por Jessé Souza — publicado 27/03/2018
14h58 em CARTA CAPITAL
O conluio Globo e
Lava Jato, antes dominante, perde credibilidade a cada dia e a escalada de
violência explícita tem a marca do desespero
Hoje em dia não resta nenhuma dúvida ao leitor atento que o Brasil está
sendo vítima, desde 2013, de um ataque dirigido pelo capitalismo financeiro internacional na
sua ânsia de saquear as riquezas nacionais e se apropriar do trabalho coletivo.
Mas este ataque não tem as mesmas consequências em todos os lugares. Daí ser
fundamental inquirir pela forma especificamente nacional que este ataque
assume.
No Brasil a instituição que incorpora à perfeição o espírito do capital
financeiro é a Rede Globo. A mentira tem que ser dita não só
como se verdade fosse, mas tem de dar a impressão de ser luta moral e
emancipadora. Essa é a sofisticação demoníaca do capital financeiro que a Globo
materializa e interpreta tão bem. O ponto essencial é a criminalização da política e das demandas
populares com o propósito de legitimar a rapina da população.
A criminalização da política como forma de possibilitar o governo
diretamente pelo “mercado” e sua rapina, teve entre nós eficácia inaudita.
Nossa elite já havia produzido, com base na construção de uma imprensa venal e
na cooptação da inteligência nacional, como denuncio no meu livro A Elite do Atraso, toda uma interpretação
preconceituosa do pais como uma raça de vira latas inconfiáveis e corruptos.
O lugar institucional da roubalheira do vira-lata brasileiro seria, no
entanto, apenas o Estado patrimonial tornado o mercado, raiz e fonte real de
todo roubo, o lugar paradisíaco do trabalho honesto e do empreendedorismo. Todo
o ataque da rede globo e da lava jato para criminalizar a política foi
grandemente facilitado por este trabalho prévio de distorção da realidade, que
literalmente invisibiliza os interesses dos donos do mercado aqui e lá fora.
O outro ponto fundamental nesta estratégia é a suposta superação das
demandas por igualdade pelas demandas por diversidade que o capital financeiro
internacional defende desde os anos 90. Desse modo se cria não apenas uma
divisão artificial nas demandas populares como confere um verniz emancipador ao
capitalismo financeiro que, na realidade, passa a poder explorar
indistintamente mulheres e homens, negros e brancos, gays e heterossexuais como
se defendesse seus interesses. A apropriação da rede globo do assassinato de Marielle Franco mostra as
consequências praticas desse engodo.
Mas a Globo não parou por aí. Criminalizou a própria demanda por
igualdade que é a maior causa da cultura do ódio que grassa impune no país. A
narrativa da Rede Globo, logo depois assumida pela própria Lava
Jato, de tratar o PT como “organização criminosa” e de apenas
“fulanizar” a corrupção dos outros partidos, significou rebaixar a demanda por
igualdade, que o PT representava, de seu caráter de fim para mero meio de
assalto ao Estado.
Sem a possibilidade de conferir racionalidade política à raiva justa que
se sente pela injustiça social, parte do povo cai nas mãos da raiva e da
violência em estado puro representada por Bolsonaro e pela onda de assassinatos
políticos que grassa no país. Não ver a relação íntima entre a guerra cultural
comandada pela rede globo e o clima de ódio e assassinato de lideranças que se
alastra no país é cegueira.
O conluio com a Lava Jato, levando ao Estado de exceção e da suspensão
das garantias legais, reforça a sensação de impunidade para a violência e ódio
generalizado. O resultado é uma histeria punitivista com moralidade de fachada
que promete impunidade para o ódio aberto e assassino. Os ataques com conivência policial à caravana de Lula,
o assassinato de líderes do MST no hospital ou a chacina de jovens da periferia
são todos consequência da lógica cultural de um capitalismo do saque e da
rapina do qual a globo é a expressão máxima entre nós. A série de José
Padilha na Netflix, com padrão global de qualidade, é mais um capítulo dessa
distorção monumental da realidade.
O diretor, um boçal com virtuosidade técnica, imagina que compreende o
mundo ao chamar de “mecanismo” aquilo que não conhece e nem consegue explicar.
Como descaradamente refaz a história com intuito de falseá-la seu oportunismo é
leviano e irresponsável.
Como o conluio Globo e Lava Jato, antes tão dominante, perde
credibilidade a cada dia e é percebido crescentemente como braço do
neo-colonialismo americano, a escalada de violência explícita tem a marca do
desespero e é ai que reside o perigo para toda a sociedade. A batalha no STF
adquire importância a partir disso.
A Globo, como o ministro Gilmar Mendes denunciou, tem também, não só a Lava Jato nas mãos, mas a sua própria bancada no STF, punitivista e moralista de fachada como ela. Ainda que os interesses em jogo nesse embate não sejam de todo transparentes, vale a fórmula fundamental de Brizola: na dúvida sobre qualquer tema, escolha o lado contrário da rede globo.
A Globo, como o ministro Gilmar Mendes denunciou, tem também, não só a Lava Jato nas mãos, mas a sua própria bancada no STF, punitivista e moralista de fachada como ela. Ainda que os interesses em jogo nesse embate não sejam de todo transparentes, vale a fórmula fundamental de Brizola: na dúvida sobre qualquer tema, escolha o lado contrário da rede globo.
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