Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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domingo, 13 de novembro de 2022

METAMORFOSE (Composião musical de André CR)

 https://youtu.be/eHYKdUvBmLs

Neste momento de grande transformação, quando estamos entrando na nova época, André CR nos oferece sua música que vem alimentar nossa sensibilidade, nos comover e, ao final, nos dizer que esperançar é a nota.

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

 Propostas do Lula

Vamos juntos eleger o Lula para termos o Brasil em Paz!


Ok, aqui estão as propostas de Lula para reconstruir o Brasil e criar um futuro melhor para todos nós. Algumas você já deve conhecer, outras podem ser novas para você. Mas TODAS vão fazer a diferença na vida das pessoas em todo o Brasil.


🍛 Brasil sem Fome - Povo com comida no prato

👷🏽 Empreende Brasil - Empreendedores com apoio do governo

🎭 Recriar o Ministério da Cultura - Nossa cultura sendo valorizada

🌳 Brasil Sustentável - Desenvolvimento com proteção da nossa natureza

👨🏽‍💻 Brasil Conectado - Internet em todo País

🎓 Mais Universidade - Educação para todo o mundo

💰 Salário mínimo forte - Povo pode pagar suas contas

💰 Bolsa Família R$ 600,00 + 150,00 por criança até 6 anos

🏠 Minha Casa, Minha Vida - Povo com moradia digna

💉 Mais Saúde Brasil - Médicos para toda a população

🤵🏽‍♀️ Ministério da Mulher - Mulheres com apoio e proteção do governo

🏥 Farmácia Popular - Remédios para todos

💰 Desenrola Brasil - Você sem dívidas

📚 Creches e Ensino em Tempo Integral - Nossas crianças com educação de qualidade

 

Não há dúvida de que esta é uma agenda ousada. Mas a verdade é que isso é o que o povo brasileiro quer e merece. E se continuarmos trabalhando duro e juntos para divulgar a mensagem de Lula nos próximos 18 dias, vamos vencer.

 

domingo, 30 de agosto de 2020

“Já passou da hora de discutir a descriminalização das drogas”

“Já passou da hora de discutir a descriminalização das drogas”: Tereza dos Santos, a dona Tereza, que apareceu recentemente em um vídeo pedindo legalização das drogas e que viralizou na internet, fala à TV 247 sobre o movimento #Desencarcera e a situação do encarceramento no país

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Depois da pandemia o Brasil será outro?


Depois da pandemia o Planeta será outro? O vírus veio alertar a humanidade de seu comportamento destruidor, egoísta, perverso. O homem, percebendo a necessidade do comportamento solidário e preservador, irá olhar para a distribuição das riquezas e para a conservação da Natureza de modo diferente.

Será?

Acabo de ver uma notícia que dá conta da fala de uma mulher - vamos lhe dar o nome de Ticê - que ocupa a posição de primeira dama de um rico Estado brasileiro.  Ticê acha que não se deve doar alimentos à população de rua para não lhe tirar a vontade de sair da cômoda situação que desfruta.

Tal opinião mostra quão longe está a consciência da realidade. O que uma criatura que não tem pudor de expressar tal barbaridade pode aprender com nossa terrível situação da pandemia e, pior, acompanhada, no caso do Brasil, dos descalabros provocados pelo governante e seus ministros?  Ticê representa muito bem as classes dominantes brasileiras, os endinheirados. Não têm noção dos problemas que as outras classes, sobretudo, aquelas menos favorecidas, enfrentam. Não dão valor a quase nada, nem à vida a menos que esta seja sua ou de alguém querido.  Ticê e seus semelhantes são responsáveis pelos resultados das últimas eleições que colocaram na presidência da república o monstro que lá se acha.

É bem verdade que esses resultados têm outros pais. As mentiras disseminadas  generosamente nas mídias e nas redes sociais tiveram um papel também protagonista. Tais mentiras chegaram aos eleitores levadas pelo dinheiro de Ticê e seus aliados.

Puxando o fio, verificamos que o novelo está longe. Foi engenhosamente enrolado. O início deve estar no descobrimento das riquezas deste grande país, notadamente depois do pré-sal. O pessoal do Norte, viciado em dominar os mais fracos – aqueles cujo poderio militar é considerado inferior – entrou em ação com várias frentes. As principais – judiciário e grande mídia – foram abastecidas de sementes férteis e diversificadas. Todas com o mote eliminar o comunismo.

O dinheiro é egoísta e ambicioso. Os governos progressistas - Lula e Dilma – pecaram contra e iniciaram um movimento de distribuição de renda, portanto, perigosos,  próximos de seus aliados: Cuba, Venezuela, Rússia e China, os comunistas. (Sempre tive vontade de perguntar àqueles que usam o termo comunista, como xingamento, se sabem o que estão falando, pois seria bom demais se realmente houvesse tantos comunistas neste mundo.)

O Norte passou a treinar uma equipe para liberar o caminho. Aparecem o moço de Curitiba, que teve a alcunha de juiz, e um outro apelidado de procurador. Montaram uma eficiente equipe e disseram que a Itália lhes fornecia os caminhos da “Mãos Limpas”.

Antes, porém, houve um julgamento ostentoso, cujo juiz levou ao tribunal algumas inovações. Quem nos explica esta questão são Marcon Moreira Chaves e Thaiany Nascimento de Oliveira em seu artigo “Teoria do Domínio do Fato” publicado em setembro de 2017 e está disponível em:

“A teoria do domínio do fato foi utilizada pelo Ministro do STF Joaquim Barbosa como fundamento para condenar o ex-ministro chefe da casa civil José Dirceu. Como já explicado acima esta teoria trata da definição de autor e partícipe, para resolver a demanda da forma da autoria mediata, quando há dois partícipes e não há autores.//Esta foi usada de acordo com alguns críticos na ação penal 470 de maneira equivocada, condenando José Dirceu embasados na teoria supramencionada pelo cargo de chefia que ocupava dentro da organização, sendo que só a mensuração da teoria não dispõe da necessidade de provas, teria que ter sido provado sua autoria, embasadas em provas concretas e não apenas em depoimentos. Além de ter que se levar em consideração que os outros componentes da organização (subalternos) eram sujeitos específicos, deixando de lado uma regra essencial para caraterização da teoria do domínio do fato, o sujeito que executa ser substituível, fungível.// Portanto para a condenação ser justa teria que ter sido comprovada sua autoria, em outras palavras, sua vontade de praticar o crime, o cometimento do crime e não somente o dever saber da ação criminosa. José Dirceu efetivamente teria que ter mandado as ações, o que não conseguiu ser provado apenas por depoimentos, segundo os críticos que condenam a atitude do Ministro Joaquim Barbosa condenando sem provas concretas abre brecha para juízes, de segunda instância. ”
Foi o que ocorreu: o cara que era chamado de juiz na equipe apelidada de Lava Jato usou e abusou dessa brecha. O chefe dos procuradores, também com laços com o Norte, fez uma apresentação pública, utilizando um power point, e terminando dizendo que NÃO tinha provas, mas tinha convicção de que Lula era culpado. Lula foi condenado depois dessa confissão do procurador. Foi preso. Sua condenação foi aprovada pela grande mídia com horas e horas de reportagem e pelo Poder Judiciário que nada fez para alterar o comportamento da Lava Jato. Tão pouco para aliviar os absurdos sofrimento e humilhações impostas ao Lula e à sua família. Muito dinheiro pagou tudo isto. Pagou também o caminho para a quebra de nossa soberania. Ainda está pagando e nossa soberania está indo para o ralo.
A campanha contra os partidos progressistas, particular e enfaticamente o Partido dos Trabalhadores, trouxe à sociedade brasileira uma cultura de ódio. Foram tão eficientes e eficazes que elegeram o Bozonero.
A possibilidade de acontecer o que o primeiro parágrafo anuncia pode até chegar ao Brasil, mas para tal é preciso refazer o caminho da DEMOCRACIA. As classes da dona Ticê, a grande mídia, o Judiciário e os 30%  terão que se redimir.

Compromisso com Lava Jato dá curto-circuito na mídia, dizem assessores de Lula

Publicado no blog 247 em 6 de julho de 2020, 04:51

Por Ricardo Amaral e José Chrispiniano*

Raros textos são tão reveladores da má consciência da mídia sobre seu papel na farsa jurídica da Lava Jato quanto o artigo de Eliane Cantanhêde (“Nem heróis nem vilões”) no Estadão deste domingo. Em busca de uma imparcialidade tardia, o texto reflete o dilema atual do jornalismo brasileiro: como descartar, sem maior prejuízo de credibilidade, os “heróis” que ela criou ao longo de uma cobertura parcial e politicamente direcionada. E como dar essa guinada sem fazer justiça ao “vilão” Luiz Inácio Lula da Silva.
O artigo concede que José Genoíno foi condenado no mensalão “talvez exageradamente” e admite que haveria “alguns excessos” na sentença do tríplex contra Lula. Mas abordar dois notórios erros judiciais com a naturalidade de um passeio pelo jardim não é exatamente uma correção de rumo. É seguir sancionando a instrumentalização do Judiciário e do Ministério Público como arma de disputa política, como fez nossa imprensa com a Lava Jato do começo ao fim, que agora parece necessário e inexorável.
A cobertura da Lava Jato entrou em curto-circuito junto com a operação em si porque nem uma nem outra se sustentam em fatos e provas, mas na simbiose típica dos julgamentos midiáticos. Nesta semana em que se comprovou a relação indecente e ilegal da força-tarefa com o FBI, Deltan Dallagnol ganhou mais tempo para se defender no Jornal Nacional que os advogados de Lula ao longo de cinco anos. Não custa lembrar: de janeiro a agosto de 2016, o JN somou 13 horas de noticiário negativo contra Lula, preparando a denúncia do powerpoint que hoje se volta contra Dallangnol.

O tratamento editorial abusivamente desequilibrado da Globo ditou a cobertura da mídia e de seus colunistas, que hoje se agarram nas “provas robustas”, jamais exibidas, do caso Atibaia. Da mesma forma que na desmoralizada ação do tríplex, também neste processo Lula foi condenado por “atos indeterminados”. E a prova mais “robusta” dos fatos é um laudo técnico, ignorado por Sergio Moro e censurado pela Globo, mostrando que foi depositada para um executivo da Odebrecht, e não para “obras no sítio”, a tal transferência de R$ 700 mil incluída na sentença.
O reconhecimento da farsa judicial contra Lula não é, portanto, uma questão de “simpatia” pelo ex-presidente ou pelo PT, por parte de um procurador-geral indicado por Jair Bolsonaro, muito menos dos ministros do Supremo Tribunal Federal, como propõe o artigo. É uma imposição de justiça, diante da qual autores e cúmplices não imaginavam ter de prestar contas tão cedo. Uma questão objetiva, a ser examinada à luz da lei por instituições que, por definição, têm de preservá-la e preservar-se acima de circunstâncias políticas.


É tão fácil quanto fútil afirmar que o PT, Lula ou quem quer que seja “demoniza” a Lava Jato, sem enfrentar objetivamente a suspeição de Moro e a dos procuradores, como sustenta a defesa do ex-presidente em dois pedidos de habeas corpus que tramitam no STF. Ninguém foi mais demonizado neste país do que Lula, seu partido e sua família, por uma imprensa que erigiu falsos heróis e agora se vê na contingência de descartá-los, como fez com Aécio Neves e Eduardo Cunha quando perderam utilidade.
O dilema da mídia – e dos interesses que vocaliza – é lançar fora o veneno da Lava Jato preservando seu principal efeito, que foi a proscrição política de Lula. E, se possível, reconstruir o mito Sergio Moro, o que exige falsificar duas vezes a história. Em primeiro lugar, a Lava Jato não combateu a impunidade: negociou-a no balcão das delações que premiaram 99% dos acusados. E foi com a cobertura da mídia que Sergio Moro “fez a diferença”, demonizou Lula, o PT e a própria política, abrindo o caminho para Jair Bolsonaro, o filho que agora rejeitam.

(*) Ricardo Amaral e José Chrispiniano são jornalistas, assessores do PT e do ex-presidente Lula.

FONTE: Blog 247

terça-feira, 23 de junho de 2020

Requião a Mino Carta


Roberto Requião: “Não assino embaixo de frente democrática que não questiona a exploração do trabalho”



(Entrevista de Roberto Requião a Mino Carta, publicada por Carta Capital em 23 DE JUNHO DE 2020)

Em entrevista a CartaCapital, ex-senador defendeu mobilização por impeachment, mas destacou urgência de proposta que supere crise econômica
O ex-senador e ex-governador do Paraná Roberto Requião (MDB-PR) defendeu mobilizações pelo impeachment, mas rechaçou a proposta de construção de uma frente democrática que não questione a exploração do trabalho. Em entrevista ao diretor de redação de CartaCapital, Mino Carta, nesta terça-feira 23, Requião afirmou que apoia iniciativas voltadas para exigir o impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro, mas não participará de movimentos que se dizem democráticos e, ao mesmo tempo, sustentem reformas liberais que precarizem os direitos dos trabalhadores.
“Acho que são coisas diferentes. Tirar o Bolsonaro, assino embaixo. Mas não assino embaixo de frente democrática que não questiona a exploração do trabalho”, declarou.
Em sua visão, a aprovação de um projeto de impeachment nas atuais condições é uma tarefa difícil, porque o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) parecem apoiar abertamente as medidas econômicas do governo federal. Ao mesmo tempo, Requião considera que as políticas de austeridade do ministro da Economia, Paulo Guedes, colaboram para que o Brasil entre em um cenário caótico após a pandemia do novo coronavírus.
“O impeachment do Bolsonaro, com esse Congresso Nacional eleito nas circunstâncias em que foi eleito, com esse ‘centrão’, com o meu partido, que é o MDB, incondicionalmente apoiador das medidas do Paulo Guedes e do Bolsonaro… O impeachment congressual é muito difícil. Também por uma visão do STF, do judiciário brasileiro, estão abertamente apoiando o liberalismo econômico proposto pelo Guedes, a serviço dos interesses geopolíticos norte-americanos e do capital financeiro no mundo”, afirmou.
Requião acredita que o Brasil está próximo de uma “crise brutal”, com a previsão de queda de 6% a 11% do Produto Interno Bruto (PIB). Para superar os efeitos das políticas econômicas do governo, Requião defende a formulação de um projeto “suprapartidário” que combata as reformas liberais. No entanto, o ex-senador que parte dos interesses por trás do “Fora, Bolsonaro” consistem na manutenção das medidas adotadas por Paulo Guedes.
Em suas palavras, Bolsonaro é um “palhaço no picadeiro do circo nacional”. Mas não basta a nós removermos o Bolsonaro e deixarmos o circo em pé, que é patrocinado pelo mercado financeiro e operado pelo Guedes, segundo ele diz.
“Se formularmos um projeto suprapartidário de empolgação nacional e de devolução da esperança, nós saímos desse buraco. Agora, o Bolsonaro é uma figura menor, uma consequência, um acidente que aconteceu no caminho dessa direita. Eles não gostam do Bolsonaro, eles dizem ‘Fora Bolsonaro’ também. Querem botar freio e bridão no ridículo do Bolsonaro para seguir com a reforma liberal que já fracassou no mundo”, argumenta.
Na opinião do ex-senador, é preciso abrir uma proposta sustentável para, a partir disso, criar um espaço democrático. Caso contrário, a tendência é surgir movimentos de esquerda ou de direita “completamente insustentáveis para o momento”. Entre as pautas cruciais, segundo ele, está a defesa aos direitos trabalhistas, já desmontados com a aprovação da reforma trabalhista na gestão de Michel Temer.
Requião critica privatização de empresas estatais

Para Requião, o governo federal segue em projeto de dar “fim à nação” com a privatização de empresas estatais estratégicas. A começar pela privatização da água e do esgotamento sanitário, resumo da proposta que deve ser votada no Senado Federal, na quarta-feira 24, no novo marco regulatório do saneamento básico. O setor privado já mirava as empresas públicas de saneamento desde o ano passado. O texto é amplamente criticado por especialistas e entidades que defendem os direitos à água e ao saneamento. O argumento é de que a privatização deve aprofundar desigualdades com o aumento de tarifas e a falta de interesse de companhias privadas em atender locais longínquos.
“Não se pode servir ao povo e ao capital financeiro. O capital financeiro está destruindo a humanidade. E essa loucura toda de privatizar a água, como está em pauta no Congresso?”, protestou. “Eu vejo a crise chegando com as bobagens do Guedes e o acelerador do coronavírus.”
Para Requião, é preciso estabelecer um “referendo revogatório” para recuperar empresas estratégicas que foram vendidas ao setor privado. O ex-senador citou uma carta que disse ter enviado a embaixadas para alertar aos compradores de empresas estratégicas brasileiras que a prática é um “crime contra o país”.
“Quem estava comprando empresas estratégicas brasileiras, estava comprando de quem não podia vender. De quem não propôs, no processo eleitoral, essa barbaridade. Estava comprando mercadoria roubada, portanto, cometendo crime de receptação. E que, mais cedo ou mais tarde, teria que devolver o que comprou dessa forma receptadora, sem indenização alguma. Nós precisamos da Petrobras, do Banco do Brasil, da Eletrobrás. E o que eu vejo? É que, apesar da crise do Queiroz, o que acontece é o avanço do fim da nação. Agora, com a tentativa de venda das empresas de saneamento e de purificação de água, o que é um crime contra o país”, disse.
Outra prioridade defendida por Requião é tirar o Banco Central da dominação dos bancos privados. Conforme mostrou CartaCapital, estabelecer a chamada “autonomia” do Banco Central é uma bandeira de grandes alas parlamentares no Congresso. No entanto, especialistas afirmam que descolar o Banco Central da política econômica do poder Executivo pode aumentar a influência das empresas privadas do mercado financeiro sobre a instituição.
Para Requião, é urgente que o Banco Central esteja alinhado com demandas sociais, como o combate ao desemprego.
“Começa tirando o Banco Central da mão do Bradesco, do Santander e do Itaú. O Banco Central tem que ser vinculado a um projeto nacional, subordinado à proposta do presidente da República, eleito pela maioria. Nos Estados Unidos, o Banco Central se destina à estabilidade da moeda e à manutenção do nível do emprego”, afirmou
Fonte: Carta Capital


A falsa indignação da direita brasileira



POR JOSÉ DIRCEU  

(Publicado no Blog NOCAUTE em 23/08/2020 (1))


Ao ignorar o movimento de um amplo arco de forças políticas e sociais que defende o impeachment de Bolsonaro, a direita brasileira, que insiste em apoiar a política econômica suicida do governo, revela seu egoísmo e falta de compromisso democrático.

Vivemos momentos de imprevisibilidade e instabilidade agravados por uma crise humanitária e, no caso do Brasil, por uma profunda crise política institucional, social e econômica. O golpe de 2016, a Lava Jato, o governo Temer e a vitória de Bolsonaro representaram o fim do pacto constitucional de 1988. Rasgado única e exclusivamente pela oposição de direita, com apoio da mídia monopolista, conivência da Suprema Corte e sinal verde dos militares que não vacilaram em vetar o habeas corpus para Lula.
Assim, nossas elites políticas, empresariais, militares e judiciais criaram as condições para a vitória de Bolsonaro e para sua própria derrota, tudo em nome de seus interesses expressos hoje na politica econômica, se é que se pode chamar assim, de Paulo Guedes, o ultra liberalismo tardio, o desmonte do Estado Nacional e de Bem Estar Social.
O mais grave é que persistem na mesma toada, buscam saídas com Bolsonaro, com Mourão, se recusam a apoiar seu impedimento apesar do desastre humanitário à vista. Uma tragédia nacional com mais de 50 mil mortos e 1 milhão de infectados.
Mesmo neste cenário de guerra, nada faz nossas elites abandonarem seus privilégios e interesses de classe. O adversário, para elas, não é o risco de um golpe ou o desastre em todas frentes do governo Bolsonaro e sim a esquerda e sua provável ou possível volta ao governo.
Bolsonaro segue acuado, mas atacando. Perdeu as ruas e seu isolamento cresce a cada dia. Daí a pergunta que é feita por todos: por que o PSDB se opõe ao impeachment, seguido pelo silêncio do DEM e MDB? A resposta é simples. Estes partidos querem se livrar de Bolsonaro, até porque avaliam que a seguir no seu ritmo ele levará novamente a esquerda ao poder, mas não querem assumir nenhum compromisso democrático, social ou econômico.
Questão de fundo
Há uma questão democrática de fundo. O PSDB não aceitou o resultado das urnas de 2014 e, na prática, não aceita uma alternativa de governo de esquerda, seja do PT ou de outro partido. A causa desse veto é que, com um governo de esquerda, não há espaço para suas políticas neoliberais e de Estado mínimo, espoliação máxima dos trabalhadores e concentração da renda sob a batuta do capital financeiro. 
E o cenário internacional, com a gravidade da crise que se avizinha pós pandemia, também mostra-se desfavorável às políticas que sustentaram até aqui o ideário tucano.
Os acontecimentos recentes no Chile, no Equador, na Colômbia; a vitória de candidatos de esquerda no México e na Argentina; os movimentos de protesto e resistência nos Estados Unidos são sinais de alerta para os partidos brasileiros de direita. São sinais de que a roda na história não parou e de que as classes trabalhadoras não aceitarão sem luta a continuidade do capitalismo real brasileiro, um dos de maior concentração de renda, riqueza e propriedade do mundo. É o fantasma de Lula que os assombra.
Se dependesse dos militares e de Bolsonaro, a esquerda já estaria excluída da vida institucional do país. A nossa direita liberal não fica atrás: faz de conta que não há uma interdição política a Lula e uma constante criminalização do PT e tentativas de fazê-lo com a luta social, de classes.
Esse equilíbrio instável e imprevisível que vivemos será rompido via impeachment ou cassação da chapa por pressão pelas ruas assim que a pandemia permitir. Nessa hora, a questão que se colocará é quem conduzirá a ruptura e a transição e qual será o seu caráter e duração e saída – provavelmente nas eleições de 2022.
Correlação de forças
Hoje, a correlação de forças não favorece as esquerdas, seus partidos políticos e movimentos sociais, com o MST à frente pelo maior poder de mobilização e apoio. Vamos lembrar sempre que Haddad obteve no primeiro turno de 18,32 milhões de votos, que as classes médias, sejam progressistas ou conservadoras, sairão às ruas depois da pandemia e que os setores mais explorados dos trabalhadores se mobilizam e já estão nas ruas. Poder de fogo que não coloca as esquerdas na liderança, mas é o suficiente para explicar o jogo de cena e de sombras ensaiado pela oposição de direita, o apoio explícito do centrão ao governo e as decisões constitucionais e de direito da Suprema Corte, que buscam colocar limites a Bolsonaro, como se isso fosse possível, de preferência chegar até 2022 com ele enquadrado.
Há uma variante, para além da alternativa de esquerda, que perturba os sonos e sonhos de nossas elites — o fantasma de Geisel, o Pro Brasil, o papel do Estado. É bem verdade que todos os indícios são de que os militares aderiram ao ultra liberalismo tardio, mas, por sobrevivência política e pragmatismo, podem optar por uma outra política econômica. 
As esquerdas vivem seus dilemas. PDT, PSB, REDE, PV e Cidadania optaram por uma aliança de centro-esquerda. Foram os primeiros a pedir o impeachment e, nitidamente, se afastam do PT, apesar da ação conjunta na Câmara e no Senado e entre as fundações partidárias e da luta comum pelo impedimento do presidente com o PT, PC do B, que está mais próximo deles, PSOL, PSTU, PCO e PCB.
Para o PT, o Fora Bolsonaro e o impeachment são o centro da luta. Mas a ausência das ruas e das mobilizações e o inaceitável impediento de Lula, com seus direitos políticos suspensos por uma condenação que deve e precisa ser anulada, coloca o PT, junto com toda esquerda, na defensiva. Isso abre espaço para que a direita liberal, com apoio da mídia e de seu peso institucional e econômico, busque saídas de compromisso com os militares e Bolsonaro.
O aprofundamento da crise sanitária, fruto da política genocida do governo e seus aliados; o crescente isolamento do Brasil no mundo com reflexos imediatos no comércio exterior e nos investimentos; a insuportável incompetência e ineficiência em todas frentes, sanitária, ambiental, educacional, cientifica, cultural, agravada pelos gravíssimas denúncias contra os filhos e a família de Bolsonaro; e as investigações e inquéritos sobre os crimes cometidos pelo presidente na campanha de 2018 e no governo compõem o cenário dramático que envolve o presidente da República. E, tudo indica, o obrigará a um acordo o que não condiz com a natureza e os objetivos autoritários de seu governo.
Em que país vive a elite?
A direita brasileira parece viver em outro pais, o que revela seu egoísmo e sua falsa indignação com Bolsonaro. Insiste com a imediata retomada da austeridade, das privatizações, das chamadas reformas, da manutenção do teto de gastos, regra de ouro, já fala em superávits em 2021 e 2022.
Para as classes trabalhadoras propõe mais sacrifícios e mais privações de seus direitos e espera que não aconteça nada. Ledo engano, haverá luta e grandes batalhas.
Sem compromisso democrático e sem nenhum aceno de mudanças na política econômica suicida, o que esperar? Nada além de um acordão que exclui uma saída democrática como foi a campanha das Diretas Já, onde havia um compromisso que desaguou na Constituinte de 1988. Um acordão que ignora a classe trabalhadora e o povo pobre do nosso país, que solapa seus direitos trabalhistas, sociais e de cidadania.
A oposição a Bolsonaro no país é ampla geral e irrestrita. Basta ver os manifestos, o apoio das entidades ao STF e em defesa da democracia. A oposição já está nas ruas e forma um amplo arco de forças sociais e políticas. Quem não ouve o país e essa maioria é a oposição de direita que se recusa a evitar o pior e abraçar já o impeachment.
Essa é a única escolha que nos impõe nossa consciência moral e responsabilidade política, custe o que custar. Com todos riscos, devemos lutar sem tréguas pelo fim do governo Bolsonaro.
(1)A foto que ilustra o artigo em seu original, publicado no NOCAUTE, não cabe no Libertas)
Fonte: NOCAUTE (Blog de Fernando de Moraes)


domingo, 21 de junho de 2020

Em tempo de pandemia... eles se encontraram.




Morava em uma pequena cidade do interior paulista. Era o terceiro filho de um casal de comerciantes. Os seus 10 anos foram comemorados junto com o nascimento da irmã caçula que, a partir de então, lhe roubou todas as festas e muito mais. Havia momentos em que pensava como faria para sufocá-la. Perdia-se em fantasias tenebrosas.  Trocava o travesseiro – viu um filme em que o ladrão matou a dona da casa com uma almofada – pelo cobertor, depois voltava porque já havia a experiência bem-sucedida do ladrão e ninguém viu, nem ouviu. No dia em que Betinha completou dois anos, ela estava dormindo depois do almoço. Todos da casa preparavam, na cozinha, a festa para mais tarde, com os enfeites e a toalha da mesa cor de rosa. Maurício sentindo muita raiva, decidiu que sua irmã precisava desaparecer imediatamente. Iria perder a comemoração do seu aniversário, mas já não tinha mesmo festa. Era tudo para ela, a gracinha da família.  Foi até a cozinha verificar se estavam mesmo todos lá. Conferida a situação, passou pela sala, pegou uma almofada e subiu para o quarto onde dormia a queridinha da mamãe.

Quando se debruçou no berço, Betinha acordou, olhou para ele e sorriu, levando as duas mãozinhas no rosto do irmão à guisa de carinho. Ela puxou o cabelo dele e ria, gargalhava vendo-o todo despenteado. Ele a pegou no colo, esqueceu de seu propósito – que propósito? - e começou a rodopiar com ela.

Maurício estava no seu quarto, na pensão onde morava, há quatro anos. Escolhera o bairro Butantã por estar perto da USP, estuda lá, terminara o curso de filosofia. Ficou querendo entender o motivo de aquela cena vir à sua cabeça, após tantos anos. A terapia já dera conta de mostrar que ele não era um assassino. Até riu lembrando-se da cena que montara no psicodrama e da farra que Belinha fez quando soube.

Formara-se em dezembro, seu pai foi o único que pôde vir. Os dois foram juntos para casa e depois de um mês de férias, Maurício voltou para continuar as aulas que dava num cursinho e começar o mestrado.

Agora, estava preso naquela casa sem poder dar, nem ter aulas. A quarentena o pegou de calças curtas. Não estava preparado para ficar no isolamento. A pensão lhe fornecia o café da manhã, mas as outras refeições ele as fazia na Universidade. A dona da pensão lhe avisou que iria para a casa da filha e falou que a moça da limpeza ficaria na casa e continuaria a lhe dar o café, mas somente na primeira semana. Então, ele já não tinha nem mais o café, mas a cozinha estava à sua disposição. Grande ironia! Não sabia sequer fritar um ovo. 

Nos três primeiros dias, foi até a padaria e comprou pão e queijo que passaram a ser suas refeições. No quarto dia, seu estômago avisou que não aceitaria mais os dois ingredientes. Ainda titubeou, pois não sabia cozinhar, mas resolveu ir ao supermercado para comprar comida congelada. Ao ver os preços, teve um choque, seu dinheiro não daria para comer durante uma semana. Pensou em frutas e salada. Novo choque, as frutas competiam com os congelados. Comprou arroz, feijão, ovos e alguns legumes. Entre triste e irritado foi para casa. 

No caminho, ao passar por uma pracinha, tropeçou, caiu e suas sacolas com todas as compras se espalharam. Soltou um palavrão e ouviu uma vozinha gritar: - Ih! Não pode dizer nome feio. – Ainda sentado devido ao tombo, viu um garoto vindo em sua direção e logo começar a devolver tudo às sacolas. Quando estava com todas as compras dentro novamente, agradeceu a ajuda e, só então, olhou direito para o menino e viu que estivera chorando. Estava com roupas bem usadas, mas limpinhas.

- Que idade você tem?
- Já tenho 12 anos – Maurício repetiu: - 12 anos, a idade da Betinha, minha irmã caçula. – Pensou que agora sabia porque acordara se lembrando da maledeta cena. 
- Qual o seu nome?
- Marcos.
- O meu é Maurício. Muito prazer, Marcos.
- Muito prazer, Maurício.
- Por que estava chorando?
- Minha mãe foi levada para o hospital. – Maurício ficou assustado e fez um esforço para se lembrar de onde o menino havia colocado a mão e também se afastou um pouco, embora estivesse com máscara e luvas.
- Você mora com quem mais? Seu pai?
- Não. Só moro com minha mãe. Vim para a praça porque fiquei com medo de ficar sozinho. Minha mãe não me deixa sair de casa, nem para ir à escola. Ela diz que é perigoso pegar uma doença feia, mais feia que o Bozo.

Maurício achou graça e perguntou se ele se referia ao palhaço e o menino muito sério respondeu: 
- Não. O tal que roubou tudo dos empregados. Mãe disse que ficou sem emprego por causa dele. Não gosta de gente que nem nós. Também não gosta de mulher, nem de boiola, nem de preto, nem de índio. Você é boiola?
- Não. - Num impulso, Maurício chamou: - vem comigo. Você sabe cozinhar?
- Sei fazer arroz.
- É mesmo?! Então vamos logo porque estou morrendo de fome e você vai me ensinar a fazer arroz.  

Foram andando e Marcos quis ajudar a levar as sacolas, mas Maurício agradeceu. Ele já estava achando que se deixara levar pela fome e não sabia o que fazer com o menino, cuja mãe podia estar com o Corona vírus. Na medida em que andava, ia pensando em como sair daquela situação. Percebeu que não conseguiria retirar o convite e deixar o menino ao deus dará. Ele próprio estava com muita fome, sabia que Marcos deveria também estar. Ao chegar na pensão, retirou o sapato e pediu para seu companheiro fazer o mesmo. Deixou as sacolas na entrada e foram ambos para o banheiro no apartamento onde Maurício morava. Lá tirou a roupa que separou e fez o garoto também ficar nu e entrar para debaixo do chuveiro. Pegou uma camiseta sua e deu para ele se vestir.

Foram para a cozinha. Parece que o menino sabia mesmo fazer arroz e, como não alcançava o fogão, foi dando a receita e Maurício fazendo. Enquanto o arroz cozinhava, trocaram ideias de como poderiam comer os ovos. Chegaram ao consenso de que o mais fácil era cozinhá-los. Maurício colocou a água no fogo com meia dúzia de ovos.  A fome era grande demais, comeram uma banana cada um e um copo de leite.

Com a fome um pouco aplacada, Maurício foi lavar as roupas do menino. Contente por saber como fazer já que suas roupas, quando o bolso está vazio, o que significa a maior parte dos dias, ele lava suas roupas e a dona da pensão não disponibiliza a máquina.

- Maurício, Maurício – Era um chamado urgente. – O arroz está queimando! 
- Com o fogo desligado, Marcos falou que precisava provar para ver se devia pôr mais água. Maurício, cuja fome voltara maior ainda, quis ignorar o aviso, mas a voz da mãe falou mais alto e Marcos: - Mãe fala que precisa provar. – Deu a colher para o rapaz e insistiu: - prova.
Com um grande suspiro, a prova foi feita e ignorada, porque o arroz ainda estava meio duro, mas os ovos já estavam no ponto. Resolveram comer.

Depois que comeram, Maurício lavou os teréns e Marcos falou que a mãe punha roupa para secar atrás da geladeira. Foi pegar sua roupa no varal, mas não alcançou e os dois riram da figura do menino com a camiseta que quase chegava a seus pés. O rapaz ajudou e o menino copiou o que vira a mãe fazer.

Maurício falou que precisava conversar sério com o garoto que foi logo falando:
- quando minha roupa secar, é pra mim se mandar? – Maurício ficou penalizado, mas aproveitou os erros para aliviar a tensão: - Olha aqui, minha professora me ensinou que mim só come capim. – O menino olhou assustado e perguntou: -sua professora te ensinou o quê?! Maurício riu e falou: - você está achando que ela me ensinou a comer capim?!  - Foi?!

- Não. Você disse pra mim se mandar. O mim não faz nada quem faz é o eu. Então o certo é dizer para eu me mandar. – Notando que os olhos do garoto se enchiam de lágrimas, Maurício continuou: -  ah! Não precisa ficar chateado, eu entendi o que você falou e vamos conversar para nos conhecer melhor.

Os dois se acomodaram ao redor da mesa da cozinha, que, agora, era só deles já que não havia mais ninguém na casa. Maurício ficou emocionado com o que ouviu. Marcos mora com a mãe que vende sacos de aniagem para uma fabriqueta de ninhos de passarinhos. Ela busca os sacos em lojas de atacado que recebem os sacos embalando algumas mercadorias e os cortam ao meio para facilitar a retirada do que está dentro e os descartam. Luzia – é seu nome – ela os costura e vende bem mais barato do que os sacos inteiros, não usados.

Marcos explicou que a mãe, muitas vezes, fica doente e a bombinha que usa não adianta, ela vai ficando com falta de ar. Desta vez, Marcos correu e pediu para a vizinha ir ajudar porque a mãe estava ficando roxa e ele, muito assustado.  Outro vizinho que tem um caminhãozinho levou Luzia.

Maurício, depois de muitas perguntas, acabou sabendo que alguém que mora perto da Luzia tem um celular. Ligou e quase entra em colapso, soube que Luzia havia morrido na porta do hospital “Também – disse a dona do tal celular – não iriam deixar ela entrar. Ainda bem que o filho não apareceu por aqui, porque um fulano que diz que é tio dele quer levá-lo para pedir esmola.”  Marcos estava no banheiro e Maurício, em pânico, completamente desarvorado. Pelo que o menino falou, ele e a mãe eram muito pobres, mas ela o cuidava com muito carinho. Não tinham mais ninguém. Não conhecia seu pai. A mãe contou que fugiu de casa para se casar e o pai morreu quando ele tinha só três meses. Não sabe nada dos avós. Nestes últimos dias, a mãe não deixou ele ir à escola e ela não podia ir buscar os sacos por que as lojas estravam fechadas, mas ela não deixava ele passar fome. 

Quando Marcos voltou, Maurício só sabia de uma coisa, os dois passariam a tal pandemia juntos.





quarta-feira, 3 de junho de 2020

"A ordem mundial acabou."


(Publicado originalmente em Internacional Progressista)

Luiz Inácio Lula da Silva e Celso Amorim

 É imperativo estabelecer uma nova ordem multilateral na qual a cooperação internacional possam realmente florescer, argumentam o ex-presidente Luiz Inácio Lula e o ex-ministro Celso Amorim.

Desde o início deste ano, e com maior intensidade desde o mês de março — quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a propagação da COVID-19 como pandemia — governos e sociedades civis vêm lutando contra uma crise de proporções nunca vistas antes.

Vidas estão sendo perdidas aos milhares em um único dia, em todos os cantos do mundo. As economias, que mal haviam se recuperado da crise financeira da última década, estão passando pela mais grave crise desde a Grande Depressão dos anos 30.

Os sistemas políticos estão sob estresse, enquanto líderes populistas autoritários tentam usar o sentimento de insegurança trazido pela pandemia para aumentar seu próprio poder pessoal, enfraquecendo assim democracias já frágeis. Alguns deles, de Donald Trump a Jair Bolsonaro, adotaram uma atitude de negação, ignorando recomendações de cientistas e especialistas em saúde.

Com esse horroroso quadro ao fundo, a cooperação internacional vem sofrendo duros golpes. O comportamento egoísta de alguns líderes está impedindo que os mais necessitados tenham acesso a produtos essenciais para lidar com a pandemia. Atos de pura pirataria estão sendo praticados pelos mais poderosos. Ao mesmo tempo, organizações multilaterais, como a OMS, estão sendo privadas de recursos sob falsas acusações de parcialidade política. O Conselho de Segurança da ONU, o mais poderoso órgão internacional, não consegue chegar a nenhuma decisão, ou mesmo a uma recomendação minimamente significativa, em relação a esta tragédia. Órgãos informais, como o G20, não conseguem superar as diferenças entre seus membros e não são capazes de aprovar um plano de ação para enfrentar a crise.

Tudo isso ocorre enquanto apelos do Secretário-Geral da ONU e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos — ecoados, entre outros, pelo Papa Francisco — para que se suspendam as sanções unilaterais, de modo que nações-alvo, como Irã, Cuba e Venezuela possam ter acesso a recursos para adquirir material médico essencial e receber assistência humanitária, são claramente ignorados. O multilateralismo está sendo vergonhosamente abandonado.

Parece haver um consenso quase universal de que o sistema mundial terá que ser reconstruído de forma muito fundamental. A questão é: Como?
Olhando para o futuro — e supondo que o pesadelo atual acabará se dissipando, embora apenas após imensas perdas humanas, em termos de vidas e bem-estar — a frase que muitas vezes se ouve a respeito das conseqüências da pandemia é: "o mundo nunca mais será o mesmo". E, de fato, é de se esperar que a humanidade aprenda as lições dessa investida inesperada de uma entidade microscópica que continua a trazer morte e miséria, especialmente para aqueles que estão no fundo de nossas sociedades desiguais.

A pandemia abalou os pilares do nosso modo de vida e, juntamente com eles, da ordem internacional. Parece haver um consenso quase universal de que o sistema mundial terá que ser reconstruído de forma muito fundamental. A questão é: Como?
Para muitos analistas, estamos entrando numa espécie de "nova guerra fria" - ou algo ainda pior - como resultado da chamada "Armadilha de Tucídides", uma expressão criada pelo diplomata-que-se-tornou-acadêmico, Graham Allison, para indicar o potencial de conflito decorrente do surgimento de uma nova superpotência, desafiando a até então dominante.

Segundo essa visão, a "ultrapassagem" dos Estados Unidos pela China, processo que parecia inevitável mesmo antes da pandemia, será acelerada, gerando grande instabilidade. Ao mesmo tempo, muitos governos e os povos que representam, desconfiados de uma globalização desenfreada, baseada na busca grosseira pelo lucro — principalmente pelo capital financeiro — serão tentados a mergulhar em algum tipo de isolacionismo, céticos quanto ao valor da cooperação internacional.

A humanidade pode entrar em uma nova era de "guerra de todos contra todos", com enormes riscos para a segurança e prosperidade da humanidade. Um mundo já extremamente desigual se tornará ainda mais, levando adiante todos os tipos de conflitos e convulsões sociais. Nesse contexto, o recurso unilateral à força armada pode tornar-se ainda mais freqüente, prejudicando ainda mais o diálogo e a cooperação pacífica. 

Não tem que ser necessariamente assim. Tanto nações quanto indivíduos podem tornar-se menos dominados pela arrogância e compreender a necessidade de solidariedade e humildade para enfrentar os desafios colocados pela natureza e pelas ações (ou inações) dos próprios seres humanos. Não é impossível — é aliás, imperativo — que um certo número de Estados ou entidades supranacionais, como uma União Europeia renascida, e instituições de integração dos países em desenvolvimento da América Latina, África e Ásia (que terão de ser reforçadas ou recriadas), busquem alianças e parcerias, de forma a contribuir para a criação de um mundo multipolar, livre da hegemonia unilateral e da esterilidade de confrontos bipolares.

Tais alianças, construídas com “geometria variável”, permitiriam uma re-fundação da ordem multilateral, sobre princípios do verdadeiro multilateralismo, segundo os quais a cooperação internacional possa florescer de fato. Nesse cenário, China, EUA e Rússia podem ser convencidos de que o diálogo e a cooperação são mais benéficos que a guerra (fria ou não).

"Soar utópico não é impedimento à ação coletiva."
Isso somente acontecerá, no entanto, conforme países individuais, especialmente aqueles que estejam em condições de exercer uma liderança natural não-hegemônica, encontrem formas de democratizar seus próprios sistemas políticos, tornando-se mais capazes de responder às necessidades de seus povos, especialmente de seus setores mais vulneráveis. Justiça social e governo democrático deverão caminhar de mãos dadas.

Pode soar utópico pensar nesses termos em um momento tão árido da história, no qual a própria civilização parece estar em risco. No entanto, para aqueles de nós que creem na capacidade humana de encontrar respostas criativas a todos os tipos de desafios inesperados, soar utópico não é impedimento à ação coletiva. Nem deveria nos fazer desistir e desesperar.

Uma versão deste artigo foi originalmente publicada em inglês pelo India-China Institute.
Fonte: Internacional Progressista

domingo, 10 de maio de 2020

Lugares para a felicidade



                                                               Ao André, meu filho único em tantos sentidos.

A quarentena em si, o ficar em casa, não tem me afetado muito. O que vem com ela, sim, suas causas e consequências são tétricas. A ideia do tolhimento do ir e vir, da nossa liberdade, como povo e como indivíduo, é suficiente para incomodar. Preciso me concentrar no motivo para me acalmar e respeitar o isolamento. Assim, acredito que as pessoas que não o respeitam o fazem por não ter a consciência do seu significado. São ignorantes da história recente do Planeta. Não sabem o que e como o vírus Covid-19 fez com os humanos da China, da Itália, por exemplo, pois estou falando do mundo. Se pudessem – se seu conhecimento permitisse -  comparar os efeitos do vírus e o comportamento dos governantes, consequentemente, da população de países como EUA com Vietnã, não sairiam de casa.

Abro parêntesis: (No Brasil, a grande exceção mundial, o presidente é cruel “a quem apraz derramar sangue, causar dor; cruento que gosta de fazer o mal, atormentar, maltratar; impiedoso, duro, implacável, intransigente; insensível. (Definição segundo Dicionário Eletrônico Houaiss) Os 30% de brasileiros que o seguem são seus semelhantes, embora não disponham das informações que um chefe de país tem. Esta crueldade é compatível com interesses espúrios, havendo, inclusive, o aproveitamento da situação - horrenda para o povo -, visando alcançar alguns objetivos.) Fecho parêntesis.

Concentrando-me, então, nos dados relativos aos EUA e comparando-os aos do Vietnã, procuro amenizar minha perda temporária de liberdade. Como ela é, já disse Fernando Sabino, o espaço da felicidade e disto, tenho, em todo meu ser, certeza, a dificuldade aumenta exponencialmente. Não deixa de ser um desafio. A primeira ideia que me vem é chamar Dona Pandá.

Ela chega com Bethânia: -Quem me chamou? Eu estou aqui, o que que há?  Então você está à caça da felicidade?
- Nem tanto – respondo – quero amenizar a prisão domiciliar.
- Assim não vai dar. Chamando este lugar lindo, com verde pra todo canto, desse nome feio, não ajuda amenizar nadinha. Quer saber? A felicidade, precisa de outras coisas além da liberdade.
- Ah! Então a senhora concorda...
- Eu não sou tão doida a ponto de discordar do mineiro. Você é meio ignorante em literatura, mas mesmo assim sabe que Sabino era mineiro, não é?
- Não precisa ofender!
- É, fui grosseira. Vamos retornar ao assunto.  
- De que outras coisas a felicidade precisa?
- Não é propriamente precisar. Há coisas que são caminhos para...Acabo de me lembrar de um atalho garantido, o amor. Se alguém se apaixona por outrem, a felicidade não escapa. Há até a expressão muita usada, aqui, pelas Alterosas: Feliz que nem bobo quase sempre se refere a alguém apaixonado. Qualquer amor traz felicidade, pode trazer outras coisas, mas o amor correspondido é tiro certo.

- Esse atalho, no isolamento, ou já existe ou fica para procurar depois desta quarentena. Pode rir, mas sem ser atalho, pode dar outros caminhos? Aposto que não conhece.

- Deixa de falar bobagem, menina. Vamos lá. Vou listar algumas coisas que sei em relação a você, não são muitas, já que você, como todos jovens, muda de gosto. Não precisa fazer esta cara. Este mudar de gosto é saudável, significa crescimento. Você tem um gosto musical, hoje, mais requintado do que há alguns anos.

- Dona Pandá, me desculpe a ousadia, mas a senhora está, de novo, saindo do assunto.

- Agora você me lembrou uma criança adorável que falava “de ovo”. Está bem vamos retornar de novo. Continuando no musical, que, neste seu caso, é um exemplo perfeito: escutar a boa música é um bom caminho. Compor, para você, ouso dizer que é outro atalho garantido. Criar é uma atividade exigente, solitária e egoísta. Exige toda sua alma, não aceita pedaços. Se você está menos que inteiramente, a criação sai medíocre, não satisfaz. Aí é bobagem, não é caminho.

- Estamos falando de composição, de música?

- E de você. Se estivéssemos falando do meu amigo Roberto, o caminho seria literatura. Certo? Então, o atalho seguro, aqui, é a criação de música, da boa música.

- Se não “sair” a boa música?

- Você fará a boa música se se entregar a ela. A exigência dela é total, ela quer sua alma. Em dando o que ela exige, só sai a boa música. O parâmetro do que é bom é a satisfação do criador.  É claro que estamos falando de você que tem a arte na alma. É por isto que precisa doá-la sem regatear.

A criação é solitária. É claro que há criações coletivas, mas estamos no isolamento. Sua inspiração se relaciona com sua vida passada, presente ou desejada, com seus sentimentos, com tudo onde consegue chegar, mas ninguém anda por você. A captação é de sua capacidade. Não vivemos isolados, ao contrário vivemos cercados de um mundo interno e externo que percebemos e que levamos para nossa criação. Ainda assim, no ato de criar, estamos sós, com tudo que é nossa captação, com toda nossa vida.

A criação é egoísta.  Não aceita preguiça ou distração. Nada que a divida, que a restrinja.
Esta falação toda é para lhe mostrar que estando no ato de criar, você não sente a falta da liberdade. A arte é libertária.

- Dona Pandá, e os caminhos? A senhora falou de dois atalhos seguros.

- Você pode, nos intervalos do amor e da música, buscar outros prazeres, como por exemplo, mexer com a terra, plantar. Dispor da terra já é um caminho dado. É uma boa hora de planejar uma horta, um pomar. Cuidar dos bichinhos. Na realidade, são atividades de que você gosta e que já realiza.  Acho que o fundamental é manter a cabeça longe da restrição de não poder ir e vir.  O segredo da vida é buscar ser feliz, inventar lugares para a felicidade e estar lá.