EDITORIAL do Brasil de Fato
Edição 653
31.08.2015
Que o capital pague
por sua crise
Depois do grande acordo a portas
fechadas entre o grande capital, banqueiros, representantes do Governo, do
Instituto Lula, do Partido dos Trabalhadores, etc., um silêncio surdo parece
haver coberto o País.
Negociados os “dossiês” mais
urgentes – de modo que figuras de proa não tivessem (pelo menos, de imediato)
suas imagens maculadas, nem fossem obrigadas a fazer faxina nos corredores de
penitenciárias, casas de detenção ou delegacias, parece-nos viver uma trégua.
Doce ilusão daqueles que, reféns dos seus próprios “desvios”, animaram e
participaram das negociações imaginando que os nossos adversários e inimigos de
classe se satisfarão com o negociado. Eles arrocharão sempre o torniquete,
a cada momento que necessitem novas concessões. Se, por enquanto, os inimigos
lhes tomaram as calças, noutro momento, vão querer os slips. E assim por
diante, até exigirem aquilo que calças e slips não mais cobrem... .
Doce ilusão, também, imaginarem
que os trabalhadores e o povo (povo = explorados e oprimidos) respaldarão
sempre seus recuos e rendições; que se deixarão trair passivamente. Isto não
existe: ninguém engana todos, durante todo tempo.
Por isto, a nossa pauta tem de
ser outra: a crise econômica está aí e, a depender dos de sempre, seremos nós –
a classe trabalhadora e o povo – quem pagará toda a conta. A depender de muitos
que pensam e dizem nos representar, também.
Rejeitaremos toda medida que
transfira para nós, o preço da crise: seja em termos de tributos e taxações
(tipo o modo como estão sendo conduzidos o ajuste fiscal ou a ressurreição da
CPMF); seja no que diz respeito à entrega de nossas riquezas (Pré-Sal e
outras); das nossas tecnologias (enriquecimento do urânio, submarino atômico
etc.); seja de qualquer das nossas conquistas de 1988. Além – é pressuposto
óbvio – da defesa intransigente da integridade do nosso território e da nossa
soberania.
Para garantir nossa pauta, é
indispensável que tragamos para as ruas, avenidas, praças – enfim, para os
espaços públicos – as nossas disputas, inviabilizando qualquer acordo de cúpula
que não atenda aos nossos interesses de classe, e submetendo a luta institucional
à pressão dos trabalhadores e do povo, organizados de forma independente e
autônoma – como fizemos há duas semanas, no dia 20 de agosto. Ou seja, para
garantir nossa pauta é indispensável nos transformarmos de fato em sujeito
político – sujeito coletivo.
Sim, só o povo organizado derruba a
impostura.
Com a crise política e
institucional (que está longe de chegar a um final – sobretudo a um final que
corresponda aos nossos interesses); com a falência de diversos partidos do
espectro de esquerda, formaram-se, em todo o País, grupos de militantes de
todas as gerações, em busca da construção de instrumentos políticos
(organizações frentistas, pautas, programas, etc.) capazes de intervir na
conjuntura de modo a defender os interesses dos trabalhadores e do povo. Muitos
têm avançado, apesar de enfrentarem problemas de todos os tipos. É fundamental
que esses coletivos se fortaleçam, e procurem formas de trabalhar conjuntamente
entre si, com os sindicatos e movimentos populares combativos e que agem no mesmo
rumo. Alguns partidos têm também desempenhado importantes papéis nesse sentido.
É fundamental que todos
prossigamos.
É indispensável que todos
prossigamos.
Não dá para baixar a guarda.
É igualmente fundamental que
deixemos de pensar no Brasil como uma ilha, isolado, portanto, das dinâmicas
econômicas e políticas (e também ideológicas) que se desenvolvem mundo afora.
Impossível pensar de modo adequado o que fazer (sempre do ponto de vista dos
trabalhadores e do povo), sem ter em conta que as crises que se aprofundam nos
Estados Unidos e na China, para além da influência que terão em toda a economia
internacional, cobrarão um preço especial à nossa economia: Pequim e Washington
significam os dois maiores mercados de importação dos nossos produtos.
Vamos todos juntos em torno de um
programa que possamos construir coletivamente. Mas, são partes constitutivas de
um programa, os métodos a serem utilizados. Métodos e programas são como forma
e conteúdo: não podem ser separados. Eles constituem um todo indivisível. E,
infelizmente, muitos camaradas ainda não perceberam que a maioria dos problemas
que resultam em divisões e rachas na esquerda, tem origem na utilização de
métodos que repetem aqueles dos nossos inimigos de classe (oportunismos,
passa-moleques, rasteiras, golpinhos, etc.), e não necessariamente de
divergências políticas que, mantidos os princípios, podem quase sempre ser
negociadas, desde que de forma clara e transparente.
Assim, se nos comprometermos a
repelir os velhos métodos, vamos todos juntos e conquistaremos grandes vitórias.
