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domingo, 27 de abril de 2014

João Paulo II versus João XXIII: por que a canonização do papa polonês é um erro

Publicado originalmente no Observatório Eclesial.


João Paulo II e João XXIII

Francisco canonizou no Vaticano dois de seus antecessores, o Papa João XXIII e João Paulo II, em uma cerimônia histórica de ressonância mundial, não só pela relevância de ambas as figuras na história recente da Igreja Católica, mas também porque são dois personagens claramente opostos, representantes de dois modelos opostos de igreja. A “santidade” de um deles, o papa polonês, deve ser julgada tendo como pano de fundo a história contemporânea, uma vez que sob seu pontificado ocorreu o maior número de casos de pedofilia clerical na história do catolicismo.

É preciso avisar os milhões de pessoas prontas a elogiar João Paulo II sobre a injustiça tremenda que envolve esta canonização apressada.

O que pode significar no século XXI esta canonização? Como o teólogo José María Castillo afirma, ao longo dos séculos do Cristianismo “os interesses da Igreja mudaram radicalmente a imagem de santidade”, de modo à canonização revelar as reais intenções e projetos da instituição e de seus líderes.

Quer dizer, por trás do interesse espiritual de colocar uma pessoa como modelo, a canonização envolve também política e interesses econômicos.

Este modelo de santidade é em grande parte o resultado do longo pontificado de João Paulo II, que em 1983 estabeleceu as regras desse processo que, entre outras coisas, reduziu a cinco anos o tempo mínimo de post-mortem para iniciar um processo de beatificação ou canonização. Foi o período com mais santos canonizados na história dos papas (quase mais do que todos os papas anteriores combinados), acentuando o modelo pré-Vaticano II do santo tradicional.

Na mesma cerimônia foi também elevado aos altares o Papa João XXIII, cuja simplicidade de vida e abertura eclesial marcou um “antes e depois” para a Igreja Católica do século XX. Por que exatamente se vão canonizar dois personagens que com vida e pensamento tão diferentes? Por que na mesma cerimônia? Isso também parece ser coisa do papa polonês, que tornou moda a canonização em massa. Mas também se entende essa dupla canonização como uma estratégia de Francisco para mitigar o fervor exacerbado a João Paulo II quando vêm à luz as sombras de seu pontificado.

É necessário deter a canonização de Karol Wojtyla. Vozes credenciadas provam isso. Não só as das vítimas de seu pontificado, mas de cardeais jesuítas eminentes como Carlo Maria Martini, que declarou abertamente que não era necessária a canonização de João Paulo II, “era suficiente considerar apenas a evidência histórica de seu sério compromisso com a Igreja e a serviço das almas”.

As razões por que a canonização de João Paulo II é um ato político e não religioso:
Ele lutou contra a liberdade de pensamento e de ensino na Igreja, silenciando ou excomungando mais de 500 teólogos em todo o mundo durante o seu pontificado.
Atacou, sem conhecer, a teologia da libertação através de um processo sistemático de desarticulação da Igreja dos pobres com a condenação dos seus principais representantes, do cancelamento de centros de ensino teológico e da aliança com o poder político conservador na América Latina.
Seu silêncio perante as ditaduras militares da América Latina e do Caribe custou a vida de inúmeros cristãos em nosso continente, incluindo a do arcebispo Oscar Arnulfo Romero, que um ano antes de sua morte visitou Roma e não foi recebido pelo papa.
Ele negou a dignidade das mulheres na igreja, não reconhecendo a participação feminina na tomada de decisões relacionadas aos líderes homens, enfatizando apenas seu papel de mães, esposas e virgens. (Mulieris dignitatem)
Apoiou e protegeu até sua morte Marcial Maciel, sabendo da dor e do abuso infligido a inúmeras vítimas.
Está em causa o seu papel no encobrimento de inúmeros padres pedófilos​(incluindo bispos e cardeais) ao mandar que eles mudassem de residência para se proteger da justiça e, assim, multiplicando os danos às crianças, suas famílias e à própria igreja. Pois, mesmo aceitando que o abuso sexual não é um comportamento generalizado na igreja católica e sim casos individuais (digamos, no mínimo, um sacerdote pederasta em cada uma das cerca de 3.000 dioceses católicas do mundo), estaríamos falando de centenas de milhares de vítimas.

Embora o Vaticano tenha lavado as mãos de João Paulo II, negando o tempo todo que ele sabia de casos de abuso de crianças, é pouco crível que os acobertamentos tenham acontecido sem o consentimento do papa. Um pecado de omissão que e teve e continua a ter consequências terríveis.

Do outro lado da moeda está um papa desconhecido para a maioria das pessoas, dada a distância que nos separa da primavera do Vaticano II. João XXIII, um homem simples, um pastor, alguém que não queria ser reconhecido ou reverenciado. Seu catolicismo abriu as janelas para deixar entrar ar fresco. Um revolucionário, um homem religioso que queria conhecer os anseios, sonhos, preocupações, tristezas, de milhões que nele confiaram. Um homem que proclamou a Igreja para os pobres, tornada realidade por milhões de latino-americanos.

Como podemos avaliar essa contradição? Como reflexo de da profunda crise da igreja, que se debate com lutas internas pelo poder.

MARCHA DA MACONHA

CIDADANIA

Dez mil pessoas passaram pela manifestação, dizem organizadores

por Flávia Albuquerque - Repórter da Agência Brasil

São Paulo – De acordo com a Polícia Militar, cerca de 3 mil pessoas estiveram na marcha. Mais cedo, os organizadores estimaram mais de 10 mil pessoas no ato. A concentração ocorreu no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), de onde os manifestantes saíram em passeata pela Avenida Paulista em direção à Praça Roosevelt, onde o ato foi encerrado. A marcha ocorre desde 2007 no Brasil. Em São Paulo, teve início em 2008. Este ano, o lema é Cultivar a liberdade para não colher a guerra.

De acordo com o integrante do coletivo Desentorpecendo a Razão, Rodrigo Vinagre, um dos organizadores do ato, a forma atual de combate às drogas está falida, levando à morte e prisão os jovens pobres e negros. “Estamos aqui marchando pela paz e em busca de uma nova política para as drogas. A legalização da produção, distribuição e consumo da maconha é o primeiro passo para isso”.

Vinagre explicou que a lei de 2006 criou a figura do usuário, com intuito de descriminalizar o consumidor, porém não define qual a quantidade para que o indivíduo seja considerado traficante ou não. “Essa lei é totalmente subjetiva cabendo ao policial definir se a pessoa é usuária ou traficante. Assim o branco de classe média é enquadrado como usuário, e um negro pobre da periferia como traficante mesmo que estejam com a mesma quantidade”.

Durante a marcha, os participantes receberam orientações de segurança. E uma das ideias era fazer um cordão de isolamento com intuito de reforçar o caráter pacífico do ato. “Queremos mostrar que não precisamos da tutela da polícia nem do Estado para fazer uma manifestação. A ideia também é não usar maconha durante o ato”.

Em defesa do uso medicinal da substância, um grupo de pessoas, usuário da maconha para minimizar sintomas de diversas doenças, caminhou na frente da marcha. A artista plástica Maria Antônia Goulart, de 65 anos, teve câncer há sete anos e contou que usou a maconha com consentimento médico. “Isso me ajudou muito porque a maconha reduziu meus enjoos e dores, me deu sono, fome, me tirou do foco da doença”. Quando terminou o tratamento, ela parou de usá-la. Em seguida, descobriu outra doença e retomou o uso para diminuir os efeitos da fibromialgia, síndrome que provoca dores por todo o corpo por longos períodos.

Gabriela Moncau, do bloco feminista da Marcha da Maconha em São Paulo, avaliou que o debate da legalização da droga está ligado à questão de gênero. “Tem o debate também do direito ao prazer. Até mesmo quando usam as drogas lícitas as mulheres são malvistas. Uma mulher sozinha em um bar, que bebe em uma festa ou que use qualquer outra droga é vista como disponível. O debate do direito ao prazer vem casado ao direito ao próprio corpo”, disse.

A incrível ascensão do 1%: como a desigualdade se alastrou pelo mundo nos últimos 30 anos



Os 99% se insurgiram

O artigo abaixo, escrito pelo economista americano Paul Krugman, foi publicado na Carta Maior.
Thomas Piketty , professor da Escola de Economia de Paris, não é um nome familia, mas isso pode mudar com a publicação em língua inglesa de sua magnífica e arrebatadora reflexão sobre a desigualdade , “O Capital no Século XXI” . No entanto, sua influência é mais profunda. Tornou-se um lugar-comum dizer que estamos vivendo uma segunda Idade de Ouro, ou, como Piketty gosta de dizer, uma segunda Belle Époque definida pela incrível ascensão do “um por cento” da população. Mas isso só se tornou um lugar-comum graças ao trabalho de Piketty.

Em particular, ele e alguns colegas (especialmente Anthony Atkinson em Oxford e Emmanuel Saez , em Berkeley ) foram pioneiros de técnicas estatísticas que tornam possível rastrear a concentração de renda e riqueza em profundidade em direção ao passado, chegando ao início do século XX nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, e refazendo todo o caminho até o final do século XVIII, no caso da França.

O resultado tem sido uma revolução na nossa compreensão das tendências de longo prazo na formação da desigualdade. Antes dessa revolução, a maioria das discussões sobre a disparidade econômica mais ou menos ignorava os muito ricos.

Alguns economistas (para não mencionar os políticos ), tentaram calar qualquer menção ao papel da desigualdade. “Das tendências que são prejudiciais para a economia me parece que o mais sedutor, e na minha opinião o mais venenoso , é se concentrar em questões de distribuição (de renda)”, declarou Robert Lucas Jr. , da Universidade de Chicago, o macroeconomista mais influente de sua geração, em 2004. Mas, mesmo aqueles que estão dispostos a discutir a desigualdade, geralmente focam na lacuna entre os pobres ou a classe operária e os meramente bem de vida, não os verdadeiramente ricos (dedicam-se ao estudo comparativo dos ganhos de salário dos que tiveram acesso à universidade, em comparação aos trabalhadores menos instruídos, ou à riqueza de um quinto da população, em relação aos outros quatro quintos, mas não levam em consideração, o vertiginoso aumento dos rendimentos de executivos e banqueiros).

Foi como uma revelação quando Piketty e seus colegas mostraram que os rendimentos do agora famoso “um por cento “, e até mesmo de grupos mais restritos , são na verdade a grande história de aumento da desigualdade. E esta descoberta veio acompanhada de uma segunda revelação: o que poderia ser uma hipérbole, ao se falar de uma segunda Era Dourada, não o era absolutamente. Nos Estados Unidos, em particular, a parcela da renda nacional que vai para o topo do “um por cento” mais rico tem seguido um grande arco em forma de U. Antes da Primeira Guerra Mundial, o “um por cento” recebeu cerca de um quinto do total da renda na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Por volta de 1950, essa participação foi cortada pela metade. Mas, desde 1980, o um por cento tem visto sua parcela de renda aumentar de novo e, nos Estados Unidos, está de volta ao que era há um século.

Ainda assim, a elite econômica de hoje é muito diferente daquela do século XIX, não é? Naquela época, uma grande riqueza tendia a ser resultado de herança; as pessoas da elite econômica de hoje não conquistaram a sua posição? Bem, Piketty nos diz que isso não é tão verdadeiro como se pensa e que, em qualquer caso, este estado de coisas pode não ser mais duradouro do que a sociedade de classe média , que floresceu por uma geração após a Segunda Guerra Mundial. A grande ideia de “Capital no Século XXI” é que nós não apenas voltamos aos níveis de desigualdade de renda do século XIX, como também estamos em um caminho de volta para o “capitalismo patrimonial”, onde os altos comandos da economia são controlados não por indivíduos talentosos, mas por dinastias familiares.

É uma notável afirmação e precisamente por ser tão notável , precisa ser examinada com cuidado e de forma crítica. Antes de entrar nesse debate ,porém, quero dizer desde logo que Piketty escreveu um livro verdadeiramente soberbo . É um trabalho que mescla grande varredura histórica – quando foi a última vez que você ouviu um economista invocar Jane Austen e Balzac ? – com análise de dados meticulosa. E mesmo que Piketty zombe da profissão de economista por sua “paixão infantil para a matemática”, subjacente a sua discussão há um tour de force de modelagem econômica, uma abordagem que integra a análise do crescimento econômico com o da distribuição de renda e riqueza. Este é um livro que vai mudar muito a maneira como pensamos a sociedade e o modo como fazemos economia.

Salve MUJICA!

Presidente José Mujica mobiliza Uruguai para proteger sem-teto do frio

Por Redação do CdB, com correspondente - de Montevidéo




O presidente José Mujica dispensou o palácio presidencial para seguir morando em seu sítio, nos arredores de Montevidéo

Com a proximidade do inverno, o presidente uruguaio, José Mujica, começou a colocar em prática o planejamento estratégico do país para que nenhum cidadão fique sem um lugar seco e aquecido onde passar as próximas noites. Assessores do presidente comentaram com jornalistas, neste sábado, que Mujica tem mantido reuniões com o ministro do Desenvolvimento Social, Daniel Olesker, no sentido de agilizar as medidas necessárias a se atingir o objetivo. Em 2011, cinco pessoas morreram de hipotermia no país de atuais 3,3 milhões de habitantes, o que custou o cargo da ministra anterior.

Mujica, que vive com a mulher em seu sítio, nos arredores de Montevidéo, voltou a colocar a residência oficial à disposição dos sem-teto, caso haja uma procura extra aos albergues disponíveis nas cidades uruguaias, com estrutura para receber, abrigar, alimentar e oferecer os serviços da República nas possíveis situações de desequilíbrio social àqueles que correm o risco de morrer congelados. Em 2012, o Uruguai viveu uma intensa onda polar durante o deslocamento de uma massa de ar frio a partir da Antártica.

O presidente uruguaio, no atual levantamento, colocou entre os objetivos primários da ação em curso o levantamento de edifícios públicos capazes de abrigar os necessitados. Mujica é considerado um dos presidentes mais pobres do mundo, com um salário de US$ 12,5 mil mensais, e doa cerca de 90% do que ganha aos projetos de ajuda e obras de caridade em seu país.

Aos 76 anos, 13 dos quais passados na prisão por sua luta contra a ditadura militar instaurada naquele país, em meados do século passado, o presidente socialista chegou ao governo pela Frente Ampla, um movimento que reúne partidos de esquerda e de centro, que lhe assegura maioria absoluta no Parlamento. Mujica também doará a maior parte de seus vencimentos, na aposentadoria a que faz jus por exercer a Presidência da República, para o Fundo Raúl Sendic, administrado por seu partido e pelo Movimento de Participação Popular (MPP).

A doação oferecida por José Mujica servirá de exemplo para que todos os demais ex-dirigentes uruguaios passem a colaborar com projetos sociais naquele país.