Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Difícil cair na real



- Dona Pandá parece tão macambúzia! Está trabalhando em alguma ideia ou é
mesmo muita tristeza? - Ousei interpelar minha amiga que estava sentada na varanda olhando o infinito.

- Você me fez lembrar de meu filho que, quando criança, me perguntava: “Mamãe está triste ou puta da vida?”Agora, estou pensando na situação que estamos vivendo e aí não há saída, a tristeza chega junto.


- Dona Pandá, quando a senhora entrou para o PT?
- Na sua criação. Faz tempo. Com tanta coisa acontecendo, a impressão do tempo fica mais forte.

- E quando a senhora saiu?

- Quando Lula partiu para as alianças. Na época, fiquei muito decepcionada. Trabalhamos duro para ganharmos a Presidência da República e lá chegando acontece o governo de maçaroca. Lula havia dito que só se candidataria se fosse para ganhar. Já estava cansado de perder. Com as alianças, as mudanças foram superficiais, nada estrutural. Eu queria um governo revolucionário!
- Isto não é querer demais?

- Sim. Claro! Mas sonhar não é proibido, ou, pelo menos, não era. Também juízo não é para todos. Santa ingenuidade chegou em algumas pessoas, inclusive nesta criatura aqui, e se aboletou. Difícil cair na real!

Se Lula tivesse dado algum sinal de algo parecido com um governo socialista, teria sido impedido de alguma forma. O Partido dos Trabalhadores é um partido com tendências mais à esquerda que os outros da época, nada além disto. Houve muitos erros e muitos acertos. Vejo, hoje, que os Governos do PT foram os melhores que o País já teve. Progressistas em comparação com os anteriores que foram governos de direita. Governavam para manter tudo como estava. FHC governou sob a batuta do capital. Não tinha vergonha de governar para agradar os EUA. Seu programa de privatizações foi de um entreguismo solapador. A corrupção andou solta. O próprio Fernando Henrique trocou os votos do Congresso para sua reeleição por R$200 mil. Isto foi manchete da Folha de S. Paulo. A corrupção dessa época foi relatada e publicada para quem quiser saber. Por que não querem saber?! Tétrico!

Lula fez uma enorme diferença! Tirou o Brasil da miséria e da dependência. É bem verdade quando fala que a diplomacia chefiada pelo Amorim era ativa e altiva. Os pobres passaram a andar de avião e os voos estavam sob o comando de brasileiros. Lembro-me de ouvir, numa fila no aeroporto de Congonhas, um fulano dizendo, com muita raiva, que, agora, tinham que enfrentar filas porque os pobres em vez de irem para a rodoviária iam para o aeroporto. Emblemático. É aí que está a causa dos rapazes de Curitiba, no desespero, aprontarem aquele vexatório power point. Precisam acabar com Lula, o grande perigo para o capital.

- Então, Lula é comunista?!

- Ora, menina, você não tem direito de falar uma bobagem desta. Por acaso você anda lendo a Veja? Quisera eu que fosse. Acontece que Lula é o símbolo dos perigos para a burguesia, os bancos, os grandes empresários, o grande capita e a mídia que defende tudo isto.. Gente de dentro e de fora do País se sente ameaçada. Depois de ganhar duas eleições, sai com a maior aprovação já obtida por um governante e faz sua sucessora.

- E se Lula volta em 2018?!

- Não podem deixar. Então, precisam consolidar o golpe que começou com o impeachment. Há duas frentes dessa consolidação. Uma é correr com as mudanças para agradar o capital nacional e internacional – entra aqui, sobretudo a Petrobras com o Pré-Sal e as privatizações do que for possível. A diplomacia do governo golpista está a serviço dos interesses externos. Nas mãos do Serra, adeus altivez e isto já está demonstrado em muitos episódios. O mundo já sabe dessas mudanças e aquele respeito que o Amorim impôs e foi cultivado por seu sucessor, agora, foi pro ralo.

A outra frente - também, lógico, do agrado do capital - é acabar com os direitos trabalhistas Aqui, o agrado é direto aos empresários, diminuindo os direitos do trabalhador aumenta os ganhos do patrão. Terrível é ouvir que a tal flexibilização da CLT objetiva aumentar a geração de emprego. Isto já está provado que não é verdade tanto quanto o déficit da Previdência.
Se a empresa precisa preencher suas vagas, o fará porque a produção está demandando. É claro que se o empregado for barato, o lucro fica maior e o empresário, contente. Então, o governo que foi para o Planalto pelo golpe custeado pelo empresário vai pagar o empréstimo graças ao término dos direitos do trabalhador.

- Dona Pandá não está exagerando na tristeza? Afinal, sua vida, agora, pouco vai mudar.

- Sabe por que ser feliz é tão difícil? É porque você não consegue a felicidade se ela não estiver no seu entorno. Como você pode ser feliz se há trabalhador sendo explorado, pessoas sendo agredidas, a liberdade sendo massacrada?

- Vamos, então, Dona Pandá preparar aquela pesquisa para seu novo romance?

- Esta é uma proposta inteligente. Primeiro vou fazer um café com aquele pó maravilhoso que ganhei da minha amiga engenheira.