Dona Pandá anda revoltada com as
agruras da produção agrícola. É claro que ela se refere ao pequeno produtor,
geralmente familiar. Além de toda a dificuldade no seu trabalho – falta de
seguro, crédito, assistência técnica, canais eficientes de comercialização,
rentabilidade – ainda as condições climáticas nem sempre são favoráveis. Ontem,
nossa amiga ficou muito brava ao ouvir alguém reclamar dos preços da feira. Foi
logo perguntando se a pessoa sabia o
trabalho que havia para um pé de alface chegar à sua bela mesa. Depois, mais
calma, acabou explicando até com bom
humor a formação do tal preço: impostos, transporte, intermediários, custos
propriamente da produção.
Conseguiu deixar claro o quanto o produtor é sacrificado e mal remunerado. O feirante também ajudou a defender o produtor na medida em que precisava justificar sua tabela.
Conseguiu deixar claro o quanto o produtor é sacrificado e mal remunerado. O feirante também ajudou a defender o produtor na medida em que precisava justificar sua tabela.
O resultado desse pequeno incidente
é que Dona Pandá quer mostrar seu próprio sofrimento para conseguir colocar na
boca a deliciosa castanha portuguesa.
Esta árvore frondosa, bonita e
generosa demanda um bocado de anos para ter este porte e nos oferecer, uma vez
por ano, seu fruto. Quando os esquilinhos começam a se mostrar, é sinal de que
as castanhas estão próximas do ponto de colheita. Aí, com muito cuidado para
não escorregar, já que é também tempo das águas que deixam o terreno mais
propício ao tombo, Dona Pandá vai catar as castanhas.
Ora, ora ela está me dizendo que
pulei várias etapas. Antes de ir para debaixo da castanheira, Dona Pandá se
preparou. Calçou uma bota com sola de borracha e luvas grossas. Buscou, na
cozinha, um garfo de cabo longo e duas bacias, uma grande e outra menor. Passou
pela caixa de ferramentas e pegou um alicate de ponta fina e uma chave de
fenda. Com as ferramentas dentro da bacia, pode, com a outra mão, carregar um
pequeno tamborete. Agora, sim, ela foi para debaixo da árvore.
A castanha fica dentro de um ouriço,
cujos espinhos são maldosos, espertos e traiçoeiros. Qualquer descuido, eles se
enfiam em suas mãos, braços, ou qualquer lugar que der moleza. Este é o motivo
de toda a parafernália dentro da bacia. Como as castanhas com seus ouriços tomam muito espaço, a opção
é recolher do chão algumas castanhas, encher a bacia e se sentar no tamborete
para retirar os ouriços. Estes ficam na bacia grande até Dona Pandá terminar
aquela porção colhida. Em seguida, coloca os ouriços ao pé da castanheira e
recomeça a catação.
Com as castanhas livres dos seus
espinhos, é hora de lavar as mãos e braços, passar nesses pobres membros uma
tintura de calêndula, aguentando o ardume onde os espinhos foram mais ágeis que
a dona das mãos. Até com a luva grossa eles conseguem aporrinhar a catadora de
castanha.
A próxima etapa é lavar as
castanhas, tirar um pedacinho de cada uma e colocá-las na panela de pressão. Após
uns 40 minutos, dependendo da quantidade, estão prontas para a degustação que
pode ser acompanhada de um bom vinho branco..
Fica, aqui, um pedido: se alguém conhece uma boa receita
de marron glacê, Dona Pandá agradeceria
seu envio, marron glacê pasta, não em caldas