Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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quarta-feira, 30 de abril de 2014

“Como eu esqueci as editoras e me tornei um best seller na internet”

Ano passado, lancei meu primeiro livro, “Chéri à Paris”, com algumas das crônicas que escrevi semanalmente durante os cinco anos que vivi na capital francesa. A obra não saiu por nenhuma editora, não está à venda em nenhuma grande rede de livrarias e não foi apadrinhada por nenhum crítico famoso. No entanto, tornou-se um relativo sucesso de vendas, com quase 2 mil cópias vendidas desde seu lançamento, em dezembro.

Digo relativo porque perto do Paulo Coelho isso não é nada. Mas trata-se de um feito considerável para um autor independente e nem um pouco desprezível mesmo para o mercado editorial tradicional, com sua grande rede de distribuição, seus espaços pagos em gôndolas de livrarias e suas campanhas publicitárias.

E é muito mais do que eu sonhava quando resolvi me autopublicar, quando minhas intenções mais ousadas eram apenas pagar os custos que tive com revisão, diagramação, ilustração e impressão do livro.

É verdade que a autopublicação não era minha primeira escolha, mas tenho certeza de que foi a melhor. Durante alguns anos, bati em portas de editoras, enviei originais, fiz ligações internacionais e cheguei até a negociar detalhes de contratos, mas, a coisa sempre dava pra trás em um momento ou outro.

Cansado dessa via crucis, aposentei o projeto do livro, até que fui atiçado pelo amigo e escritor Yury Hermuche, que me incentivou a retomá-lo e lançá-lo, mesmo sem estrutura alguma apoiando. Devolvi o desafio e o convidei a fazermos um lançamento juntos. Em seguida, chamei as escritoras Carolina Nogueira e Gabriela Goulart Mora a participarem da empreitada com a gente. Em comum, além da amizade, a temática das publicações: distâncias, estranhamentos e o sentimento de não pertencer a lugar algum. Dessa reunião de autores em torno de um mesmo conceito nasceu o selo Longe, que lançou as 4 obras em uma noite inesquecível, no Cine Brasília, com mil pessoas presentes e 700 livros vendidos. Setecentos livros! Só aí, as tiragens já foram pagas.

O passo seguinte

Depois do lançamento, estruturamos melhor o trabalho do selo. Fizemos um site conjunto e outros individuais e começamos a divulgação dos nossos escritos e ideias, enviando-os a revistas, jornais, sites, TVs, rádios e a todo mundo que queríamos atingir. A resposta veio rápida: inúmeros veículos deram espaço e destaque à iniciativa.

Menos de um mês mais tarde, o e-book de “Chéri à Paris”, que eu mesmo preparei e publiquei, atingia pela primeira vez o primeiro lugar em vendas na loja Amazon. Um autor que ninguém conhecia lança um livro do qual poucos ouviram falar e ele torna-se o e-book mais vendido de todo o país. Surpreso, imaginei tratar-se de um golpe de sorte, mas o livro voltou a ser o número um algumas semanas mais tarde. Acho que só então entendi se tratar de um feito importante. E que podia indicar um caminho a ser melhor observado pelo selo e por outros escritores independentes.

Outros feitos do Longe incluem o fato de o livro “A Rua de Todo Mundo” ter sido selecionado para ser lançado na II Bienal do Livro e da Leitura de Brasília. De “Anti-heróis e Aspirinas” ter tido mais de 110 mil downloads do e-book em inglês e da trilha sonora composta para a obra. De “Depois das Monções” também ter figurado entre os mais vendidos da Amazon. E de o “Chéri à Paris” estar sendo adotado como material didático em diversas escolas públicas e de línguas de Brasília.

“Chéri à Paris” e o selo Longe não são os primeiros a apostarem na autopublicação. Só pra ilustrar (e sem nenhuma ambição de comparação), vale dizer que Edgar Allan Poe, James Joyce e Charles Dickens também trilharam essa rota em algum momento de suas carreiras. O que talvez possamos mostrar é que vale a pena soprar a poeira dos seus originais – ou do HD onde eles estão guardados – e publicá-los sem medo. Se não for impresso, que seja em e-book. Se não for pago, que seja gratuito.

Trabalho em dobro. Recompensa em triplo

É claro que se autopublicar dá muito mais trabalho do que o caminho tradicional, via editora. Eu mesmo cuido de todas as etapas do processo de divulgação e vendas da minha obra. Faço assessoria de imprensa, publico no site, divulgo em redes sociais, recebo pagamentos e envio os exemplares pelo correio. Mas, como dizemos no manifesto disponível no nosso site, “acreditamos nas nossas ideias o suficiente para corrermos o risco de conviver por um tempo com caixas e mais caixas de papelão espalhadas pelo corredor de casa”.

Todo esse esforço pode ser grande, mas não é nada perto da realização de ter em mãos uma obra que é exatamente a que eu sempre quis lançar, com todos os defeitos e qualidades que possa ter. Da seleção de textos à capa, tudo foi decidido por mim mesmo, em um processo que seria impossível se eu fizesse parte de uma editora.

Sobre o Autor: Escritor, jornalista e publicitário. Em Paris, foi editor-chefe da revista bilíngue Brazuca e cronista no site Chéri à Paris. Diversos textos desse período foram publicados por veículos como Le Monde Diplomatique Online, Outras Palavras e UOL, entre outros.
Nossa fonte:Diário do Centro do Mundo

O poeta dos 99%: a obra engajada de Shelley


por : Paulo Nogueira no Diário do Centro do Mundo

Shelley se eternizou como o campeão dos 99%.


O Massacre de Peterloo

E lá vou eu para mais um trabalho tosco de tradução poética.
Não resisti.
Li versos de Percy Shelley, o grande poeta inglês da era da Revolução Industrial, e tive o impulso irresistível de vir para cá. Para o Diário.
Shelley não era apenas um mestre na arte de juntar palavras. Era um ativista, um homem inconformado com a desigualdade social de seu tempo.

Hoje, ele estaria alinhado com os “99%”, para usar a expressão consagrada pelo movimento Ocupe Wall Street e derivados mundo afora.

Shelley ficou tocado, em 1819, com o que passou para a história como o “Massacre de Peterloo”, em Manchester. Manifestantes – alguns falam em 50 000, outros em 150 000 — se juntaram no centro da cidade para pedir coisas como o sufrágio universal. Naqueles dias, apenas 3% dos ingleses podiam votar – os ricos, naturalmente.

Shelley

A polícia dissolveu o encontro brutalmente. Montados em cavalos, espadas nas mãos, policiais investiram contra as pessoas. Foram dez minutos de derramamento de sangue, ao fim dos quais 500 manifestantes estavam feridos. Houve pelo menos quinze mortes.

Inspirado pelo massacre, Shelley escreveu:

Rise like lions after slumber
In unvanquishable number
Ye are many – they are few.

Coloquemos assim:

Levantem-se como leões depois de dormir
Num número que ninguém haverá de destruir
Vocês são muitos – eles são poucos.

Grande Shelley, o poeta dos humilhados e ofendidos, a voz lírica dos desfavorecidos.

Clap, clap, clap.

Sobre o Autor: O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.