Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O outro lado que a mídia esconde


No Brasil, deputada grega fala da crise e defende auditoria da dívida

Em seminários em Brasília, Sofia Sakorafa diz que crise grega é 'catastrófica' e filha do neoliberalismo. Crítica e único voto contra acordo com FMI, socialista acha 'imoral' e 'desonesto' impor ao povo custo de socorro a bancos e prega auditoria. 'Que paguem os responsáveis', afirma. Comissão de auditagem paralela ao governo já começou.

BRASÍLIA – O acordo do governo grego com o Fundo Monetário Internacional (FMI) recebeu só um voto contra no parlamento, da deputada Sofia Sakorafa. Integrante do Partido Socialista como o primeiro-ministro George Papandreou, Sofia passou por Brasília nos últimos dois dias. 

Em eventos públicos, deu um testemunho sobre o drama do país. Culpou o neoliberalismo e o sistema financeiro pela crise que atinge a Grécia e parte da Europa. E defendeu que todos os países com problema de dívidas parem de pagá-las e façam antes uma auditoria nelas.

“Meu país está em uma situação muito difícil”, afirmou Sofia, traduzida por um brasileiro. Paga até hoje empréstimos de 80 anos atrás que, em juros, já consumiram o dobro da quantia original. A situação piorou e tornou-se “castatrófica” depois da crise global de 2008, que exigiu injeção de dinheiro público grego em bancos. 

A conta que chegou ao governo, na forma de aumento da dívida pública, levou Papandreau ao FMI e a um acordo que traz consigo corte de gastos sociais, desemprego, recessão, desesperança. “A situação mudou de uma hora para outra, e os cidadãos não têm culpa”, disse. “É imoral e desonesto querer que os cidadãos paguem os oportunistas.”

Por “oportunistas”, leiam-se “banqueiros” que, para a deputada, produziram a crise, com ganância sem regulamentação, e agora tentam lucrar com o socorro recebido do governo. Como as consequências se abaterão sobre a população, seria imperioso auditar a dívida pública, para depurá-la de “corrupção” e “ilegalidade” que a teriam inchado.

Embora tenha sido rejeitada formalmente pelo governo grego, a auditagem está sendo feita por uma comissão que envolve sindicatos e outras organizações sociais. “É direito democrático e sagrado dos cidadãos saber por que e como foi causado isso que eles têm de pagar hoje”, disse Sofia, que acredita que a dívida deve ser paga "pelos responsáveis".

Para a deputada, “os políticos terão de voltar ao método antigo e bater de porta em porta” para mostrar que é possível auditar a dívida e trilhar um caminho alternativo ao aconselhado pelo FMI. A mídia, segundo ela, "joga o jogo do grande capital” e esconde dos gregos que Malásia (1997) e Equador (2007) promoveram auditorias e estão melhores do que antes.

A atual crise da dívida grega seria um capítulo recente de uma história mais velha, que Sofia data do “surgimento do neoliberalismo do estilo Thatcher e Reagan”. A ex-primeira ministra britânica Margareth e o ex-presidente dos Estados Unidos Ronald teriam tentado “alterar o equilíbrio do poder econômico e social entre a classe capitalista e trabalhista em favor da primeira”. 

Com essa postura, a dupla neoliberal teria subvertido a essência da democracia tal qual ela foi definida por um de seus padrinhos, justamente um estadista grego, Péricles: “O nosso regime se chama democracia pelo fato de que o governo do país encontra-se não nas mãos dos poucos, mas sim nas mãos de muitos.”

Sofia participou na quarta-feira (5) de um seminário sobre a crise realizado na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) por iniciativa de uma série de entidades e que contou com representantes latino-americanos. E, nesta quinta (6), de um seminário promovido em conjunto por três comissões da Câmara.


Três mulheres ganham o Prêmio Nobel da Paz


Três mulheres foram anunciadas pelo Comitê Nobel da Notuega nesta sexta-feira (7) como ganhadoras do Prêmio Nobel da Paz: a presidente da Libéria, Ellen Sjohnson-Sirleaf, a militante pela paz também liberiana Leymah Gbowee e a ativista iemenita Tawakkul Karman.


As três foram recompensadas "por sua luta pacífica pela segurança das mulheres e de seus direitos de participar nos processos de paz", declarou, em Oslo, o presidente do Comitê Nobel norueguês, Thorbjoern Jagland.

Johnson-Sirleaf era a mais provável ganhadora do prêmio por ser a primeira mulher africana eleita presidente democraticamente, por ter colocado um fim ao conflito armado na Libéria e contribuído à queda do presidente anterior, Charles Taylor, julgado por crimes contra a humanidade por um tribunal internacional.

Nascida na Monróvia em 1938, Johnson-Sirleaf chegou ao poder nas eleições de novembro de 2005, ao vencer seu principal oponente, o ex-jogador de futebol George Weah.

Nossa Fonte: Vermelho

DO FUNDO DO POÇO


Frei Betto  



 Vira e mexe, volta à baila o  tema da descriminalização das drogas. Uns opinam que com o sinal verde e a  legalização da venda e do consumo o narcotráfico perderia espaço e a saúde  pública cuidaria melhor dos dependentes, a exemplo do que se faz em relação ao  alcoolismo.

 Outros alegam que a maconha deveria ser liberada, mas  não as drogas sintéticas ou estupefacientes como crack, cocaína e ópio.

 Não tenho posição formada. Pergunto-me se legalizar o plantio e  o comércio da maconha não seria um passo para, mais tarde, se deparar com  manifestações pela legalização do tráfico e consumo de cocaína e  ecstasy...

 Presenciei, em Zurique, no início dos anos 90, a  liberação do consumo de drogas no espaço restrito da antiga estação  ferroviária de Letten. Ali, sob auspícios da prefeitura, e com todo  atendimento de saúde, viciados injetavam cocaína, ópio, heroína, a ponto de o  local ficar conhecido como Parque das Agulhas. Em 1995, encerrou-se a  experiência. Apesar do confinamento, houve aumento do índice de viciados e da  criminalidade.

 Nem sempre o debate se pergunta pelas causas da  dependência de drogas. É óbvio que não basta tratar apenas dos efeitos. Aliás,  em matéria de efeitos, a minha experiência com dependentes, retratada no  romance “O Vencedor” (Ática), convenceu-me de que recursos médicos e  terapêuticos são importantes, mas nada é tão imprescindível quanto o afeto  familiar.

 Família que não suporta o comportamento esdrúxulo e  antissocial do dependente, comete grave erro ao acreditar que a solução reside  em interná-lo. Sem dúvida, por vezes isso se faz necessário. Por outras é o  comodismo que induz a família a se distanciar, por um período, do parente  insuportável. Dificilmente a internação resulta, além de desintoxicação, em  abstenção definitiva da droga. Uma vez fora das grades da proteção clínica, o  dependente retorna ao vício. Por quê?

 Sou de uma geração que, na  década de 1960, tinha 20 anos. Geração que injetava utopia na veia e,  portanto, não se ligava em drogas. Penso que quanto mais utopia, menos droga.  O que não é possível é viver sem sonho. Quem não sonha em mudar a realidade,  anseia por modificar ao menos seu próprio estado de consciência diante da  realidade que lhe parece pesada e absurda.

 Muitos entram na droga  pela via do buraco no peito. Falta de afeto, de autoestima, de sentido na  vida. Vão, pois, em busca de algo que, virtualmente, “preencha” o  coração.

 Assim como a porta de entrada na droga é o desamor, a de  saída é obrigatoriamente o amor, o cuidado familiar, o difícil empenho de  tratar como normal alguém que obviamente apresenta reações e condutas  anômalas.

 Do fundo do poço, todo drogado clama por transcender a  realidade e a normalidade nas quais se encontra. Todo drogado é um místico em  potencial. Todo drogado busca o que a sabedoria das mais antigas filosofias e  religiões tanto apregoa (sem que possa ser escutada nessa sociedade de  hedonismo consumista): a felicidade é um estado de espírito, e reside no  sentido que se imprime à própria vida.

 O viciado é tão consciente  de que a felicidade se enraíza na mudança do estado de consciência que, não a  alcançando pela via do absoluto, se envereda pela do absurdo. Ele sabe que sua  felicidade, ainda que momentânea, depende de algo que altere a química do  cérebro. Por isso, troca tudo por esse momento de “nirvana”, ainda que  infrinja a lei e corra risco de vida.

 Devemos, pois, nos  perguntar se o debate a respeito da liberação das drogas não carece de ênfase  nas causas da dependência química e de como tratá-las. Todos os místicos, de  Pitágoras a Buda, de Plotino a João da Cruz, de Teresa de Ávila a Thomas  Merton, buscaram ansiosamente isto que uma pessoa apaixonada bem conhece:  experimentar o coração ser ocupado por um Outro que o incendeie e arrebate.  Esta é a mais promissora das “viagens”. E tem nome:  amor.

Frei Betto é escritor, autor, em parceria com  Marcelo Gleiser e Waldemar Falcão, de “Conversa sobre a fé e a ciência”  (Agir), entre outros livros. 
http://www.freibetto.org/>    twitter:@freibetto.



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