Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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terça-feira, 6 de setembro de 2016

Vamos fazer o que sabemos, de novo

Dona Pandá anda preguiçosa. Diz que não está mais em seu lugar. Diz que seu País virou de cabeça pra baixo. Diz que não quer viver o que já viveu. Logo esclarece: aquilo de que não quer se lembrar. Aposto um bombom que há muitas coisas que gostaria de viver uma, duas e mais vezes. Quando lhe disse isto, não é que levei uma bordoada de palavras e resmungos! Depois ficou séria, sorriu pra ela mesma e explicou.

O Riobaldo Tatarana disse que “viver é muito perigoso”.  Sabia das coisas esse cara e mesmo assim não conseguiu a vida desejada com sua Diadorim.

- Dona Pandá, o que o pobre Riobaldo tem a ver com a senhora querer viver o que já viveu?

- Primeiro “Fora Temer”. Segundo, a vida é muito curta para reprises.  Releia o Grande Sertão e vai ver a sabedoria do cara. Às vezes, os momentos muito bons os perdemos ao buscar a segunda vez. Precisamos respeitar o tempo, sobretudo quando é de felicidade. Bem vivido ele permanece num plano aceitável de chamamento e fiel. Você o chama, ele vem. Se se obstinar em reproduzir, a fidelidade se apaga e o risco passa a ser de sua inteira responsabilidade. O sábio é construir o novo. Assim, você tem os dois e o risco maior é o da superação.

- Dona Pandá, está construindo um novo?

- Tenho tentado. Confesso que o macro – no sentido que meu amigo Joca dá, o entorno próximo e aquele em que apesar de nele estarmos inseridos, nada temos do seu controle – não tem ajudado em nada.  Ainda estava semeando quando um bando de abutres, sem perceber que não era  carniça e sim boas sementes, invadiu meu pomar e me deixou de embornal vazio. Novas sementes foram plantadas e estavam despertando verdinhas. Eis que os gafanhotos fizeram a festa.

- Dona Pandá, está falando do pomar ou do Brasil?

-Ora, menina, até plantamos feijão guandu para melhorar essa terra seca, mas o Brasil está com bandos soltos de quem o moço de Curitiba não encontra os endereços.  Você se lembra daquela noite tenebrosa quando o mundo viu a exposição de motivo dos fulanos que dedicavam seu voto a deus, jesus, pai, filho (será que o papagaio foi chamado?), ao marido, exemplo de honestidade (preso quase em seguida por corrupção) e sei lá mais que barbaridades? Naquele momento, nosso Brasil começou seu calvário. Chamaram tanto Jesus que ele resolveu emprestar a nosso País. O fulano que abriu os absurdos estava lá curtindo seu gesto de vingança sem se incomodar com o preço porque a conta não iria pra ele. 

Numa outra hora a gente continua essa tétrica história. Agora, o medo e a revolta – plantados pelo ódio, a covardia direcionados e garantidos  pelo capital – falam mais alto. Minha geração já viveu isto e, apesar de não se tratar de tempos felizes, bem ao contrário, foram cruéis, sabe que o perigo chegou. Vamos precisar de muita luta. Como disse um grande homem: sabemos fazer isso. Então, vamos fazer, sem repetir os erros, vamos fazer a luta boa, a luta do trabalhador brasileiro pelos direitos conquistados, pela Democracia.