Ilda e Ramon - Sussurros de Liberdade

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sábado, 10 de novembro de 2012

Dona Pandá voltou


Dona Pandá e Garrincha
 


Dona Pandá retornou à Chácara Xury depois de sua longa viagem para “terras distantes”. Não consegui ainda saber onde são essas terras, mas dá para perceber que fizeram bem à nossa amiga que parece um pouco cansada, mas bastante falante. Quer saber tudo e contar mais ainda.
Numa cidade das “terras distantes” Dona Pandá conheceu um menino dos seus 12 anos, magrinho, cabelos encaracolados, pretos e cheirosos, as pernas formavam um ângulo esquisito, pernas de Garrincha, olhos castanhos, vivos, brilhantes a cada pergunta. Eta menino curioso!
Eles se encontraram na praça. Dona Pandá estava descansando numa banco sob a sombra generosa de um flamboaiã quando alguma coisa bateu em seu braço esquerdo. Era uma bola de papel na frente de um moleque, cujo pé foi o responsável pelo chute.  Ela sentiu uma leve dor, viu a perna ainda no ar e ouviu um assobio estridente e interrogativo. O garoto chegou pedindo desculpas e, pegando a bola, quis correr.
- Veja lá, rapaz, está pensando que meu braço é trava de gol? Venha cá.
- Já pedi desculpas, moça.
- Moça?! Ora, você não enxerga mesmo? Então, lá sou moça?
- Você quer ser chamada de velha? Nunca vi uma mulher achar ruim por ser chamada de velha. Você é esquisita. Com esse chapéu aí maior que a árvore... Está rindo de mim? O que você tem nesse embrulho?
- O meu almoço. Você já almoçou? – Ao olhar para o menino, percebeu que dera um fora. Suas roupas, pés no chão e magreza diziam que almoçar podia não ser costume diário. – Vem cá, sente aqui e vamos comer juntos. Como você se chama?
- Anastácio, mas me chamam de Perninha. – Foi falando, chegando, assentando-se e os olhos cada vez maiores, grudados no sanduíche. Dona Pandá lhe entregou o objeto de seus fortes desejos e disse: - Deveriam chamar você de Garrincha. Sabe quem foi Garrincha? – Entre uma mordida e outra, o menino respondeu:
- O maior driblador do mundo. Vou ser que nem ele.
- Está bem, então come, depois a gente continua o papo. É feio falar com a boca cheia.
- Tô com uma fome danada!
Depois desse dia e enquanto ficou naquela cidade, Dona Pandá se encontrava com o garoto para lhe dar o sanduiche e especular sobre a vida do novo amigo. Soube que era filho de uma senhora que fazia faxina em algumas casas  perto da praça. Estudava pela manhã e à tarde ficava batendo bola perto, esperando a mãe que, às vezes, lhe trazia alguma coisa para comer.
Um dia,  Dona Pandá chegou com uma sacola e gritou para o menino que chutava sua bola de jornal: - Ô Garrincha, venha cá.
- Boa tarde, dona.
- Ah, agora, não sou mais moça, sou dona?! – Ele lhe deu um largo sorriso, mostrando seus dentes bonitos e foi logo falando: - Você é moça bonita!
- Que malandrinho! Vai ganhar um presente. – Falou, entregando-lhe a sacola, onde havia o sanduiche, uma lata de suco e a bola. O garoto pegou a bola e começou a pular e a gritar, largando a sacola com o lanche no chão. Sua alegria chegou a deixar Dona Pandá preocupada. Rodopiava, assobiava, jogava a bola para cima, chutava a bola e o ar, corria atrás da bola e de nada. Depois de algum tempo, correu para a amiga e perguntou:
- É mesmo para mim? Ou é só por um pouquinho? – Ao receber a resposta, pegou a mão de Dona Panda e beijou. Foi uma cena tão bonita, que a levou ao devaneio de como seria gostoso poder dar uma bola para cada moleque que visse. Voltando à realidade, pegou a sacola esquecida, tirou o lanche e gritou para o menino que já se distanciava cabeceando a bola:
- Vem comer, vem. - Ele veio brincando com a bola, pegou a sanduiche e ela o segurou:
- Coma primeiro que saco vazio não para em pé. Você já almoçou?
- Hoje, não. Mãe não veio me trazer nada porque ela está trabalhando na casa da Dona Euclécia.
- E a Dona Euclécia não tem almoço? Ou ela não gosta que sua mãe saia do trabalho?
- Ela vigia a mãe. Vou comer e depois vou fazer um show para você.
Ele deu mesmo um show com a bola e ainda estava rindo e se exibindo para a amiga quando chegaram os moleques. Garrincha abraçou-se com a bola e correu para o banco onde estava a mulher e lhe disse baixinho: - Fala que a bola é sua.
O garota mais velho veio na frente dos outros  e foi falando: - Ô Perninha, joga pra mim.
Dona Pandá pegou a bola e muito séria se dirigiu ao moleque: - Eu não conheço vocês, com é que vou lhes emprestar minha bola? – Os meninos não esperavam por esta e entre curiosos e querendo se divertir:
- Eu sou o Pelé, vovó.
- Eu sou o Neymar, vovó,
- E eu sou o Ronaldinho, vovó.
Pois eu sou o Mano e não gosto de netos. - Levantou-se, pôs a bola na sacola, deu um jeito de piscar para o Garrincha e falou: - Você vai me mostrar onde é a farmácia?
Os dois saírem andando, enquanto os “netos” ficaram a ver navios. Então, Dona Pandá falou:
- É melhor você ficar comigo até sua mãe sair e amanhã vamos ter que mudar de lugar.
 No dia seguinte ...



4 comentários:

  1. Ai D. Pandá,
    que mundo difícil este que Garrincha vive, hem? Já pensou se fosse uma bicicleta então?

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  2. O mundo está precisando de muitas Donas Pandás!!!Há muitos talentos a serem descobertos...

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    Respostas
    1. Ainda bem que podemos escrever, ainda que nem sempre o talento chegue forte. Este mundo está mesmo precisando da Arte.
      Bjs

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