Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Os sentidos do lulismo, reforma gradual e pacto conservador


O novo livro de André Singer, "Os sentidos do lulismo - reforma gradual e pacto conservador", resgata abordagem da sociologia política e eleitoral, e reintroduz temas clássicos para abordar as diferenças de programa entre o "lulismo" e o PT. Além disso, procura fazer uma caracterização dos oito anos de governo Lula, identificando esse período como o de um fraco reformismo, adaptado as condições da política econômica, mas com importantes rupturas com o modelo neoliberal.

Ana Paula Salviatti

São Paulo - O lançamento do mais novo livro de André Singer, "Os sentidos do Lulismo - reforma gradual e pacto conservador", dia 18 de setembro, na Universidade de São Paulo, contou com a participação dos professores Brasílio Sallum Jr. e Francisco de Oliveira, do departamento de Sociologia, Bernardo Ricupero e mediação de Cicero Araujo, ambos do departamento de Ciência Política.

Ao analisar a conjuntura política do país, Singer propõe uma diferenciação essencial entre os governos FHC e Lula. Os anos de Fernando Henrique, defende, caracterizaram-se por um governo estritamente ligado à cartilha neoliberal, enquanto os anos de governo Lula ficaram registrados pelas rupturas e recombinações feitas na contramão dessa cartilha, por meio do fomento do mercado interno, aumento do emprego, do crédito e do consumo.

Singer apresenta sua tese sobre o lulismo caracterizando-o a partir do conceito de populismo, ilustrado pelo que chamou de "Espírito de Sion". Dentro desta chave, Singer aponta as diferenças entre o programa de governo de Lula e do PT, destacadas após a publicação da Carta aos Brasileiros, de julho de 2002, em que Lula teria incorporado e submetido o Partido dos Trabalhadores. O livro de André Singer evoca conceitos clássicos, como o de classe social, para construir um dos pilares de sua argumentação em torno das políticas instituídas durante o governo lula.

O debate
Segundo Ricupero, na construção de Singer, Lula aparece como um "líder mediador de classe". Durante seu governo houve o "estabelecimento de uma nova classe média, por meio de lentas conquistas sociais sem luta de classes".

Quanto ao lulismo, Ricupero assinala que a Carta aos Brasileiros, caracterizada por André Singer como o Espírito de Sion, ao afirmar o compromisso de realização dos contratos, trouxe consigo uma aproximação com partidos como PFL e PSDB. Ricupero apontou que Lula teve um "governo que agradou ao subproletariado do nordeste e ao capital financeiro", caracterizando-se assim como um governo de "reformismo fraco, mais adaptado às circunstâncias do que pautado por transformações".

Para Ricupero, "hoje o consumo dá sinais de desgaste e o nordeste já não é o lugar tão seguro ao lulismo quanto antes".
Brasilio Salllum Jr. elogiou o resgate feito por Singer da sociologia eleitoral, dando novo fôlego ao conceito de luta de classes. “O texto rompe com os trabalhos de sociologia cultural para fazer um trabalho de sociologia política”. Para ele, faltou a exposição de que "hoje estamos diante de um Estado moderadamente liberal, onde as instituições regulam a vida política econômica, e que, assim, o lulismo estaria dentro deste quadro institucional". Na perspectiva de Sallum, "o lulismo ainda apresenta muitas continuidades com o passado institucional democrático, com demandas advindas da democratização".

Chico de Oliveira apresentou três discordâncias fundamentais em relação ao conteúdo do livro de Singer. Quanto ao uso do conceito de classe, ao uso da ideia de subproletariado e, por fim, a existência de mais pontos em comum entre os governos de FHC e Lula do que diferenças.

O uso do conceito de classes feito por Singer, disse, “apesar de ter recuperado para a sociologia política termos em desuso, o que é de uma grande importância, o faz de forma muito elástica". Segundo Chico de Oliveira, da forma como Singer expôs “classe, no final das contas, fica identificada com os números que votam de determinada forma”. Tal aplicação do conceito facilitaria, mas também enfraqueceria o argumento político, prova disso “é que este argumento não cola com a conjuntura atual, em que em São Paulo Haddad não consegue alcançar Russomano”.

O segundo ponto que Oliveira apontou é que hoje o subproletariado está em São Paulo e que no nordeste estariam os herdeiros de uma antiga miséria. Por fim, destacou, o crescimento da economia capitalista durante os anos de FHC foi de 2% e o de Lula, 3,5%, números que os aproximam mais do que os diferenciam, na interpretação de Oliveira.

Para Singer, Lula, em julho de 2002, assumiu para si o partido, na Carta aos Brasileiros. “O lulismo não é o programa original do PT, inclui temas, mas é outro projeto que tomou conta do PT,” ação que André caracteriza como espírito de Sion. “Há setores que não aderiram ao espírito de Sion, mas a direção nacional está seguindo este rumo.”

Quanto à característica de reformismo do governo Lula, Singer argumentou: “O ritmo de queda da desigualdade, segundo dados do Ipea, é compatível com o New Deal. Porém o ponto de partida é muito diferente. Os EUA e a Europa partiram de um patamar de desigualdade muito distante no nosso. O Brasil tem um acúmulo de desigualdade tão grande que mesmo esta queda com enorme ritmo de avanço fica aquém”. Singer caracterizou esse “reformismo conservador” como um “reformismo lento, em comparação com o tamanho da desigualdade. O New Deal, em comparação ideológica, foi muito mais rápido do que o nosso, um reformismo fraco.”

Sobre as diferenças entre Lula e FHC, Singer identificou “mudanças que quebram o projeto neoliberal. Uma recombinação de elementos neoliberais e outros completamente não neoliberais, como, por exemplo, essa ativação do mercado interno, aumento do crédito, aumento do consumo, aumento do emprego, indo na contramão do neoliberalismo.”

A influência eleitoral e o conceito de classe
Estou realmente usando o conceito de forma elástica. É um conceito muito difícil de operacionalizar, não é simples fazer análises atuais sobre a condição de classe nem no Brasil, nem no mundo. A evidência que apresento para afirmar que o lulismo é uma influência eleitoral é a presidência de Dilma, 12 milhões de votos a mais do que Serra no segundo turno, sendo que 11 milhões vieram do norte e nordeste.”

Para Singer, as novidades trazidas pelo governo Lula estão “em políticas direcionadas aos setores de menor renda, e não apenas a valorização de commodities, como no governo FHC, e na aplicação de políticas de alavancagem aos setores de menor renda. Penso que, apesar de a economia hoje não estar crescendo, o governo conseguiu blindar o trabalho do problema do desemprego, que anda na casa dos 5%, o que para os economistas ainda é pleno emprego. Isso é efeito das políticas de Lula que blindaram este setor da economia ao fomentar a classe mais baixa”.
Fonte: Carta Maior

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Seminário debate sobre redesenho do mundo multipolar


No debate sobre “O Mercosul e a Unasul: Desafios para o Aprofundamento da Integração Sul-Americana” , dentro da programação do Seminário Política Externa Brasileira: Desafios em um mundo em transição, o ministro Marco Aurélio Garcia, assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, afirmou que “depois do colapso do sistema bipolar e o posicionamento unipolar dos Estados Unidos, começamos a assistir o desenho de um mundo que poderíamos chamar de multipolar”.
Segundo ele, nesse mundo multipolar, o Brasil tomou a decisão de não querer ser um polo econômico-político por si só, mas, ao contrário, quer formar um polo com os outros países da América do Sul. “Daí a o surgimento e a importância da Unasul e o Mercosul”, afirmou o ministro. Ainda segundo Garcia, é necessário entendimento maior sobre as duas instituições da América do Sul que, na verdade, “são duas formas convergentes de integração regional”.

O embaixador Antônio Simões, que também participou do debate que acontece nesta terça e quarta-feira (18 e 19) na Câmara dos Deputados, em Brasília, abordou as transformações sofridas pela região e que deram fôlego para se chegar ao processo de integração, representando pela Unasul e pelo Mercosul.

“O mundo de hoje é bem diferente de 20 anos atrás. Os EUA ainda estão na ponta, mas hoje em dia o poder de intervenção deles não é mais como foi. A Europa também: a crise está instalada, o modelo está em cheque. A locomotiva do mundo não está mais nos países ricos, está no mundo emergente, e a América do Sul é um dos palcos dessa nova locomotiva”, defendeu o embaixador.

Ainda segundo Simões, “em 2030, 50% da produção mundial estará exatamente nos países emergentes”. Para os palestrantes, as alavancas dessa integração são representadas pela transformação do grande contingente populacional pobre em massa populacional com poder econômico. Além disso, vários países da América do Sul tornaram-se credores e não mais devedores de instituições financeiras internacionais.

Eles avaliam ainda que o potencial energético da região, principalmente a capacidade petrolífera de Brasil e Venezuela, comprova a importância da região em um mundo ávido por recursos energéticos. “O Brasil, por exemplo, que nos anos 80 não tinha petróleo, vai se colocar entre os 10 primeiros produtores do mundo, depois da descoberta do Pré-Sal”.

Brics e a Primavera Árabe

Na discussão do tema “O Contexto Geopolítico Internacional e os desafios à Política Externa Brasileira”, os BRICS e os desdobramentos políticos, diplomáticos e econômicos da Primavera Árabe e do Oriente Médio tomaram conta das discussões do painel.

“Hoje o que chama a atenção da comunidade internacional é esse mecanismo político diplomático que foi constituído entre Brasil, Russia, China, Índia e, mais recentemente, a África do Sul” afirmou a professora da Unifesp, Cristina Pecequilo.

O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães discursou sobre a crise financeira do sistema neoliberal que levou à crise econômica mundial. “Muitos países eram citados como modelos permanentes aos países em desenvolvimento, por isso, nós, subdesenvolvidos, deveríamos adotar as mesmas políticas. Foi justamente por não ter privatizado tudo, que não seguimos no mesmo caminho dessas nações em crise. Se assim não fosse, hoje o Estado não teria mecanismos para lutar”, defendeu o embaixador.

O professor Reginaldo Mattar Nasser, da PUC de São Paulo, ofereceu explicações sobre o momento delicado em que vive o Oriente Médio, falou do grande interesse dos países ricos do G7 na região e criticou a demora da diplomacia brasileira em se posicionar. “No processo de reconhecimento da primavera árabe houve uma inaceitável demora do posicionamento da diplomacia brasileira no reconhecimento do processo. Um debate como esses nos ajuda a refletir nossas posições”, defendeu.

Da Redação de Vemelho, em Brasília
Com informações da Com. Rel. Exteriores

 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Sobre Mística e Racionalismo


“Andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá...”
Gilberto Gil
Para Iori
9/9/2012

Roberto Jorge Regensteiner   

Há, sim, compatibilidade entre Mística e Racionalismo.
Mística no sentido de Fé. A mesma Fé que nos permite dar um passo após o outro com a certeza de que não vamos cair. Fé como confiança de que sabemos caminhar. Fé adquirida e conquistada aos tombos, aos trancos e barrancos, a maior parte dos quais jaz esquecido no fundo da memória. Tombos esquecidos são como andaimes que ajudam na construção dos edifícios e depois são retirados quando as estruturas permitem que se sustentem de pé, por si sós.

Ao aprender a andar,
os Humanos definem (como que),
um ponto inicial,
de uma reta, de um segmento, de um percurso, de uma trajetória,
de uma história,
na qual usando o Racionalismo
e outras ferramentas
(mentais, cerebrais, sensoriais)
que a espécie humana inventou
(ou descobriu existirem na natureza,
como a lógica ou a geometria)...
E a partir da Fé
buscam no futuro
qual náufragos olhando as estrelas,
em busca de esperança,
da luz de um farol,
de um sinal
indicando a presença de Terra e Vida...
Entre o início e o fim de cada vida,
se desenrola um fio,
que se entrelaça
a outros fios.
Forma panos coloridos,
panos pendurados num varal,
como roupa lavada por mãe,
compondo caleidoscópicas formas,
re-arranjadas pelo balanço de ventos fortes.
Haverá espírito capaz de iluminar a escuridão
que existe para além do farol?
que existe para além das estrelas?
Haverá pessoa que com segura certeza
enxergue para além do que vê
a atenta sentinela que
do alto do mastro perscruta
o céu e os horizontes?
Haverá pessoa que
com científico fundamento
analise telas de telescópios,
interprete ondas e lasers, neutrinos e bósons, quarks e irks?
e descreva:
que pedaço do infinito universo é este,
que elipticamente em torno do sol vagueia pela eterna noite.
Sabemos pela História
que Grandes Navegantes
quando para a Europa retornaram
não foram bem compreendidos
(ainda que supuséssemos
que a tudo houvessem entendido
o quê – como sabemos – não é verdade).
Problemas surgem quando
Racionalismos exigem uma Fé,
que é uma Fé que não nasce da experiência,
ou do convencimento racional.
Quando o convencimento não nasce da Razão,
quando a Fé se confunde
com silêncio, com submissão,
com magia ou ilusão.
Como o crente que se aproxima ao rebanho
para saciar sua sede de água,
sua fome de comida,
a carência afetiva,
a pertença social,
afirmação identitária.
E se engana ao chamar a tudo isto de Deus.
Ou engana ao fazer de conta que nisto acredita.
Ou, se confunde e já nada mais de si sabe
e entrega ao pastor,
ao superior,
a decisão do certo ou errado,
da bronca ou do perdão,
da verdade e da mentira,
da realidade ou da ilusão.

Bienal de Arte num dia de sol quente


 Mazé Leite *

Vidro soprado. Cópia de cabeça. Fios elétricos. Aros de rodas de bicicletas. Fotografias... Pedaços de pano velho. Pedaços de pau velho. Um penico de banheiro masculino. Fotografias... Rolos de barbante pendurados. Vídeos. Salas performáticas. Cordas penduradas. Fotografias... Pedaços de madeira usada. Restos de construção. Terra. Sacos de plástico. Fotografias... Papeis canson mil-teintes enrolados na parede. Serpentinas. Portas velhas. Fotografias...
Tijolos enrolados em papel celofane. Roupas velhas. Vasos velhos. Fotografias... Sete telas em branco “pintadas” com água do mar. Arcos com velas. Trouchas de pano. Fotografias... Dois lados de uma cadeira. Rádio velho. Vídeos em salas escuras. Sucata. Caixas de madeira vagabunda. Fotografias... Trecos velhos. Usados. Roupas antigas, usadas. Vasos antigos. Desenhos de criança. Fotografias... Duas salas com pinturas abstratas. Alguns desenhos experimentais. Vídeos. Fotografias...

Por que tanta fotografia e tanto vídeo?
E o imenso acervo cultural e histórico da humanidade?
Nada. Lixo literal. Alegria dos catadores, da reciclagem.

Uma sala inteira para Artur Bispo, o bispo da Arte Contemporânea... Ai de quem se atreve a falar mal de seus cacarecos, seus agrupamentos de botões de camisa, seus copos de alumínio pregados num saco de estopa, suas imagens de alucinação! E ele nem tem culpa disso! Era um inocente, cuja percepção de mundo estava alterada. Vamos dizer em linguagem bem clara: sua visão de mundo estava embotada por uma esquizofrenia paranóica... Mas ai que medo de ser crucificada! Como assim, falar mal do Bispo???, diriam as mocinhas e moçoilos de certas faculdades de artes paulistanas... Aguardemos os comentários dos ofendidos...

Em 2010 fui a Berlim. Visitei a Bienal de Berlim. Dividida em cinco prédios diferentes em lugares diversos da cidade. O que vi aqui é o que vi lá: repetições de chavões duchampianos que devem fazer Duchamp se revolver em sua bem concreta tumba! Aliás, para ser coerente, Marcel Duchamp podia ter escolhido virar cinza, mas seu corpo deteriorou como qualquer corpo no cemitério de Rouen, na França. Bem concreta e realisticamente.
Mas voltando a Berlim: a Bienal de lá estava às moscas! Eu salvei a Bienal de Berlim 2010! Eu estava lá! Eu, uma brasileira, dei público e razão de ser à Bienal 2010 de Berlim! Não havia quase MAIS NINGUÉM!

Em compensação, FILAS na região dos museus de Berlim: na Gëmaldgalerie, no Pergamon Museum, no Staatliche Museen, e até no DDR Museen, da ex- Alemã Oriental. Na Bienal de Berlim? Estava eu em quase todos os prédios onde o evento acontecia. E um ou outro gato pingado...

Hoje – 9 de setembro – havia uma fila enorme em frente ao MASP para ver “Caravaggio eseus seguidores”. Havia uma outra fila de quatro horas (!) de espera em frente ao CCBB para ver a exposição “Impressionistas do Museu d’Orsay”....
Amigos... não tinha fila alguma para entrar na Bienal, de graça!

Numa sala onde estavam penduradas sete telas em branco me deparei com uma senhora revoltada perguntando para outra: - você entendeu? A outra, coitada, gaguejava um pouco pra provar que entendeu o que não é para ser entendido. Me meti na conversa: vão ao Masp ver Caravaggio! A senhora que estava brava balançou a cabeça concordando imediatamente comigo.

Continuei meu périplo dentro do lindo prédio de Oscar Niemeyer.
Vidro soprado. Cópia de cabeça. Fios elétricos. Aros de rodas de bicicletas. Pedaços de pano velho. Pedaços de pau velho. Um penico de banheiro masculino. Rolos de barbante pendurados. Vídeos. Salas performáticas. Cordas penduradas. Pedaços de madeira usada. Restos de construção. Terra. Sacos de plástico. Portas velhas. Sucata. Caixas de madeira vagabunda. Fotografias...

Como diria o poeta Carlos Drummond, "Devo seguir até o enjôo?"
Sem mais palavras, cada um que tire a sua conclusão... É só ver as imagens.
E ler o texto da apresentação. Sugerimos uma leitura em diálogo com dois supostos visitantes. Alguém com o texto de apresentação do folheto da Bienal nas mãos lê para outro:

- Tema: A IMINÊNCIA DAS POÉTICAS
- ah, tá, intendi...
- Não, você não entendeu, deixa eu explicar. Preciso ler para poder te explicar, peraí. Mas presta muita atenção porque isso aí que é arte contemporânea: Assim (tipo aluno de certas faculdades lendo):
- "a Iminência é entendida como aquilo que está a ponto de acontecer..."
- ah sei sei (sinal de que não tá sabendo...)
- calma, deixa eu continuar: "... como o que está suspenso..."
- suspenso, intendi... Suspenso que nem corda, que nem fio de rede elétrica...
- Por aí, mas deixa eu terminar! Você não deixa!
- ...
- "... em vias de efetivação; a poética é entendida como discurso, aquilo que se expressa, que se cala..."
- oh!
- profundo, né?
- profundo! O quê mesmo?
- (volta a ler o texto) "... que se transforma e que ganha potência comunicativa por meio da linguagem das artes." (pronto, terminei)
- E o que isso quer dizer?
- Ah, meu, sei lá! Qualquer coisa, intende?
- Intendo, intendo. Mas num intendi....
- É por aí mermo! Melhor assim: num intendê nada faiz parte...
- Beleza então....

* Artista plástica, bacharel em Letras-USP, pesquisadora de história da arte, autora do livro "As Artes Plásticas na Formação do Professor" e membro do Atelier de Arte Realista de Maurício Takiguthi.
Nossa fonte: Vermelho

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Limites da esquerda na questão ambental

Em debate realizado no Simpósio Internacional da Esquerda, na Universidade de São Paulo, palestrantes apontaram limitações atuais da esquerda na questão ambiental: indeterminação do conceito de desenvolvimento sustentável, a cosmologia dos povos indígenas, a urgência de uma nova esquerda, que diferente da esquerda tradicional, altamente produtivista, se encarregue de questionamentos mais amplos, como o que envolve o meio ambiente foram alguns dos principais temas abordados no debate.
Da Redação de Carta Maior

São Paulo - A mesa "Esquerda e o Meio Ambiente", realizada no último dia do Simpósio Internacional da Esquerda, na Universidade de São Paulo, teve a participação de Maurício Waldman, Francisco del Moral Hernández, Ana Paula Salviatti e Gilson Dantas. De pontos de vista distintos os palestrantes apontaram as limitações impostas pelo capitalismo ao meio ambiente. A indeterminação do conceito de desenvolvimento sustentável, a cosmologia dos povos indígenas, a urgência de uma nova esquerda, que diferente da esquerda tradicional, altamente produtivista, se encarregue de questionamentos mais amplos, como o que envolve o meio ambiente foram alguns dos principais temas abordados no debate.

Francisco Hernández, engenheiro elétrico e ambiental, professor e assessor, que atuou no painel de especialistas no caso da usina hidroelétrica de Belo Monte, expôs a influência dos livros marxistas que abordam a temática, como Marxismo e Ecologia do professor Jonh Bellamy Foster e compartilhou a experiência vivida junto dos grupos e movimentos organizados em torno da causa ambiental no norte do país, afetados pelo progresso destrutivo imposto pela lógica de mercado.

Maurício Waldman, pós doc pela Unicamp, apresentou sua bibliografia e atividade na área de preservação ambiental desde os anos 70. Waldman apontou as continuidades e rupturas ocorridas ao longo dos anos no Brasil e no mundo em ações pró-ambientais, assim como a limitação das condições ambientais encontradas ao longo do globo.

Ana Paula Salviatti, mestranda em história econômica pela Universidade de São Paulo, buscou traçar um paralelo entre as condições de existência dos trabalhadores e dos meios de produção no âmbito de um capitalismo financeirzado, através dos mecanismos financeiros desenvolvidos no Protocolo de Kyoto, a participação de créditos de carbono junto de ativos de petróleo em fundos de hedge altamente especulados.

Gilson Dantas, médico de formação, doutor em sociologia pela UNB e editor da revista Contra Corrente analisou as estratégias e objetivos dos movimentos Occuppy Wall Street e do movimento ecológico grego que compõe a coligação de esquerda Siriza. Em entrevista feita com representantes do movimento norte-americano, Dantas, abordou a heterogeneidade dos integrantes e as condições embrionárias positivas de um movimento contestatório de forte repercussão, não só no país como no mundo todo.

Quanto às manifestações ocorridas na Praça Syntagma, em Atenas, Dantas expôs os acordos que o movimento ambiental grego esteve disposto a fazer junto da coligação Syriza colocando mais pontos de proximidade do que de ruptura com modelos europeus de governo.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Reduzir contribuição de empresas pode afetar Previdência, diz CTB

Para combater os efeitos da crise econômica global, evitar demissões e incentivar contratações de mais trabalhadores, o governo anunciou, nesta quinta-feira (13), a redução das contribuições trabalhistas para 25 setores da economia como papel e celulose, fármacos e medicamentos. Para o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes, a principal preocupação deve ser com a Previdência Social, tendo em vista que haverá redução na arrecadação.

A Previdência é o órgão responsável pelas aposentadorias dos trabalhadores e é financiada com contribuição dos mesmos e das empresas. A medida anunciada pelo governo elimina a contribuição direta das empresas.

"A nossa principal preocupação é com a Previdência, já que quando há cortes, geralmente 40% desses recursos vêm da Previdência. E isso pode aumentar o rombo e, depois, inviabilizar as aposentadorias, que é uma questão importantíssima para o trabalhador", declarou Wagner Gomes ao programa "Ideias e Debates", da Rádio Vermelho.

Estima-se que o governo deixe de arrecadar R$ 12,83 bilhões em 2013 e R$ 14,11 bilhões em 2014. O valor será descontado dos R$ 15,2 bilhões previstos no Orçamento de 2013 para tal finalidade. Em quatro anos, o governo deixará de arrecadar cerca de R$ 60 bilhões.

Os setores que serão beneficiados com a isenção são tidos pelo governo como campeões em contratações – também estão inclusos aves, suínos e derivados, transporte rodoviário coletivo, transporte aéreo, marítimo, fluvial, forjados de aço, ferramentas, parafusos, cerâmica, pneus e câmaras de ar, manutenção e reparação de aviões, e suporte técnico de informática.

Em abril, o governo já havia isentado outros 15 setores. As empresas incluídas agora vão deixar de pagar os 20% de contribuição patronal do INSS, a partir de janeiro de 2013 e pelo menos até 2016. No lugar, vão pagar de 1% a 2% sobre o faturamento.

A medida foi divulgada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que também anunciou a redução do índice de crescimento da economia brasileira previsto para este ano, para 2%. A previsão inicial era de 4,5%, já havia sido reduzida para 3% no final de agosto.

Deborah Moreira
Fonte:  Vermelho

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Caveat: o STF caminha para subverter as bases do direito positivo brasileiro

Há uma parte da opinião pública querendo ver sangue, e uma parte do Judiciário querendo saciá-la. O Supremo está subvertendo a mais sagrada regra do sistema judiciário brasileiro, a saber, a doutrina do direito objetivo que exige prévia definição legal do crime, sem maiores contorcionismos jurídicos.

J. Carlos de Assis*

Desde o século XVIII firmou-se como princípio do direito europeu continental, ao qual se filia o direito brasileiro, a máxima, inscrita em nossa Constituição, de que não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. (Em latim: Nullum crimen, nulla poena sine previa lege.) O arauto desse princípio foi Cesare Beccaria, numa obra que constitui um dos pilares da era moderna, “Dos Delitos e das Penas”. Ela prenunciava uma doutrina de proteção do cidadão comum contra arbitrariedades do soberano, do Estado ou... de magistrados. A propósito, foram justamente magistrados os poucos opositores de Beccaria.

O julgamento do chamado mensalão está caminhando para uma situação na qual grande parte dos réus está destinada a ser condenada a penas sem prévia cominação legal referidas a crimes que não estão definidos como tais em leis. É que os ministros do Supremo estão se arrogando a prerrogativa de definir “por analogia”, como crimes, após o fato consumado, ações como o gerenciamento de caixa dois eleitoral que estão tradicionalmente presentes como irregularidades eleitorais em todas as eleições brasileiras, sem uma única exceção, acredito eu. Por que só agora a criminalização penal nesse caso específico?

Não falo de gestão fraudulenta de instituição financeira: isso está tipificado em lei e já faz parte do direito objetivo brasileiro. Mas dizer que houve a formação de “quadrilha” por parte dos dirigentes do PT para comprar votos de parlamentares próprios ou de partidos aliados no Congresso, chamar de peculato o recebimento de dinheiro para pagar despesas eleitorais do próprio partido ou de outros, definir ainda como peculato recebimento de pretensa vantagem sem provar que houve contrapartida, tudo isso beira o surrealismo, para não dizer a máxima arbitrariedade.

Vamos ser claros: há uma parte da opinião pública querendo ver sangue, e uma parte do Judiciário querendo saciá-la. Ela ignora as consequências dos precedentes dos julgamentos para o comportamento futuro do sistema judiciário como um todo. Não sabe que, para atender seu apetite, o Supremo, que deveria resguardar-se como guardião da serenidade, atua às vezes, e não raro, política e demagogicamente. No caso, o Supremo está subvertendo a mais sagrada regra do sistema judiciário brasileiro, a saber, a doutrina do direito objetivo que exige prévia definição legal do crime, sem maiores contorcionismos jurídicos.

Essa subversão terá consequências terríveis para o futuro jurídico brasileiro. Caímos no sistema anglo-saxão, aquele do direito consuetudinário, aquele que dá ao juiz uma imensa margem de discricionariedade em suas decisões. Quais as consequências disso? Para mim, que não sou jurista, devo usar uma linguagem comum: significa simplesmente que nas causas correntes no Judiciário haverá mais margem para os ricos culpados comprarem a sua absolvição e os pobres inocentes arcarem com o peso da lei. Mas é estranho que nenhum grande advogado ou jurista esteja chamando a atenção sobre isso: talvez tenham medo de se indispor junto ao Supremo!

Entendo que o Congresso brasileiro deva invocar suas prerrogativas e barrar essa pretensão do Supremo de, ao arrepio da cidadania, mudar as bases doutrinárias de nosso sistema jurídico. O direito objetivo, mesmo que circunstancialmente favoreça os ricos, é essencialmente uma proteção dos pobres. Se tivermos de adotar o sistema anglo-saxão, que, como dito, dá aos juízes ampla margem de arbitrariedade em suas decisões, que seja por decisão da cidadania, através de seus representantes no Congresso. Não pode ser um simples golpe do Supremo Tribunal Federal. Deve ser por um consenso mínimo na sociedade.

A propósito, já é tempo de recordar ao Supremo quem é o poder máximo na sociedade. Constitucionalmente, os três poderes são independentes e autônomos. Politicamente, porém, o Poder Judiciário e o Poder Executivo estão subordinados ao Legislativo, pelo fato de que este representa o conjunto da cidadania, da cidadania e da soberania, acima da qual não existe poder algum. Portanto, o ministro Marco Aurélio não pode atropelar a letra da Constituição dizendo que o deputado João Paulo Cunha está cassado por decisão do STF sem ter de passar pelo rito legal que estabelece a própria Carta Magna.

É preciso que o Congresso, nesse contexto de exorbitação de poderes pelo STF, tome iniciativas concretas para o restabelecimento da ordem constitucional. Afinal, há vários ministros do Supremo sobre os quais recaem pesadas suspeitas de falta de decoro. A revista Carta Capital, por exemplo, afirmou em matéria de capa que o ministro Gilmar Mendes foi beneficiário do esquema do valerioduto. Cabe investigar isso. Se confirmado, é um delito político, sem necessidade de um artigo de lei que o tipifique. E vale um processo de impeachment perante o Senado, conforme previsto na Constituição.

Na condição de cidadão livre, e conforme a lição de Bobbio, eu tenho a prerrogativa de fazer as leis através dos meus representantes políticos. Repele-me a ideia de ficar sob o jugo de leis feitas por homens – sejam reis, sejam presidentes, sejam juízes – que não têm que prestar conta a seus constituintes. Veja o abominável sistema judiciário americano e inglês: no curso da maior crise financeira de todos os tempos, devida basicamente a fraudes e desvios praticados por instituições financeiras, nem um único banqueiro ou dirigente financeiro foi preso ou condenado. Eles literalmente compram o sistema judicial e se safam. Já os pobres sofrem penas extremamente rigorosas, com poucas chances de regeneração.

Recorde-se ainda, nos Estados Unidos, a arbitrária decisão da maioria da Suprema Corte de atropelar resultados eleitorais inequívocos que davam a vitória a Gore para fazer vitorioso George Bush filho. O candidato conservador, preferido da maioria da Corte, foi beneficiário de um esquema corrupto, decisivo para o resultado nacional, montado seu próprio irmão, ninguém menos que o governador da Flórida. Estaria o cidadão comum brasileiro mais protegido com a adoção desse sistema? Fala-se descaradamente, entre advogados e juristas, que o critério para o julgamento do chamado mensalão é excepcional. Depois, voltaria tudo como antes. Se for assim estaremos no limite extremo da arbitrariedade, da demagogia e da violação dos direitos humanos.

Portanto, é necessário fazer um apelo sobretudo aos jovens que se impressionaram com a retórica da procuradoria e do relator do chamado mensalão: isso não passa de um circo para valorização pessoal de alguns atores junto à opinião pública. No fundo, é uma vergonha que o procurador e o relator estejam se prestando a esse papel de basear uma retórica tão hiperbólica em provas factuais tão frágeis ou inexistentes. Em que código, em que lei, em que regra o procedimento normal de dirigentes partidários de buscar alianças e apoio pode ser definido como ação de quadrilha? Não seria o trabalho normal deles? Ou quadrilha é quando se juntam algumas pessoas para qualquer propósito, inclusive o de condenar?

(*) Economista e professor da UEPB, presidente do Intersul, autor junto com o matemático Francisco Antonio Doria do recém-lançado “O Universo Neoliberal em Desencanto”, Ed. Civilização Brasileira. Esta coluna sai às terças também no site Rumos do Brasil e no jornal carioca Monitor Mercantil.
Nossa fonte: Carta Maior

Uma carta aberta a FHC que merece ir para os livros de história

domingo, 9 de setembro de 2012

Não há nova classe média, há uma expansão da classe trabalhadora



Durante o debate “A ascensão conservadora em São Paulo”, evento do Coletivo dos Estudantes em Defesa da Educação Pública, realizado em agosto na Faculdade de Ciências Sociais da USP, a filósofa e professora Marilena Chauí refutou o termo “nova classe média”, tão em voga na era Lula. Segundo ela, o que há é uma “expansão da classe trabalhadora”

Vejam o vídeo. Como sempre, a professora está brilhante e ainda provoca gargalhadas, ao contar um episódio do seu cotidiano.

 .http://www.youtube.com/watch?v=KrN_Lee08ow&feature=player_embeddedtheotonio-dos.html

sábado, 8 de setembro de 2012

" Oxalá a revolução bolivariana chegue ao Brasil"

Um ato emocionante que conseguiu unificar o setor progressista brasileiro em torno de uma causa: o apoio à reeleição de Hugo Chávez Frias, presidente venezuelano. Assim muitos participantes definiram o evento da campanha Brasil Está com Chávez realizado nesta quarta-feira (5) na Casa de Portugal, em São Paulo. Entusiasmado, o escritor Fernando Morais exultou: “que [o processo venezuelano] nos contamine. Oxalá a revolução bolivariana (…) chegue ao Brasil”.

Por Vanessa Silva

Movimentos e partidos sociais compuseram a mesa do ato Na atividade, que contou com mais de 200 pessoas, entre representantes de movimentos sociais, da intelectualidade e de partidos políticos, o Brasil manifestou sua solidariedade ao povo e ao governo venezuelano, que conduz a chamada revolução bolivariana no país.

A ideia da criação desta campanha surgiu durante o Fórum de São Paulo, realizado em Caracas entre 4 e 6 de julho deste ano. O grupo aprovou uma resolução final em apoio e solidariedade ao presidente Chávez, dentro do espírito da declaração do ex-presidente Lula, que, em vídeo gravado para o evento, declarou: “Chávez, a sua vitória é a nossa vitória”. Este é elo norteador das atividades da solidariedade com a Venezuela, como manifestou o representante do Fórum, Valter Pomar.

Não se trata de defender algo que está longe, que é estranho a nós, ressaltou Pomar. “A América Latina é muito importante para o futuro e o destino da esquerda mundial. O destino da América Latina passa pela integração entre nossos povos”. Segundo ele, no entanto, esse processo progressista no continente está ameaçado pela rearticulação da direita e do imperialismo. “A Venezuela tem dado mostras de que é necessária uma integração com conteúdo social diferente. Não basta uma integração formal entre países, é preciso [um processo] que signifique democracia real, poder popular, uma vida melhor para nossos povos, que tenha um horizonte de transformação social e que seja um horizonte claramente socialista”, ressaltou.

Para Pomar, a direita manipula os fatos por meio da imprensa hegemônica. Por isso, os jornais brasileiros começam a dizer que, apesar do claro favoritismo de Chávez, Capriles teria chance de ganhar, tal como visto no editorial do jornal Folha de S. Paulo nesta segunda-feira (4). Fazem isso porque “sabendo que vão perder, estão tentando montar um clima para desconhecer o resultado da eleição e fazer na Venezuela o que fizeram em outros países recentemente”, disse.

Trata-se de uma eleição continental, reforçou o coordenador do MST e da Via Campesina, João Pedro Stédile. “O que está em jogo na Venezuela não é só uma eleição, mas a disputa de dois projetos, com influência em todo o continente. De um lado está Capriles, representante da direita, do capitalismo, do outro, Chávez com um projeto alternativo popular dos povos da América Latina. (…) É uma luta de classes continental, que em cada um dos nossos países toma o caráter de luta ideológica. Derrubando a direita em nossos países, estaremos contribuindo para a vitória do povo venezuelano e latino-americano nesta batalha da Venezuela”.

O perigo que corremos, sintetizou Stédile é que “se Chávez perder essa disputa, os capitalistas retomarão a ofensiva e quiçá teremos em um novo período neoconservador em toda a América Latina, como foi nos anos 1960 e 1970 com as ditaduras militares”.
Batalha travada na mídia
O escritor e intelectual Fernando Morais fez questão de comparecer ao evento. "Sou chavista. Comprometido com o processo bolivariano”. Ele avaliou a campanha que a imprensa faz contra o processo bolivariano e o presidente Hugo Chávez. Durante o lançamento de seu livro mais recente, "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", fez diversos debates em todo o país. O assunto recorrente era seu apoio à Venezuela. Então sempre lançava um desafio: se não tiver uma matéria insultuosa contra o Chávez na capa de um dos três principais jornais da Venezuela, eu sorteio meu notebook, dizia. “O notebook está até hoje na minha mochila” brincou, concluindo que não há nada “mais eloquente do que a verdade”.

Morais lembrou ainda de outro livro de sua autoria “Chatô — o Rei do Brasil”. Em determinado momento de sua vida, Francisco de Assis Chateaubriand, o Chatô, brigou com o arcebispo de Belo Horizonte, Dom Antonio dos Santos Cabral, e ligou para o diretor dos seus jornais em Minas dizendo “eu descobri que Dom Cabral estuprou a irmã quando era jovem. Quero uma matéria sobre isso na capa em uma semana”. Como em uma semana não obteve o desejado, ligou de volta: “porque ainda não saiu nada?”. E o jornalista respondeu: “doutor Assis, é que descobrimos que D. Cabral não tem irmãs, é filho único”. E ele respondeu “isso não é um problema nosso, mas de D. Cabral”. E é “exatamente isso que nossa imprensa faz com a Venezuela”, ilustrou.

Para lutar contra esse monopólio, temos uma “coisa que está comendo por baixo igual cupim, que é a internet, é onde nós vamos disputar com eles. E é na internet que vamos ganhar. Temos que enfrentá-los onde podemos vencer”. Morais ressaltou que a revolução naquele país é transformadora e democrática. “Não há um preso político na Venezuela, um preso de consciência sequer. Que isso nos contamine. Oxalá que a revolução bolivariana (…) chegue aqui no Brasil”.

Integração solidária
A presidenta do Cebrapaz e do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes, enalteceu a unidade latina e sustentou que a garantia do projeto bolivariano da Venezuela é fundamental para assegurar a paz, a soberania e a autodeterminação dos povos: “Chávez demonstrou que era possível resgatar os recursos do povo que estavam sendo assaltados durante décadas, como o petróleo, o gás e as terras, e entregá-los ao povo, e ele fez isso, garantindo os interesses da Venezuela. O nosso destino é o destino da Venezuela, do Equador, da Bolívia. Nosso destino é um só”.

Entre os pontos abordados pelo secretário de Relações Internacionais do PCdoB, Ricardo Alemão Abreu, está a diferença entre os projetos de integração para o continente. “A Venezuela propõe uma integração solidária. Não é a integração daquele Mercosul que os governos de Carlos Menen [Argentina] e Fernando Collor criaram: um Mercosul livre cambista que tinha como objetivo ser integrado posteriormente à Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Mas um novo Mercosul que acaba de receber a Venezuela e vai receber o Equador, a Bolívia e todos os países da Alba e da América do Sul para fazer essa integração verdadeiramente solidária, econômica, social, política e cultural”.

De maneira poética, o presidente da União Nacional dos Estudantes, Daniel Iliescu, emocionou-se: “nossa geração pode viver um momento pelo qual outras gerações lutaram muito nos tempos da resistência. [Lutaram] para que fosse possível produzir os avanços que nosso tempo vê, um projeto que de fato afirma em cada um de nossos países a necessidade da integração política, social, econômica, cultural, simbólica e energética da América Latina. A integração latino-americana precisa crescer na consciência do nosso povo, da população brasileira, da juventude da América Latina como uma necessidade para nossos países serem mais justos, democráticos e avançados socialmente”.
E concluiu: “tenho orgulho de fazer parte de uma geração que reivindica seu passado, nossa trajetória de luta, reivindica a memória daqueles que tombaram, mas se agarra às possibilidades que o presente oferece para construir um futuro mais justo para a nossa gente. E esse futuro passa pela eleição de Chávez e é por isso que a juventude está com Chávez”.
Venezuela está com o Brasil
Encerrando o evento político, o embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilian Arvelaiz, observou que a solidariedade é antes de tudo um gesto de amor: “senti um pouco do espírito do Che Guevara que dizia que a solidariedade está na ternura dos povos. E senti muito amor e muita ternura hoje neste evento”. Segundo o diplomata, quando Chávez tomou conhecimento da campanha, há um mês, quando esteve no Brasil para oficializar a entrada do país no bloco, “ficou muito emocionado e disse: ‘sabemos que temos uma grande responsabilidade frente a todos [os brasileiros]’”. Nós sabemos “que podemos contar com vocês e saibam que podem contar também com todos os venezuelanos na luta de vocês”.

O ato cultural foi mais uma mostra de que existe uma sincronia entre Brasil e Venezuela também culturalmente. Sem ensaio, o sambista Tobias da Vai Vai e a banda venezuelana Tambores Bomboyá tocaram juntos em um som que misturou pandeiros brasileiros e ritmos caribenhos.

Um grande ato
Integraram a mesa do evento os representantes do Fórum de São Paulo, Valter Pomar; do MST e Via Campesina, João Pedro Stédile; do PCdoB, Ricardo Alemão Abreu; da Marcha Mundial de Mulheres, Nalu Faria; da UNE, Daniel Iliescu; do PSOL, Plinio de Arruda Sampaio; do PT, Adriano Diogo; da CTB, Nivaldo Santana; do Movimento Consulta Popular, Ricardo Gebrim; do Cebrapaz, Socorro Gomes; do Movimento de Moradia do Centro, GG; da União da Juventude Socialista, André Tokarski; o escritor e intelectual, Fernando Morais, o jornalista Max Altman, o cônsul de Cuba em São Paulo, Lázaro Méndez Cabrera, o embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilian Arvelaiz, o deputado pelo PT de São Paulo, Simão Pedro e o vereador de São Paulo pelo PCdoB, Jamil Murad.

Nossa fonte: Vermelho

A Revolução em Verso

Poema Vladimir Ilitch Lenin


Vladimir Lenin, pouco antes da Revolução Russa

“Acredito que este livro, ao mesmo tempo em que se converte em um deleite para os amantes da poesia, também se converterá em um reforço dos ideais de justiça, de paz e solidariedade”.
Foi como resumiu Adalberto Monteiro, presidente da Fundação Maurício Grabois, ao falar da importância do lançamento em português do livro Vladimir Ilitch Lenin, poema de Vladimir Maiakovski, que ocorreu na noite passada, no Espaço Revista Cult, em São Paulo.

Segundo ele, a obra de Maiakovski é lida e traduzida no mundo inteiro, e a Grabois – junto com a editora Anita Garibaldi, e com a dedicação de Zoia Prestes, que traduziu o poema, e Mazé Leite, que o ilustrou – tem a felicidade de oferecer esta bela peça para a literatura brasileira.

Conhecido como o Poeta da Revolução, Maiakovski é tido por muitos como um dos maiores poetas da língua russa, e também é conhecido como um dos fundadores da poesia moderna. Estamos felizes em poder contribuir trazendo para os brasileiros este belo poema – explicou.

Adalberto também frisou que “oferecer uma obra de Maiakovski por si já é uma grande contribuição. Mas, este livro possui uma singularidade, é um livro-poema que o autor escreveu, em 1924, por ocasião da morte de Lênin, e embora tenha sido escrito sob o impacto da morte de Lênin, não é um poema triste, é um canto de louvor a Revolução Russa de 1917 e as realizações dos trabalhadores e do povo soviético”.
Em entrevista, Zoia Prestes externou a importância da tradução da obra do russo para o português. Segundo ela, “traduzir Maiakovski foi um desafio enorme, nunca traduzi poesia, ainda mais de um autor que admiro tanto. E essa tradução traz para a literatura brasileira, além do seu valor cultural e artístico, um poema que retrata um personagem histórico, um líder de uma Revolução, que pôs no debate questões que ainda hoje estão na ordem do dia. Ou seja, este poema também contribuirá para o entendimento da história e dos desafios que ainda temos que superar”.

Jeosafá Fernandes Gonçalves, doutor em Literatura, parabenizou a iniciativa da Fundação Maurício Grabois e da Editora Anita Garibaldi.

Acredito que a língua portuguesa ganha, se enriquece, e os leitores e leitoras amantes da literatura, da poesia, passarão a ter acesso a essa bela obra, que até então só possuía alguns trechos traduzidos – salientou.

Segundo ele, mesmo com quase 100 anos, a obra de Maiakovski é atual e nos convida a refletir sobre as questões do nosso cotidiano.

Em seus versos ele sempre dialogou com o futuro, sempre conversou com as gerações futuras. Percebemos em sua obra uma convicção de que ela resistiria ao tempo, iria vencer o desafio do tempo – explicou Jeosafá Fernandes, que também é escritor.

Ainda durante a sua fala, Jeosafá afirmou que o livro deve ser divulgado em todo país, deve compor as bibliotecas das escolas.

Os jovens precisam ter contato com esta literatura, que se, por um lado, tem uma riqueza poética, por outro, contribuirá para o entendimento de questões que atravessaram a história –acrescentou.

Artistas russos
Inspirada na vanguarda russa, a artista plástica Mazé Leite afirmou que ilustrar o livro, além de ser uma honra, também foi uma grande responsabilidade:

– Entendo o trabalho do ilustrador também como um tipo de tradução. E para retratar a essência do poema tive que lê-lo diversas vezes e beber em outras fontes da vanguarda russa. E sabendo que Maiakovski, além de poeta, também foi designer gráfico, pintor, dramaturgo e ator, ficou claro o desafio que estava em minhas mãos. Então o meu trabalho acaba sendo também uma homenagem aos artistas russos que influenciaram as artes em diversas partes do mundo.

Segundo ela, o poema traz, fundamentalmente, esperança, especialmente em um momento de crise.

Falamos de um poema que fala sobre a vida. Além disso, observamos a ampliação do interesse pelas ideias marxistas, desse modo, acho que esse livro acontece em um momento bom, para que as pessoas, lendo o poema, saibam que a história é muito maior do que se possa imaginar e que o sonho não acabou – disse.

Dimensão Política
Adalberto Monteiro explica que, além de seu caráter lírico, o poema de Maiakovski é uma defesa do socialismo, que retrata a confiança no poder de realização dos trabalhadores:

Ele foi um grande crítico do capitalismo, e o mundo hoje é sacudido por uma grande crise desse sistema. Isso retrata que o poeta teve a absoluta razão em dedicar suas energias à luta contra esse sistema. E aqueles que aspiram a construção de um mundo novo vão encontrar nessa obra, certamente, uma fonte cristalina para se revigorar das jornadas que precisam ser travadas.

Zoia Prestes concorda e ressalta que a dimensão política da obra contribuirá para fomentar o debate em torno das questões atuais.

Penso que hoje, no início do século XXI, falar de revolução, bem como falar de Lênin e de socialismo, é muito importante para essas gerações que estão aí. E o livro se converte não só em uma grande contribuição para o debate, mas também em um reforço para o desenvolvimento dessa nova geração. Acredito que a cultura possibilita ampliar horizontes e a iniciativa da Fundação Maurício Grabois e da Editora Anita Garibaldi, em traduzir esta obra, se converte em uma ação muito importante para a ampliação destes horizontes – reforçou a tradutora.

Lênin humanizado
Com emoção, o lançamento do livro foi encerrado com a declamação de alguns trechos da obra pela atriz Ana Petta.

Declamar esses trechos é um enorme prazer. É um texto muito bonito, que humaniza a figura de Lênin. Ao ler o poema você percebe ver retratado um Lênin simples afetuoso, muito humano –externou Ana Petta.

Segundo ela, essa tradução é um presente aos comunistas.

Trazer esse texto para o Brasil fortalece a literatura comunista e os que defendem essa literatura. Isso só contribui para agregar às pessoas ideias que podem ajudar a construir um futuro melhor. Além disso, Maiakovski é um poeta comunista e precisa ser valorizado e lembrando sempre.

Nossa fonte: Vermelho

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Alimentos transgênicos e o perigo para a saúde

Um novo relatório divulgado, Mitos e Verdades sobre organismos geneticamente modificados, deixou bem claro sobre as evidências dos perigos para a saúde e o ambiente decorrentes dos cultivos de organismo geneticamente modificados. Excepcionalmente a iniciativa do relatório não veio de campanhas ant-alimentos Geneticamente Modificado, ONG ou de empresas como a Monsanto, mas a partir de dois engenheiros de genética que acreditam existir boas razões científicas para ser-mos cautelosos com alimentos transgênicos.

Um dos autores do relatório, o Dr. Michael Antoniou do Kings College London School of Medicine do Reino Unido, usa a engenharia genética para aplicações médicas, mas adverte o seu uso no desenvolvimento de culturas para alimentação humana e animal.

Os cultivos transgênicos são promovidos com base em afirmações ambiciosas que eles são seguros para comer, benéfica para o ambiente, aumentam os rendimentos, reduzem a dependência de pesticidas, e pode ajudar a resolver a fome mundial. ” disse Dr Michael, e continua:

Pesquisas mostram que as culturas geneticamente modificadas têm efeitos nocivos em animais de laboratório em ensaios de alimentação e no ambiente durante o cultivo. Eles aumentaram o uso de pesticidas e não conseguiram aumentar a produtividade. Nosso relatório conclui que existem ações mais seguras e alternativas mais eficazes para conseguir completar as necessidades alimentares do mundo.

Outro autor do relatório, o Dr. John Fagan, é um ex-engenheiro genético que em 1994 voltou para o National Institutes of Health, preocupado com a segurança e a ética da tecnologia, ele também fundou uma empresa que realiza testes em Alimento Geneticamente Modificado.

Dr Fagan disse: “A engenharia genética de cultivos como praticada hoje é uma tecnologia, imprecisa, e fora de moda. Pode criar toxinas inesperadas ou alérgenos em alimentos e afetar o seu valor nutricional. Os avanços recentes apontam para melhores maneiras de usar o nosso conhecimento do genoma para melhorar as culturas alimentares, que não envolvem transgênicos.

Mais de 75% de todas as culturas Geneticamente Modificada são projetadas para tolerar a pulverização com herbicidas. Isso levou à difusão de herbicida-resistentes e super-ervas daninhas, resultando no aumento de exposição maciça dos agricultores e das comunidades a esses produtos químicos tóxicos. Estudos epidemiológicos sugerem uma ligação entre o uso de herbicidas e defeitos congênitos e até câncer.”

“Essas descobertas desafiam fundamentalmente a utilidade e a segurança dos transgênicos, mas a indústria da biotecnologia usa sua influência para bloquear a pesquisa por cientistas independentes e usa sua máquina poderosa de relações públicas para desacreditar os cientistas independentes cujos resultados desafiam esta abordagem.”
O terceiro autor do relatório é Claire Robinson, diretora de pesquisas da Terra Open Source, ela disse: “A indústria do Geneticamente Modificado está tentando mudar a nossa oferta de alimentos de maneiras profundas e potencialmente perigoso. Todos nós precisamos nos informamos sobre o que está acontecendo e assegurar que nós e não as empresas de biotecnologia mantem o controle do nosso sistema alimentar e das sementes na agricultura.”

“Esperamos que nosso relatório irá contribuir para um entendimento mais amplo das culturas geneticamente modificadas e as alternativas sustentáveis ​​que já estão trabalhando com sucesso para os agricultores e as comunidades.”
O relatório, “Mitos e Verdades OGM, uma análise baseada em evidências das reivindicações feitas para a segurança e eficácia de culturas geneticamente modificadas”, de Michael Antoniou, Robinson Claire e John Fagan, é publicado pelo Earth Open Source ( Junho de 2012). O relatório tem 123 páginas e contém mais de 600 citações, muitas delas a partir da literatura científica revista por pares e do resto dos relatórios por cientistas, médicos, órgãos governamentais, da indústria e da mídia.

Nossa fonte: Vida Sustentável
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terça-feira, 4 de setembro de 2012

Povos dominados do mundo, uni-vos!

A revolta dos povos dominados - geral, permanente e implacável - contra a globalização capitalista é absolutamente necessária. Mas ela não é suficiente. É preciso organizá-la sob a forma de uma força política, capaz de derrotar, no espaço de uma geração, o dominador onipotente.

FÁBIO KONDER COMPARATO

Para tanto e antes de tudo devemos ter em mente as três grandes indagações preliminares de toda luta política: Quem somos? O que queremos? Contra quem lutamos?

Somos a maioria esmagadora e crescente da humanidade, à qual se nega, sistematicamente, o direito de viver com a dignidade de seres humanos.

Ao contrário do que proclama a mentirosa propaganda capitalista, não somos isolacionistas retrógrados nem anarquistas depredadores. Queremos libertar os povos da condição degradante de massas consumíveis e descartáveis, a serviço da acumulação do capital, para delas fazermos povos livres, iguais e solidários, sempre mais fortes e ricos em sua esplêndida diversidade.

Vamos à luta, sem tréguas, contra a globalização devastadora, montada pelas forças capitalistas internacionais, inimigas da humanidade.

O combate decisivo será travado não por meios militares nem mesmo, como vulgarmente se pensa, no campo econômico, mas no terreno das idéias, dos valores e das justificações éticas. Dominador nenhum, em nenhum momento da história, sobreviveu sem alimentar nos súditos o sentimento da legitimidade do seu mando ou, pelo menos, da inutilidade da revolta. "O forte", disse lucidamente Rousseau, "não é nunca bastante forte para estar sempre no poder se não faz de sua força um direito e, da obediência, um dever".

Vamos impedir que essa fraude ideológica se perpetue. Hoje, não podendo mais esconder as devastações que a globalização capitalista vem provocando no mundo inteiro, seus ideólogos já não ousam louvar o sistema, mas limitam-se a concentrar suas baterias intelectuais contra os adversários.

Toda a sua argumentação, que já trai um recuo sintomático em relação à arrogância triunfalista inicial, é orquestrada em torno de três temas.

Primeiro tema: atacar a globalização capitalista é prejudicar os pobres.

É a tese lançada pela influente revista britânica "The Economist" e repetida em uníssono pelos grandes atores políticos que exercem o poder mundial, a começar pelo presidente dos EUA, George W. Bush, às vésperas da conturbada reunião de Gênova.

Vamos à luta contra a globalização montada pelas forças capitalistas internacionais, inimigas da humanidade

A refutação dessa falsidade é simples. Funda-se nos fatos. Segundo o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), de 1960 a 1997 a proporção da diferença entre a renda média auferida pela quinta parte mais rica e a auferida pela quinta parte mais pobre da humanidade mais do que dobrou: era de 30 para 1 e passou a ser de 74 para 1.

Esse abismo entre ricos e pobres aprofunda-se rapidamente desde o final dos anos 80, com o avanço da globalização. De 1990 a 1998, 50 países conheceram uma redução do seu PIB per capita.

Registre-se que essa agravação da pobreza não se deu apenas na vasta área subdesenvolvida do planeta. Nas duas últimas décadas do século 20, o grau de desigualdade socioeconômica aumentou em 16% nos EUA, na Suécia e no Reino Unido. Neste, pela primeira vez, após quase dois séculos e graças à eficiência neoliberal, o número absoluto de miseráveis aumentou.

Segundo tema: os contestadores da globalização capitalista não possuem legitimidade para falar em nome dos povos. Eles não têm mandato eletivo.

O argumento é cínico. Quem elegeu os líderes do G-7 como donos do mundo, para decidir sobre a vida e a morte dos povos? O povo brasileiro porventura autorizou seus governantes, todos eleitos desde o regime militar, a colocar em prática uma política de deliberada eliminação dos direitos econômicos e sociais, a começar pelo direito ao trabalho e à previdência social?

Terceiro tema: não há alternativa à globalização capitalista. A essa outra falsidade da propaganda neoliberal, centros de estudos do mundo inteiro começam, hoje, a dar as competentes respostas. Entre nós, um grupo de pesquisa que acaba de ser criado, no Instituto de Estudos Avançados da USP, contribuirá para esse esforço comum com a apresentação de propostas concretas, nos planos nacional e internacional, para que a humanidade possa, enfim, livrar-se definitivamente do flagelo capitalista.

O capitalismo globalizante venceu em quase todos os quadrantes do orbe terrestre porque tinha poderio militar e econômico mais do que suficiente para tanto. Venceu, mas não convenceu. E é isso que o levará à derrota final, pois, para convencer, como lembrou Unamuno aos franquistas logo no início da Guerra Civil Espanhola, é preciso ter a justiça e a razão do seu lado. O que o capitalismo nunca teve e jamais terá.

A grande tarefa que incumbe agora a todos os educadores é fazer com que os jovens do mundo inteiro não sejam cooptados pelas forças da morte; que escolham o bom lado do combate e se engajem, de corpo e alma, na luta universal em favor da vida.

Grito dos Excluídos pede "Estado a serviço da Nação" e fim de privilégios





A 18ª edição do Grito dos Excluídos terá como tema “Queremos um Estado a serviço da Nação, que garanta direitos a toda população!”
O Grito prevê atividade em todos os estados do Brasil, com exceção do Acre, e acontece tradicionalmente no Dia da Independência. Neste ano, a ideia é contrapor privilégios dados a setores empresariais, como o agronegócio e ao capital imobiliário, às necessidades de políticas públicas que garantam direitos básicos e bem-estar para a população em geral.

Em São Paulo, acontecerão duas mobilizações do Grito, no dia 7 de setembro: uma na Praça da Sé, com Caminhada até o Museu do Ipiranga, e outra na Avenida Paulista sentido Parque do Ibirapuera, a partir das 9 horas da manhã.

As mobilizações vão denunciar o avanço do capital imobiliário em
detrimento da ausência de políticas que fortaleçam a Reforma Urbana e o acesso dos pobres a melhores condições de vida nas cidades.

Denunciarão também a situação dos despejos e remoções em função da Copa do Mundo de 2014 e a ausência de políticas públicas para saúde, educação e inclusão para as crianças e adolescentes, com o extermínio de milhares de jovens, em especial a juventude negra nas periferias das grandes cidades brasileiras. 

A violência contra as mulheres, a homofobia, a perseguição aos trabalhadores informais e a falta políticas publicas para as pessoas idosas também serão eixos de discussão.

A defesa da Reforma Política e a ampliação de todas as formas de democracia direta são outras das consígnias presentes: “Onde Povo Possa Ter Vez e Lugar!”, “O que nos move nessa luta é o projeto popular”.

As eleições municipais deste ano também estarão entre os temas abordados. A sucessão de denúncias envolvendo políticos tem afastado o povo da política, com reflexos negativos para a sociedade. As eleições municipais estão dentro de um processo difícil de ignorar, mas tem-se a impressão de que a política eleitoral e partidária deixou de ser coisa séria.

É fundamental a unidade e a organização dos movimentos populares para construção deste novo projeto popular. Neste sentido o grito dos excluídos e excluídas demonstra que este processo deve ser de baixo para cima e da preferia para o centro, com a participação de todos e todas.

Não pode haver discriminação, todos e todas devem participar deste mutirão: 
 “Irá chegar um novo dia, que costuremos uma nova terra, um novo céu, e um novo mar. Neste dia os oprimidos numa só voz irão cantar. Na nova terra a mulher terá direitos, índios e negros não sofrerão mais preconceitos”
 Esta é a utopia carregada neste Grito.
http://www.gaspargarcia.org.br/Noticias.aspx?p=136
       

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Brasil carece de modelo sustentável para liderar governança global, diz pesquisadora

Professora do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Flávia Barros considera que o Brasil obteve avanços na Rio+20, realizada em junho, deixando um legado social e ambiental, mas ainda não tem status suficiente para assumir a liderança da governança do desenvolvimento sustentável.


Para pesquisadora, aprovação do novo Código Florestal mostra a incapacidade do Brasil de ter papel de liderança ambiental

Para Ana Flávia, o mundo precisa de um novo arranjo de consenso global, pois as negociações, atualmente, não se encontram apenas na esfera pública. “Há um deslocamento das negociações do público para o privado. É necessário um Estado que negocie com entidades não-públicas e saiba conviver com diferentes atores”, destacou a professora, que participou esta semana do Congresso Brasileiro de Direito Ambiental, realizado em São Paulo.
A pesquisadora defende uma governança global “sem multilateralismo efetivo” e com “forte policentrismo legal”. Ela explicou: “O multilateralismo significa que o reflexo das crises faz com que as potências ocidentais tradicionais deixem de ser fortes nas questões econômicas, então isso deixa espaços abertos para os emergentes, que deveriam exigir uma reforma do multilareralismo”, considera, citando a crítica generalizada à falta de eficácia do sistema das Nações Unidas (ONU).

No que se refere ao “policentrismo legal”, a professora alertou para o surgimento de novos “produtores de normas”, principalmente no escopo regional, como o Mercosul, a União de Nações Sul-americanas (Unasul) e algumas alianças europeias, por exemplo. Ana Flávia ressalta, porém, que as potências emergentes não estão assumindo o papel de liderança necessário para uma governança efetiva.

- A China não se declara nada, ela suscita medo e sentimentos negativos. A doutrina chinesa pede uma ascensão pacífica, porque a China já é um líder mundial. A Índia não consegue liderar porque não tem capital institucional para assumir essa liderança. Já o Brasil não pode porque não tem um modelo de desenvolvimento sustentável. Apesar de ter pontos fortes, o Brasil ainda não tem status para assumir um papel de liderança, nem sediando uma cúpula tão importante como a Rio+20 – considerou.

A Rio+20 finalizou-se sob olhares pessimistas e otimistas, mas com uma definição: a agenda socioambiental para os próximos anos mesmo sem líderes definidos. Ana Flávia afirmou que os problemas da falta de governança decorrem do fato de que as instituições não estão funcionando bem, principalmente a ONU. Ainda segundo ela, se não houver um rearranjo de poder, com a liderança de alguns Estados no formato de “eixos” – como Brasil e Argentina, na América do Sul, e França e Alemanha, na Europa – vai levar mais 10 anos para que um novo arranjo seja constituído.

- O grande desafio é liderança na engenharia legislativa, na confiança e na construção de consenso. Não há confiança nesse momento e é o que explica os limitados resultados da Rio+20. A proliferação de tratados, alguns como instrumentos jurídicos, não serão aplicados se o contexto não permitir o engajamento dos atores estatais e não-estatais – concluiu a professora.

domingo, 2 de setembro de 2012

CARTA MAIOR: Nova editoria

A lógica irracional que capturou a urbanização

Saul Leblon (Carta Maior)



Gigantescas cápsulas de concreto onde convivem a riqueza desmedida e periferias conflagradas, as cidades brasileiras se agigantam como o repositório do que temos de pior em termos de imprevidência pública, desequilíbrio social e desordem ambiental desconcertante. Enlaça-se aí, em contrapartida, uma densa rede de forças e organizações populares. Abrigam-se em suas entrahas universidades, centros de pesquisa e ONGs --a massa crítica intelectual mais vigorosa da sociedade.

Avulta que a qualidade de vida nesse caldeirão está muito aquém do seu potencial para esquadrejar, planejar e construir soluções inovadoras cobradas pelo colapso das formas de viver e de produzir em nosso tempo.

A urbanização brasileira, a exemplo do que ocorre em maior ou menor grau no resto do mundo, foi capturada pela mesma lógica irracional, que terceirizou aos ditos 'livres mercados' os destinos da economia e do desenvolvimento. A supremacia dos interesses financeiros tem nas cidades seu bunker. A terra urbana é seu pasto de engorda mais cobiçado. Com um agravante.

O ciclo neoliberal aqui aguçou o viés excludente imposto pela ditadura militar, que promoveu um dos mais fulminantes êxodos demográficos da história, associado à expropriaçao de direitos politicos e o banimento reopressivo das organizações sociais. No curto espaço de três décadas, dos anos 70 ao final dos anos 90, mais de 30 milhões de brasileiros foram expulsos do campo para cidades sem cidadania.Não por acaso, segundo dados da ONU-Habitat, o Brasil é hoje um dos país países mais urbanizados do mundo (86,6%). Grandes demografias, como os EUA, por exemplo, levaram um século para concluir a transição campo-cidade percorrida em décadas no caso brasileiro.

Urbanização entre nós é quase um compêndio de desequilíbrios e injustiça social.

Equacionar as várias camadas de desafios aí empilhados requer a aglutinação das energias progressistas nascidas nesse processo. Esse é o objetivo da nova Editoria de Cidades que Carta Maior, que estréia em nossa página neste fim de semana.

Ao escolher a arquiteta Maria Ermínia Maricato para dirigi-la, Carta Maior reafirma a natureza distinta do jornalismo que pratica: um jornalismo crítico, a serviço da transformação social.

Não qualquer transformação. Aquela ordenada por uma democracia verdadeira, capaz de destravar o acesso à riqueza e fazer do bem comum o espaço da convivência virtuosa entre as potencialidades de cada um e o bem-estar de todos.

Sem ilusões: isso não se faz à frio, como sinaliza Ermínia Maricato no texto de apresentação da Editoria (leia no especial 'Cidades em Transe'(1)). Diz ela:

"Embora a agenda social tenha mudado nos últimos nove anos favorecendo ex-indigentes, ex-miseráveis ou simplesmente pobres (bolsa família, crédito consignado, aumento do salário mínimo, Prouni), embora as obras urbanas se multipliquem a partir do PAC e do MCMV, ambos por iniciativa do governo federal, as cidades pioram a cada dia.Distribuição de renda não basta para termos cidades mais justas, menos ainda a ampliação do consumo pelo aumento do acesso ao crédito. É preciso “distribuir cidade”, ou seja, distribuir terra urbanizada, melhores localizações urbanas que implicam melhores oportunidades. Enfim, é preciso entender a especificidade das cidades onde moram mais de 80% da população do país e representam algumas das maiores metrópoles do mundo".

Em resumo, ir além da meritória redução da pobreza para promover a redução da desigualdade implica reformas estruturais. A exemplo da reforma urbana, a agenda do novo ciclo que pede para nascer inclui uma reforma agrária pertinente ao século XXI; uma reforma tributária que abranja o estoque da riqueza acumulada; uma reforma política que alforrie partidos e eleitores do cabresto do financiamento privado de campanhas e amplie os canais de consulta à sociedade; uma reforma financeira que subordine o dinheiro ao imperativo de fornecer crédito e investimento à economia.

Contribuir para pactuar a força dos consensos e agendas reclamados pelo desafio urbano é o propósito desta editoria que não por acaso nasce em meio a um processo de renovação das administrações municipais nas eleições de 2012. A escolha é deliberada, ms compromisso mudancista que não se esgota no calendário oficial do voto.

(1) Em www.cartamaior.com.br    

sábado, 1 de setembro de 2012

Queda dos juros desmente os rentistas



Altamiro Borges 

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aprovou nesta semana o nono corte consecutivo da taxa básica de juros, a Selic, que serve de base para o rendimento das aplicações financeiras e para o custo dos empréstimos bancários.

Ela foi reduzida de 8% para 7,5% ao ano, o menor patamar da sua história. Descontada a inflação projetada para o ano, os juros reais passam a ser de 1,98%, os menores do país nas últimas três décadas – embora ainda altos para os padrões internacionais.

É certo que a redução da Selic não conseguiu conter os efeitos destrutivos da crise capitalista mundial. A economia brasileira continua patinando com baixos índices de crescimento – com a previsão de um “pibinho” de menos de 2% neste ano. Mas, ao menos, ela ajudou a evitar um tsunami no país, bem diferente da situação dramática vivida pelas economias da Europa e dos EUA. Além disso, a nona queda da taxa básica de juros serve para desmistificar alguns dogmas do neoliberalismo, sempre amplificados pela mídia rentista.

Os "urubólogos" da mídia

Quando o governo Dilma iniciou a trajetória de redução da Selic, a chamada grande imprensa desencadeou uma campanha terrorista. Alguns “calunistas” da mídia, que mais parecem porta-vozes dos banqueiros, garantiram que a iniciativa iria provocar uma “explosão inflacionária” e uma “quebradeira na economia”. A serviço do capital rentista, estes “palpiteiros” afirmaram que a crise mundial não era tão grave para se contrapor ao chamado “afrouxamento” da política monetária promovido pelo governo federal.

A vida demonstrou que eles estavam totalmente equivocados – ou melhor, estavam defendendo os lucros dos banqueiros com falsos argumentos “econômicos”. A taxa de juros caiu e a inflação não explodiu, mantendo-se próxima à meta de 4,5% projetada para este ano. Já a crise mundial mostrou-se mais destrutiva e prolongada do que eles previam, arrasando diversos países, o que só confirma a tragédia das políticas neoliberais aplicadas pelo capitalismo no mundo. A síntese: a mídia rentista errou em todas as suas projeções!

A ausência de qualquer autocrítica

Como aponta Vinicius Torres Freire, as tais análises dos “especialistas de mercado” se mostraram uma falácia. Ele lembra que quando o Banco Central, em agosto de 2011, começou a cortar os juros, então em 12,5%, houve uma gritaria generalizada, com “críticas e insultos ao pessoal do BC”. Os rentistas, com amplos espaços na mídia – o que o colunista da Folha não confessa – previram o caos na economia. Mas nenhuma de suas previsões foi confirmada. Todos eles deveriam ter sido dispensados por incompetência ou má-fé!

Agora, inclusive, já há que afirme, na própria mídia rentista, que o governo acertou ao reduzir as taxas de juros – mas sem nunca fazer qualquer tipo de autocrítica. O jornal Valor Econômico, dedicado ao mundo empresarial, afirmou nesta semana que, “um ano depois de iniciado o atual ciclo de alívio monetário, o Banco Central mostrou que estava certo ao mudar radicalmente o rumo da política de juros”. Segundo Cristiano Romero, esta mudança hoje já permite prever uma nova retomada do crescimento da economia brasileiro.

Cadê a Miriam Leitão?

“O BC acha que essa política, somada a outras que o governo vem adotando, já começou a produzir resultados. O clima em Brasília é de otimismo quanto às chances de a economia acelerar o crescimento nos próximos meses”. No próprio “mercado”, diz o jornalista, o clima já é de mais otimismo. Segundo o boletim Focus, uma bíblia do capital, “o Brasil vai se levantar nos próximos trimestres”. Será que Miriam Leitão e outros urubólogos da mídia também vão dar o braço a torcer, reconhecendo as besteiras que falaram?

Nossa fonte: Vermelho

CTB: Multinacionais exploram o trabalhador e sangram a nação

A economia brasileira atravessa um perigoso processo de desnacionalização. Somente no primeiro semestre deste ano, de acordo com informações da empresa de consultoria internacional KPMG, 167 companhias cujos proprietários eram brasileiros foram compradas por multinacionais de outros países através de operações de fusões e aquisições. Atualmente, capitalistas estrangeiros controlam mais de 50% do parque industrial do Brasil.

Por Wagner Gomes*
O problema não é novo. Tem raiz na história da formação tardia e dependente do capitalismo brasileiro. Mas, ganhou nova dimensão nas últimas décadas, principalmente após o governo neoliberal de FHC, que realizou um escandaloso programa de privatizações e tratou de apagar, por meio de reforma constitucional, as diferenças jurídicas entre empresas estrangeiras e nacionais definidas na Carta Magna.

Hoje em dia, transnacionais como a GM, a Ford, a Fiat, a Volks, a Monsanto, entre outras, são consideradas e tratadas como empresas nacionais. O comportamento desses monopólios, porém, não condiz com o status concedido com espírito entreguista por FHC, infelizmente mantido nos governos Lula e Dilma. Os interesses das multinacionais nem sempre coincidem e no mais das vezes colidem de modo escandaloso com os da nação. Isto transparece na análise de alguns indicadores fundamentais da nossa economia.

É o caso das remessas de lucros e dividendos, que crescem na proporção direta da desnacionalização. Aumentaram 262,92% entre 2003 e 2011, ano em que a riqueza enviada pelas multinacionais ao exterior bateu novo recorde, alcançando US$ 38,1 bilhões, sangria que se transformou na principal causa do déficit na conta corrente do balanço de pagamentos. Cabe destacar o ramo automobilístico, que transferiu US$ 5,58 bilhões, 36,1% a mais que em 2010.

O Brasil é um verdadeiro paraíso para as multinacionais do carro, que por aqui obtêm uma taxa de lucros três vezes maior que nos EUA e pelo menos duas vezes superior à média mundial - estimada em 10% pelos especialistas, depois de deduzidos os custos de produção e impostos. A explicação está no preço absurdo dos veículos, impostos pelos oligopólios, que supera em mais de 200% o valor praticado no exterior. “Lucro de montadora no Brasil é maior do que em qualquer lugar do mundo”, conforme o diretor-gerente de consultoria IHS Automotive do Brasil.

As operadoras também contam com a generosa redução do IPI para automóveis, cuja prorrogação até o final de outubro foi anunciada quarta-feira, 29, pelo Ministério da Fazenda. Nada disto impede que as multinacionais reservem aos seus operários um tratamento carregado de desprezo e arrogância, demitindo em massa ou ameaçando demitir no primeiro sinal de crise, como a GM em São José dos Campos.

Os lucros e dividendos remetidos pelas transnacionais ao exterior são subtraídos dos investimentos líquidos realizados na economia brasileira e contribuem de forma considerável para a redução do potencial de desenvolvimento nacional, além de causar o rombo na conta corrente do balanço de pagamentos. Por esta e outras razões é urgente colocar um freio em tais remessas, ampliando as taxações e os mecanismos de restrição.

É igualmente necessário combater a liberdade incondicional dos oligopólios na formação dos preços. Não se justifica a distância abissal da taxa de lucros no Brasil, que é o quarto maior consumidor de automóveis do globo, em relação ao resto do planeta. É evidente que falta ao governo uma política industrial soberana para reverter a desindustrialização em marcha, deter a desnacionalização, conter a sangria provocada pelas remessas e estabelecer novas regras no relacionamento com as multinacionais. O excesso de liberalismo herdado dos governos tucanos é nocivo aos interesses nacionais e deve ser rechaçado.

A desnacionalização em curso não pode ser encarada como um fenômeno natural e inevitável, pois depende do rumo da política econômica. O tema reclama um debate mais profundo dos movimentos sociais e das forças progressistas.

*Presidente da CTB
Nossa fonte: Vermelho