Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade
Clic sobre o livro (download gratuito). LEIA E DÊ SUA OPINIÃO

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Destino apropriado: para a Reforma Agrária


MST luta pela desapropriação de área onde militantes contra a ditadura eram incinerados

José Coutinho Júnior
usina
Uma usina de açúcar em Campos dos Goytacazes servia como palácio dos horrores durante a ditadura militar
“O local foi aprovado. O forno da usina era enorme. Ideal para transformar em cinzas qualquer vestígio humano. A usinapassou, em contrapartida, a receber benefícios dos militares pelos bons serviços prestados. Era um período de dificuldade econômica e os usineiros da região estavam pendurados em dívidas. Mas o pessoal da Cambahyba, não. Eles tinham acesso fácil a financiamentos e outros benefícios que o Estado poderia prestar.” (Cláudio Guerra, ex-delegado do DOPS)
“A título de sugestão, optando pela retirada forçada, deve-se agir sem aviso prévio, compartimentada, mais cedo possível, despejando-se imediatamente, com o mínimo de diálogo, todos aqueles que estiverem nas construções, bem como os seus pertences, prendendo se necessário e na seqüência, destruir as casas.” (Adriano Dias Teixeira Amorim do Vale – Delegado Federal – Dezembro de 2005)
Em 1997, a área no município de Campos dos Goytacazes (RJ) onde as usinas de açúcar Cambahyba, Santa Maria, Carapebus e Quissamã se localizam, composta por sete fazendas que totalizam 3500 hectares, foi considerada improdutiva. Mas o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), com exceção de uma área de 550 hectares – que deu origem ao assentamento Via Lopes -, até hoje não foi capaz de realizar as desapropriações em toda a área, pois o Poder Judiciário acatou liminares dos proprietários.
Para Fernando Moura, da coordenação do MST, “essa morosidade revela o poder dos fazendeiros. Vale lembrar que as áreas têm dívidas grandes com a União, além do fato de ter sido encontrado trabalhadores em condições análogas à escravidão na região”.
Violência interminável
Um fato até então desconhecido sobre a usina de Cambahyba chocou a sociedade brasileira. A usina foi palco, no período da Ditadura Militar, de um crime bárbaro. O ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), Cláudio Guerra, conta no livro Memórias de uma Guerra Suja que a usina de Cambahyba foi usada pelos militares para incinerar corpos de militantes de esquerda que haviam sido mortos devido às torturas praticadas pelo regime em órgãos como o próprio DOPS. Guerra conta que ele mesmo incinerou dez corpos, dentre os quais estavam os de David Capistrano, João Massena Mello, José Roman e Luiz Ignácio Maranhão Filho, dirigentes históricos do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
“Em determinado momento da guerra contra os adversários do regime passamos a discutir o que fazer com os corpos dos eliminados na luta clandestina. Estávamos no final de 1973. Precisávamos ter um plano. Embora a imprensa estivesse sob censura, havia resistência interna e no exterior contra os atos clandestinos, a tortura e as mortes”, relata Guerra.
A solução encontrada foi utilizar os fornos da usina e queimar os corpos, de forma a não deixar vestígios. A usina, à época, era propriedade do ex-vice-governador do estado do Rio, Heli Ribeiro, que topou o acordo, pois ele “faria o que fosse preciso para evitar que o comunismo tomasse o poder no Brasil”. Além disso, o regime militar oferecia armas a Heli para que ele combatesse os sem terra da região.
Passados décadas desse trágico episódio, a violência na região de Cambahyba continua. Em 2006, o acampamento Oziel Alves, que abrigava 150 famílias sem terra há mais de seis anos, foi destruído em uma operação pelas polícias militar e federal, com aval da Justiça do Estado e acompanhados do dono usina, Cristóvão Lisandro.
Não houve diálogo nem negociação com a população, que além de habitar a área, produzia hortifrutigranjeiros e gado de leite: as pessoas foram retiradas à força de seus lares, sem poder salvar seus pertences. As estradas próximas ao acampamento foram trancadas, o que impediu que a imprensa pudesse cobrir os fatos quando a operação começou – ela só teve acesso ao acampamento cinco horas após o início da operação policial -, e os policiais entraram nas casas sem apresentar ordem judicial, destruindo pertences dos moradores.
Os Sem Terra que tentaram negociar foram presos, agredidos física e moralmente, e só saíram da delegacia após assinarem declaração de que portavam “armas brancas”, que eram na verdade as ferramentas de trabalho dos produtores. Após a revista nas casas pelos policiais, elas foram derrubadas por máquinas, deixando os moradores sem qualquer amparo.
Desapropriação
Francisco conta que, desde outubro do ano passado, a decisão de desapropriar as áreas está na 2ª Vara de Justiça do Estado. O MST pretende pressionar para que a decisão seja favorável à Reforma Agrária. Segundo Francisco, após saber do passado trágico da usina, diz que “a violência da Ditadura e do latifúndio tem uma relação grande. Agora, a luta se intensifica, para tornar esta terra produtiva com a Reforma Agrária e denunciar a postura de um Judiciário que favorece os proprietários”.
José Coutinho Júnior é jornalista.
Nossa fonte: Correio do Brasil

Glauber Rocha – Utopia, Cinema e Revolução


 Arlindenor Pedro 

Geralmente, quando ouvimos a palavra utopia logo a associamos ao conhecido conceito de Thomaz Morus que a traduz como uma realidade inalcançável, ou seja: um desejo irrealizável. Foi assim, por exemplo, que F.Engel a definiu, na sua conhecida obra “Do socialismo Utópico ao Socialismo Científico”, traçando uma linha divisória entre os conceitos que ele dizia ingênuos dos socialistas que o precederam e o socialismo científico de Marx.

O pensador húngaro Karl Mannheim, criador da metodologia conhecida como “Sociologia do Conhecimento”, também se ocupou do tema e o seu livro “Ideologia e Utopia”, na década de 50 teve ampla aceitação na Universidade Brasileira, na época em que a Universidade discutia os rumos do país.
Ali, de forma diferente de Engels, via a Utopia como uma forma de ser, um comportamento, que estaria em incongruência com uma dada realidade. Iríamos então nos referir como utópicas aquelas orientações que, transcendendo a realidade, tendem a se transformar em condutas a abalar, seja parcial ou totalmente, a ordem das coisas que prevalecem no momento. Desta forma, ao limitar o conceito de “utopia” ao tipo de orientação que transcende a realidade e que, ao mesmo tempo, rompe as amarras da ordem existente, passa a estabelecer uma distinção entre o estado de espírito utópico e estado de espírito ideológico, pois este segundo conceito se contrapõe ao anterior, dado que o ideologia se calca numa situação onde o inconsciente coletivo de certos grupos obscurece a condição real da sociedade, tanto para ele como para os demais , lutando para estabilizá-la.
Os grandes líderes, aqueles que fizeram a história, seriam então utópicos por excelência.
Poderíamos, então, dizer que Glauber Rocha, pelo seu comportamento em relação à sociedade brasileira, e ao cinema, era um ser utópico, estando em incongruência com a realidade que viveu, postando-se como um revolucionário que queria, através de sua arte, subverter as condições estabelecidas. E era assim que ele se definia: “sou um revolucionário e uso o cinema para ajudar o povo a fazer as transformações que o Brasil precisa”.
Inquieto e genial, com sua forma de ser, amado por uma geração, embora incompreendido muitas das vezes, esse baiano de Vitoria da Conquista, sertão nordestino, no seu curto tempo de vida, pois morreu aos 42 anos, incendiou o cenário cultural e político brasileiro, sendo uma peça chave do movimento do “Cinema Novo”, deixando-nos obras singulares onde a política e o cinema fundiam-se, com elementos estéticos de vanguarda e com o claro objetivo de alterar a ordem social do país.
Admirador de Castro Alves, condoreiro e barroco como ele, apocalíptico e profético, num delírio dionisíaco, levou às últimas conseqüências o seu conceito de arte, entregando sua vida a esse fim, desenvolvendo um cinema poético e revolucionário. Ela achava que o caminho da felicidade era o viver revolucionário e viveu esse sonho de uma forma acelerada, luminosa e trágica. Dizia que a função do artista é violentar o público com sua arte, e desta forma, não compactuava de forma nenhuma com o cinema como produto industrial. Embora tenha recebido convites para produzir cinema em grandes mercados, como Hollywood, sempre recusou, pois só fazia filmes onde tivesse o controle absoluto de sua obra. Uma de suas afirmações, já profetizando o domínio do mercado sobre o cinema era: – “É preciso romper agora, antes que surja na porta de um cinema uma frase mais ao menos assim: hoje em cinemascope e totalmente colorido o magnífico espetáculo de nossa miséria’.
Após a sua morte, consternado, como muito dos seus amigos, o cineasta Silvio Tendler produziu um documentário, que teve o nome de “Glauber, o filme- labirinto do Brasil”, ainda pouco conhecido, com depoimentos de amigos e companheiros que conviveram mais de perto com Glauber.Num estilo de documentário, através de um labirinto que representa o Brasil, nos conduz através da obra de Glauber Rocha, tendo as impressionantes imagens do seu enterro no Rio de Janeiro como ponto de referencia; imagens essas, circundadas por uma trilha sonora de estrema beleza, onde a música de Villa Lobos se destaca. Interessante é que nos faz lembrar, por sinal, às gravações que Glauber fez no enterro do seu amigo Di Cavalcanti, que resultou em um explosivo documentário, premiado no Festival de Cannes em 1976, infelizmente não acessível ao público, devido a interdição por iniciativa da família do pintor, que não deu autorização para sua exibição.
Poetas, escritores, políticos, artistas, produtores, amigos em geral, vão desfilando histórias sobre Glauber Rocha, e, num ponto alto do documentário, o cineasta Arnaldo Jabor afirma que: “Glauber não suportaria viver no mundo de hoje, um mundo sem utopias, o mundo de mercadorias, sem grandezas heróicas”.
Mannheim também nos fala nisto no seu livro. Para ele o mundo atual, forjado pela burguesia liberal, criou um mundo onde não existem espaços para as utopias, pois as últimas- nacional socialismo; fascismo; comunismo e o socialismo- foram derrotadas pela visão de mundo da burguesia liberal, o mundo da mercadoria.
Vitoriosa, através do mercado globalizado e da revolução tecnológica, que aplicada à produção nos leva a antever, inclusive, um futuro onde o trabalho seja dispensável, a burguesia nos faz viver uma realidade diferente daquela que ainda viveu Glauber: um Brasil que se desencantou e se racionalizou, alterando aquilo lhe era mais caro: o sonho de um povo que foi forjado através de utopias.Em troca passamos viver em uma sociedade de relações cada vez mais reificadas ,onde tudo se torna descartável e com uma busca incessante por objetos partindo-se da equação que diz que ter esses objetos é sinônimo da felicidade.E neste mundo racional, movido pela visão de mundo do capital que chega as suas ultimas fronteiras, desta vez virtual – a alma do homem contemporâneo- certamente um artista utópico como Glauber e sua arte não pode sobreviver.
Talvez venha daí a urgência que tinha em manifestar a sua arte. No seu enterro, o psicanalista Helio Peregrino afirmou:- Glauber era uma vela que se consumia dos dois lados, por isso sua morte prematura. Ao analisarmos o conjunto de sua obra: 15 filmes, inúmeros ensaios, romances e peças teatrais, a exemplo de outros artistas geniais, como Vicent Van Gogh, assistimos a tragédia da evolução do seu interior se contrapondo cada vez mais com a realidade, principalmente nos seus últimos dias de vida. O último e incompreendido filme “A Idade da Terra”,que ele considerava a sua obra mais revolucionaria, é um exemplo disso.
Como sempre Silvio Tendler nos brindou com uma bela obra para ver e refletir.
Serra da Mantiqueira
Arlindenor Pedro – é professor de história e Especialista em Projetos Educacionais. Anistiado por sua oposição ao Regime Militar dedica-se na atualidade à produção de flores tropicais na região das Agulhas Negras.
e-mail para contatos e agendamento de palestras : arlindenor@newageconsultores.com.br

Bloger : www.arlindenor.wordpress.com
Matérias Relacionadas no Correio do Brasil (nossa fonte):
  1. Cinema brasileiro terá lugar de honra no Festival de Cannes
  2. Cinema brasileiro terá lugar de honra no Festival de Cannes, na França
  3. Lindsay Lohan volta ao cinema no papel de Liz Taylor
  4. Sessão de cinema em São Bento foi protesto e homenagem
  5. Bloco quer Viegas na AR a explicar política para o cinema

PRESOS POLITICOS foram INCINERADOS,


SEM UNHAS,COM MÂOS DECEPADAS, MARCAS DE  MORDIDAS E  DE VIOLÊNCIA SEXUAL

Meu irmão Fernando Santa Cruz é um deles!!!

No Brasil os presos politicos da ditadura brasileira não foram só
presos,julgados por tribunais militares sob a égida da Lei de
Segurança Nacional ,torturados,assassinados com requintes de
crueldade,levados para centros de exterminio,foram,também
incinerados,queimados de forma a não restar nem suas cinzas

 A sociedade brasileira não pode se calar diante disso...O Estado
Brasileiro  não deve continuar omisso.Queremos Justiça, queremos,como familiar de Fernando Santa Cruz, jovem de 26 anos,estudante de direito torturado,morto e incinerado. 

A noticia recente sobre o episódio da incineração ,me causou muita tristeza, dor e indignação não só pelo fato em si mas também  de não ter tido nenhuma manifestação política no sentido de enfrentar a questão por parte do governo federal, e dos setores organizados da nossa sociedade.

Afinal é papel do Estado e de seus governantes é o de apurar crimes como estes. Além do mais, nossos familiares tombaram por todo o povo brasileiro que vivia sob uma ferrenha ditadura civil militar, sem voz, sem direito a se organizar e participar, sem liberdade e sem justiça.

É bom lembrarmos que quando perdemos a capacidade de nos indignarmos diante de atrocidades como estas,perdemos também nossa dignidade e nosso sentido de humanidade

 Que se apure as circunstâncias de tais crimes imediatamente.Que se instaure uma verdadeira Comissão da Verdade ,que o Ministerio publico e a Policia Federal interdite essa Usina e apure com rigor todos os fatos.

(Rosalinda Santa Cruz)