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Este blog se destina a discutir ideias e caminhos ligados à literatura, à vida de bem com a natureza, à construção de um país mais justo. Buscar ser feliz é nossa obrigação. Vamos falar de livros,artesanatos, bichos,plantas orgânicas, saúde,movimentos sociais. LULA PRESIDENTE!
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Redução da Pobreza e Segurança Alimentar: as verdadeiras lições do Brasil
Dom Casmurro de Machado de Assis ganha versão em quadrinhos
Um dos maiores clássicos escritos por Machado de Assis, que conta com inúmeras traduções em vários idiomas e adaptações no cinema e na TV, ganha agora sua versão em quadrinhos. A Editora Nemo lançaDom Casmurro de Machado de Assis, uma adaptação de Wellington Srbek e José Aguiar.
Dom Casmurro se destaca por sua engenhosidade na construção de cada elemento da narrativa. Utilizando-se de uma linguagem digressiva, em flashbacks, Machado de Assis criou uma espécie de livro de memórias ficcional, cujo narrador protagonista, Bentinho, tem a intenção de “atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência”. E assim convencer o leitor do adultério cometido por sua esposa, Capitu.
O roteirista Wellington Srbek consegue preservar toda a riqueza do texto machadiano, reunindo os 148 capítulos curtos que integram a obra original em 20 partes, que resgatam tanto o enredo como a riqueza da linguagem culta machadiana, repleta de ironias e metáforas. O realismo que caracteriza a obra é também transposto nos traços dos desenhos em preto e branco de José Aguiar, que trazem dois estilos para diferenciar a narração feita por Casmurro dos fatos que ele narra. A HQ conserva o estilo machadiano, com as ações sendo relatadas conforme surgem na memória e na vontade personagem-narrador.
Fundador da Academia Brasileira de Letras, Machado de Assis demonstra todo seu talento ao centrar a narrativa em elementos psicológicos, revelando o mundo interior de seus personagens, investigando a alma humana, trazendo à tona contradições e problemáticas. Sua versão em quadrinhos logra com sucesso o mesmo intento, proporcionando ainda elementos imagéticos que enriquecem a leitura do texto clássico.
Sobre o autor
Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro em 1839, é considerado o maior dos escritores brasileiros. Um apaixonado pela literatura e observador atento da vida social, suas obras têm o caráter atemporal de verdadeiros retratos da alma humana. Com a força de seu texto irônico e sua narrativa cativante, os clássicos machadianos vencem o tempo, renovando-se a cada leitura.
Sobre o roteirista
Wellington Srbek nasceu em Belo Horizonte em 1974, é formado em História, mestre e doutor em Educação pela UFMG. Pesquisador e professor de quadrinhos, recebeu os principais prêmios nacionais como roteirista e editor de HQs. Entre seus trabalhos mais conhecidos estão o álbum Estórias Gerais e série Solar.
Sobre o desenhista
José Aguiar nasceu em Curitiba em 1975, é arte-educador formado pela FAP, roteirista, ilustrador e editor, premiado com o troféu HQ Mix. Entre suas obras destacam-se Folheteen, Vigor Mortis Comics e Quadrinhofilia, além de dois volumes de Ernie Adams e da coletânea Un Jour de Mai, publicados na França.
Nossa fonte: Vermelho
Nossa fonte
A esquerda europeia e a crise da dívida
A resposta europeia a estas crises nacionais, acentuadas pela vulnerabilidade do euro, é bem conhecida: planos de austeridade para recuperar a competitividade a partir da desvalorização dos salários diretos (retirar o subsídio de Natal e de férias, cortar nos salários, aumentar o horário de trabalho) e indiretos (aumento dos custos da saúde e educação, redução das pensões). Como disse Warren Buffet, o segundo homem mais rico do planeta, "há uma luta de classes, e é a nossa classe que está ganhando". O artigo é de Francisco Louçã.
Veja a íntegra do artigo em:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19087&editoria_id=6
Veja a íntegra do artigo em:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19087&editoria_id=6
terça-feira, 29 de novembro de 2011
A COPA (NÃO) É NOSSA
Frei Betto
Para bem funcionar, um país precisa de regras. Se carece de leis e de quem zele por elas, vale a anarquia. O Brasil possui mais leis que população. Em princípio, nenhuma delas pode contrariar a lei maior – a Constituição. Só em princípio. Na prática, e na Copa, a teoria é outra.
Diante do megaevento da bola, tudo se enrola. A legislação corre o risco de ser escanteada e, se acontecer, empresas associadas à Fifa ficarão isentas de pagar impostos.
A lei da responsabilidade fiscal, que limita o endividamento, será flexibilizada para facilitar as obras destinadas à Copa e às Olimpíadas. Como enfatiza o professor Carlos Vainer, especialista em planejamento urbano, um município poderá se endividar para construir um estádio. Não para efetuar obras de saneamento...
A Fifa é um cassino. Num cassino, muitos jogam, poucos ganham. Quem jamais perde é o dono do cassino. Assim funciona a Fifa, que se interessa mais por lucro que por esporte. Por isso desembarcou no Brasil com a sua tropa de choque para obrigar o governo a esquecer leis e costumes.
A Fifa quer proibir, durante a Copa, a comercialização de qualquer produto num raio de 2 km em torno dos estádios. Excetos mercadorias vendidas pelas empresas associadas a ela. Fica entendido: comércio local, portas fechadas. Camelôs e ambulantes, polícia neles!
Abram alas á Fifa! Cerca de 170 mil pessoas serão removidas de suas moradias para que se construam os estádios. E quem garante que serão devidamente indenizadas?
A Fifa quer o povão longe da Copa. Ele que se contente em acompanhá-la pela TV. Entrar nos estádios será privilégio da elite, dos estrangeiros e dos que tiverem cacife para comprar ingressos em mãos de cambistas. Aliás, boa parte dos ingressos será vendida antecipadamente na Europa.
A Fifa quer impedir o direito à meia-entrada. Estudantes e idosos, fora! E nada de entrar nos estádios com as empadas da vovó ou a merenda dietética recomendada por seu médico. Até água será proibido.
Todos serão revistados na entrada. Só uma empresa de fast food poderá vender seus produtos nos estádios. E a proibição de bebidas alcoólicas nos estádios, que vigora hoje no Brasil, será quebrada em prol da marca de uma cerveja made in usa.
Comenta o prestigioso jornal Le Monde Diplomatique: “A recepção de um megaevento esportivo como esse autoriza também megaviolação de direitos, megaendividamento público e megairregularidades.”
A Fifa quer, simplesmente, suspender, durante a Copa, a vigência do Estatuto do Torcedor, do Estatuto do Idoso e do Código de Defesa do Consumidor. Todas essas propostas ilegais estão contidas no Projeto de lei 2.330/2011, que se encontra no Congresso. Caso não seja aprovado, o Planalto poderá efetivá-las via medidas provisórias.
Se você fizer uma camiseta com os dizeres “Copa 2014”, cuidado. A Fifa já solicitou ao Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) o registro de mais de mil itens, entre os quais o numeral “2014”.
(Não) durmam com um barulho deste: a Fifa quer instituir tribunais de exceção durante a Copa. Sanções relacionadas à venda de produtos, uso de ingressos e publicidade. No projeto de lei acima citado, o artigo 37 permite criar juizados especiais, varas, turmas e câmaras especializadas para causas vinculadas aos eventos. Uma Justiça paralela!
Na África do Sul, foram criados 56 Tribunais Especiais da Copa. O furto de uma máquina fotográfica mereceu 15 anos de prisão! E mais: se houver danos ou prejuízo à Fifa, a culpa e o ônus são da União. Ou seja, o Estado brasileiro passa a ser o fiador da FIFA em seus negócios particulares.
É hora de as torcidas organizadas e os movimentos sociais porem a bola no chão e chutar em gol. Pressionar o Congresso e impedir a aprovação da lei que deixa a legislação brasileira no banco de reservas. Caso contrário, o torcedor brasileiro vai ter que se resignar a torcer pela TV.
Frei Betto é escritor, autor de “A arte de semear estrelas” (Rocco), entre outros livros.http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.
Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)
Os 10 melhores medicamentos caseiros
Por Bernardo Staut
Às vezes, nos entupir de remédios não parece uma boa ideia. Remédios caseiros, geralmente mais naturais, podem ser tão eficazes quanto, senão mais. Mas cuidado: se estiver doente, é sempre bom consultar um médico antes de tomar qualquer medicamento. Confira algumas soluções caseiras:
10 - Canja
Para tratar: resfriado comum
Servida há anos para crianças afetadas pelo tempo, a canja de galinha é um remédio comum nas estações frias. Para alguns, ela não apenas esquenta, mas também é responsável por reduzir a atividade dos glóbulos brancos, responsáveis por causar os sintomas respiratórios de um resfriado.
9 - Óleo de cravo
Para tratar: dor de dente
Óleo de cravo é uma ótima fonte de eugenol, um antibactericida natural e medicamento popular para dor de dente. Geralmente é administrado colocando poucas gotas em um quarto de uma colher de chá de azeite de oliva. Aplica-se então um algodão umedecido com a mistura no local dolorido.
Mas existem alguns riscos. Óleo de cravo não diluído em contato com a boca pode causar queimaduras, danos no tecido ou nos nervos, e dor, com doses altas podendo causar vômitos, garganta dolorida, dificuldades de respiração e até problemas no fígado. O óleo também não deve ser usado em peles machucadas.
8 - Bicabornato de Sódio
Para tratar: desarranjo estomacal
Comumente usado na cozinha, o bicarbonato de sódio é o ingrediente principal na maioria dos antiácidos. Ele funciona através de uma reação com o excesso de suco gástrico, tornando o pH do estômago mais neutro. Uma colher de chá dissolvida em um copo de água resulta em uma maneira fácil e barata de ajudar sua digestão. Só o gosto é que não é tão bom.
7 - Leite integral
Para tratar: bolhas de herpes
A herpes não pode ser curada, mas há muitas maneiras simples de acelerar a recuperação da pele machucada. Um modo popular e simples é tomar leite integral, que contém monocaprina. Ela reduz a atividade do vírus e o leite promove a recuperação das áreas afetadas.
6 - Mel
Para tratar: garganta dolorida
Essa pelo menos tem gosto bom. Consumido sozinho ou como ingrediente de um chá com limão e gengibre, o mel foi comprovado cientificamente como sendo tão efetivo quanto os xaropes de marca.
5 - Vinagre
Para tratar: queimaduras de sol
Melhor seria se você tivesse usado guarda-sol e protetor solar, mas há algumas formas de diminuir os efeitos da exposição prolongada ao sol. Surpreendentemente, aplicar vinagre, puro ou diluído, na pele com um borrifador pode aliviar as dores. Cobrir a área queimada durante a noite com uma toalha também ajuda a refrescar. O único problema é o cheiro do vinagre.
4 - Silver tape
Para tratar: verrugas
Outro produto do dia-a-dia que tem provas científicas para sustentar seu poder de cura é a silver tape, que pode ser usada para remover verrugas. Apesar de levar cerca de 28 dias para curar o problema, em um estudo a fita resolveu completamente as verrugas de 85% dos casos estudados, em oposição a 60% resolvidos com crioterapia.
3 - Base de unhas
Para tratar: picadas de insetos
Usada para formar uma camada protetora em volta da área picada, a base de unhas é conhecida por prevenir a irritação, permitindo que o corpo cure a ferida sem que você fique toda hora coçando.
2- Talco
Para tratar: cabelos oleosos
Na bagunçada vida moderna, às vezes não há tempo nem para um banho. Enquanto um perfume pode mascarar o cheiro ruim, talco pode ser usado para esconder o cabelo oleoso. Apenas uma colher de chá espalhada pelo cabelo com um pente ou mãos e seu penteado vai ficar muito melhor.
1 - Azeite de oliva
Para tratar: dor de ouvido
Azeite de oliva morno é usado por muitos pais com crianças pequenas para combater o desconforto de uma dor de ouvido. Acredita-se que o azeite morno alivia a inflamação, diminuindo as dores causadas por muco, que bloqueia o sistema usado para equalizar a pressão interna do ouvido.
Nossa fonte: O Berro
Às vezes, nos entupir de remédios não parece uma boa ideia. Remédios caseiros, geralmente mais naturais, podem ser tão eficazes quanto, senão mais. Mas cuidado: se estiver doente, é sempre bom consultar um médico antes de tomar qualquer medicamento. Confira algumas soluções caseiras:
10 - Canja
Para tratar: resfriado comum
Servida há anos para crianças afetadas pelo tempo, a canja de galinha é um remédio comum nas estações frias. Para alguns, ela não apenas esquenta, mas também é responsável por reduzir a atividade dos glóbulos brancos, responsáveis por causar os sintomas respiratórios de um resfriado.
9 - Óleo de cravo
Para tratar: dor de dente
Óleo de cravo é uma ótima fonte de eugenol, um antibactericida natural e medicamento popular para dor de dente. Geralmente é administrado colocando poucas gotas em um quarto de uma colher de chá de azeite de oliva. Aplica-se então um algodão umedecido com a mistura no local dolorido.
Mas existem alguns riscos. Óleo de cravo não diluído em contato com a boca pode causar queimaduras, danos no tecido ou nos nervos, e dor, com doses altas podendo causar vômitos, garganta dolorida, dificuldades de respiração e até problemas no fígado. O óleo também não deve ser usado em peles machucadas.
8 - Bicabornato de Sódio
Para tratar: desarranjo estomacal
Comumente usado na cozinha, o bicarbonato de sódio é o ingrediente principal na maioria dos antiácidos. Ele funciona através de uma reação com o excesso de suco gástrico, tornando o pH do estômago mais neutro. Uma colher de chá dissolvida em um copo de água resulta em uma maneira fácil e barata de ajudar sua digestão. Só o gosto é que não é tão bom.
7 - Leite integral
Para tratar: bolhas de herpes
A herpes não pode ser curada, mas há muitas maneiras simples de acelerar a recuperação da pele machucada. Um modo popular e simples é tomar leite integral, que contém monocaprina. Ela reduz a atividade do vírus e o leite promove a recuperação das áreas afetadas.
6 - Mel
Para tratar: garganta dolorida
Essa pelo menos tem gosto bom. Consumido sozinho ou como ingrediente de um chá com limão e gengibre, o mel foi comprovado cientificamente como sendo tão efetivo quanto os xaropes de marca.
5 - Vinagre
Para tratar: queimaduras de sol
Melhor seria se você tivesse usado guarda-sol e protetor solar, mas há algumas formas de diminuir os efeitos da exposição prolongada ao sol. Surpreendentemente, aplicar vinagre, puro ou diluído, na pele com um borrifador pode aliviar as dores. Cobrir a área queimada durante a noite com uma toalha também ajuda a refrescar. O único problema é o cheiro do vinagre.
4 - Silver tape
Para tratar: verrugas
Outro produto do dia-a-dia que tem provas científicas para sustentar seu poder de cura é a silver tape, que pode ser usada para remover verrugas. Apesar de levar cerca de 28 dias para curar o problema, em um estudo a fita resolveu completamente as verrugas de 85% dos casos estudados, em oposição a 60% resolvidos com crioterapia.
3 - Base de unhas
Para tratar: picadas de insetos
Usada para formar uma camada protetora em volta da área picada, a base de unhas é conhecida por prevenir a irritação, permitindo que o corpo cure a ferida sem que você fique toda hora coçando.
2- Talco
Para tratar: cabelos oleosos
Na bagunçada vida moderna, às vezes não há tempo nem para um banho. Enquanto um perfume pode mascarar o cheiro ruim, talco pode ser usado para esconder o cabelo oleoso. Apenas uma colher de chá espalhada pelo cabelo com um pente ou mãos e seu penteado vai ficar muito melhor.
1 - Azeite de oliva
Para tratar: dor de ouvido
Azeite de oliva morno é usado por muitos pais com crianças pequenas para combater o desconforto de uma dor de ouvido. Acredita-se que o azeite morno alivia a inflamação, diminuindo as dores causadas por muco, que bloqueia o sistema usado para equalizar a pressão interna do ouvido.
Nossa fonte: O Berro
domingo, 27 de novembro de 2011
DIMENSÃO HOLÍSTICA DA ÉTICA
Frei Betto
Sócrates foi condenado à morte por heresia, como Jesus. Acusaram-no de pregar novos deuses aos jovens. Tal iluminação não lhe abriu os olhos diante do céu, e sim da Terra. Percebeu não poder deduzir do Olimpo uma ética para os humanos. Os deuses do Olimpo podiam explicar a origem das coisas, mas não ditar normas de conduta.
A mitologia, repleta de exemplos nada edificantes, obrigou os gregos a buscar na razão os princípios normativos de nossa boa convivência social. A promiscuidade reinante no Olimpo, objeto de crença, não convinha traduzir-se em atitudes; assim, a razão conquistou autonomia frente à religião. Em busca de valores capazes de normatizar a convivência humana, Sócrates apontou a nossa caixa de Pandora: a razão.
Se a moral não decorre dos deuses, então somos nós, seres racionais, que devemos erigi-la. Em Antígona, peça de Sófocles, em nome de razões de Estado, Creonte proibiu Antígona de sepultar seu irmão Polinice. Ela se recusou a obedecer “leis não escritas imutáveis, que não datam de hoje nem de ontem, que ninguém sabe quando apareceram”. Foi a afirmação da consciência sobre a lei, da cidadania sobre o Estado.
Para Sócrates, a ética exige normas constantes e imutáveis. Não pode ficar na dependência da diversidade de opiniões. Platão trouxe luzes ensinando-nos a discernir realidade e ilusão. Em República, lembrou que para Trasímaco a ética de uma sociedade reflete os interesses de quem ali detém o poder. Conceito retomado por Marx e aplicado à ideologia.
O que é o poder? É o direito concedido a um indivíduo ou conquistado por um partido ou classe social de impor a sua vontade aos demais.
Aristóteles nos arrancou do solipsismo ao associar felicidade e política. Mais tarde, Santo Tomás de Aquino, inspirado em Aristóteles, nos deu as primícias de uma ética política, priorizando o bem comum e valorizando a soberania popular e a consciência individual como reduto indevassável.
Maquiavel, na contramão, destituiu a política de toda ética, reduzindo-a ao mero jogo de poder, onde os fins justificam os meios.
Para Kant, a grandeza do ser humano não reside na técnica, em subjugar a natureza, e sim na ética, na capacidade de se autodeterminar a partir da própria liberdade. Há em nós um senso inato do dever e não deixamos de fazer algo por ser pecado, e sim por ser injusto. E nossa ética individual deve se complementar pela ética social, já que não somos um rebanho de indivíduos, mas uma sociedade que exige, à boa convivência, normas e leis e, sobretudo, cooperação de uns com os outros.
Hegel e Marx acentuaram que a nossa liberdade é sempre condicionada, relacional, pois consiste numa construção de comunhões, com a natureza e os nossos semelhantes. Porém, a injustiça torna alguns dessemelhantes.
Nas águas da ética judaico-cristã, Marx ressaltou a irredutível dignidade de cada ser humano e, portanto, o direito à igualdade de oportunidades. Em outras palavras, somos tanto mais livres quanto mais construímos instituições que promovam a felicidade de todos.
A filosofia moderna fez uma distinção aparentemente avançada e que, de fato, abriu novo campo de tensão ao frisar que, respeitada a lei, cada um é dono de seu nariz. A privacidade como reino da liberdade total. O problema desse enunciado é que desloca a ética da responsabilidade social (cada um deve preocupar-se com todos) para os direitos individuais (cada um que cuide de si).
Essa distinção ameaça a ética de ceder ao subjetivismo egocêntrico. Tenho direitos, prescritos numa Declaração Universal, mas e os deveres? Que obrigações tenho para com a sociedade em que vivo? O que tenho a ver com o faminto, o excluído e o meio ambiente?
Daí a importância do conceito de cidadania. Os indivíduos são diferentes e numa sociedade desigual são tratados segundo sua importância na escala social. Já o cidadão, pobre ou rico, é um ser dotado de direitos invioláveis, e está sujeito à lei como todos os demais.
O capitalismo associa liberdade ao dinheiro, ou seja, ao consumo. A pessoa se sente livre enquanto satisfaz seus desejos de consumo e, através da técnica e da ciência, domina a natureza. A visão analítica não se pergunta pelo significado desse consumismo e pelo sentido desse domínio.
Agora, a humanidade desperta para os efeitos nefastos de seu modo de subjugar a natureza: o aquecimento global faz soar o alarme de um novo dilúvio que, desta vez, não virá pelas águas, e sim pelo fogo, sem chances de uma nova Arca de Noé.
A recente consciência ecológica nos amplia a noção de ethos. A casa é todo o Universo. Lembrem-se: não falamos de Pluriverso, mas de Universo. Há uma íntima relação entre todos os seres visíveis e invisíveis, do macro ao micro, das partículas elementares aos vulcões. Tudo nos diz respeito e toda a natureza possui a sua racionalidade imanente.
Segundo Teilhard de Chardin, o princípio da ética é o respeito a todo o criado para que desperte suas potencialidades. Assim, faz sentido falar agora da dimensão holística da ética.
O ponto de partida da ética foi assinalado por Sócrates: a polis, a cidade. A vida é sempre processo pessoal e social. Porém, a ótica neoliberal diz que cada um deve se contentar com o seu mundinho.
Mas fica a pergunta de Walter Benjamin: o que dizer a milhões de vítimas de nosso egoísmo?
Frei Betto é escritor, autor de “Sinfonia universal – a cosmovisão de Teilhard de Chardin” (Vozes), entre outros livros. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.
Sócrates foi condenado à morte por heresia, como Jesus. Acusaram-no de pregar novos deuses aos jovens. Tal iluminação não lhe abriu os olhos diante do céu, e sim da Terra. Percebeu não poder deduzir do Olimpo uma ética para os humanos. Os deuses do Olimpo podiam explicar a origem das coisas, mas não ditar normas de conduta.
A mitologia, repleta de exemplos nada edificantes, obrigou os gregos a buscar na razão os princípios normativos de nossa boa convivência social. A promiscuidade reinante no Olimpo, objeto de crença, não convinha traduzir-se em atitudes; assim, a razão conquistou autonomia frente à religião. Em busca de valores capazes de normatizar a convivência humana, Sócrates apontou a nossa caixa de Pandora: a razão.
Se a moral não decorre dos deuses, então somos nós, seres racionais, que devemos erigi-la. Em Antígona, peça de Sófocles, em nome de razões de Estado, Creonte proibiu Antígona de sepultar seu irmão Polinice. Ela se recusou a obedecer “leis não escritas imutáveis, que não datam de hoje nem de ontem, que ninguém sabe quando apareceram”. Foi a afirmação da consciência sobre a lei, da cidadania sobre o Estado.
Para Sócrates, a ética exige normas constantes e imutáveis. Não pode ficar na dependência da diversidade de opiniões. Platão trouxe luzes ensinando-nos a discernir realidade e ilusão. Em República, lembrou que para Trasímaco a ética de uma sociedade reflete os interesses de quem ali detém o poder. Conceito retomado por Marx e aplicado à ideologia.
O que é o poder? É o direito concedido a um indivíduo ou conquistado por um partido ou classe social de impor a sua vontade aos demais.
Aristóteles nos arrancou do solipsismo ao associar felicidade e política. Mais tarde, Santo Tomás de Aquino, inspirado em Aristóteles, nos deu as primícias de uma ética política, priorizando o bem comum e valorizando a soberania popular e a consciência individual como reduto indevassável.
Maquiavel, na contramão, destituiu a política de toda ética, reduzindo-a ao mero jogo de poder, onde os fins justificam os meios.
Para Kant, a grandeza do ser humano não reside na técnica, em subjugar a natureza, e sim na ética, na capacidade de se autodeterminar a partir da própria liberdade. Há em nós um senso inato do dever e não deixamos de fazer algo por ser pecado, e sim por ser injusto. E nossa ética individual deve se complementar pela ética social, já que não somos um rebanho de indivíduos, mas uma sociedade que exige, à boa convivência, normas e leis e, sobretudo, cooperação de uns com os outros.
Hegel e Marx acentuaram que a nossa liberdade é sempre condicionada, relacional, pois consiste numa construção de comunhões, com a natureza e os nossos semelhantes. Porém, a injustiça torna alguns dessemelhantes.
Nas águas da ética judaico-cristã, Marx ressaltou a irredutível dignidade de cada ser humano e, portanto, o direito à igualdade de oportunidades. Em outras palavras, somos tanto mais livres quanto mais construímos instituições que promovam a felicidade de todos.
A filosofia moderna fez uma distinção aparentemente avançada e que, de fato, abriu novo campo de tensão ao frisar que, respeitada a lei, cada um é dono de seu nariz. A privacidade como reino da liberdade total. O problema desse enunciado é que desloca a ética da responsabilidade social (cada um deve preocupar-se com todos) para os direitos individuais (cada um que cuide de si).
Essa distinção ameaça a ética de ceder ao subjetivismo egocêntrico. Tenho direitos, prescritos numa Declaração Universal, mas e os deveres? Que obrigações tenho para com a sociedade em que vivo? O que tenho a ver com o faminto, o excluído e o meio ambiente?
Daí a importância do conceito de cidadania. Os indivíduos são diferentes e numa sociedade desigual são tratados segundo sua importância na escala social. Já o cidadão, pobre ou rico, é um ser dotado de direitos invioláveis, e está sujeito à lei como todos os demais.
O capitalismo associa liberdade ao dinheiro, ou seja, ao consumo. A pessoa se sente livre enquanto satisfaz seus desejos de consumo e, através da técnica e da ciência, domina a natureza. A visão analítica não se pergunta pelo significado desse consumismo e pelo sentido desse domínio.
Agora, a humanidade desperta para os efeitos nefastos de seu modo de subjugar a natureza: o aquecimento global faz soar o alarme de um novo dilúvio que, desta vez, não virá pelas águas, e sim pelo fogo, sem chances de uma nova Arca de Noé.
A recente consciência ecológica nos amplia a noção de ethos. A casa é todo o Universo. Lembrem-se: não falamos de Pluriverso, mas de Universo. Há uma íntima relação entre todos os seres visíveis e invisíveis, do macro ao micro, das partículas elementares aos vulcões. Tudo nos diz respeito e toda a natureza possui a sua racionalidade imanente.
Segundo Teilhard de Chardin, o princípio da ética é o respeito a todo o criado para que desperte suas potencialidades. Assim, faz sentido falar agora da dimensão holística da ética.
O ponto de partida da ética foi assinalado por Sócrates: a polis, a cidade. A vida é sempre processo pessoal e social. Porém, a ótica neoliberal diz que cada um deve se contentar com o seu mundinho.
Mas fica a pergunta de Walter Benjamin: o que dizer a milhões de vítimas de nosso egoísmo?
Frei Betto é escritor, autor de “Sinfonia universal – a cosmovisão de Teilhard de Chardin” (Vozes), entre outros livros. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.
Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Centrais apoiam distribuição dos lucros do FGTS
A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e a Força Sindical apoiam o estudo no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) de distribuir o lucro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) entre os trabalhadores que possuem contas abertas.
Além de apoiar a medida, a CTB ressalta que o repasse é um direito do trabalhador, já que os recursos do FGTS são utilizados para diversas finalidades obras públicas, aquisição de imóveis, emprestados com juros praticados no mercado.
“Há tempos somos críticos e reclamamos da baixa remuneração do Fundo de Garantia. É uma das piores remunerações do mundo, ficando abaixo da inflação”, declarou o secretário-geral da CTB, Pascoal Carneiro, ao Vermelho.
O presidente da entidade, Wagner Gomes, lembrou que é preciso assegurar o direito do trabalhador poder aplicar os recursos retirados aonde quiser.
“É uma medida importante, que deve ser pensada em conjunto, entre trabalhadores, governo e empresas. Mas é importante assegurar liberdade aos cotistas do Fundo (trabalhadores)”, reforçou Wagner.
A Força Sindical disse, em nota oficial, que vai propor uma mesa de negociação envolvendo representantes das centrais, empresários e governo para a elaboração de um projeto de consenso visando a rapidez na aprovação de um Projeto de Lei no Congresso Nacional.
Em 2010, o FGTS teve lucro de R$ 5,4 bilhões. Caso seja aprovada, poderá até dobrar a atual remuneração, que é de 3% de juros mais a variação da Taxa de Referência (TR) no ano.
A senadora Marta Suplicy (PT-SP) apoiou, em pronunciamento no plenário, nesta quarta-feira (23), a intenção do governo federal de estudar uma distribuição mais vantajosa do rendimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) aos trabalhadores participantes.
Marta tem um projeto, apresentado há cerca de dois meses, que garante aos trabalhadores a real condição de cotistas do fundo, uma vez que se tornam beneficiários de pelo menos 50% do lucro obtido com as aplicações.
Nossa fonte:Vermelho
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Arte e Cultura Popular
A 9ª edição do Seminário Temático de Arte e Cultura Popular acontece no Rio de Janeiro
O 9º Seminários Temáticos de Arte e Cultura Popular tem como tema Cultura e Arte Popular no Estado do Rio de Janeiro
Com apoio do MinC, Museu Casa do Pontal realizará seminário nesta segunda-feira , no Rio de Janeiro.
Nesta segunda-feira e no dia 2 de dezembro, o Museu Casa do Pontal realizará a 9ª edição dos Seminários Temáticos de Arte e Cultura Popular, com o tema Cultura e Arte Popular no Estado do Rio de Janeiro. O evento tem o apoio do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). A iniciativa é resultado de parceria com a Secretaria de Estado da Cultura do Rio de Janeiro e privilegiará questões relacionadas ao universo da arte e da cultura popular fluminense.
Durante o seminário serão realizadas palestras, abertas ao público em geral, e oficinas culturais direcionadas a educadores e gestores socioculturais, além de uma visita comentada ao acervo do Museu. As palestras serão ministradas pelo antropólogo Daniel Bitter, professor da Universidade Federal Fluminense e integrante da Associação Cultural Caburé; pelo artista Manoel Batista; e pela psicóloga e atriz Numa Ciro, doutora em Ciência da Literatura e coordenadora da Universidade das Quebradas, um projeto itinerante também coordenado pela professora Heloísa Buarque de Hollanda.
A antropóloga e diretora do Museu Casa do Pontal, Ângela Mascelani, será a responsável pela visita ao acervo do Museu e abordará mais especificamente a obra do artista fluminense Adalton Lopes. As oficinas serão ministradas pelo Grupo Cultural Jongo da Serrinha e pela atriz e arte-educadora Juliana Prado, coordenadora do programa Educacional e Social do Museu.
O Museu Casa do Pontal está situado na Estrada do Pontal, 3295, Recreio dos Bandeirantes – RJ.
As inscrições são gratuitas e podem ser feitas aqui ou pelo email producao@museucasadopontal.com.br
A programação completa está no site http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2011/11/Cultura-e-Arte-Popular-1.jpg
Nossa fonte: Correio do Brasil
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Pretinho, o sobrevivente
O carro era uma caminhonete preta, eu estava ao volante, sozinha. Pelo retrovisor eu o via correndo atrás, um cachorrinho. O carro, numa descida, parecia querer parar. Meu pé não achava o acelerador, buscava o freio, meu coração fazia um barulho esquisito, meus olhos se esqueciam de ver a estrada pela frente, não largavam o retrovisor e o Pretinho corria e eu chorava por ele e por mim, impotente. Por fim, ele parou e meu pé voltou ao acelerador, meu peito segurou um coração que emudeceu jogando um grito gutural para o ar que não passava por meu pulmão. As lágrimas caíram e a caminhonete, por alguns metros, se dirigiu sem que meus olhos vissem o caminho. Eta vida desgraçada!
Pretinho é um sobrevivente. Nasceu em algum lugar, com alguns defeitos e muita capacidade de amor. Sua carinha gosta de se encostar nas minhas pernas, num pedido tão dele de carinho. Seu olhar, mostrando muita vivacidade, parece estar sorrindo. Ele quer ser feliz e batalha para isso, contra quem o rejeita. Tem o pelo bem curto, preto, com uma pincelada de branco na carinha, ajudando a imagem do sorriso. Uma perna dianteira, com o atropelamento e sem assistência, ficou torta lhe dando um andar manquitola que não o impede de correr buscando uma proteção – que não consegui lhe dar – ou um brinquedo.
Nós nos conhecemos no quintal da casa de Isa, uma amiga. Na primeira vez que o vi, estava com um pequeno machucado perto dos quadris, onde coloquei um remedinho cicatrizante. Na segunda vez, ele estava com um buraco muito feio no pescoço. Fiquei assustada com o aspecto, percebendo que não daria conta de cuidar, peguei-o no colo e o levei à veterinária Cláudia que com toda sua competência e sensibilidade o tratou com antibiótico, cicatrizante, vacinas, vermífugo e antipulgas. Como precisava tomar o antibiótico por mais dois dias, ficou internado.
Ao retornar à casa de minha amiga, perguntei a ela se concordava em cuidar do Pretinho, ficando comigo a responsabilidade da ração e do que mais ele precisasse. Nessa casa, já havia um pequeno cão que ganharia um companheiro para suas brincadeiras. Esse cachorrinho fica na varanda da cozinha, onde as pessoas da casa passam a maior parte do tempo. Isa aquiesceu. Então, providenciei uma casinha, comedouro-bebedouro, cobertor, toalha, coleira e guia e fui buscar o meu amigo que já me reconheceu como tal. Não me deixou nenhuma dúvida. Ao me ver, veio correndo e quis subir no meu colo, maneira sua de me cumprimentar que mantém sempre que me vê. Isa colocou as coisinhas do Pretinho na varanda da frente da casa.
Moro em uma chácara que, por questão de segurança, tem um casal de cachorros grandes, territoriais e que não permitem a entrada de nenhum estranho. Por infelizes experiências, sei que não posso trazer o Pretinho, como eu gostaria tanto. Já passei horas buscando uma alternativa, porém seria um risco demasiado grande.
Começou um período de queixas. Toda vez que eu ia visitar minha amiga – que cuida sozinha de sua mãe, uma idosa deficiente visual e auditiva, além de também não ter total mobilidade devido a suas pernas sem forças – era recebida com alguma reclamação contra o Pretinho. Até que há dois dias atrás o ambiente ficou insustentável. Apareceu lá um terceiro cachorro que foi recebido na varanda da cozinha. Quando lá cheguei, a primeira frase que ouvi foi: - Não dou conta de cuidar de três cachorros. – Em seguida, uma descrição das traquinices do Pretinho que, na versão de minha amiga, é o líder responsável pelo grande trabalho que estava tendo. Considerando sua situação estressante de cuidadora, percebi imediatamente que Pretinho precisava de outro lar.
Meu amigo é um cachorro de rua – no caso, de estrada, pois estamos no campo -, um buscador desesperado de um dono. Ele me escolheu e eu não posso cuidar dele, sem colocá-lo numa situação de risco. Lembrei-me que há outra casa onde ele vai muito e lá fomos, então, minha amiga e eu pedir a essa senhora para aceitar o Pretinho. Assumi com ela o mesmo compromisso de levar a ração. Fui buscar mais uma vez o cãozinho e suas coisinhas. Ele sentindo que estava sendo expulso, colocou as duas patas dianteiras nas pernas da Isa e lhe deu um olhar pidão. Cheguei a pensar que haveria uma comoção e desistência, mas me enganei. Peguei-o no meu colo e, imediatamente, ele começou a lamber minha mão, num pedido mudo e eloqüente de socorro. No carro, ele confiante parecia estar contente, querendo subir no meu ombro. Levei-o para a casa de Dona Saturnina. Pessoa muito pobre que mora num terreno com mais duas outras casas da família, mãe e irmã, além de mais três cachorros. Foram todos bastante receptivos, já conheciam o Pretinho a quem chamam de Neguinho. Depois de arrumar as coisinhas dele, pedi para colocar água no bebedouro e Dona Saturnina levantou a tampa de um grande galão de onde tirou a água e me entregou. Percebi que as casas não tinham água encanada.
O cachorro Bidu se mostrou ciumento e eu perguntei se não haveria problemas ao que alguém da casa me respondeu logo: - Não. Eles são amigos.
Acariciei o Pretinho e me despedi, informando que ficaria fora por uma semana e tão logo retornasse iria visitar o Pretinho.
Duas imagens estão na minha retina, no meu coração e na minha cabeça. O Pretinho suplicando à dona da casa para não expulsá-lo e correndo atrás do meu carro. Ele confiou em mim e eu o tirei de onde ele acreditava ser seu lar, deixei-o em outro lugar e vim embora. Coloquei toda minha energia para desejar que o novo lar do meu amigo seja um pouco mais duradouro, que ele consiga pessoas melhores. Minha impotência é, hoje, minha marca.
domingo, 20 de novembro de 2011
Valeu, Zumbi
Em 20 de novembro de 1695, Zumbi, o último líder do quilombo dos Palmares, foi morto pelos escravocratas. O quilombo que resistiu por mais de cem anos entra em fase de extinção. Naquela cidadela de resistência à escravidão, viviam em comunhão negros, indígenas e não negros perseguidos na colônia.
Eloi Ferreira de Araujo, na Folha de São Paulo
Chegaram a mais de 20 mil habitantes. A destruição física do quilombo dos Palmares foi uma derrota. Contudo, o sonho de liberdade, de colocar fim à escravidão de africanos, ficou dormitando.
Assim, passados quase 200 anos da epopeia de Palmares, a luta pelo fim da escravidão foi para as ruas do Brasil. O movimento abolicionista ganha os corações e as mentes: em 13 de maio de 1888, é aprovada a Lei Áurea.
É iniciada a colheita dos frutos semeados em Palmares. Contudo, a Lei Áurea não veio acompanhada de mecanismos de inclusão para assegurar aos ex-cativos as oportunidades que foram dadas aos imigrantes europeus.]
Passados 123 anos desde a abolição, o país incorporou ao seu arcabouço jurídico legislação não penal para a população negra que merece destaque. A lei nº 10.639/2003, que institui o ensino de história e cultura afro-brasileira, é uma delas.
Sua importância reside, entre inúmeros aspectos, em estimular o conhecimento sobre a importância do negro na formação da nação, da identidade nacional e da contribuição dos escravos para a construção do Estado brasileiro.
Vale ressaltar também a lei nº 12.288, o Estatuto da Igualdade Racial, primeira legislação, desde 1888, que, por meio de ações afirmativas, cria possibilidades para reparar um pouco das desigualdades históricas entre negros e não negros.
Há quem diga que os problemas existentes no Brasil são apenas sociais, e não raciais. Um discurso de cabra-cega, que ignora o desenvolvimento desigual do país e que, na prática, ignora que os negros foram escravizados.
As ações afirmativas são medidas especiais que o Estado e a iniciativa privada podem adotar para reduzir as desigualdades. Um exemplo são as cotas nos concursos e demais processos de seleção para o ingresso de negras e negros nas instituições públicas e privadas.
Direitos das comunidades dos remanescentes dos quilombos, proteção às religiões afro-brasileiras, empreendedorismo, saúde da população negra, acesso a financiamentos públicos, presença nas peças de publicidade e nos meios de comunicação, entre outras possibilidades, constam do Estatuto da Igualdade Racial e dão vigor a um diploma novo, que precisa ser apropriado pela nação, para que esta exija seu cumprimento.
É o início de uma longa caminhada que o Brasil precisa percorrer para reparar o mais bárbaro de todos os crimes: a escravidão de africanos e de seus descendentes.
O sonho dos quilombolas de Palmares caminha para ser uma realidade. O país está avançando para a construção da igualdade de oportunidades entre todos os filhos da nação.
Valeu, Zumbi.
Eloi Ferreira de Araujo é presidente da Fundação Cultural Palmares
HERÓIS CONDENADOS
Frei Betto
“Os últimos soldados da guerra fria”, livro de Fernando Morais editado pela Companhia das Letras (2011), teria suscitado inveja em Ian Fleming, autor de 007, se este não tivesse morrido em 1964, sobretudo por comprovar que, mais uma vez, a realidade supera a ficção.
Suponhamos que na esquina de sua rua haja um bar que abriga suspeitos de assaltarem casas do bairro. Como medida preventiva, você trata de infiltrar um detetive entre eles, de modo a proteger sua família. A polícia, de olho nos meliantes, identifica o detetive. E ao invés de prender os bandidos, encarcera o infiltrado...
Foi o que ocorreu com os cinco cubanos que, monitorados pelos serviços de inteligência de Cuba, se infiltraram nos grupos anticastristas da Flórida, responsáveis por 681 atentados terroristas contra Cuba, que resultaram no assassinato de 3.478 pessoas e causaram danos irreparáveis a outras 2.099.
Desde setembro de 1998, encontram-se presos nos EUA os cubanos Antonio Guerrero, Fernando González, Gerardo Hernández e Ramón Labañino. O quinto, René González, condenado a 15 anos, obteve liberdade condicional no último dia 7 de outubro, mas por ter dupla nacionalidade (americana e cubana) está proibido de deixar o país.
Os demais cumprem pesadas penas: Hernández recebeu condenação de dupla prisão perpétua e mais 15 anos de reclusão... Precisaria de três vidas para cumprir tão absurda sentença. Labañino está condenado à prisão perpétua, mais 18 anos; Guerrero, à prisão perpétua, mais 10 anos; e Fernando a 19 anos.
Os cinco constituíam a Rede Vespa, que municiava Havana de informações a respeito de terroristas que, por avião ou disfarçados de turistas, praticaram atentados contra Cuba, contrabandearam armas e detonaram explosivos em hotéis de Havana, causando ferimentos e mortes.
Bush e Obama deveriam agradecer ao governo cubano por identificar os terroristas que, impunes, usam o território americano para atacar a ilha socialista do Caribe. Acontece, no entanto, exatamente o contrário, revela o livro bem documentado de Fernando Morais. O FBI prendeu os agentes cubanos, e continua a fazer vista grossa aos terroristas que promovem incursões aéreas clandestinas sobre Cuba e treinamentos armados nos arredores de Miami.
Em 15 capítulos, o livro de Morais relata como a segurança cubana prepara seus agentes; a saga do mercenário salvadorenho que, a soldo de Miami, colocou cinco bombas em hotéis e restaurantes de Havana; o papel de Gabriel García Márquez, como pombo-correio, na troca de correspondência entre Fidel e Bill Clinton; a visita sigilosa de agentes do FBI a Havana, e o volume de provas contra a Miami cubana que lhe foram oferecidas por ordem de Fidel.
“Os últimos soldados da guerra fria” é fruto de exaustivas pesquisas e entrevistas realizadas pelo autor em Cuba, EUA e Brasil. Redigido em estilo ágil, desprovido de adjetivações e considerações ideológicas, o livro comprova por que Cuba resiste há mais de 50 anos como único país socialista do Ocidente: a Revolução e suas conquistas sociais incutem na população um senso de soberania que a induz a preservá-las como gesto de amor.
Em país capitalista, para quem, graças à loteria biológica, nasceu em família e classe social imunes à miséria e à pobreza, é difícil entender por que os cubanos não se rebelam contra as autoridades que os governam. Ora, quando se vive num país bloqueado há meio século pela maior potência militar, econômica e ideológica da história, da qual dista apenas 140 km, é motivo de orgulho resistir por tanto tempo e ainda merecer elogios do papa João Paulo II ao visitá-lo em 1998.
Em mais de 100 países – inclusive no Brasil – há médicos e professores cubanos em serviços solidários em áreas carentes. O número de desertores é ínfimo, considerada a quantidade de profissionais que, findo o prazo de trabalho, retornam a Cuba. E a Revolução, como ocorre agora sob o governo de Raúl Castro, tem procurado se atualizar para não perecer.
Talvez este outdoor encontrado nas proximidades do aeroporto de Havana, e citado com frequência por Fernando Morais, ajude a entender a consciência cívica de um povo que lutou para deixar de ser colônia, primeiro, da Espanha e, em seguida, dos EUA: “Esta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana.”
Frei Betto é escritor, autor de “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.
Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)
“Os últimos soldados da guerra fria”, livro de Fernando Morais editado pela Companhia das Letras (2011), teria suscitado inveja em Ian Fleming, autor de 007, se este não tivesse morrido em 1964, sobretudo por comprovar que, mais uma vez, a realidade supera a ficção.
Suponhamos que na esquina de sua rua haja um bar que abriga suspeitos de assaltarem casas do bairro. Como medida preventiva, você trata de infiltrar um detetive entre eles, de modo a proteger sua família. A polícia, de olho nos meliantes, identifica o detetive. E ao invés de prender os bandidos, encarcera o infiltrado...
Foi o que ocorreu com os cinco cubanos que, monitorados pelos serviços de inteligência de Cuba, se infiltraram nos grupos anticastristas da Flórida, responsáveis por 681 atentados terroristas contra Cuba, que resultaram no assassinato de 3.478 pessoas e causaram danos irreparáveis a outras 2.099.
Desde setembro de 1998, encontram-se presos nos EUA os cubanos Antonio Guerrero, Fernando González, Gerardo Hernández e Ramón Labañino. O quinto, René González, condenado a 15 anos, obteve liberdade condicional no último dia 7 de outubro, mas por ter dupla nacionalidade (americana e cubana) está proibido de deixar o país.
Os demais cumprem pesadas penas: Hernández recebeu condenação de dupla prisão perpétua e mais 15 anos de reclusão... Precisaria de três vidas para cumprir tão absurda sentença. Labañino está condenado à prisão perpétua, mais 18 anos; Guerrero, à prisão perpétua, mais 10 anos; e Fernando a 19 anos.
Os cinco constituíam a Rede Vespa, que municiava Havana de informações a respeito de terroristas que, por avião ou disfarçados de turistas, praticaram atentados contra Cuba, contrabandearam armas e detonaram explosivos em hotéis de Havana, causando ferimentos e mortes.
Bush e Obama deveriam agradecer ao governo cubano por identificar os terroristas que, impunes, usam o território americano para atacar a ilha socialista do Caribe. Acontece, no entanto, exatamente o contrário, revela o livro bem documentado de Fernando Morais. O FBI prendeu os agentes cubanos, e continua a fazer vista grossa aos terroristas que promovem incursões aéreas clandestinas sobre Cuba e treinamentos armados nos arredores de Miami.
Em 15 capítulos, o livro de Morais relata como a segurança cubana prepara seus agentes; a saga do mercenário salvadorenho que, a soldo de Miami, colocou cinco bombas em hotéis e restaurantes de Havana; o papel de Gabriel García Márquez, como pombo-correio, na troca de correspondência entre Fidel e Bill Clinton; a visita sigilosa de agentes do FBI a Havana, e o volume de provas contra a Miami cubana que lhe foram oferecidas por ordem de Fidel.
“Os últimos soldados da guerra fria” é fruto de exaustivas pesquisas e entrevistas realizadas pelo autor em Cuba, EUA e Brasil. Redigido em estilo ágil, desprovido de adjetivações e considerações ideológicas, o livro comprova por que Cuba resiste há mais de 50 anos como único país socialista do Ocidente: a Revolução e suas conquistas sociais incutem na população um senso de soberania que a induz a preservá-las como gesto de amor.
Em país capitalista, para quem, graças à loteria biológica, nasceu em família e classe social imunes à miséria e à pobreza, é difícil entender por que os cubanos não se rebelam contra as autoridades que os governam. Ora, quando se vive num país bloqueado há meio século pela maior potência militar, econômica e ideológica da história, da qual dista apenas 140 km, é motivo de orgulho resistir por tanto tempo e ainda merecer elogios do papa João Paulo II ao visitá-lo em 1998.
Em mais de 100 países – inclusive no Brasil – há médicos e professores cubanos em serviços solidários em áreas carentes. O número de desertores é ínfimo, considerada a quantidade de profissionais que, findo o prazo de trabalho, retornam a Cuba. E a Revolução, como ocorre agora sob o governo de Raúl Castro, tem procurado se atualizar para não perecer.
Talvez este outdoor encontrado nas proximidades do aeroporto de Havana, e citado com frequência por Fernando Morais, ajude a entender a consciência cívica de um povo que lutou para deixar de ser colônia, primeiro, da Espanha e, em seguida, dos EUA: “Esta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana.”
Frei Betto é escritor, autor de “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.
Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)
sábado, 19 de novembro de 2011
AMAZÔNIA: UM IMENSO PASTO
Frei Betto
Para preservar a Amazônia, melhor que códigos florestais e fiscalizações seria a reforma agrária adaptada ao seu grandioso ecossistema, de modo a impedir a atividade predatória do agronegócio, do latifúndio e de empresas de mineração.
Os dados são do governo federal: 17,5% da Amazônia brasileira é área desmatada. Desse total, 62% foram transformados em pasto de bois e vacas. Imagens de satélites comprovam que, até 2008, uma área de 719 mil km2 – três vezes o Estado de São Paulo ou pouco menos que a extensão do Chile - teve todas as suas árvores abatidas. E, certamente, rios e lagoas poluídos.
Ao contrário do que se imagina, a agricultura, em especial a destinada à produção de grãos, como soja, ocupa menos de 5% da área total desmatada.
A principal arma de devastação da Amazônia, a motosserra, derruba árvores e abre pastos de baixíssima produtividade, a ponto de uma área do tamanho de um campo de futebol ser ocupada por apenas um boi.
Concentram-se na Amazônia 71 milhões de cabeças de gado. Quase todas destinadas a produzir carne de exportação. A maioria dos pecuaristas não apresenta condições de assegurar produtividade de seus rebanhos e, ao mesmo tempo, preservar a floresta. O investimento para obter produtividade combinada com preservação é caro e exige, no mínimo, 5 mil cabeças de gado.
Os satélites monitorados pelo governo federal revelam, entretanto, que há amplas áreas amazônicas em processo de recuperação – 21% do tal desmatado. Ao todo, 150,8 km2, cerca de 100 vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
Frente aos dados apresentados pelo INPE (instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) não faz sentido decretar moratória aos responsáveis pelo desmatamento da Amazônia, como chegou a propor o texto do novo Código Florestal com o apoio do ministro Aloizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia.
Portanto, há que reformular o projeto do Código e aplicar pesadas multas e punições aos responsáveis pelo manejo das motosserras que, ao desmatar, provocam aumento do aquecimento global e do desequilíbrio ambiental.
Para preservar a Amazônia, melhor que códigos florestais e fiscalizações seria a reforma agrária adaptada ao seu grandioso ecossistema, de modo a impedir a atividade predatória do agronegócio, do latifúndio e de empresas de mineração.
Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.
Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)
Para preservar a Amazônia, melhor que códigos florestais e fiscalizações seria a reforma agrária adaptada ao seu grandioso ecossistema, de modo a impedir a atividade predatória do agronegócio, do latifúndio e de empresas de mineração.
Os dados são do governo federal: 17,5% da Amazônia brasileira é área desmatada. Desse total, 62% foram transformados em pasto de bois e vacas. Imagens de satélites comprovam que, até 2008, uma área de 719 mil km2 – três vezes o Estado de São Paulo ou pouco menos que a extensão do Chile - teve todas as suas árvores abatidas. E, certamente, rios e lagoas poluídos.
Ao contrário do que se imagina, a agricultura, em especial a destinada à produção de grãos, como soja, ocupa menos de 5% da área total desmatada.
A principal arma de devastação da Amazônia, a motosserra, derruba árvores e abre pastos de baixíssima produtividade, a ponto de uma área do tamanho de um campo de futebol ser ocupada por apenas um boi.
Concentram-se na Amazônia 71 milhões de cabeças de gado. Quase todas destinadas a produzir carne de exportação. A maioria dos pecuaristas não apresenta condições de assegurar produtividade de seus rebanhos e, ao mesmo tempo, preservar a floresta. O investimento para obter produtividade combinada com preservação é caro e exige, no mínimo, 5 mil cabeças de gado.
Os satélites monitorados pelo governo federal revelam, entretanto, que há amplas áreas amazônicas em processo de recuperação – 21% do tal desmatado. Ao todo, 150,8 km2, cerca de 100 vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
Frente aos dados apresentados pelo INPE (instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) não faz sentido decretar moratória aos responsáveis pelo desmatamento da Amazônia, como chegou a propor o texto do novo Código Florestal com o apoio do ministro Aloizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia.
Portanto, há que reformular o projeto do Código e aplicar pesadas multas e punições aos responsáveis pelo manejo das motosserras que, ao desmatar, provocam aumento do aquecimento global e do desequilíbrio ambiental.
Para preservar a Amazônia, melhor que códigos florestais e fiscalizações seria a reforma agrária adaptada ao seu grandioso ecossistema, de modo a impedir a atividade predatória do agronegócio, do latifúndio e de empresas de mineração.
Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.
Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Cineasta Francis Ford Coppola critica comercialização da arte
O célebre diretor de cinema estadunidense Francis Ford Coppola afirmou que "quem controla o mundo tem os artistas trabalhando para ele", em referência à relação que tem sido mantida entre o dinheiro e a arte.
"Agora as empresas, que são as que têm o dinheiro, pagam aos artistas para que lhes façam os anúncios; antes era o Vaticano quem contratava aos artistas para pintar as catedrais", disse. Coppola participou de uma conferência no marco do evento "ExpoManagement 2011", que se celebra no México.O diretor do filme O Poderoso Chefão falou sobre os confrontos que costumam acontecer no cinema entre o mundo empresarial e o artístico. "Se o que está à frente é criativo, os artistas têm suas ideias como aval; mas se é alguém do departamento de vendas, não me sinto seguro".
Seguidamente agregou que ele sempre tem conflitos com gente de marketing. O artista deve iluminar a vida contemporânea, prosseguiu Coppola, animando os jovens a lutarem por fazer o que gostam.
Comentou que atualmente ele se encontra fora da indústria e faz filmes pessoais e de não muito sucesso na bilheteria. "A arte nunca deve menosprezar sentimentos ou utilizá-los para ganhar dinheiro".
Listou a seguir dois ingredientes essenciais para que um filme triunfe: a atuação e o roteiro. "Quando ambos se misturam de maneira correta podemos fazer magia".
No caso concreto de O Poderoso Chefão, para explicar seu sucesso, Coppola afirmou que "os atores estavam em seu lugar e o público queria ver um filme assim, com essas grandes estrelas, sem lhe tirar importância à sorte".
Fonte: Prensa Latina
Nossa fonte:Vermelho
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ALUNOS ANALFABETOS
Frei Betto
No primeiro semestre deste ano, aplicou-se a Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização) em turmas de alunos que concluíram o 3o ano do ensino fundamental, em todas as capitais do país. Uma iniciativa do movimento Todos pela Educação com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).
O resultado é alarmante. Constatou-se que 43,9% dos alunos são deficientes em leitura e 46,6% em escrita. Ou seja, são semialfabetizados. Não captam o significado do que leem e redigem uma simples carta com graves erros de sintaxe e concordância.
Quanto à leitura, quase metade (48,6%) dos alunos da rede pública correspondeu ao resultado esperado. Na rede de escolas particulares, o desempenho foi bem melhor: 79%. No item escrita tiveram bom resultado apenas 43,9% do alunos da rede pública. Na rede particular, 86,2% dos alunos se saíram bem em redação.
Os índices demonstram que, no Brasil, a desigualdade social se alia à desigualdade educacional. Alunos da rede pública, oriundos, na maioria, de famílias de baixa renda, não trazem de berço o hábito de leitura. Seus pais possuem baixa escolaridade e o livro não é considerado um bem essencial a ser adquirido, como ocorre em famílias de renda mais elevada.
De qualquer modo, é preocupante o fato de alunos, tanto da rede pública quanto da particular, não atingirem 100% de alfabetização ao concluir o 3o ano do ensino fundamental. O que demonstra falta de método de alfabetização, embora esta seja a nação que gerou Paulo Freire.
Uma criança que, aos 8 anos, tem dificuldade de leitura e escrita, sente-se incapaz de lidar com os textos de outras disciplinas escolares, o que prejudicará seu aprendizado. Uma alfabetização incompleta constitui um incentivo ao abandono da escola ou a uma escolaridade medíocre.
É hora de se perguntar se a progressão automática, isto é, fazer o aluno passar de ano sem provar estar em condições, é uma pedagogia recomendável. Com certeza, no futuro, o adulto com insuficiente escolaridade não merecerá aprovação automática em empregos que exigem concurso e qualificação.
Priscila Cruz, do Todos pela Educação, frisa a importância da educação infantil (creches, jardim da infância etc.) para dar à criança uma boa alfabetização. Para que se desperte na criança a facilidade de síntese cognitiva é importante que ela comece a ouvir histórias ainda no ventre materno.
O Brasil é um país às avessas. A Constituição de 1988 cometeu o erro de incumbir a União do ensino superior, o estado do ensino médio, e o município do ensino fundamental. Ora, uma nação se faz com educação. E a base reside no ensino fundamental. Dele devia cuidar o MEC.
Nenhum governo implementou, ainda, a revolução educacional sonhada por Anísio Teixeira, Lauro de Oliveira Lima, Paulo Freire e tantos outros educadores. Como acreditar que apenas 4 horas de permanência na escola são suficientes para uma boa educação? Por que os alunos não permanecem de 6 a 8 horas por dia na escola, como ocorre em tantos países?
No Brasil, 10% da população adulta é considerada analfabeta. No Chile, 3,4%. Na Argentina, 2,8%. No Uruguai, 2%. Em Cuba e na Bolívia, 0%.
Outros fatores que contribuem para a semialfabetização são o desinteresse dos pais pelo desempenho escolar do filho e o longo tempo que este dedica à TV e a navegar aleatoriamente na internet. Nessa era imagética, há o sério risco de se multiplicar o número de analfabetos funcionais ou de alfabetizados iletrados, aqueles que sabem ler, mas não interpretar o texto, e muito menos evitar erros primários na escrita.
O governo deve à nação uma eficiente campanha nacional de alfabetização, inclusive entre alunos dos 3º e 4º anos. Para isso, há que ter método. Há vários. Quem se interessar por um realmente eficiente, basta indagar do deputado Tiririca como ele se alfabetizou em dois meses, a tempo de obter seu diploma na Justiça Eleitoral.
Frei Betto é escritor, autor de “Alfabetto – autobiografia escolar” (Ática), entre outros,http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.
Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br) livros.
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