Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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terça-feira, 10 de junho de 2014

“EU QUERO OS 8,7%!!!”

Ana Chieffi

Mesmo correndo o risco de ser considerada “politicamente incorreta”, não resisto a um desabafo.

Sempre admirei as categorias organizadas (e até senti uma pontinha de inveja), por serem capazes de entrar em greve para defender maiores salários e melhores condições de trabalho. Sempre! Porém também sempre entendi muito bem o que significam serviços essenciais: “os extremamente necessários para que não acarrete danos sérios à vida das pessoas nas cidades.” Evidentemente os transportes públicos estão entre eles. Consta do texto da lei: “os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.” Não é preciso ser um observador atento para saber que isto não aconteceu nessa greve do metrô em São Paulo.

Confesso que foi a 1ª vez que senti profundamente os efeitos de uma greve no serviço essencial de transportes. Uso metrô na maioria de meus deslocamentos e sequer percebi a última greve de ônibus na cidade. Com esta greve do metrô, porém, fiquei dois dias presa em casa, completamente contra a minha vontade. No 1º dia de greve levei mais de três horas para chegar ao trabalho – quatro vezes o tempo que levo normalmente, tendo andado a pé da estação Ana Rosa (onde era praticamente impossível embarcar) até a Trianon-MASP. No 5º dia (3º útil) tentei ir de carro e, depois de quase duas horas no transito, ainda não havia chegado sequer à Aclimação (partindo da Praça da Árvore).

Se os metroviários queriam mostrar força, creio que ninguém nessa cidade duvida dela. Porém, se queriam apoio popular a seu movimento, duvido que o tenham encontrado junto à população, que foi praticamente impedida de chegar ao trabalho e, quando chegava, mais tarde sofria todo tipo de dificuldade para voltar para casa. Ouvi pessoas dizendo em noticiários da TV que seriam descontadas pelos atrasos, imagine! Será que isso é legal? Afinal, que culpa tem um trabalhador se outro trabalhador impede seu direito de ir e vir? Teria que dormir no emprego – talvez – para não se atrasar no meio do caos?!?

Qualquer pessoa pode conferir os salários do metrô em http://www.metro.sp.gov.br/sic/pdf/institucional/cargos-salarios/2013/cargos-salarios.pdf. Ai pode-se ver que o menor salário é o de Oficial de Manutenção e Instalação: R$ 1.842,00. Os mais altos são os dos assessores (talvez cargos de confiança): de R5 14 mil a R$ 21 mil. Os operadores de transportes metroviários (os que têm o poder dos trens nas mãos) recebem entre R$ 2.494,00 a R$ 6.736,00. Tanto o mais baixo quanto estes últimos não são fortunas, evidentemente, mas também não são propriamente “salários de fome”.

Segundo o DIEESE os metroviários têm conseguido aumentos salariais maiores que a inflação e que a média obtida pelos empregados do setor de transportes[1]. Enquanto os empregados do setor tiveram 4,9% de aumento real entre 2011 e 2013, os metroviários tiveram 6,26%. Agora em 2014 queriam 16%! Conseguiram 8,7%. Baixaram sua exigência para 12%. Tanto fizeram que a greve foi declarada ilegal. Mais de 40 (mas não 60) já foram demitidos por justa causa (sem direitos). Outros tantos, detidos para averiguação. A principal “exigência” passou a ser a revogação das demissões... até onde pretendiam chegar? O que os levou a crer que os interesses de sua categoria estavam acima dos de quase cinco milhões de paulistanos?

Curiosamente, uma categoria tão tarimbada, parece que esqueceu que, quando uma greve é declarada ilegal, há divisão na base, pelo simples fato de que os que realmente não querem perder o emprego voltam ao trabalho... Isso aconteceu ao longo do 5º dia e parece que finalmente (!) a situação está se normalizando.

Outro ponto a ser tocado é o momento em que esta greve se deu. Existirá uma só pessoa fora do movimento que acredite que a greve aconteceu às vésperas da Copa por “coincidência”? Como disse um comentarista, trata-se de uma “greve oportunista” e isso é lamentável numa categoria que sempre foi tão respeitável como os metroviários.

Diante dos fatos só me resta dizer: “EU QUERO OS 8,7%!!!”