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quarta-feira, 2 de julho de 2014

Conversas com Escritores Mortos: Dickens ‘fala’ sobre reis ingleses


Camila Nogueira

A colunista Camila Nogueira de vez em quando nos surpreende com conversas extraordinárias. De um lado, ela mesma. De outro, algum grande escritor — morto. Os diálogos de Camila se valem em parte dela mesma, com suas perguntas agudas, e em parte dos “entrevistados” — de cujas obras ela extrai as respostas.
No presente caso, Camila conversa com Charles Dickens sobre dois reis ingleses que ele perfilou em sua História da Inglaterra para Crianças.
Katharine Hepburn e Peter O'Toole nos papeis de Eleanor da Aquitânia e Henrique II no filme "O Leão no Inverno"
Katharine Hepburn e Peter O’Toole nos papeis de Eleanor da Aquitânia e Henrique II no filme “O Leão no Inverno”

A história de Henrique II e de sua amizade/ inimizade com Thomas Becket é interessantíssima, mas considero que a narrativa mais interessante de seu reinado seja a do relacionamento do rei com os filhos, suas “pequenas águias”. Charlie, você a contaria para nós?

Pretendo resumi-la em umas poucas palavras, para depois explicá-la mais profundamente. Havia um belo aposento no castelo de Winchester, adornado com cenas alegóricas e coloridas que representavam a vida do rei. Algum tempo depois, ele ordenou que fosse retratada uma grande águia, no centro, rodeada por quatro pequenas águias. Enquanto três delas atacavam a maior, a quarta águia a fitava atentamente. Consta que o rei comentou: “As quatro pequenas águias são os meus quatro filhos, que irão perseguir-me até eu morrer. A menor delas, que eu amo ternamente, é quem irá me ferir, e mais gravemente. Está esperando pelo momento de arrancar-me os olhos com o bico”.

Belo começo. E então?

Henrique II tinha quatro filhos. Henrique, o mais velho, tinha agora dezoito anos. Sua coroação, enquanto o pai ainda vivia, havia sido contestada por Thomas Becket, que provou-se correto em suas suposições. Ricardo tinha dezesseis anos, Geofredo quinze e João, seu favorito, era um garotinho apelidado pela corte de “João sem Terra”, porque não teria qualquer herança, mas a quem o rei pretendia ceder o domínio da Irlanda.

Como assim, “Thomas Becket provou-se correto em suas suposições”?

Becket havia sido contra a coroação do jovem Henrique, afirmando categoricamente que era imprudente anunciar um novo rei durante o reinado do antigo. E ele, infelizmente, estava certo, pois foi o jovem príncipe Henrique, estimulado pelo rei da França e por sua mãe, Eleanor da Aquitânia, quem iniciou a história desonrada que irei contar.

Hmmm…

Primeiro, Henrique demandou que sua jovem esposa, Marguerite, filha do rei da França, fosse coroada com ele. Seu pai consentiu, e isso foi feito. Pouco depois, exigiu tomar posse de uma parte dos domínios do pai, durante a vida do mesmo. Quando isso lhe foi recusado, Henrique deixou a propriedade paterna, com o coração repleto de amargura e ressentimento, e refugiou-se na coerte francesa. Um ou dois dias depois, seus irmãos Ricardo e Geofredo também partiram. Eleanor tentou fazer o mesmo, mas foi descoberta pelos homens de Henrique II e aprisionada, merecidamente, por dezesseis anos.

Hmmm…

Esse foi o início de uma guerra entre o pai e os filhos. O rei Henrique II defendeu seus domínios com unhas e dentes e seus exércitos derrotaram os de seus filhos. Os conspiradores, então, propuseram a paz, e Henrique e Geofredo apresentaram seus pedidos de desculpas. O rei os perdoou prontamente.

E Ricardo?

Ricardo resistiu por seis semanas; mas, derrotado, também se entregou, e também foi perdoado pelo pai.

As guerras cessaram?

De modo algum. Perdoar esses príncipes indignos era sinônimo de dar-lhes mais tempo para organizar uma nova conspiração. É com pesar que declaro que os príncipes ingleses eram tão dissimulados, desleais e desonrados que o rei não deveria ter confiado neles mais do que confiaria em qualquer criminoso preso nas galés.

Então, imagino que o rei tenha sido atacado novamente por suas pequenas águias.

No ano seguinte, o príncipe Henrique se rebelou novamente, e seu pai o perdoou mais uma vez. Oito anos mais tarde, o príncipe Ricardo rebelou-se contra o irmão mais velho, e foi então que o príncipe Geofredo declarou, de modo infame, que os irmãos jamais concordariam em qualquer coisa, a não ser quando se uniam contra o pai. Um ano se passou desde o perdão mais recente e o príncipe Henrique se rebelou mais uma vez – e foi perdoado mais uma vez, como de costume, após jurar que estava sinceramente arrependido. Não o suficiente, receio, para deixar de se rebelar uma outra vez, ao lado de Geofredo.

O príncipe Henrique nunca chegou a reinar na Inglaterra, não é mesmo?

Não, porque o fim desse príncipe pérfido estava chegando. Ele adoeceu em uma cidade francesa; sua consciência o reprovava terrivelmente, então pediu que mensageiros chamassem seu pai, implorando que este fosse encontrá-lo e que o perdoasse uma última vez em seu leito de morte. O generoso rei, que sempre foi extremamente nobre e clemente em relação aos filhos amados, teria partido para vê-lo; mas levando em consideração que já havia sido enganado pelos filhos outras vezes, e que esse pedido era anormal à sua natureza perversa, os conselheiros reais suspeitaram de traição e afirmaram que o rei não poderia arriscar sua vida para satisfazer o último desejo de um traidor, ainda que o traidor em questão fosse seu filho mais velho.

Acho que ninguém teria ido.

O rei não foi ao encontro do primogênito, mas mandou um anel que sempre mantinha consigo como símbolo de perdão. E então, o príncipe Henrique, jovem de beleza lendária, charme juvenil, olhos azuis brilhantes e cabelos meio dourados meio ruivos que marcaram a famosa dinastia Plantageneta, morreu miseravelmente. Ao receber o anel, o príncipe rompeu em lágrimas, confessando àqueles que rodeavam sua cama de como havia sido um filho cruel e desleal. Disse aos padres: “Tirem-me dessa cama e deitem-me nas cinzas, para que eu possa morrer em suplício, rezando para que Deus me perdoe”. Assim morreu o príncipe Henrique, aos vinte e sete anos.

E seus irmãos?

Três anos mais tarde, o príncipe Geofredo morreu em um torneio, esmagado por um cavalo. Sobraram os príncipes Ricardo e João. O último já era um jovenzinho, e havia jurado solenemente manter-se fiel ao pai.

Ricardo rebelou-se novamente, como já era de se imaginar?

Sim, encorajado por seu amigo e rei francês, Filipe II. Foi rendido, e o pai o perdoou mais uma vez, após Ricardo jurar sobre o Novo Testamento que jamais se rebelaria novamente; passado um ano, voltou-se contra Henrique II; e, na presença deste, ajoelhou-se perante o rei da França e declarou que, com sua ajuda, ele tomaria todos os bens franceses do rei da Inglaterra.

Qual foi a reação do rei diante de tal infidelidade?

Henrique II estava adoentado, fatigado pela falsidade de seus filhos e pela humilhação atroz a qual Ricardo o expôs. O rei infeliz, que até então se manteve firme, deu início ao seu declínio. Quando seus nobres o desertaram, um por um, o angustiado rei, com o coração partido, consentiu em estabelecer a paz, mas um sofrimento final estava reservado para ele. Levaram-lhe a proposta do tratado de paz, e também lhe passaram a lista deles que o desertaram – que, de acordo com o tratado, deveriam ser perdoados. O primeiro nome na lista era o príncipe João, seu filho favorito. “Meu amado filho”, exclamou o rei, agonizando, “João, aquele que mais amei! João, por quem suportei todas essas desgraças! Ele também me traiu”. Infeliz e desesperado, disse: “Agora, seja o que Deus quiser. Nada mais me interessa!” Pouco depois, expirou.

E foi este o início do reinado de Ricardo Coração de Leão. Não foi um ato muito honrado, para um rei que afirmava defender a vontade de Cristo partindo para as Cruzadas, trair o pai após jurar fidelidade diante do Novo Testamento.

Anos depois, lisonjeando-se, o então rei Ricardo I afirmou ter o coração de um leão. No entanto, penso eu, seria melhor que tivesse um coração humano. O seu coração, do que quer que tenha sido feito, foi sombrio, gelado e desleal, o levou a ferir um pai que o amava e carecia, mais do que o coração de qualquer fera do bosque, de um único toque de ternura e humanidade.


Sobre a Autora: Camila Nogueira, nossa correspondente de literatura, tem a impressionante capacidade de ler romances de 600 páginas em dois dias -- e depois citar frases inteiras da obra. Com apenas 16 anos, ela já leu as obras completas dos maiores mestres da literatura - como Balzac, Dumas, Fitzgerald e Dickens.
Nossa fonte: DCM

Uma democracia que se volta contra o povo


Por Leonardo Boff - do Rio de Janeiro




Uma grita geral da mídia corporativa, de parlamentares da oposição e de analistas sociais conservadores se levantou contra a Política Nacional de Participação

Uma grita geral da mídia corporativa, de parlamentares da oposição e de analistas sociais ligados ao status quo de viés conservador se levantou furiosamente contra o decreto presidencial que institui a Política Nacional de Participação Social. O decreto não inova em nada nem introduz novos itens de participação social.

Apenas procura ordenar os movimentos sociais existentes, alguns vindos dos anos 30 do século pássado, mas que nos últimos anos se multiplicaram exponencialmente a ponto de Noam Chomsky e Vandana Shiva considerarem o Brasil o país no mundo com mais movimentos organizados e de todo tipo. O Decreto reconhece esta realidade e a estimula para que enriqueça o tipo de democracia representativa vigente com um elemento novo que é a democracia participativa. Esta não tem poder de decisão apenas de consulta, de informação, de troca e de sugestão para os problemas locais e nacionais.

Portanto, aqueles analistas que afirmam, ao arrepio do texto do Decreto, que a presença dos movimentos sociais tiram o poder de decisão do governo, do parlamento e do poder público laboram em erro ou acusam de má fé. E o fazem não sem razão. Estão acostumados a se mover dentro de um tipo de democracia de baixíssima intensidade, de costas para a sociedade e livre de qualquer controle social.

Valho-me das palavras de um sociólogo e pedagogo da Universidade de Brasília, Pedro Demo, que considero uma das mentes mais brilhantes e menos aproveitadas de nosso país. Em sua Introdução à sociologia (2002) diz enfaticamene:”Nossa democracia é encenação nacional de hipocrisia refinada, repleta de leis “bonitas”, mas feitas sempre, em última instância, pela elite dominante para que a ela sirva do começo até o fim. Políitico (com raras exceções) é gente que se caracteriza por ganhar bem, trabalhar pouco, fazer negociatas, empregar parentes e apaniquados, enriquecer-se às custas dos cofres públicos e entrar no mercado por cima…Se ligássemos democracia com justiça social, nossa democracia seria sua própria negação”(p.330.333). Não faz uma caricatura de nossa democracia mas uma descrição real daquilo que ela sempre foi em nossa história. Em grande parte possui o caráter de uma farsa,. Hoje chegou, em alguns aspectos, a níveis de escárnio.

Mas ela pode ser melhorada e enriquecida com a energia acumulada pelos centenas de movimentos sociais e pela sociedade organizada que estão revitalizando as bases do país e que não aceitam mais esse tipo de Brasil. Por força da verdade, importa reconhecer, que, entre acertos e erros, ele ganhou outra configuração a partir do momento em que outro sujeito histórico, vindo da grande tribulação, chegou à Presidência da República. Agora esses atores sociais querem completar esta obra de magnitude histórica com mais participação. E eles têm direito a isso, pois a democracia é um modo de viver e de organizar a vida social sempre em aberto – democracia sem fim – no dizer do sociólogo português Boaventura de Souza Santos.

Quem conhece a vasta obra de Norberto Bobbio um dos maiores teóricos da democracia no século XX, sabe das infindas discussões que cercam este tema, desde do tempo dos gregos que, por primeiro, a formularam. Mas deixando de lado este exitante debate, podemos afirmar que o ato de votar não é o ponto de chegada ou o ponto final da democracia como querem os liberais. É um patamar que permite outros níveis de realização do verdadeiro sentido de toda a política: realizar o bem comum através da vontade geral que se expressa por representantes eleitos e pela participação da sociedade organizada. Dito de outra forma: é criar as condições para o desenvolvimento integral das capacidades essenciais de todos os membros da sociedade.

Isso no pensar de Bobbio – simplificando uma complexa discussão – se viabiliza através da democracia formal e da democracia substancial. A formal se constitui por um conjunto de regras, comportamentos e procedimentos para chegar a decisões políticas por parte do governo e dos representantes eleitos. Como se depreende, estabelecem-se regras como alcançar a decisões políticas mas não define o que decidir. É aqui que entra a democracia substancial. Ela determina certos conjuntos de fins, principalmente o pressuposto de toda a democracia: a igualdade de todos perante a lei, a busca comum do bem comum, a justiça social, o combate aos privilégios e a todo tipo de corrupção e não em último lugar a preservação das bases ecológicas que sustentam a vida sobre a Terra e o futuro da civilização humana.

Os movimentos sociais e a sociedade organizada, podem contribuir poderosamente para essa democracia substancial. Especialmente agora que devido à gravidade da situação global do sistema-vida e do sistema-Terra se busca de um caminho melhor para o Brasil e para o mundo. Com sua ciência de experiências feita, com as formas de sobrevivência que desenvolveram em 500 anos de marginalização,com suas tecnologias sociais e com seus inventos, com suas formas próprias de produzir, distribuir e consumir, em fim, tudo aquilo que possa contribuir na invenção de outro tipo de Brasil no qual tudos possam caber, a natureza inteira incluída.

Uma democracia que se nega a esta colaboração é uma democracia que se volta contra o povo e, no termo, contra a vida. Daí a importância de secundarmos o Decreto presidencial sobre a Política Nacional de Participação Social, tão irrefutavelmente explicada em entrevista na TV e em O Gl0bo (16 de junho de 2014) pelo Ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência Gilberto Carvalho.

Leonardo Boff, é teólogo e escritor.
Nossa fonte: CdB

Espanhois ‘querem’ Mujica como presidente

As comparações entre os dois inundaram a Espanha
As comparações entre os dois inundaram a Espanha


O presidente do Uruguai, José Mujica, se transformou em uma espécie de estrela entre os usuários espanhóis do Twitter.

O elogio a políticos no Twitter é algo raro, mas houve na Espanha uma repentina avalanche de mais de 100 mil tweets comparando Mujica, de forma favorável, ao primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, acompanhadas da hashtag #UnPresidenteDiferente (“Um Presidente Diferente”, em tradução livre).

Mujica já foi chamado por veículos internacionais de imprensa de “o presidente mais pobre do mundo”.

Apesar de ser chefe de Estado, ele abre mão de todos os luxos atrelados ao cargo e vive em uma chácara simples, nos arredores de Montevidéu, que é vigiada por apenas dois seguranças oficiais. Quase todo seu salário de presidente (equivalente a R$ 24 mil) é doado a instituições de caridade.

O presidente gosta de cultivar hábitos simples, fazendo pequenos consertos pela casa e dirigindo um Fusca ano 1987.

Desde domingo, quando Mujica deu uma entrevista a um canal de televisão de esquerda da Espanha, as comparações entre o presidente uruguaio e o premiê Rajoy se multiplicaram.

O apresentador do programa, Jordi Évole, que tem mais de um milhão de seguidores no Twitter, contribuiu muito para tornar a hashtag #UnPresidenteDiferente popular. No entanto, o tópico parece ter criado vida própria.

“Humilde, sincero e honrado. De quantos políticos espanhóis você consegue falar isso?” é uma das postagens típicas no Twitter.

“É incrível que um país ‘menos’ desenvolvido que nosso tem mais políticos eficientes e comprometidos do que nós”, escreveu outro usuário.

Alguns compartilharam imagens dos dois líderes, reclamando que, por comparação, Rajoy tem um estilo de vida menos modesto.

O Twitter está longe de ser um representante preciso da opinião pública, mas as conversas entre os usuários parecem apontar para um sentimento de frustração ou apatia de alguns em relação à política.

As pesquisas sugerem que o partido do primeiro-ministro, Partido Popular (PP), e os socialistas da Espanha estão perdendo o apoio popular.

O primeiro-ministro sofreu outro golpe contra sua reputação devido ao chamado “Escândalo Barcenas”, envolvendo supostos pagamentos secretos a membros de seu partido.

Apesar de sempre haver insatisfação com os políticos, é incomum para os espanhóis adotarem a América Latina como inspiração política, segundo a jornalista Noemi Hernandez.

Alguns que estão usando a hashtag compararam o presidente Mujica ao papa Francisco, também considerado um tipo de estrela da mídia.

Mas existe uma grande diferença: em sua entrevista para a televisão espanhola, o presidente Mujica se declarou ateu.

Nossa fonte: DCM