Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade
Clic sobre o livro (download gratuito). LEIA E DÊ SUA OPINIÃO

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Maria Prestes lança "Meu companheiro" em SP


A militante comunista Maria Prestes lança, no próximo dia 20, o livro "Meu Companheiro - 40 anos ao lado de Luiz Carlos Prestes". O evento acontecerá às 19h, na Livraria da Vila do Shopping Higienópolis, em São Paulo. A obra relata sua convivência com líder histórico dos comunistas brasileiro.
 Em 1952, Maria era uma jovem moça nordestina, militante do Partido Comunista Brasileiro, que foi designada para a segurança pessoal do famoso líder. Começou assim a relação que durou até a morte de Prestes, em 1990.
O livro foi escrito há 20 anos e relançado este ano com novos depoimentos em homenagem a Prestes. Além disso, a nova edição é bilíngue. Na mesma página, é possível ler o livro em português e espanhol. A ideia surgiu por causa da representatividade do comunista, que sempre se relacionou com os países latinos-americanos e é admirado para além das fronteiras do Brasil.
O relançamento, pelas editoras Anita Garibaldi e E-paper, tem contracapa escrita pela presidenta Dilma Rousseff, que aborda a história de lutas de Maria e Luiz Carlos Prestes. "Neste livro, Maria conta a sua vida, de forma contagiante. Nos revela não apenas a sua trajetória pessoal e a relação de quatro décadas com Prestes, mas sobretudo nos apresenta o ponto de vista de uma mulher talentosa e guerreira sobre um período importante da história do Brasil. Maria é direta e simples, exemplo da fibra da mulher brasileira que, ao ler este livro, vocês vão conhecer", diz a presidenta.
Em declaração sobre o livro, a escritora Raquel de Queiroz afirma que uma história com tantos fatos importantes é contada por Maria Prestes em tom "tão comoventemente discreto, tão belo na sua simplicidade; sem jactância nos momentos de poder e prestígio, sem ressentimentos após a ruptura. Um depoimento singelamente ditado pelo amor, pela incansável dedicação, pela necessidade de repor em seu lugar a verdade".
De acordo com Boris Schnaiderman, professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP), Maria expõe na publicação um Preste que vai além da imagem que se tem dele, de homem inabalável. "Desfeito o mito, esta simples voz humana, em meio aos escombros, impressiona por sua inteireza e perspicácia. E o livro em que ela nos fala, surpreendente e rico, por mais que se apresente despojado e sem pretensão, torna-se indispensável para uma compreensão mais plena dos anos tormentosos no mundo, a partir da década de 1920", defende.
Nossa fonte: Vermelho

A criminalização da política

Laurindo Lalo Leal Filho - de São Paulo

Política para a mídia brasileira em geral é sinônimo de escândalo. Para grande parte da população resume-se a eleições.

A mídia brasileira relaciona política a escândalos de corrupção     Pessoas menos informadas costumam referir-se ao ano eleitoral como o “ano da política”, fechando dessa forma o círculo da incultura cívica do país, do qual não escapa um ensino alheio ao tema.
Nação de base escravocrata, às camadas subalternas brasileiras sempre foi negado o direito de efetiva participação no jogo político.
     Como concessão permite-se o exercício do voto, dentro de regras restritivas, feitas sob modelo para perpetuação das elites tradicionais no poder.
     O descompasso entre presidentes da República eleitos a partir de programas de governo reformistas, com apelo popular, e composições parlamentares no Congresso conservadoras e patrimonialistas têm sido uma constante da política brasileira desde a metade do século passado.
     O suicídio de Vargas e o golpe de Estado sacramentado pelo senador Auro de Moura Andrade em 1964 ao declarar vaga a presidência da República legalmente ocupada pelo presidente João Goulart são símbolos da ambiguidade política brasileira, na qual enquadra-se até a renúncia tresloucada de Jânio Quadros. Cabem aí também as chantagens exercidas por grupos parlamentares contra os governos Lula e Dilma, obrigando-os a dolorosas composições partidárias.
     Diferentemente da eleição majoritária, onde os candidatos a chefe do executivo falam às grandes massas e são obrigados a mostrar seus projetos nacionais, deputados e senadores apóiam-se no voto paroquial, no compadrio, no tráfico de influência, herdeiros que são do velho coronelismo eleitoral.
     E no Congresso, sem compromisso ideológico com o eleitor, defendem os interesses dos financiadores de suas campanhas, quase sempre poderosos grupos econômicos do campo e da cidade, ao lado das igrejas e até de entidades esportivas.
     São candidaturas cujo sucesso só ocorre pela falta de um crivo crítico, proporcionado por debates constantes que apenas a mídia tem condições de oferecer em larga escala. No entanto, jornais, revistas, o rádio e a televisão não estão interessados em mudanças. Por pertencerem, no geral, aos herdeiros dos escravocratas (reais ou ideológicos), a existência de um eleitorado esclarecido e consciente apresenta-se como um perigo para os seus interesses.
     Por isso, usam de todos os meios para manter a maioria da população distante da política, criminalizado-a sempre que possível.
     As raízes da tensão histórica existente entre o executivo e o legislativo brasileiros não fazem parte da pauta da mídia nacional.
     Como também não fazem parte as várias propostas existentes no Congresso voltadas para uma necessária e urgente reforma política.
     Entre elas, por exemplo, a que acaba com o peso desigual dos votos de cidadãos de diferentes Estados, as que propõem a adoção do voto distrital misto, o financiamento público de campanha ou até o fim do Senado, cujo debate e votação são sempre bloqueados pelos grupos conservadores dominantes.
     O dever social da mídia seria o de ampliar esse debate, levando-o à toda sociedade e tornando seus membros participantes regulares da vida política nacional. Mas ela não presta esse serviço.
     Prefere destacar apenas os desvios éticos de parlamentares e os “bate-bocas” nas CPIs. São temas que caem como uma luva nas linhas editoriais dos grandes veículos, movidas por escândalos e tragédias espetaculares, sempre tratadas como fait-divers, sem causas ou consequências, apenas como show.
     O resultado é a criação de um imaginário popular que nivela por baixo toda a atuação política institucionalizada. Seus atores são desacreditados, mesmo aqueles com compromissos sérios, voltados para interesses sociais efetivos.
     A definição de uso corrente de que “são todos iguais” reflete essa imagem parcial e deformada da política, criada pela mídia.
     No caso específico da televisão, por onde se informa a maioria absoluta da população, a situação é ainda mais grave.
     O Brasil é a única grande democracia do mundo onde não existem debates políticos regulares nas redes nacionais abertas.
    Só aparecem, por força de lei, às vésperas dos pleitos, reforçando ainda mais a ideia popular de que política resume-se a eleições.
     Ao exercerem no cotidiano a criminalização da política, os meios de comunicação, em sua maioria, brincam com o fogo, traçando o caminho mais curto em direção ao golpismo.

Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.
Nossa fonte: Correio do Brasil