Dona Pandá e Garrincha
Dona Pandá retornou à Chácara Xury
depois de sua longa viagem para “terras distantes”. Não consegui ainda saber
onde são essas terras, mas dá para perceber que fizeram bem à nossa amiga que parece
um pouco cansada, mas bastante falante. Quer saber tudo e contar mais ainda.
Numa cidade das “terras distantes”
Dona Pandá conheceu um menino dos seus 12 anos, magrinho, cabelos
encaracolados, pretos e cheirosos, as pernas formavam um ângulo esquisito,
pernas de Garrincha, olhos castanhos, vivos, brilhantes a cada pergunta. Eta
menino curioso!
Eles se encontraram na praça. Dona
Pandá estava descansando numa banco sob a sombra generosa de um flamboaiã
quando alguma coisa bateu em seu braço esquerdo. Era uma bola de papel na
frente de um moleque, cujo pé foi o responsável pelo chute. Ela sentiu uma leve dor, viu a perna ainda no
ar e ouviu um assobio estridente e interrogativo. O garoto chegou pedindo
desculpas e, pegando a bola, quis correr.
- Veja lá, rapaz, está pensando que
meu braço é trava de gol? Venha cá.
- Já pedi desculpas, moça.
- Moça?! Ora, você não enxerga mesmo?
Então, lá sou moça?
- Você quer ser chamada de velha?
Nunca vi uma mulher achar ruim por ser chamada de velha. Você é esquisita. Com
esse chapéu aí maior que a árvore... Está rindo de mim? O que você tem nesse
embrulho?
- O meu almoço. Você já almoçou? – Ao
olhar para o menino, percebeu que dera um fora. Suas roupas, pés no chão e
magreza diziam que almoçar podia não ser costume diário. – Vem cá, sente aqui e
vamos comer juntos. Como você se chama?
- Anastácio, mas me chamam de
Perninha. – Foi falando, chegando, assentando-se e os olhos cada vez maiores,
grudados no sanduíche. Dona Pandá lhe entregou o objeto de seus fortes desejos
e disse: - Deveriam chamar você de Garrincha. Sabe quem foi Garrincha? – Entre
uma mordida e outra, o menino respondeu:
- O maior driblador do mundo. Vou ser
que nem ele.
- Está bem, então come, depois a
gente continua o papo. É feio falar com a boca cheia.
- Tô com uma fome danada!
Depois desse dia e enquanto ficou
naquela cidade, Dona Pandá se encontrava com o garoto para lhe dar o sanduiche
e especular sobre a vida do novo amigo. Soube que era filho de uma senhora que
fazia faxina em algumas casas perto da
praça. Estudava pela manhã e à tarde ficava batendo bola perto, esperando a mãe
que, às vezes, lhe trazia alguma coisa para comer.
Um dia, Dona Pandá chegou com uma sacola e gritou
para o menino que chutava sua bola de jornal: - Ô Garrincha, venha cá.
- Boa tarde, dona.
- Ah, agora, não sou mais moça, sou
dona?! – Ele lhe deu um largo sorriso, mostrando seus dentes bonitos e foi logo
falando: - Você é moça bonita!
- Que malandrinho! Vai ganhar um
presente. – Falou, entregando-lhe a sacola, onde havia o sanduiche, uma lata de
suco e a bola. O garoto pegou a bola e começou a pular e a gritar, largando a
sacola com o lanche no chão. Sua alegria chegou a deixar Dona Pandá preocupada.
Rodopiava, assobiava, jogava a bola para cima, chutava a bola e o ar, corria
atrás da bola e de nada. Depois de algum tempo, correu para a amiga e
perguntou:
- É mesmo para mim? Ou é só por um
pouquinho? – Ao receber a resposta, pegou a mão de Dona Panda e beijou. Foi uma
cena tão bonita, que a levou ao devaneio de como seria gostoso poder dar uma
bola para cada moleque que visse. Voltando à realidade, pegou a sacola
esquecida, tirou o lanche e gritou para o menino que já se distanciava
cabeceando a bola:
- Vem comer, vem. - Ele veio
brincando com a bola, pegou a sanduiche e ela o segurou:
- Coma primeiro que saco vazio não para em pé. Você já
almoçou?
- Hoje, não. Mãe não veio me trazer
nada porque ela está trabalhando na casa da Dona Euclécia.
- E a Dona Euclécia não tem almoço?
Ou ela não gosta que sua mãe saia do trabalho?
- Ela vigia a mãe. Vou comer e depois
vou fazer um show para você.
Ele deu mesmo um show com a bola e
ainda estava rindo e se exibindo para a amiga quando chegaram os moleques.
Garrincha abraçou-se com a bola e correu para o banco onde estava a mulher e lhe
disse baixinho: - Fala que a bola é sua.
O garota mais velho veio na frente
dos outros e foi falando: - Ô Perninha,
joga pra mim.
Dona Pandá pegou a bola e muito séria
se dirigiu ao moleque: - Eu não conheço vocês, com é que vou lhes emprestar minha
bola? – Os meninos não esperavam por esta e entre curiosos e querendo se
divertir:
- Eu sou o Pelé, vovó.
- Eu sou o Neymar, vovó,
- E eu sou o Ronaldinho, vovó.
Pois eu sou o Mano e não gosto
de netos. - Levantou-se, pôs a bola na sacola, deu um jeito de piscar para o
Garrincha e falou: - Você vai me mostrar onde é a farmácia?
Os dois saírem andando, enquanto os
“netos” ficaram a ver navios. Então,
Dona Pandá falou:
- É melhor você ficar comigo até sua
mãe sair e amanhã vamos ter que mudar de lugar.
No dia seguinte ...
Ai D. Pandá,
ResponderExcluirque mundo difícil este que Garrincha vive, hem? Já pensou se fosse uma bicicleta então?
Ele não poderia ter o talento da bola. Que bom que vc viu.Bjs
ExcluirO mundo está precisando de muitas Donas Pandás!!!Há muitos talentos a serem descobertos...
ResponderExcluirAinda bem que podemos escrever, ainda que nem sempre o talento chegue forte. Este mundo está mesmo precisando da Arte.
ExcluirBjs