Vivi durante
muito tempo no rural. Nasci numa fazenda e lá estive até precisar de me
matricular numa escola. Passei, então, a ficar no urbano durante a semana e, às
sextas feiras, à tarde, pegava carona em um caminhão e me mandava para a roça.
Lá havia ar puro oferecido pelas irmãs árvores, leite no curral, cavalo para
galopar, frutas no pomar, verduras e legumes na horta. As vaquinhas eram
tratadas com capim no pasto e sal no coxo. As galinhas viviam soltas no grande
quintal onde ciscavam suas proteínas e também lhes eram oferecido milho. A
comida era feita com gordura suína e os porcos eram alimentados com restos da
cozinha e soro do leite desnatado para fazer a manteiga.
Tomei gosto
pela ar puro e pela comida orgânica. Tive que me mudar para a cidade grande
para sobreviver ao tal mercado de trabalho, mas a mãe-terra me chamava e eu a
atendia, morando em chácaras nas cercanias da capital paulista ou da mineira.
Tenho 74 anos e saúde.
Percebo, no
entanto, cada vez mais perto “o que se faz para a Terra vai para os filhos
da Terra”. Estes, sem juízo, estão sofrendo de poluição, a fabricadora de
doenças, os desequilíbrios energéticos. As doenças correm a ocupar o espaço da
saúde. A poluição do ar – é carro demais, é fábrica demais – impede a
respiração necessária aos pulmões. A poluição das águas – as águas, que deveriam
ser santas, estão ficando empesteadas – contaminam nossas comidas que ainda
recebem os malditos agrotóxicos. A falta de cuidado com as águas deixa abertas
as portas para os insetos e começam a intensificar os males que já haviam
desaparecidos. A poluição sonora entra pelos ouvidos, machucando os tímpanos, causando surdez e confusão nas cabeças. Os jovens aumentam cada vez mais o
volume de seus sons, como se não pudessem suportar o silêncio, pedido pela
música.
Toda essa
poluição vai fazendo seu caminho nos corpos e nas almas. A paz,
tranquilidade, necessárias à
criatividade, à arte, estão escassas e o homem se perde sem o belo da arte. O
belo da natureza, muitas vezes, já se foi, desrespeitado pela poluição.
Aparecem os sentimentos contrários à paz e há uma alimentação do ódio, da
ganância, da intolerância, fábrica das doenças O homem se perde no meio poluído.