de Lula na TVT, em que 
o ex-presidente menciona a questão da Previdência. Fico triste:
não tomou conhecimento. Nos despedimos depois de um 
ping-pong ritual que termina com ele dizendo: “Fica tranquilo 
que eu te ligo”.

Na primeira parada na feira busco a Musa Paradisiaca. Este o 
nome científico das bananas, não é lindo?  Entre as frutas, a 
minha diária predileta. O Márcio é fornecedor preferencial há 
muitos anos. Começou moleque vendendo nas feiras livres das 
Alagoas. Chegado a São Paulo virou comerciante. Junto com 
a Jessica e agregados formam família que luta diariamente nos
mercados. Tá sempre de bom-humor e mente alerta. Tem 
resposta para tudo. Se não tiver inventa uma engraçada. 
Adoça a boca dos clientes com bananas gostosas e os ouvidos
com tiradas engraçadas e respeitosas. Tira dos clientes o 
dinheiro de modo particular e inovador. No meu caso as 
bananas formam um degradê de maturação. Podem ser 
apreciadas aos poucos e a contento no decorrer da semana. 
Faz comigo o que faz com os outros. Para um só bananeiro 
ajunta na sua banca muita gente. Ainda mais se sabendo que 
tem outra banca de frutas ali na frente.
 Além de encontrar por ali ex-ministros, conheci pessoas 
interessantes, inclusive um simpático senhor, elegante, sempre 
com chapéu de palha, que compra frutas para os passarinhos de 
uma área pública do bairro que fica ali próxima, pertinho da nascente do Rio 
Saracura, uma sobrevivente desta urbanização maluca.

Hoje, conversando com o Márcio, sobre leitura, a propósito de 
textos difíceis, entrou na conversa o Hélio, lamentando a diminuição 
da quantidade de livros lidos em relação a tempos anteriores. 
Indaguei-lhe do tema de sua predileção. Sobre o Espiritismo 
me replicou. E contou coisas que me tocaram sobre os escritos 
de Alan Kardec que nos 1800s deu à luz a doutrina. “Espírito ou espíritos, 
no plural”, indaguei. No plural, respondeu. Cada ser tem seu 
espírito afirmou.” Muito bem”, disse eu “Isso é congruente com 
minha concepção de um continuum infinito de matéria pelo 
espaço-tempo” e, completou ele, com minha anuência: 
“em que há condensação da matéria”.
Prosseguiu dando-me dados históricos sobre a Doutrina 
nascida na França napoleônica. Soube que o Espiritismo 
reinterpretou os Evangelhos.  Mas, conforme diz o Hélio, 
apresentando sua convicção particular, trata-se de ciência e 
não de religião. Que bom que ele pensa assim. No terreno da 
ciência onde cabem todas as humanas dúvidas e os dogmas 
são questionáveis, poderemos nos entender. Noto que o 
Espiritismo nasceu no mesmo período histórico em que se 
desenvolve o materialismo histórico e dialético. Me faz lembrar 
de Friedrich Engels que, deixou escrita e inédita, a ideia de que 
“o pensamento é uma forma superior de matéria” (publicada 
post-mortem sob o título de Dialectica de la Naturaleza. E, ao 
fazê-lo deu substância à matéria espiritual.  O Espírito deixava 
de ser o vazio, o imaterial, o inatingível). 

Esta formulação, velha de mais de 100 anos, permanece atual.
É congruente com avanços no campo da fisiologia do cérebro, 
da neurociência, da física quântica e em outros, em que Matéria 
é constituída de variedade de partículas e elementos que se 
movem no espaço ao longo do tempo. A capacidade humana 
de perceber o mundo, antes limitada aos cinco sentidos 
imediatos, com aajuda de instrumentos, expandiu-se rumo ao 
macrocosmo e aos micro-organismos.

Me lembra a companheira que precisamos de ovos e me despeço 
do Hélio encerrando as divagações sobre quão distantes ou 
próximos estamos nós, os seres humanos, os espiritas, os 
materialistas dialéticos, os históricos, os confusos e os outros. 

Vou para a barraca do Augusto. Lá chegando, vejo como trata com
leveza um mal-entendido: um cliente pede desculpas por 
expressar-se de forma inadequada na presença da Dona Maria, 
mãe e parceira, que incessantemente trabalha na preparação dos 
galináceos e quitutes. Comento com ele o acontecido. Me dá um 
alegre sorriso, enquanto embala minha dúzia de quinze reais e faz
o troco: “Feira é lugar de gente alegre!... tem gente aborrecida, sim,
mas estes raramente voltam! “.