Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade
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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Solidariedade ao povo do Egito


A multidão contra o ditador 
    
      Manifestantes são atacados pela polícia egípcia na ponte Qasr al-Nil, perto da Praça Tahrir, no Cairo, em 28 de janeiro
      por Robert Fisk/The Guardian 
      Tradução: Coletivo Vila Vudu/São Paulo
    

Pode ser o fim. Com certeza é o começo do fim. Em todo o Egito, dezenas de milhares de árabes enfrentaram gás lacrimogêneo, canhões de água, granadas e tiroteio para exigir o fim da ditadura de Hosni Mubarak depois de mais de 30 anos.

Enquanto Cairo mergulha em nuvens de gás lacrimogêneo das milhares de granadas lançadas contra multidões compactas, era como se a ditadura de Mubarak realmente andasse rumo ao fim. Ninguém, dos que estávamos ontem nas ruas do Cairo, tínhamos nem ideia de por onde andaria Mubarak - que mais tarde apareceria na televisão, para demitir todos seus ministros. Nem encontrei alguém preocupado com Mubarak.

Eram dezenas de milhares, valentes, a maioria pacíficos, mas a violência chocante dos battagi - em árabe, a palavra significa literalmente "bandidos" - uniformizados sem uniforme das milícias de Mubarak, que espancaram, agrediram e feriram manifestantes, enquanto os guardas apenas assistiam e nada fizeram, foi uma desgraça. Esses homens, quase todos dependentes de drogas e ex-policiais, eram ontem a linha de frente do Estado egípcio. Os verdadeiros representantes de Hosni Mubarak.

Num certo momento, havia uma cortina de gás lacrimogêneo por cima das águas do Nilo, enquanto as milícias antitumultos e os manifestantes combatiam sobre as grandes pontes sobre o rio. Incrível. A multidão levantou-se e não mais aceitará a violência, a brutalidade, as prisões, como se essa fosse a parte que lhe coubesse na maior nação árabe do planeta. Os próprios policiais pareciam saber que estavam sendo derrotados. "E o que podemos fazer?" - perguntou-nos um dos guardas das milícias antitumulto. "Cumprimos ordens. Pensam que queremos isso? Esse país está despencando ladeira abaixo." O governo impôs um toque de recolher noite passada. A multidão ajoelhou-se para rezar, à frente da polícia.

Como se descreve um dia que pode vir a ser página gigante da história do Egito? Os jornalistas devem abandonar as análises e apenas narrar o que aconteceu da manhã à noite, numa das cidades mais antigas do mundo. Então, aí está a história como a anotei, garatujada no meio da multidão que não se rendeu a milhares de policiais uniformizados da cabeça aos pés e e milicianos sem uniforme.

Começou na mesquita Istikama na Praça Giza: um sombrio conjunto de apartamentos de blocos de concreto, e uma fileira de policias especializados em controle de tumultos que se estendia até o Nilo. Todos sabíamos que Mohamed ElBaradei ali estaria para as orações do meio dia e, de início, parecia que não haveria muita gente. Os policiais fumavam. Se fosse o fim do reinado de Mubarak, aquele começo do fim pouco impressionava.

Mas então, logo que as últimas orações terminaram, uma multidão de fiéis apareceu na rua, andando em direção aos policiais. "Mubarak, Mubarak", gritavam, "a Arábia Saudita o espera". Foi quando os canhões de água foram virados na direção da multidão - a polícia estava organizada para atacar os manifestantes, mesmo não sendo atacada. A água atingiu a multidão e em seguida os canhões foram apontados diretamente contra ElBaradei, que retrocedeu, encharcado.

ElBaradei desembarcara de Viena poucas horas antes, e poucos egípcios creem que chegue a governar o Egito - diz que só veio para ajudar como negociador -, mas foi atacado com brutalidade, uma desgraça. O político egípcio mais conhecido e respeitado, Prêmio Nobel, trabalhou como principal inspetor da Agência Nuclear da ONU, ali, encharcado como gato de rua. Creio que, para Mubarak, ElBaradei não passaria de mais um criador de confusão, com sua "agenda oculta" - essa, precisamente, é a linguagem que o governo egípcio fala hoje.

Aí, começaram as granadas de gás lacrimogêneo. Alguns milhares delas, mas algo aconteceu, enquanto eu caminhava ao lado dos lança-granadas. Dos blocos de apartamentos e das ruas à volta, de todas as ruas e ruelas, centenas, depois de milhares de pessoas começaram a aparecer, todas andando em direção à Praça Tahrir. Era o movimento que a polícia queria impedir. Milhares de cidadãos em manifestação no coração da cidade do Cairo daria a impressão de que o governo já caíra. Já haviam cortado a internet - o que isolou o Egito, do resto do mundo - e todos os sinais de telefonia celular estavam mudos. Não fez diferença.

"Queremos o fim do regime", gritavam as ruas. Talvez não tenha sido o mais memorável brado revolucionário, mas gritaram e gritaram e repetiram, até derrotar a chuva de granadas de gás lacrimogêneo. Vinham de todos os lados da cidade do Cairo, chegavam sem parar, jovens de classe média de Gazira, os pobres das favelas de Beaulak al-Daqrour, todos marchando pelas pontes sobre o Nilo, como um exército. Acho que sim, são um exército.

A chuva de granadas de gás continuava sobre eles. Tossiam e esfregavam os olhos e continuavam andando. Muitos cobriram a cabeça e a boca com casacos e camisetas, passando em fila pela frente de uma loja de sucos, onde o dono esguichava limonada diretamente na boca dos passantes. Suco de limão - antídoto contra os efeitos do gás lacrimogêneo - escorria pela calçada e descia pelo esgoto.

Foi no Cairo, claro, mas protestos idênticos aconteceram por todo o Egito, como em Suez, onde já há 13 egípcios mortos.

As manifestações não começaram só nas mesquitas, mas também nas igrejas coptas. "Sou cristão, mas antes sou egípcio" - disse-me um homem, Mina. "Quero que Mubarak se vá!" E foi quando apareceram os primeiros bataggi sem uniforme, abrindo caminho até a frente das fileiras da polícia uniformizada, para atacar os manifestantes. Estavam armados com cassetetes de metal - onde conseguiram? - e barras de ferro, e poderão ser julgados e condenados por agressão grave e assassinato, se o regime de Mubarak cair. São pervertidos. Vi um homem chicotear um jovem pelas costas, com um longo cabo amarelo. O rapaz gritou de dor. Por toda a cidade, os policiais uniformizados andam em pelotões, o sol refletindo no visor dos capacetes. A multidão já deveria ter sido intimidada, àquela altura, mas a polícia parecia feia, como pássaros encapuzados. E os manifestantes alcançaram a calçada da margem leste do Nilo.

Alguns turistas foram colhidos de surpresa no meio do espetáculo - vi três senhoras de meia idade, numa das pontes do Nilo (os hotéis, claro, não informaram os hóspedes sobre o que estava acontecendo -, mas a polícia decidiu que fecharia a extremidade leste do viaduto. Dividiram-se outra vez, para deixar passar as milícias não uniformizadas, e esses brutamontes atacaram a primeira fileira dos manifestantes. E foi quando choveu a maior quantidade de granadas de gás, centenas de granadas, em vários pontos, contra a multidão que andava sem parar por todas as grandes vias, em direção cidade. Os olhos ardem, e tosse-se horrivelmente, até perder o fôlego. Alguns homens vomitavam nas soleiras das portas fechadas das lojas.

O fogo começou, ao que se sabe, noite passada, na sede do NDP, Partido Democrático Nacional, partido de Mubarak. O governo impôs um toque de recolher, e há relatos de tropas na cidade, sinal grave de que a polícia pode ter perdido o controle dos acontecimentos. Nos abrigamos no velho Café Riche, perto da Praça Telaat Harb, restaurante e bar minúsculo, com garçons vestidos de azul; e ali,  tomando café, estava o grande escritor egípcio Ibrahim Abdul Meguid, bem ali à nossa frente. Foi como dar de cara com Tolstoi, almoçando em plena revolução russa. "Mubarak está sem reação!" - festejou ele. "É como se nada estivesse acontecendo. Mas vai, agora vai. O povo fará acontecer!" Sentamos, ainda tossindo e chorando por causa do gás. Foi desses instantes memoráveis, que acontecem mais em filmes que na vida real.

E havia um velho na calçada, cobrindo os olhos com a mão. Coronel da reserva Weaam Salim do exército do Egito, que saiu para a rua com todas as suas medalhas da guerra de 1967 contra Israel - que o Egito perdeu - e da guerra de 1973 que, para o coronel, o Egito venceu. "Estou deixando o piquete dos soldados veteranos" - disse-me ele. "Vou-me juntar aos manifestantes". E o exército? Não se viram soldados do exército durante todo o dia. Os coronéis e brigadeiros mantêm-se em silêncio. Estarão à espera da lei marcial de Mubarak?

As multidões não obedeceram ao toque de recolher. Em Suez, caminhões da polícia foram incendiados. Bem à frente do meu hotel, tentaram jogar no rio Nilo um caminhão da Polícia. Não consegui voltar à parte ocidental do Cairo pelas pontes. As granadas de gás ainda empesteiam as margens do Nilo. Mas um policial ficou com pena de nós - emoção absolutamente inexistente, devo dizer, ontem, entre os policiais - e nos guiou até a margem do rio. E ali estava uma velha lancha egípcia a motor, de levar turistas, com flores plásticas e proprietário disponível. Voltamos em grande estilo, bebendo Pepsi. Cruzamos com uma lancha amarela, super rápida, da qual dois homens faziam sinais de vitória para a multidão sobre as pontes. Uma jovem, sentada na parte de trás da lancha, carregava uma imensa bandeira: a bandeira do Egito. 

Ver original em http://www.independent.co.uk/news/world/africa/robert-fisk-a-people-defies-its-dictator-and-a-nations-future-is-in-the-balance-2197769.html

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Especial da Maurício Grabois em homenagem a A. Gramsci

120 anos de Antônio Gramsci
(Fonte: O Berro)


  a.. Construir ou tomar o poder? A estratégia socialista de Marx a Gramsci
  Qual o papel da coerção e do consentimento na dominação de classes nos Estados modernos? Marx, Lênin, Mao e Gramsci enfrentaram essa questão na busca dos caminhos da revolução.
  Por Lincoln Secco
  Publicado em 22.01.2011

  b.. Crise e revolução em Marx e Gramsci
  O pensamento revolucionário deve apropriar-se criticamente do legado marxista de Antonio Gramsci e retomar as leituras reformistas "A política não pode deixar de ter primazia sobre a economia. Pensar o contrário é esquecer o abc do marxismo" (Lênin).
  Por Lincoln Secco
  Publicado em 22.01.2011

  c.. Gramsci e a Escrita da História
  Gramsci utilizou a literatura como documento histórico. Mesmo no cárcere, isolado da luta política, contrubuiu com a teoria marxista, analisando a história a partir dos elementos que lhe eram possíveis Nenhum teórico marxista estabeleceu um diálogo mais fecundo da modernidade com a tradição ocidental antiga e medieval do que Antonio Gramsci.
  Por Lincoln Secco
  Publicado em 22.01.2011

  d.. Gramsci, Lênin e a questão da hegemonia
  Criou-se um hábito - um mau hábito - de se separar um autor das bases teóricas que lhes serviram de suporte; separá-lo de seus pressupostos teóricos e históricos imediatos. Esta separação levou alguns a conferirem os louros de pensamento original, no sentido de exclusividade, a autores cujo grande mérito foi justamente desenvolver teses elaboradas por outros, ainda que as enriquecendo. Nos trabalhos acadêmicos sobre Gramsci parece ser bastante comum este procedimento. Estudou-se, e escreveu-se, sobre o pensamento de Gramsci desvinculando-o de seus pressupostos teóricos e políticos imediatos, que foram o pensamento e a ação política de Lênin. E Gramsci foi, em minha opinião, acima de tudo um leninista.
  Por Augusto C. Buonicore
  Publicado em 21.01.2011

  e.. Ideologia e intelectuais na obra de Antônio Gramsci
  Ele concebe a ideologia como "uma concepção de mundo que se manifesta implicitamente na arte, no direito, nas atividades econômicas e em todas as manifestações da vida intelectual e coletiva". (1) Portanto, para Gramsci, a ideologia estaria presente em todas as atividades humanas, não se traduziria apenas no campo da produção de ideias.
  Por Augusto C. Buonicore
  Publicado em 21.01.2011

  f.. A vida e a obra de Antônio Gramsci
  O autor, através deste artigo, pretende mostrar em grandes traços alguns momentos da vida e da elaboração teórica do dirigente comunista italiano Antônio Gramsci. Apesar de sua importância para o movimento comunista nas décadas de 1920 e 1930, sua vida e obra são ainda pouco conhecidas pelo conjunto da militância socialista no Brasil.
  Por Augusto C. Buonicore
  Publicado em 21.01.2011

  g.. Torino Rossa: os Conselhos de Fábrica na Itália
  Com o impacto da Revolução Russa de 1917 e a crise econômica e social do pós-guerra, o movimento operário italiano adquiriu uma dimensão até então nunca vista. Isso fez com que a burguesia, amedrontada, lhe concedesse alguns direitos sociais. Nesse mesmo período começou a se desenvolver um novo instrumento de organização e de luta dos trabalhadores: as comissões internas de fábrica.
  Por Augusto César Buonicore
  Publicado em 21.01.2011

  h.. Antônio Gramsci: chefe da classe operária italiana
  Quando Antônio Gramsci, deputado ao Parlamento Italiano e portanto protegido pelas imunidades asseguradas na Constituição, acusado de crimes que não havia cometido, foi arrastado ao Tribunal Especial de Roma, em 1928, o procurador fascista não se deu ao trabalho de demonstrar que as acusações, lançadas contra ele, se baseavam cm fatos.
  Por Palmiro Togliatti
  Publicado em 20.01.2011

  i.. Dossiê: Gramsci e a política
  É inegável a influência do pensamento de Antonio Gramsci nas Ciências Sociais brasileiras1. Desde que Florestan Fernandes levou a cabo o complexo e sofisticado projeto intelectual de fusão do método funcionalista de Émile Durkheim com o método compreensivo de Max Weber e o método dialético de Karl Marx, este último havia recebido a legitimidade que lhe permitia integrar a matriz do pensamento social brasileiro. E mesmo aceito a contragosto por uma ciência em via de institucionalização, ele lá permaneceu como dos clássicos das Ciências Sociais, ou pelo menos dessa forma particular que as Ciências Sociais assumiram em nosso país. Mas Gramsci? O que ele está fazendo nessa matriz?
  Por Álvaro Bianchi
  Publicado em 20.01.2011

  j.. O pensamento de Gramsci na época da mundialização
  O ano de 1997, sexagésimo aniversário da morte de Gramsci, foi um ano de celebrações em todo o mundo, aberto pelo seminário ocorrido no mês de fevereiro em Havana, que pela primeira vez sediava um encontro internacional inteiramente dedicado ao pensamento gramsciano; e continuado em seguida com encontros internacionais de estudo na Itália - Cagliari, Nápoles e Turim - mas também no Japão, em Kyoto, e no Brasil, em Juiz de Fora e outras universidades; e ainda em muitos outros países e lugares.
  Por Guido Liguori
  Publicado em 20.01.2011

  k.. A economia política de Gramsci
  Giorgio Lunghini, em sua introdução à coletânea antológica dos Escritos de economia política de Gramsci, recentemente publicada por Bollati Boringhieri, quase sentiu a necessidade de "justificar" a atribuição de um título como este aos textos nela incluídos, que vão desde os escritos anteriores à prisão até algumas das notas dos Cadernos. "A teoria econômica de Gramsci - escreve - é a crítica marxiana da economia política (verdadeiro título de O capital)".
  Por Luigi Cavallaro
  Publicado em 20.01.2011

  l.. Gramsci e o americanismo
  À primeira vista pode parecer surpreendente que um pensador como Gramsci, inteiramente comprometido com a práxis marxista, tenha se dedicado ao tema do americanismo, território distante das análises clássicas desta vertente, e mesmo resistente à organização operária de tipo comunista. Num exame mais detido, entretanto, a surpresa se desfaz.
  Por Felipe Maia Guimarães da Silva (1)
  Publicado em 20.01.2011

  m.. Togliatti, Gramsci e o fascismo
  O primeiro elemento teórico de destaque no pensamento de Togliatti (ainda em fase de maturação, no segundo lustro dos anos vinte) foi, sem sombra de dúvida, o uso, originado pela sua adesão juvenil ao historicismo, da categoria de "análise diferenciada".
  Por Marco Mondaini - 2003
  Publicado em 20.01.2011

  n.. Americanismo e direito
  A visível e crescente expansão do direito, dos seus procedimentos e instituições sobre a política e a sociabilidade da vida contemporânea tem sido objeto de uma vasta produção que não mais se contém no seu campo específico de conhecimento, tornando-se matéria corrente da reflexão de vanguarda da teoria social e da filosofia política.
  Por Luiz Werneck Vianna - Novembro 2005
  Publicado em 20.01.2011

  o.. Atualidade de Gramsci
  Coube-me, como tema de abertura deste seminário [Franca, 1997], falar sobre a atualidade de Gramsci. Irei me deter aqui em algumas das razões pelas quais, em minha opinião, Gramsci continua atual, talvez mais atual do que nunca. Digo "algumas" porque, decerto, são muitíssimas as razões que asseguram essa atualidade.
  Por Carlos Nelson Coutinho - 1997
  Publicado em 20.01.2011
  p.. ntônio Gramsci
  
    a.. A questão da ideologia em Gramsci
    O italiano Antonio Gramsci desenvolveu uma interpretação bastante original da filosofia de Marx. Para ele, a perspectiva do pensador alemão era a de um "historicismo absoluto". No essencial, o pensamento de Marx nos desafia - sempre! - a pensar historicamente. E esse desafio nos põe diante tanto de possibilidades magníficas como de dificuldades colossais.
    Por Leandro Konder - 2002
    Publicado em 20.01.2011

    b.. A biblioteca gramsciana na prisão
    A história do livro e da leitura constitui um campo de estudo de muitas possibilidades analíticas. Numa zona intermediária que une a história social e a história econômica, ela tem inspirado estudos sobre livrarias, livreiros, editoras, bibliotecas [1]. É também um ramo fecundo para iluminar novas facetas da Revolução Francesa (por exemplo, os estudos de Robert Darnton), da história cultural (Roger Chartier), da História Antiga (Luciano Canfora e Guglielmo Cavallo). Desde o clássico de Daniel Mornet (As origens intelectuais da Revolução Francesa), foi possível ampliar muito o conhecimento das relações (nem sempre tão diretas) entre as luzes e a Revolução.
    Por Lincoln Secco - Dezembro 2005
    Publicado em 20.01.2011

    c.. Gramsci: uma introdução
    Tradução: Luiz Sérgio Henriques
    Por Valentino Gerratana - 1997
    Publicado em 20.01.2011

    d.. Cronologia da vida de Antonio Gramsci
    Da edição brasileira dos Cadernos - 1999
    Por Tradução: Carlos Nelson Coutinho
    Publicado em 20.01.2011

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Alerta, agora, vem do DIEESE


Dieese: é preciso mudar o rumo do debate sobre inflação e juros

(Fonte: Vermelho)

A aceleração da inflação tem servido, no Brasil, de pretexto para a elevação da taxa básica de juros, que em termos reais (descontada a inflação) é, de longe, a maior do mundo. A recente alta de preços de alguns produtos agrícolas e de commodities deve provocar uma nova rodada de aperto da política monetária, já iniciada na última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que elevou a Selic de 10,75% para 11,25% ao ano e sinalizou com novos aumentos.

Em Nota Técnica (nº 94) o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) questiona a orientação conservadora do BC, que tem múltiplos efeitos negativos sobre a economia nacional, promove uma transferência perversa de renda para a oligarquia financeira e prejudica, em particular, os interesses da classe trabalhadora.

Outras alternativas

Esta medida (alta dos juros), argumenta a nota, acaba se refletindo em valorização do real, encarecimento do crédito e arrefecimento da elevação dos preços pela queda da demanda e concorrência dos produtos importados mais baratos. É, portanto, necessário pensar em outras alternativas, recomenda o órgão, que aponta a necessidade de criar uma agenda, ainda que incompleta, de debates para mudanças na política econômica.
O argumento reflete as preocupações levantadas pelas centrais sindicais, que condenaram a última elevação da Selic e lutam por taxas de juros mais civilizadas ou compatíveis com as que são praticadas no exterior.

Dívida pública

Um efeito relevante do aumento dos juros apontado pelo estudo é o aumento da dívida pública “atrelada à taxa Selic e à valorização do real.O aumento da dívida obriga o governo federal a apertar o orçamento público com corte de gastos e/ou aumento de impostos para garantir um superávit das contas públicas. O aumento do superávit (receita-despesa) é para evitar o crescimento da relação dívida/Produto Interno Bruto (PIB). O outro efeito não menos importante é a valorização da moeda nacional”.
“Após 1999”, quando foi adotado o regime de metas inflacionárias, lembra o Dieese, “toda vez que a taxa anual de inflação ameaçou ultrapassar o centro da meta, o Banco Central (BC) acionou a política monetária, na maioria das vezes elevando a taxa básica de juros”. As decisões se pautam, agora, pelo pressuposto de que o ritmo de crescimento não pode ultrapassar certos limites.

Causas da inflação


A economia brasileira passou por um processo de maior internacionalização desde os anos 1990, ampliando o grau de abertura ao exterior. Numa economia mais aberta, assinala a Nota Técnica, a elevação dos preços internacionais das commodities agrícolas e minerais (trigo, milho, soja, açúcar, petróleo, minério de ferro, entre outros) ocorrida em 2007/2008 e em 2010 é transmitida mais rapidamente para os preços internos.
Trata-se de uma inflação “importada”, que requer uma combinação de políticas para evitar o impacto sobre a inflação doméstica, políticas tarifárias e de abastecimento para mitigar a contaminação dos preços externos maiores na formação dos preços no país. Com base na evolução do ICV-Dieese, ilustrada com gráficos no estudo, o órgão que assessora o movimento sindical afirma que a elevação do patamar de inflação nos últimos meses de 2010 tem origem no aumento dos preços agrícolas in natura, destacando-se a forte alta das carnes e do feijão. Os preços do açúcar, leite, óleo de soja e álcool também contribuíram para a elevação da inflação nos últimos meses.”
Vale citar que os grupos de despesas que superaram a inflação acumulada nesses 14 anos (142,24%) foram: Alimentação, Transporte, Educação e Saúde. Os que ficaram abaixo foram: Habitação, Equipamento Doméstico, Vestuário e Despesas Pessoais. O grupo Alimentação, contudo, só superou claramente a taxa média de inflação a partir de 2007. Até então, apresentou uma evolução abaixo da média, contribuindo para “segurar” a inflação.

Salário e preços


O documento lembra que alguns países utilizam um indicador de núcleo da inflação para acionar a política de combate à elevação dos preços. O núcleo, em geral, exclui os preços de produtos agrícolas e de energia, que oscilam com mais intensidade em função de choques de oferta e movimentos especulativos. No caso brasileiro, este movimento não é diferente. A elevação do preço de um produto agrícola não é duradoura na maior parte das vezes. Preços que sobem costumam atrair investimentos na produção que ampliam a oferta e contribuem para a queda no momento seguinte.
A suposição de que os salários promovem inflação também é rebatida. Recorda-se na nota que depois de uma pequena elevação em 1986, os salários reais apresentam uma expressiva queda entre 1986 e 1992. Voltam a crescer entre 1992 e 1997. Caem novamente entre 1996 e 2003 e praticamente se estabilizam a partir de 2004. O nível atual do salário real encontra-se muito abaixo daquele observado em 1985.
Embora a situação mais favorável do mercado de trabalho nos últimos anos tenha
contribuído para a discreta elevação dos salários reais, o nível salarial no Brasil é baixo em qualquer comparação que se faça com os países desenvolvidos. Qualquer política que busque frear esse movimento de elevação recente caminha na contramão de um projeto de desenvolvimento que tem como objetivos centrais a redução da desigualdade de renda e a elevação da participação dos salários na renda nacional.

Questão estratégica


A entidade salienta que para o movimento sindical brasileiro, a questão salarial é estratégica e integra o projeto de desenvolvimento apresentado pelas Centrais Sindicais Brasileiras ao governo federal. E indaga: Qual é, então, a relação entre a elevação da inflação nos últimos meses e os salários?
O primeiro impacto da elevação da inflação é a corrosão do poder aquisitivo dos salários,
levando o movimento sindical a lutar pela reposição dessa inflação mais alta. Para os trabalhadores, há uma forte percepção do aumento do custo de vida, uma vez que a elevação de preços de alimentos essenciais (carne, feijão, soja, açúcar, leite, entre outros) atinge diretamente o “bolso” do trabalhador.
Em outra dimensão, o desafio principal é evitar que eventuais medidas que venham a ser
tomadas para combater o aumento da inflação dificultem a trajetória positiva de crescimento do emprego e dos salários. Nesse momento, o risco maior é a desaceleração da atividade econômica através da elevação dos juros e da contração do crédito. Quanto mais forte o desaquecimento da economia, maiores as dificuldades para que o movimento sindical continue conquistando aumentos reais de salários.

Crescimento e valorização do trabalho


Nos últimos anos, especialmente a partir de 2004, a economia brasileira cresceu num ritmo
mais intenso que o das duas décadas anteriores. A taxa média de crescimento dobrou em relação ao período anterior. Esse resultado esteve apoiado no aumento do valor real do salário mínimo, nos programas de transferência de renda para os mais pobres e na expansão do crédito. Nesses anos houve permanente elevação do consumo das famílias e da taxa de investimento (formação bruta de capital). Contudo, a sustentação do crescimento vai depender, em grande medida, da contínua elevação dos salários reais, do consumo e do investimento doméstico.
Tudo indica que a economia brasileira pode continuar crescendo a taxas altas nos próximos
anos. Assim, o combate à inflação nos próximos meses deve incluir medidas que não interrompam essa trajetória, como ocorreu em 2005, quando a taxa de crescimento caiu de 5,7%, em 2004, para 3,2% em 2005.
Trata-se de aproveitar a oportunidade para aprofundar o debate público de forma a contribuir para a construção de medidas inovadoras no combate à inflação, preservando o crescimento econômico e a redução da desigualdade de renda pela elevação do emprego e dos salários.

Rentismo
 
Assim, se o combate à inflação no início de 2011 for feito repetindo a cartilha de elevação
da Selic, vão ser ampliados os riscos de desaquecimento econômico e de valorização do real. E também os riscos de desindustrialização e de exportação de empregos.
Reforma do sistema financeiro e controle do fluxo de capitais em contraposição à política monetária conservadora do BC são duas das propostas elencadas no documento, que conclui: Políticas de abastecimento e mudanças nos mecanismos de financiamento de curto prazo da dívida pública para reduzir os juros podem iniciar um debate público que altere os rumos da política econômica no combate à inflação, especialmente quando sua elevação decorre de fatores conjunturais como choques de oferta e/ou especulativos, internos ou externos, como o que se observa nos últimos meses. Em outras palavras, é uma oportunidade de discutir um dos traços mais perversos que impedem uma aceleração do crescimento no Brasil: o “rentismo” que beneficia apenas aqueles que estão no topo da pirâmide de renda.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Beba água para não ter ressaca


A HORA CORRETA PARA TOMAR ÁGUA
 (Fonte: O Berro)

Você vai ao bar e bebe uma cerveja. 
Bebe a segunda cerveja. A terceira e assim por diante.
O teu estômago manda uma mensagem pro teu cérebro dizendo "Caracas véio... o cara tá bebendo muito liquido, tô cheião!!!" 
Teu estômago e teu cérebro não distinguem que tipo de liquido está sendo ingerido, ele sabe apenas q "é líquido". 
Quando o cérebro recebe essa mensagem ele diz: "Caracas, o cara tá maluco!!!" 
E manda a seguinte mensagem para os Rins "Meu, filtra o máximo de sangue que tu puderes, o cara aí tá maluco e tá bebendo muito líquido, vamo botar isso tudo pra fora" e o RIM começa a fazer até hora-extra e filtra muito sangue e enche rápido. 
Daí vem a primeira corrida ao banheiro. Se você notar, esse 1º xixi é com a cor normal, meio amarelado, porque além de água, vem as impurezas do sangue. 
O RIM aliviou a vida do estômago, mas você continua bebendo e o estomago manda outra mensagem pro CÉREBRO "Cara, ele não pára, socorro!!!" e o CÉREBRO manda outra mensagem pro RIM "Véio, estica a baladeira, manda ver aí na filtragem!!!" 
O RIM filtra feito um louco, só q agora, o q ele expulsa não é o álcool, ele manda pra bexiga apenas ÁGUA (o líquido precioso do corpo). Por isso que as mijadas seguintes são transparentes, porque é água. E quanto mais você continua bebendo, mas o organismo joga água pra fora e o teor de álcool no organismo aumenta e você fica mais "bunitim". 
Chega uma hora q você tá com o teor alcoólico tão alto q teu CÉREBRO desliga você. Essa é a hora que você desmaia... dorme... capota... 
Ele faz isso porque pensa "Meu, o cara tá a fim de se matar, tá bebendo veneno pro corpo, vou apagar esse doido pra ver se assim ele pára de beber e a gente tenta expulsar esse álcool do corpo dele" 
Enquanto você está lá, apagado (sem dono), o CÉREBRO dá a seguinte ordem pro sangue "Bicho, apaguei o cara, agora a gente tem que tirar esse veneno do corpo dele. O plano é o seguinte, como a gente está com o nível de água muito baixo, passa em todos os órgãos e tira a água deles e assim a gente consegue jogar esse veneno fora". 
O SANGUE é como se fosse o Boy do corpo. E como um bom Boy, ele obedece as ordens direitinho e por isso começa a retirar água de todos os órgãos. Como o CÉREBRO é constituído de 75% de água, ele é o que mais sofre com essa "ordem" e daí vêm as terríveis dores de cabeça da ressaca. 
Então, sei que na hora a gente nem pensa nisso, mas quando forem beber, bebam de meia em meia hora um copo d'água, porque na medida que você mija, já repõe a água.

Sabia que tomar água na hora correta maximiza os cuidados no corpo humano?

2 copos de água depois de acordar ajuda a ativar os órgãos internos.
1 copo de água 30 minutos antes de comer ajuda na digestão.
1 copo de água antes de tomar banho ajuda a baixar a pressão sanguínea.
1 copo de água antes de ir dormir evita ataques do coração.


domingo, 23 de janeiro de 2011

III Encontro Internacional Civilização ou Barbárie


Desafios do Mundo Contemporâneo - Declaração Final 
(Fonte: O Berro) 

Reunidos na cidade portuguesa de Serpa, os participantes no III Encontro Internacional Civilização ou Barbárie - Desafios do Mundo Contemporâneo lançam um alerta quanto ao agravamento da crise global do sistema capitalista.

  a.. Constatam que pela evolução dessa crise - política, social, financeira, económica, militar, energética, cultural e ambiental - o capitalismo, na sua escalada de agressividade, se tornou um factor de regressão absoluta da civilização, ameaçando a própria continuidade da vida na Terra. 

  b.. Sublinham que os EUA, núcleo do sistema capitalista, optaram por uma estratégia de terrorismo de Estado que assume matizes genocídas nas suas guerras asiáticas. 

  c.. Identificam na União Europeia um bloco politico-económico-militar ao serviço do capital monopolista, empenhado em impor, através do chamado Tratado Constitucional, um reforço da integração capitalista, aprofundando o seu carácter federalista, neoliberal e militarista.

  d.. Saúdam a resistência dos povos europeus à ofensiva em curso contra os seus direitos e garantias,contra as soberanias nacionais e a democracia, ofensiva que promove o desemprego e a pauperização, favorece o grande capital, e suprime direitos laborais e sociais,sobretudo nos sectores da Saúde, da Educação, da segurança social,destruindo conquistas históricas dos trabalhadores, e atingindo com particular violência as mulheres trabalhadoras. As gigantescas manifestações de protesto em França, em Espanha, Italia, Portugal e sobretudo na Grécia confirmam que a radicalização da luta de massas, como resposta à violência do sistema, se amplia a nível continental.

  e.. Condenam as guerras imperiais que atingem os povos do Iraque e do Afeganistão, agredidos e ocupados e os monstruosos crimes ali cometidos pelas forças armadas dos EUA e da NATO, com a aprovação e cumplicidade do Governo português; denunciam como farsa os calendários de retirada das tropas invasoras; advertem que autênticos exércitos de mercenários se comportam na Região como hordas fascistas; e saúdam a resistencia dos povos iraquiano e afegão em luta pela liberdade e independencencia.

  f.. Manifestam a sua solidariedade com o povo mártir da Palestina e o povo do Líbano no seu combate heróico contra o sionismo neofascista. Denunciam o Tribunal Especial das Naçóões Unidas sobre o Líbano como mero serventuário dos EUA e de Israel. Denunciam a hipocrisia da falsa política de paz do governo Obama, aliado incondicional do sionismo e do Estado terrorista de Israel.

  g.. Advertem contra o perigo de uma agressão iminente dos EUA e de Israel ao povo do Irão - agressão que poderia ser o prólogo da III Guerra Mundial - e denunciam a campanha de desinformação montada para deformar a imagem daquela nação que foi berço de grandes civilizações.

  h.. Alertam para a política de cerco militar e guerra fria que os EUA conduzem contra a República Popular da China.

  i.. Condenam as intervenções militares directas e indirectas do imperialismo estadounidense na America Latina; denunciam o regresso da IV Frota da US Navy a águas sul americanas e a instalação de 7 novas bases norte-americanas na Colômbia e reclamam o encerramento de todas as existentes no Continente, incluindo a de Guantanamo, ocupada ilegalmente em Cuba.


  j.. Denunciam a participação do governo dos EUA, através da CIA e do Pentágono, no golpe de estado nas Honduras e na fracassada intentona no Equador e saúdam as conquistas democráticas e as medidas anti-imperialistas alcançadas pelos governos progressistas de Evo Morales na Bolívia e de Rafael Correa no Equador.

  k.. Saúdam a luta, corajosa e difícil, de uma percentagem crescente de cidadãos norte-americanos contra as engrenagens de um sistema de poder cuja ambição e irracionalidade configuram ameaça à humanidade e sublinham que as esperanças suscitadas pela eleição de Barack Obama se desvaneceram à medida que se tornou evidente que o novo presidente dava continuidade no fundamental à política externa de George Bush - agravando-a mesmo, como sucede no Afeganistão e na América Latina - e, no plano interno, actuava como aliado do capital contra os trabalhadores.

  l.. Saúdam calorosamente o povo da Venezuela pelos avanços realizados no desenvolvimento da Revolução Bolivariana, e pela firmeza perante o imperialismo estadounidense e na defesa do projecto de construção de uma sociedade socialista.

  m.. Reclamam o fim do bloqueio imposto a Cuba pelos EUA e da «Posição Comum da UE»,ambos instrumentos do imperialismo. Sublinham que a sua revolução socialista e a heróica resistência do seu povo a meio século de guerra não declarada foi factor decisivo para o fortalecimento em todo o continente da resistência ao imperialismo norte-americano. Sem essa resistência e exemplo, os avanços revolucionarios registados na Venezuela não teriam sido possiveis, nem a emergência de governos progressistas noutros países.

  n.. Saudam as primeiras manifestações da classe operária e dos trabalhadores da Rússia contra a exploração desencadeada pela restauração capitalista em curso no país.

  o.. Saudam a campanha internacional «Gaza Livre» pelo levantamento do criminoso bloqueio a Gaza.

  p.. Condenam os crimes cometidos pelo governo de Uribe Velez na Colômbia nos quais desempenhou importante papel o actual presidente Juan Manuel Santos e lembram que a solidaridade da União Europeia com o regime neofascista colombiano dificulta uma solução negociada para o conflito existente naquele pais pela qual tem lutado corajosamente o seu povo. Exprimem a sua solidariedade com a senadora Piedad Cordoba e as vítimas do terrorismo de estado.

  q.. Constatam que o crescimento económico capitalista, baseado no aumento do consumo, mobiliza fluxos colossais de materiais e de energia, causando a degradação e a exaustão de recursos naturais finitos - nomeadamente o petróleo que neste momento atinge o nível máximo de produção possível - ameaçando os processos de renovação natural. Ao invés do bem-estar das populações, o crescimento económico capitalista desfigura assim a relação harmoniosa do Homem com a Terra que habita e que é património comum da humanidade, destruindo o ambiente necessário à vida e os recursos indispensáveis à produção de bens essenciais.

  r.. Alertam para a necessidade imperiosa do combate à alienação de grande parte da humanidade, envenenada pelo massacre mediático de uma comunicação social - controlada pelo imperialismo - que desinforma e manipula, disseminando a mentira e ocultando a realidade em escala mundial.


  s.. Apelam ao reforço da defesa da diversidade cultural e da resistência cultural e linguística, contra a hegemonização e a colonização do espaço mediático, comercial, cultural, científico pela expressão anglo-saxónica, enquanto «língua de trabalho» do imperialismo.

  t.. Proclamam a convicção de que o marxismo - e em particular o seu núcleo fundador assente na obra de Marx e Engels - continua a ocupar um lugar central entre as referências teóricas mobilizadas não somente pelos comunistas mas também pelos progressistas do mundo. A reapropriação e o reforço do marxismo, da sua metodologia e dos seus conceitos, como pensamento da crítica e da transformação do mundo, nem dogmático nem domesticado, e a herança do marxismo-leninismo, continuam a ser uma necessidade absoluta da luta ideológica e na justa definição da estratégia e da táctica das forças que se empenhem no combate anti-capitalista e anti-imperialista. Contra o sistema totalitário de desinformação, de alienação e de manipulação das massas, o marxismo-leninismo permanece como a arma intelectual mais preciosa nas mãos dos trabalhadores e dos povos que resistem. Renunciar a ele equivaleria a desistir da luta pelo socialismo.

  u.. Denunciam o carácter profundamente reaccionário das campanhas de criminalização do comunismo, recordam as consequências trágicas do desaparecimento da União Soviética e expressam a convicção de que o socialismo é a única alternativa ao sistema capitalista que, ao entrar na fase senil, optou por uma estratégia de desespero e exterminista, que ameaça reconduzir a humanidade à barbárie.

  v.. Registam o significado das comemorações do I Centenário da Republica Portuguesa, sublinhando a importância decisiva da participação do povo na revolução do 5 de Outubro de 1910 e nas suas conquistas políticas.

  w.. Constatam com alegria e esperança a intensificação das lutas dos trabalhadores em escala mundial, bem como a resistência às guerras de agressão, designadamente nos EUA, centro do sistema de dominação, e sublinham que o reforço da solidariedade internacionalista entre os explorados e os excluídos de todo o mundo é imprescindivel à globalização do combate contra o inimigo comum: o capitalismo e o imperialismo.
Serpa, 1 de Novembro de 2010

O original encontra-se em http://www.odiario.info/?p=1798


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Paulo Kliass adverte mais uma vez


É proibido brincar com o Fundo Soberano!
(Fonte: Carta Maior)
Os recursos do Fundo Soberano devem ser tratados como uma reserva inter-geracional, um estoque de riqueza proporcionado pelas descobertas petrolíferas que podem constituir a fonte de recursos para que as crianças que nascem hoje encontrem no futuro um País com melhores condições de saúde, de educação, de infra-estrutura, de ciência e tecnologia.
Paulo Kliass
Em setembro do ano passado, eu escrevi um artigo sobre o mesmo tema. E já, à época, meio temeroso quanto à reação dos leitores, iniciava assim meio na defensiva:

“Eu bem que tento mudar de assunto a cada semana, mas a conduta dos responsáveis pela política econômica em nosso País me obriga a continuar aqui, na função de alerta. Aquela luzinha que pisca, quando há alguma situação que possa representar perigo potencial à frente. Pois então, vamos lá.” ("O Brasil e seu fundo soberano" - 25/09/2010)

Recomendo a leitura do texto mencionado para esclarecer a questão do Fundo Soberano, suas raízes, seu mecanismo de funcionamento, sua importância estratégica para o País no longo prazo, entre outros aspectos. Mas acho que não cabe reproduzi-lo aqui na íntegra.

Pois bem, mas o ponto é que novamente alguns dos que respondem pela condução da economia na equipe da Presidenta Dilma começam a sugerir que o governo poderia utilizar os recursos do Fundo Soberano para atuar na contramão dos movimentos de valorização de nossa moeda frente ao dólar norte-americano e demais moedas internacionais.

Já está mais do que tratado, inclusive pelos órgãos da grande imprensa, o mecanismo perverso do nó existente entre a política monetária ortodoxa e os prejuízos provocados pela valorização cambial. A imagem do cão correndo atrás do próprio rabo ilustra bem o dispêndio de tanta energia (e riqueza nacional) para acabar não saindo do mesmo lugar. A política de estabilização econômica baseada exclusivamente nas metas de inflação foi, e infelizmente continua sendo, responsável pela manutenção de uma taxa de juros oficial, a nossa SELIC, em níveis de elevada irresponsabilidade.

Além de se manter como campeão do mundo na modalidade, o modelo adotado no Brasil combina tal estratégia monetária ao postulado neoliberal ultrapassado da chamada “liberdade cambial”. E aí caímos numa verdadeira armadilha, o pior dos mundos.

A dinâmica é nossa velha conhecida. Atraídos pela maior remuneração financeira oferecida no mercado internacional por um Tesouro Nacional, os recursos migram para cá com a maior satisfação e sem nenhum controle.

Afinal, regulação de capitais especulativos é ainda vista por muita gente, por aqui, como proposta de mentes jurássicas, coisa de intervencionista atrasado que não tem mais o que fazer na vida... Em todo o caso, a enorme afluência de recursos externos para cá tem produzido, há vários anos, um fenômeno aparentemente inesperado no momento da formulação do modelo de estabilidade macroeocnômica. Verifica-se uma pressão permanente de venda de dólares em nosso mercado interno, pois esses recursos externos devem transformar-se em reais para aqui realizarem suas operações de elevadíssima rentabilidade. Com isso, a dinâmica oferta “versus” demanda faz com que o “preço” do dólar diminua, ou seja, sua cotação frente ao real caia. Com isso, a nossa moeda fica sobrevalorizada em relação às demais. O detalhe é que aquilo que nos é vendido como “taxa de câmbio resultante da relação das livres forças de mercado de divisas” não passa, na verdade, do resultado da ação de um número bastante seleto de grandes agentes operadores no mercado especulativo.

Ao que tudo indica a nova equipe econômica já está sendo convencida de que o Brasil não pode mais continuar refém desse modelo, em que só temos muito a perder e nada a ganhar. O custo de rolagem da dívida pública de quase US$ 2 trilhões é enorme, com a SELIC nas alturas. A Balança Comercial é seriamente afetada com a moeda sobrevalorizada, prejudicando nossas exportações e estimulando as importações de produtos industrializados. O Balanço de Pagamentos fica perigosamente deficitário, uma vez que são estimulados os movimentos de pagamento de juros e de remessa de lucros para o exterior. Isso sem mencionar a perda do bonde da oportunidade de ampliação de nossa capacidade instalada em função do real caro – essa é uma das razões para a grande diferença entre as taxas de crescimento da China e da Índia, por exemplo, e a nossa. O resultado é aumento do risco de desindustrialização e menor geração de emprego e renda.

O governo está avaliando algumas medidas com o objetivo de reduzir a valorização cambial. A primeira delas já foi anunciada: uma alteração nas regras de exposição cambial dos bancos. A intenção é evitar que o sistema fique muito “vendido”, como se diz no jargão do financês. Isso significa, em termos bem simplificadores, que os bancos estariam se arriscando demais no mercado cambial, em razão dessa tal aposta especulativa contra a necessária desvalorização do real. Com a medida anunciada pelo Banco Central, os bancos que se expuserem demais deverão recolher um depósito compulsório junto ao BC, com o objetivo de reduzir o risco do sistema. A idéia é boa, mas a Portaria n° 3520, de 6 de janeiro de 2011, é muito tímida. Ou seja, os efeitos são muito reduzidos e o ritmo para adaptação é muito lento. Os bancos têm até abril para se adaptarem e os valores envolvidos na redução do risco limitam-se a US$ 6 bilhões.

E até lá, e mesmo depois de abril, o que fazer com a taxa de câmbio que insiste em permanecer abaixo de 1,70 na cotação com o dólar há vários meses? O interessante é que poucos consultores financeiros gostam de recordar do período mais duro da crise recente (setembro de 2008 a junho de 2009), quando por quase um ano essa mesma cotação não ficou um só dia abaixo de 2,00 - com uma média próxima a R$2,30/US$. Não por acaso foi o período em que menos recursos externos vieram para cá, em função da enorme seca de liquidez nos países mais ricos – e olhem que nesse período a SELIC aqui bombava (chegando a 13,75% ao ano) e nem assim o dinheiro vinha.

Portanto, se o objetivo é mesmo conter a valorização cambial, o caminho mais simples e mais seguro é a redução do afluxo de capitais especulativos de curto prazo. E para tanto o governo tem a seu dispor um conjunto de opções de impostos para que a rentabilidade final não seja assim tão estratosférica, como a taxa SELIC. Já se tentou há pouco a elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), mas também de forma muito tímida e por pouco tempo. O fato é que com esse tributo ou mesmo com o Imposto de Renda a incidir sobre o ingresso de capital de curto prazo obtém-se um quadro mais realista a respeito da verdadeira intenção do investidor (pois o ganho líquido fica menor) e o Tesouro também termina por recolher uma receita extra. Outra hipótese é o estabelecimento de uma “quarentena” para o investimento financeiro externo, ou seja, um prazo mínimo que o recurso é obrigado a permanecer no Brasil, de forma a evitar corridas especulativas inesperadas e os problemas daí decorrentes em termos do Balanço de Pagamentos – a famosa “corrida ao dólar”

Mas alguns integrantes do governo voltam a insistir na hipótese de utilização dos recursos do Fundo Soberano para conter a valorização cambial. E agora eu recorro a um outro parágrafo do artigo acima mencionado:

“E agora, as últimas notícias falam uma espécie de “ameaça” feita pelas autoridades econômicas de usar os recursos do Fundo Soberano para enfrentar a valorização do real no mercado especulativo. Para quem conhece um pouco esse terreno minado, sabe tratar-se de uma brincadeira ou de uma irresponsabilidade. O volume total que o mercado de divisas gira diariamente em todo o mundo é de US$ 4 trilhões. Exatamente isso, a cada dia! Tão somente o mercado de compra e venda de moedas estrangeira. A parcela relativa ao dólar norte-americano, euro, libra esterlina e yen japonês é superior a 80% das transações realizadas. Nosso real fica com a modesta fatia de 0,3%. Lembra-me a imagem daquela formiguinha metida a valente querendo resistir à pisada da pata de um elefante... Definitivamente, não é assim que se vai conseguir enfrentar a especulação. Os recursos do Fundo Soberano correm o risco de virar pó!”

É verdade que o nosso nível de reservas internacionais é bastante elevado, tendo atingido atualmente um valor próximo a US$ 290 bilhões. Ou seja, quase um recorde a cada novo mês desde a marca dos US$ 38 bi de janeiro de 2003. São igualmente positivas as perspectivas futuras em relação ao crescimento do estoque do nosso Fundo Soberano, principalmente quando a ele forem dirigidos os valores da exploração do Pré Sal. Mas isso não significa que um governo minimamente responsável deva se dispor a brincar com esses valores, que podem facilmente ser reduzidos de forma significativa em qualquer movimento de especulação ou turbulência mais forte no mercado internacional, caso não o Fundo Soberano não seja tratado com muito cuidado e carinho.

A forma mais adequada de operar contra a tendência à valorização do real é por meio da redução do ingresso de recursos especulativos. E isso se faz via redução da SELIC e por meio da tributação do capital especulativo. Nesse quadro de incerteza e instabilidade das relações econômicas internacionais, que o próprio Ministro Mantega tem advertido como de “guerra cambial” e de “guerra comercial”, não há espaço para bravatas por parte do Brasil. Os recursos bilionários do Fundo Soberano devem ser tratados como uma reserva inter-geracional, um estoque de riqueza proporcionado pelas descobertas petrolíferas que podem constituir a fonte de recursos para que as crianças que estão nascendo hoje encontrem no futuro um País com melhores condições de saúde, de educação, de infra-estrutura, de ciência e tecnologia, etc. Enfim, uma Nação sem miséria e com condições de influenciar, aí sim, de forma mais efetiva nos destinos da Humanidade.

Dessa forma, cabe aos brasileiros e às brasileiras dar um grito de alerta a cada vez que se pretenda botar olho gordo nesse pote: Atenção! É proibido brincar com os recursos do Fundo Soberano do Brasil!

Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.

Capitalismo, neoliberalismo, pós neoliberalismo


(Fonte: O Berro)

Neoliberalismo - a cara do capitalismo contemporâneo - e pós neoliberalismo O capitalismo passou por várias fases na sua história. Como reação à crise de 1929, fechou-se o período de hegemonia liberal, sucedido por aquele do predomínio do modelo keynesiano ou regulador. A crise deste levou ao renascimento do liberalismo, sob nova roupagem que, por isso, se auto denominou de neoliberalismo.

Este impôs uma desregulamentação geral na economia, com o argumento de que a economia havia deixado de crescer pelo excesso de normas, que frearia a capacidade do capital de investir. Desregulamentar é privatizar, é abrir os mercados nacionais à economia mundial, é promover o Estado mínimo, diminuindo os investimentos em politicas sociais, em favor do mercado, é impor a precariedade nas relações de trabalho.

A desregulamentação levou a uma gigantesca transferência de capitais do setor produtivo ao especulativo porque, livre de travas, o capital se dirigiu para o setor onde tem mais lucros, com maios liquidez e menos tributação: o setor financeiro. Porque o capital não está feito para produzir, mas para acumular. Se pode acumular mais na especulação, se dirige para esse setor, que foi o que aconteceu em escala mundial.

O modelo neoliberal se tornou hegemônico em escala mundial, impondo as politicas de livre comércio, de Estados mínimos, de globalização do mercado de trabalho para os investimentos, entre outros aspectos. É uma nova fase do capitalismo, como foram as fases de hegemonia liberal e keynesiana. Não se pode dizer que seja a última, porque um sistema sempre encontra formas - mesmo que aprofundem suas contradições - se outro sistema não surge como alternativa, com a força correspondente para superá-lo.

Mas é uma fase difícil de ser superada, porque a desregulação tem muitas dificuldades para ser superada. Mesmo com a crise atual afetando diretamente os países do centro do capitalismo, provocada pela fata de regulação do sistema financeiro, ainda assim pouco ou quase nada foi feito para o controle do capital financeiro, justamente a origem da crise. Como já se disse: Obama salvou os bancos, achando que os bancos salvariam a economia dos EUA. Mas os bancos se salvaram às custas da economia norteamericana, que segue em crise.

É difícil para o capitalismo desembaraçar-se do neoliberalismo, etapa que marca o final de um ciclo desse sistema. A discussão que se coloca é de se o modelo chinês representa vida útil e inteligência mais além do neoliberalismo ou do capitalismo. Se sua via de mercado se vale do mercado para superar o capitalismo ou se o mercado o vincula de obrigatória e estreita ao capitalismo.

O certo é que ser de esquerda hoje é de lutar contra o neoliberalismo, não apenas resistindo a ele, mas sobretudo construindo alternativas a este modelo, allternativas que projetem para além do capitalismo. O neoliberalismo promove um brutal processo de mercantilização das coisas e das relações sociais. Tudo passa a ter preço, tudo pode ser compra e vendido, tudo é reduzido a mercadoria, em um processo que tem no shopping center sua utopia.

Nesse caso, lutar pela superação do neoliberalismo é desmercantilizar, restabelecer e generalizar os direitos como acesso a bens e serviços, ao invés da luta selvagem no mercado, de todos contra todos, para obtê-los às expensas dos outros. Generalizar a condição do cidadão às expensas da generalização do consumidor. Do sujeito de direitos e não do dono de poder aquisitivo.

Quanto mais se desmercantilizar, quanto mais se afirmar os direitos de todos, mais se estará criando esfera pública, às expensas da esfera mercantil (que eles chamam de privada). Essa pode ser a via de passagem do neoliberalismo como estágio do capitalismo à sua superação, a uma era pós-capitalista. Mas hoje o que nos une a todos é a luta por distintas formas de pós neoliberalismo - pela universailização dos direitos, pela extensão da cidadania em todas suas formas - politica, econômica, social, cultural -, pelo triunfo do Estado social contra o Estado mínimo, da esfera pública contra a esfera mercantil.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Os alertas de Dona Pandá

Os cuidados com o excesso de chuvas na chácara


Dona Pandá, preocupada com toda essa chuvarada, alerta para a necessidade de algumas precauções que podem evitar maiores aborrecimentos. Vamos à sua listinha de cuidados:

1.        A terra é pudibunda, não gosta de ficar nua. Procure plantar grama onde não há outras plantas. Em terrenos propensos a deslizamentos, bambu é uma boa solução. Para proteção de poços ou outro equipamento à beira de barrancos, pode-se fazer um “muro de arrimo” com pneus: coloque um pneu sobre o outro, utilizando quatro parafusos para a fixação; após o empilhamento e fixação dos pneus necessários (quando o “muro” tiver alcançado a altura desejada), encha-os com terra adubada, escolha plantas de sua preferência e as plante de forma que cubram os pneus, lhe proporcionem segurança e beleza.

2.       Terrenos com declividade pedem curva de nível. Se pretender plantar, por exemplo, uma roça de milho, não permita a entrada de trator sobretudo se for sem a proteção das curvas de nível. Se o terreno for de pouca extensão, faça um roçado e as covas manualmente, de forma a deixar o espaço mínimo possível  sem proteção vegetal. Verifique os caminhos da água e procure fazer desvios de forma a não permitir uma via reta em declive. Coloque galhos e outros materiais para obrigar a água a se desviar e perder a força.

3.       Árvores exigem vigilância. Procure vistoriar as árvores para detectar se há alguma doença ou praga, evitando sua queda.

4.       Saídas para a água. Verifique que nenhuma planta fique afogada. Nos pés das plantas, como as frutíferas, limpe ao redor, coloque húmus de minhoca e proporcione uma saída para a água não ficar empoçada. Na horta, faça uma saída nos canteiros. Também é preciso atenção às construções: verifique se estão protegidas do caminho das águas.

5.       Cobertura para a sementeira e plantas mais sensíveis.  Se seu bolso permite, use estufas. Se você, como Dona Pandá, não tem essa disponibilidade toda, uma simples cobertura feita com estacas de bambu e  plástico transparente irá abrigar a sementeira e as plantas que não gostam de muita água, como o tomate e a alface, sem se esquecer das roseiras e da mirra.

6.       Atenção aos animais. Os cachorros, por exemplo, respeitam a chuva forte, mas nem percebem a fraquinha. Dona Pandá teve a tristeza de ver seu querido e feroz Bei pegar uma pneumonia e avisa que não gostou. Evite  deixar os animais em lugares com barro. Eles podem escorregar e machucar as patas e pernas. Se eles tiverem caminhos preferidos, por exemplo, ao redor das cercas, espalhe areia misturada com pedrinhas (bem pequenas).

7.       Cuidado com os lugares escorregadios. Com tanta chuva, a tendência é a formação de limos que podem levar qualquer um ao chão. Também os carros não gostam e pedem cascalho nos seus caminhos de terra.

8.       Cuidado com os poços e caixas de água. Não se esqueça de protegê-los.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Alerta da FAO

Os sintomas de uma nova crise alimentar mundial

Os preços mundiais do arroz, do trigo, do açúcar, da cevada e da carne seguiram altos ou registraram significativos aumentos em 2011, podendo replicar a crise de 2007-2008, alerta a FAO. No final de 2010, ocorreram protestos na China pelos altos preços das refeições de estudantes. Nos primeiros dias de 2011, já ocorreram protestos na Argélia e também na Tunísia, onde protestos de rua causaram a morte de pelo menos 20 pessoas. "Estamos entrando em um terreno perigoso", alerta economista da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação.

Thalif Deen - Rebelión

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), com sede em Roma, alertou a semana passada que os preços mundiais do arroz, do trigo, do açúcar, da cevada e da carne seguiram altos ou registraram significativos aumentos em 2011, podendo replicar a crise de 2007-2008. Rob Vos, diretor de políticas de desenvolvimento e análise no Departamento de Economia e Assuntos Sociais da ONU relata que o aumento dos preços já está afetando vários países em desenvolvimento. Ele indicou ainda que nações como Índia e outras do leste e do sudoeste da Ásia sofrem inflação de dois dígitos, impulsionada pelo aumento dos preços dos alimentos e da energia. Na Bolívia, o governo se viu obrigado a reduzir os subsídios a alguns dos alimentos da cesta básica, já que estavam provocando uma disparada no déficit fiscal.
As implicações no curto prazo não são apenas que os pobres serão afetados e que mais gente poderá ser arrastada para a pobreza, mas sim que ficará mais difícil a recuperação dos países que enfrentam uma maior inflação e cairá o poder aquisitivo dos consumidores em geral. Alguns bancos centrais estão endurecendo suas políticas monetárias e governos estão se vendo obrigados a apertar o cinto, assinalou Vos, que é também chefe dos economistas da ONU.
Frederic Mousseau, diretor de políticas do Instituto Oakland, com sede em São Francisco, declarou que, em setembro passado, Moçambique já havia sofrido revoltas populares pelos altos preços do pão. Cerca de 13 pessoas morreram nestes protestos. “Ocorreram manifestações em uns 30 países em 2008 e isso pode se repetir agora uma vez que a situação não mudou nos últimos três anos”, sustentou Mousseau, autor do livro “O desafio dos altos preços dos alimentos: uma revisão das respostas para combater a fome”. Os países mais vulneráveis são os mais dependentes das importações e os menos capazes de enfrentar o aumento dos preços nos mercados com políticas públicas, sustentou. Isso concerne a muitas das nações mais pobres, com menos recursos, menos instituições e menos mecanismos públicos para apoiar a produção de alimentos”, explicou ainda Mousseau.
No final do ano passado ocorreram protestos na China pelos altos preços das refeições dos estudantes do ensino secundário, e na Argélia, pelo aumento do preço da farinha, do leite e do açúcar. Os argelinos voltaram a tomar as ruas na semana passada para protestar contra as duras condições econômicas. As manifestações terminaram com três mortos e centenas de feridos, enquanto que, na vizinha Tunísia, distúrbios similares causaram pelo menos 20 vítimas fatais.
Segundo o índice da FAO divulgado na semana passada, os preços dos cereais, dos grãos oleaginosos, lácteos, carnes e açúcar seguiram aumentando por seis meses consecutivos. “Estamos entrando em um terreno perigoso”, disse Abdolreza Abbassian, economista da FAO, para um jornal de Londres. Mousseau explicou que os preços começaram a aumentar em 2010 após as quebras de safras na Rússia e Europa Oriental, em parte causadas pelos incêndios de verão. Agora, as severas inundações que atingiram a Austrália, quarto maior exportador mundial de trigo, provavelmente afetarão a produção desse cultivo, elevando ainda os preços. “Qualquer outro acontecimento, como outro desastre climático em algum país exportador ou um novo aumento do preço do petróleo, sem dúvida alguma fará os preços dispararem, tornando a situação pior que a de 2008 e ameaçando o sustento de milhões de pessoas em todo o mundo”, acrescentou.
Por outro lado, Mousseau esclareceu que não se trata agora de um problema de escassez, como ocorreu em 2007-2008. “Não se pode usar a palavra escassez se consideramos que mais de um terço dos cereais produzidos no mundo são usados como alimento para animais, e que uma parte cada vez maior é utilizada para produzir agrocombustíveis”, observou. De fato, produziram-se 2,23 bilhões de toneladas de cereais no mundo em 2008, uma cifra sem precedentes. O nível de produção para o período 2010-2011 é levemente menor que o de 2008. A diferença é que, em 2008, foi o arroz que impulsionou a alta de preços, enquanto que, desta vez, é o trigo. Mas, em todo o caso, há uma combinação de fatores agindo: uma má colheita em uma parte do mundo provoca uma pressão sobre o mercado, que envia sinais negativos aos especuladores. Esses então começam a comprar e os preços disparam.

Tradução: Katarina Peixoto

Já dizia Shakespeare...

A Questão da Moeda
(Fonte: O Berro)

Marx definiu o caráter social do dinheiro: uma propriedade impessoal que me permite transportar, no meu bolso, o poder social e as relações sociais gerais: a substância da sociedade. O dinheiro repõe, sob a forma de objeto, o poder social nas mãos dos particulares, que exercem este poder enquanto indivíduos.

Ari de Oliveira Zenha, economista

"É o ouro.O que ele não é capaz de fazer e desfazer?"
Shakespeare

No modo de produção capitalista a moeda constitui o elo por excelência que caracteriza a relação entre as pessoas. No interior do capitalismo ela tem uma função importante dentro deste contexto, sendo, segundo Karl Marx, "uma relação social de caráter econômico", pois a moeda faz parte das relações capitalistas de produção. É dentro desse enfoque que se vai pautar a nossa análise sobre a questão da moeda.
Ao estudar tal questão é importante e necessário começar esclarecendo que no estudo do modo de produção capitalista a circulação simples toma uma forma importante como ponto de partida que permite construir uma teoria geral da moeda. Devemos inicialmente relacionar o crédito com o modo de produção capitalista, tendo a moeda (ouro, prata) como equivalente geral, um dos aspectos da moeda.
Antes de Marx, David Ricardo - economista inglês - começa o estudo da moeda por meio do estudo do ouro como moeda mercadoria, em que seu valor, ouro ou prata, como quantidade do tempo de trabalho objetivado nelas; dessa forma, Ricardo concebe que é por meio dele que são medidos os valores de todas as mercadorias.
Mas Marx critica Ricardo, por tratar a moeda como simples mercadoria e não compreende o que distingue uma da outra, pois a dificuldade dos economistas burgueses, inclusive Ricardo, está em não demonstrar que dinheiro é mercadoria, mas sim a partir de que forma e meios o dinheiro pode ser considerado uma mercadoria.
A teoria marxista da moeda começa pela determinação da forma de equivalente geral, ou seja, moeda, que se diferencia uma mercadoria diante das outras. Marx, em "O Capital", estabelece os três pontos seguintes sucessivamente analisados por ele: a) medida dos valores; b) meio de circulação; e c) moeda ou o dinheiro. Ele encadeia estes três pontos à aparição da moeda e mais ainda, uma vez que é somente ao final dessas "etapas" que "a existência econômica" da moeda fica finalmente estabelecida com sua natureza de equivalente geral.
Na "Contribuição à Crítica da Economia Política", Marx faz a seguinte colocação:
"(...) Porque todas as mercadorias medem seus valores de troca pelo ouro, na proporção em que determinada quantidade de ouro e determinada quantidade de mercadoria contêm a mesma quantia de tempo de trabalho, o ouro se torna medida de valor".
A transformação de valor em preço é "antes de mais nada o valor na forma de dinheiro". O preço mercantil da moeda como meio de circulação num mercado monetário permite que se realizem compras e vendas, pois é na circulação que a moeda substitui realmente as mercadorias, dando fixação dos preços em toda a sua amplitude.
A função da moeda tem como condição a variação do seu valor e também na variação da quantidade que ela circula. Essa quantidade dos meios de circulação é dada pela soma dos valores das mercadorias e da velocidade média de sua circulação. Marx, nesse ponto, diz: "(....) Qualquer pesquisa científica sobre a relação entre quantidade dos meios de circulação e o movimento de preços das mercadorias deve ter como dado o valor do material que constitui o dinheiro". (Contribuição à Crítica da Economia Política).
Ricardo tem uma concepção monetária em que a quantidade de moeda é dominante e o nível de preço depende dessa quantidade. Marx realiza uma distinção entre papel-moeda de Estado, moeda medida de valores e moeda meio de circulação, negando, com isso, em sua análise, a exclusividade quantitativista da moeda de papel, em que se baseiam os teóricos burgueses.
Outra função apresentada pela moeda é a de instrumento de entesouramento que Marx estabelece como uma interrupção do processo de circulação das mercadorias. "O dinheiro petrifica-se em tesouro, o vendedor de mercadoria em entesourador" (O Capital, volume I).
Uma característica do entesouramento da moeda é que ela tem uma função reguladora, pois faz parte das condições de circulação, uma vez que seu valor e sua forma específica, seu papel unificador e regulador não eliminam as características contraditórias inerentes à circulação monetária, pelo contrário, o entesouramento conserva a forma moeda de maneira diferente de todas as outras mercadorias.
A procura por dinheiro, liquidez, para entesouramento é restrita devido ao poder infinito do dinheiro por ser conversível em qualquer mercadoria.
A moeda não é neutra e não se torna completamente neutralizada, não só devido ao desenvolvimento do crédito como pela política monetária. A moeda em processo de circulação não tem dono, não pertence a ninguém, mas sua própria circulação condiciona, ou melhor, proporciona a formação de tesouros. Portanto, seguindo Marx, a sua acumulação (moeda/ dinheiro) é estéril porque a retirada do dinheiro da circulação (entesourar) impediria totalmente sua expansão como capital, pois Marx separa "poupança" e "entesouramento", enquanto Ricardo pensa que poupar é gastar, desconhecendo o sentido do entesouramento que é acumulação de "riqueza abstrata".
Entesourar pode apresentar-se como separação de venda e de compra de mercadoria. A moeda como meio de pagamento desempenha o seu papel no final de uma venda a crédito: para liquidar o crédito o devedor deve vender mercadorias, deixando de reserva o dinheiro obtido que deverá ser pago no prazo combinado. Para respeitar esse prazo o dinheiro entra em circulação como meio de pagamento e Marx diz: "(...) surge como mercadoria absoluta no interior da própria circulação, e não fora dela, como o tesouro".
"Só no mercado mundial adquire plenamente o dinheiro o caráter de mercadoria cujo corpo é simultaneamente a encarnação social imediata do trabalho humano abstrato. Sua maneira de existir torna-se adequada a seu conceito" (O Capital - Karl Marx). Diante disso, a função da moeda no mercado mundial desempenha o papel de moeda universal, entretanto Marx diz:
"(...) Quanto mais se desenvolve a troca das mercadorias entre as diversas esferas nacionais de circulação mais se desenvolve a função do dinheiro universal como meio de pagamento, destinado a compensar as balanças de pagamento internacionais". (Contribuição à Crítica da Economia Política - Marx).
O caráter social do dinheiro é dito claramente por Marx nesta passagem de seu livro "Contribuição à Crítica da Economia Política":
"(...) O dinheiro é propriedade impessoal. Ele me permite transportar comigo, no meu bolso, o poder social e as relações sociais gerais: a substância da sociedade. O dinheiro repõe, sob a forma de objeto, o poder social nas mãos dos particulares, que exercem este poder enquanto indivíduos".
Essa relação social do dinheiro (moeda) proporciona a existência desses, e o papel do dinheiro é a troca privada entre produtores privados de mercadorias. O Estado, por outro lado, pode emitir papel-moeda de curso forçado, ou seja, ele assume, por meio da coerção pública (leis), um padrão monetário puramente convencional que tem validade geral, ou melhor, nacional, dentro de um espaço territorial delimitado, por isso o Estado tem um poder monetário limitado pelo poder social que a própria moeda lhe dá, não implicando isso poder econômico do Estado de determinar o valor da moeda.
Este poder - do Estado - é real, mas depende das leis contidas na circulação monetária.
A questão da moeda de crédito é analisada por Marx, que as separa entre "sistema monetário" e o "sistema de crédito". Ele faz a seguinte observação: "(...) O dinheiro de crédito decorre diretamente da função do dinheiro como meio de pagamento, circulando certificados das dívidas relativas às mercadorias vendidas, com o fim de transferir a outros o direito de exigir o pagamento delas. À medida que se amplia o sistema de crédito, desenvolve-se a função de meio de pagamento exercida pelo dinheiro". (O Capital, livro I. Karl Marx).
Outro aspecto essencial é o fato de a reprodução do capital ser afetada pela vinculação entre período de produção e de circulação, pois quanto mais tempo for necessário o segundo em relação ao primeiro tanto mais desequilíbrio; a valorização do capital é afetada, pois não se produz nenhum valor novo no processo de circulação. O tempo da circulação, ou seja, a venda das mercadorias produzidas, retorno do dinheiro e reinvestimento de capital dinheiro é ao mesmo tempo um obstáculo à produção de valor e de mais-valia.Portanto o ditado popular: "Tempo é dinheiro", aqui se coloca, pois quanto menor o tempo necessário em que fica a mercadoria no processo de circulação mais rápido se da à entrada de receitas das vendas. Por isto o capitalista necessita reduzir ao mínimo o tempo de circulação, ou seja, saltar etapas, não depender da entrada das receitas de acordo com as vendas. Dessa forma, Marx indica que "toda a teoria do crédito, na medida em que na historia da circulação monetária, contém o antagonismo entre o tempo de trabalho e o tempo de circulação". Assim o crédito no sistema capitalista mobiliza recursos monetários como forma e meio de acelerar essa reprodução do capital afetando as condições monetárias da circulação, separando moeda e venda de mercadorias e aproximando a moeda, sob nova forma, ao financiamento do capital produtivo.
Marx mostra em suas análises a concentração de trabalhadores e a mobilização significativa de capital-dinheiro em que se apóia no crédito, este ligado ao fato que o empresário não mais trabalha para o cliente e sim para o mercado. Além do mais, segundo Marx, na medida em que o crédito permite acelerar e aumentar a concentração do capital numa só mão, ele contribui para encurtar o período de trabalho.
Dessa forma, o crédito interligado ao processo de reprodução do capital que alavanca quantias enormes de dinheiro produz uma mudança não só de ordem quantitativa, mas qualitativa de uma parcela de moeda com a formação de um "sistema de crédito". Brunhoff, nesse ponto, fala o seguinte: "(...) O capitalismo é inseparável de uma circulação mercantil que deve assegurar a combinação de circulações de diferentes tipos".
Logo, a questão da moeda é complexa e não se esgota nesse ponto, pois ela envolve questões de relevância dentro do pensamento econômico e da realidade político-econômica do mundo capitalista.



quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O Cerrado e o Sertanejo pedem atenção

 Cerrado pede água
 
Jaime Sautchuk*
(Fonte: Vermelho)

Informações difundidas neste início de ano dão conta de que, apesar das chuvas, o Cerrado brasileiro pede água. Os últimos redutos de grandes áreas contínuas deste bioma, que estão no Sudeste do Maranhão e Sul do Piauí, vêm sendo celeremente devastados para dar vez à monocultura de soja e eucalipto. 

A floresta artificial será utilizada por uma indústria de carvão, outra de papel e celulose. Na região, além da vegetação típica do Cerrado -- frutas, fibras, ervas medicinais, palmitos etc – há vastos coqueirais, que garantem a sobrevivência de centenas de comunidades.

O Cerrado que ainda cobre boa parte do território tem enorme importância para o Brasil desde muito antes de os portugueses aportarem por aqui. Mesmo assim, é considerado um bioma de segunda classe, não só pelas pessoas comuns, mas por setores de onde vêm as políticas públicas oficiais.

Ao aprovar a nova Constituição Federal, em 1988, por exemplo, a Assembléia Nacional Constituinte determinou a condição de patrimônio natural à Floresta Amazônica, à Mata Atlântica, à Serra do Mar, ao Pantanal Mato-Grossense e à chamada Zona Costeira.

Ficaram de fora os biomas do Cerrado e da Caatinga. E assim mesmo, grafados com a letra inicial maiúscula, como se faz com os demais biomas. Foi preciso uma emenda constitucional percorrer longo trajeto e muitos anos para tentar sanar o erro.

Oficialmente, o documento “Ecossistemas Brasileiros” do Ministério do Meio Ambiente informa que, hoje, o Cerrado se faz presente em 13 estados brasileiros. Isso corresponde a 22,65% do território, com 192,8 milhões de hectares e uma população de 22 milhões de habitantes.

Com outra metodologia, entretanto, pesquisadores afirmam o Cerrado corresponde hoje a 37% da área do País. A taxa de devastação é de 1,2% ao ano e não há nenhum controle oficial como o que, bem ou mal, existe na Amazônia.

Algumas das principais bacias fluviais brasileiras nascem em áreas de Cerrado do Planalto Central. São as do São Francisco, do Paranaíba/Paraná/Prata, do Araguaia/Tocantins e mesmo de alguns afluentes diretos do Amazonas. E casos localizados, como o rio Jequitinhonha, em Minas Gerais.

O Cerrado é considerado a caixa d’água, com solos que armazenam e vegetação que pouco gasta. Uma plantação de eucaliptos, por exemplo, consome quase dez vezes mais água do que a cobertura nativa.

Está comprovado que o Cerrado é o bioma mater (matriz) de quase toda a cobertura vegetal do território brasileiro, incluindo a Amazônia e a Mata Atlântica.

Isto explica, por exemplo, porque o que resta do Cerrado brasileiro está em posições geográficas elevadas, em terrenos que geram água. Ou deveriam gerar. Na Serra Geral de Goiás, na fronteira com a Bahia, região recém-tomada pela monocultura, há registros oficiais de pelo menos 14 córregos que secaram nos últimos sete anos, todos da bacia do São Francisco.

Explica também porque sobraram manchas desse bioma na fronteira Norte do País (Amapá e Roraima), em áreas mais elevadas da Amazônia. São encontrados enclaves de cerrados no interior de estados e no litoral nordestinos.

Segundo o geógrafo Aziz Ab’Saber, mudanças de clima ocorridas no final da era geológica do Pleistoceno, entre 12.000 e 18.000 anos atrás, foram as causas da mudança. Houve naquele período aquecimento da região tropical, favorecendo o avanço da floresta densa e frondosa sobre a vegetação rala e rasteira dos cerrados.

O que vemos hoje é uma ação que não respeita rios, veredas, matas ciliares, nada. São raros os casos em que são feitas curvas de nível no solo para evitar assoreamento. Tudo vai abaixo.

Os cursos de água se enchem da terra envenenada pelos agrotóxicos e levada pela chuva. O que sobra deles vai servir à irrigação, com os enormes pivôs-centrais vistos das estradas ou dos aviões, lá das nuvens.

Além da soja para exportação e outras culturas são abertas livremente áreas de pasto para criar bois latifundiários, pois a média nacional é de uma rês por hectare. Um absurdo, portanto.

A monocultura extensiva, principal razão da célere derrubada da vegetação nativa, desfaz também a vida dos humanos nativos. Estes são obrigados a deixar suas posses, pois raros são os que têm escritura legalizada. Seu rumo são os centros urbanos, em condições de vida precárias, e quando muito voltar à roça para trabalhos sazonais em algumas culturas.

Por sorte, como derradeiro ato de resistência, a implantação de culturas agroflorestais vem sendo incentivada com medidas do governo federal, em assentamentos familiares. E cooperativas são incentivadas a criar unidades processadoras.

Também as agroindústrias privadas que buscam financiamento público são levadas a comprar o produto agrícola ou florestal desses pequenos produtores.
* Trabalhou nos principais órgãos da imprensa, Estado de SP, Globo, Folha de S.Paulo e Veja. E na imprensa de resistência, Opinião e Movimento. Atuou na BBC de Londres, dirigiu duas emissoras da RBS.