Joaquim de Carvalho (no Diário do Centro do Mundo)
A carta de Lula
aos blogs progressistas é um documento histórico em defesa da liberdade de
expressão e o resultado de uma análise lúcida sobre o papel da imprensa no
desenvolvimento de uma nação. Um trecho resume bem essa análise:
”Mais do que acreditar na minha inocência – porque leram o processo, porque checaram as provas, porque fizeram Jornalismo – os blogueiros e blogueiras progressistas estão contribuindo para trazer de volta o debate público e resgatar o jornalismo da vala comum à qual foi atirado por aqueles que o pretendem não como ferramenta capaz de lançar luz onde haja escuridão, mas apenas e tão somente como arma política dos poderosos.”
”Mais do que acreditar na minha inocência – porque leram o processo, porque checaram as provas, porque fizeram Jornalismo – os blogueiros e blogueiras progressistas estão contribuindo para trazer de volta o debate público e resgatar o jornalismo da vala comum à qual foi atirado por aqueles que o pretendem não como ferramenta capaz de lançar luz onde haja escuridão, mas apenas e tão somente como arma política dos poderosos.”
Este é,
precisamente, o ponto que separa a imprensa livre, que é chamada também de
independente ou progressista, da mídia corporativa ou velha imprensa: jogar luz
onde haja escuridão.
Esta é a missão
do Jornalismo (Lula escreve, corretamente, com letra maiúscula): Explicar em
vez de confundir, buscar a informação capaz de transformar, informação que surpreenda
e, surpreendendo, quebre a corrente do senso comum e ajude na luta contra a
pior das pragas de uma nação: o preconceito, fruto ignorância.
Ignorância não no
sentido da falta de escolaridade formal ou de estudo, mas da ausência do
conhecimento sobre a verdade factual. Ignorância que é construída, diariamente,
pela velha imprensa.
Neste momento,
faço a cobertura sobre os furos do processo do sítio de Atibaia e me deparei
com exemplos concretos sobre o que a desinformação pode fazer numa sociedade.
A farsa de que
Lula é dono de um sítio nasceu de um boato que circulava insistentemente no
bairro do Portão, em Atibaia, depois que Marisa Letícia foi vista comprando pão
e mortadela Ceratti na padaria local, e bebendo café em copo descartável.
Isso é crime?
Não.
Mas, como ela ia
com a família ao sítio de amigos perto dali, logo começou o zunzunzum de que
era proprietária da área.
O boato chegou ao
conhecimento dos procuradores da república, que estavam empenhados na Operação
Lava Jato, e a força-tarefa baixou lá.
O que isso tem a
ver com a Petrobras, o que justifica a Lava Jato? Em princípio, nada, mas a os
procuradores foram a Atibaia do mesmo jeito.
Gesuldo, o
gerente da padaria, conta que dois homens — um deles o procurador Roberson
Pozzobon, sei porque mostrei a foto e ele confirmou — estiveram na padaria,
sentaram em uma mesa e pediram para falar com o gerente.
Pozzobon queria
saber se ele tinha visto Lula pela região. O gerente negou, mas, mais tarde,
ligou no número que o procurador tinha deixado para dizer: não tinha visto
Lula, mas Marisa.
Começou, então,
uma negociação para que ele gravasse um depoimento, e ele gravou, sem mostrar o
rosto, com o celular voltado para o alto e captando o áudio.
Ele disse que viu
Marisa comprando pão e mortadela.
O que isso prova?
Nada.
Mas foi usado
como fumaça num caso em que não havia fogo. Os procuradores procuraram outras
pessoas, pessoas que prestaram serviço no sítio.
Queriam saber se
a propriedade era do Lula, se era ele, a mulher ou um dos filhos que pagava
pelos serviços.
Nada.
Mesmo sem nada de
concreto na mão, o Ministério Público Federal incluiu a ação de busca e
apreensão no sítio de Atibaia em 4 de março de 2016, o dia do espetáculo da
condução coercitiva de Lula.
Entrou no pacote
que, ao fim e ao cabo, contribuiu decisivamente para a criação do ambiente
político hostil que levou ao impeachment de Dilma Rousseff.
Agora se sabe
que, naquele dia, o único depoimento colhido na região foi de uma mulher tirada
de casa pela manhã e levada com o filho pequeno, de 7 anos de idade, sem
mandado judicial, para depor no sítio.
Rosilene da Luz
Ferreira havia prestado serviço como faxineira no sítio e, questionada sobre
quem lhe fez o pagamento, disse mais de uma vez: Fernando Bittar.
A resposta
evidencia que era Bittar o dono de direito — a escritura está no nome dele — e
de fato da propriedade — é ele quem dá ordens ali.
Mas o depoimento
dessa senhora foi suprimido da denúncia, porque não contribuía para a farsa que
seria evidenciada pelo power point: Lula como chefe de uma organização
criminosa.
O depoimento de
Rosilene veio a público há pouco, quando seu marido denunciou ao juiz Sergio
Moro o que pode ser interpretado como abuso por parte dos procuradores e da
Polícia Federal.
A velha imprensa
ignorou. Mas quem lê o Diário do Centro do Mundo tomou conhecimento do caso e
teve oportunidade de ver o vídeo em que a criança aparece, assustada, ao lado
da mãe durante o depoimento — em que a mulher conta que recebeu a diária da
faxina de Fernando Bittar.
Este é um
exemplo, dentre tantos outros, em que a mídia independente combate o bom
combate, como disse Lula em sua carta.
Não é fácil, mas
o resultado tem sido reconhecido, não apenas por Lula, mas pelo publico em
geral, como mostram os números da audiência — no caso do DCM, triplicou em um
ano —, uma evidência de que o público já não confia na velha imprensa e busca
outras fontes de informação.
A situação
política no Brasil é dramática — o líder disparado nas pesquisas está sendo
impedido de concorrer —, mas tem um efeito pedagógico: mostra quem é quem.
No caso da velha
imprensa, já está claro que não trabalha pelo Brasil, mas por interesses muito
específicos.
Por que tanto
medo do Lula?
Por que tanta
violência institucional para impedir que o povo decida livremente se o quer ou
não na presidência?
São perguntas que
começam a ser respondidas e, quando tudo estiver bem claro, o Brasil já estará
maduro para tirar de cena aqueles que, realmente, trabalham para evitar que o o
país se encontre com sua vocação: a grandeza.
E dou mais um
exemplo: no dia 10 de julho estive em Curitiba, em mais uma tentativa de
entrevistar Lula — nosso pedido foi negado pela juíza Carolina Lebbos — e fiz
uma transmissão ao vivo da frente da Polícia Federal.
Fiz conforme o
protocolo, me apresentei aos policiais militares do Paraná e comecei a gravar,
no espaço que é usado pela imprensa em geral, entre o cordão de isolamento e a
Superintendência da Polícia Federal.
Depois que
terminei a transmissão e comecei a tirar fotos, um policial, o cabo Azevedo,
disse que eu não poderia permanecer ali.
Por quê?
Ele me disse que
eu deveria permanecer junto com os manifestantes da Vigília Livre. Nada contra,
mas perguntei se a imprensa não poderia permanecer no local onde eu estava.
Ele me respondeu:
“depende”.
Do quê?
“Se for imprensa
imparcial, pode.”
Questionei sobre
que critérios ele usava para definir o que parcial ou imparcial.
Ele não respondeu
nada.
Como já tinha
terminado meu trabalho, fui embora, e depois denunciei o policial à
corregedoria da PM.
O que ele fez é
fruto da ignorância.
Mas mesmo os
ignorantes precisam ser instruídos, e que a corporação a que pertence decida.
O importante é
que fiz o meu trabalho e o público foi informado.
É uma luta árdua.
Mas quem disse
que ajudar a construir uma nação seria fácil?