Dona Pandá se considera uma
planejadora contumaz, o que não significa eficiente. Disto ela tem uma vaga
noção. Vaga porque, sendo uma pessoa bastante inteligente, continua planejando
nos três níveis: curtíssimo, curto e médio prazos. Longo já é demais para uma
setentinha (ela é quem o diz). O planejamento, onde o dia hoje estava inserido,
rezava que, após sua caminhada, iria trabalhar no seu livro, pois a
protagonista já está chamando pela autora desde que foi aprisionada num sonho
perturbador. Por outro lado, a véspera de uma feriado faz seu auxiliar dedicar mais tempo à horta, sobretudo neste
período após o plantio de mudinhas de várias hortaliças nas estufa.
Pois bem, ela calça seus tênis
(nesta etapa, há sempre umas briguinhas com os cachorros que não seguram a
alegre excitação do passeio anunciado pelo gesto). Lá vão os quatro subindo o
morrinho até o platô onde dona Pandá caminha, enquanto Bei, Bia e Pretinho
acompanham com terríveis latidos os passantes que ousam usar a estrada frente à Chácara.
Bei e Bia
Passando em frente ao quartinho da
pista de skate, dona Pandá vê a capota da Preta (1) e atrás dela...
tan...tan... tan... um ninho que não era de passarinho. Bau bau planejamento de
curto prazo, substituído imediatamente por outro de curtíssimo sem prazo.
- Vanderlei (será um vocativo
urgentíssimo?!), por favor, venha aqui.
Horta e suas belas mudinhas passam
para o médio prazo. Entretanto, as
pobrezinhas confiam que alguém irá se condoer delas, lhes dando água antes que
o dia acabe. Aguardemos (2).
- Vamos ter que tirar a capota.
Veja só o que está atrás dela!!!
- Acho que o dono do ninho foi
passear porque os cachorros não deram alarme.
De fato, Rattus rattus não foi
visto, mas seus estragos estavam na proteção da capota e na sujeira espalhada
pelo chão. Vanderlei e Dona Pandá levaram a capota para fora e a colocaram
sobre a pista de skate. Começaram a examinar o trabalho do invasor (que ninguém
me corrija dizendo que é uma ocupação), quando toca o telefone lá embaixo na
casa. Dona Pandá sai correndo para atender e ao voltar:
- Vanderlei, era a Sandra dizendo
que não poderá vir, como foi combinado, para limpar a geladeira. Vou ter que
deixar você resolver isto aqui sozinho porque a água do gelo está começando a
cair na cozinha.
- Deixa comigo. Vou pegar o
material para lavar a capota. E a bateria que estava atrás?
- Essa bateria está aí há tanto
tempo. Quer levar para alguém?
- Os meninos lá em casa e os da
minha igreja vão ficar loucos de alegria.
É só eu chegar e contar que a senhora deu uma bateria que eles vão dar
um jeito de buscar. Vamos ter que preparar os ouvidos. Até o meu pequeno vai
brigar par tocar.
(1) Preta é a companheira de quatro rodas que transporta dona Pandá e seus cães, além de outras cositas más, como esterco para as mihocas e lixo para a reciclagem.
(2) Vanderlei deu conta do recado e ainda matou a sede das plantinhas.