Hoje
ele faria aniversário. Faz anos, muitos anos que se foi me deixando cheia de
não falei, não fiz, não vivi o que ele queria. Seu nome era Encanto, sobrenome,
Solidão. Era poeta. Por isto incompreendido e solitário.
Muitas vezes, me
pediram para falar dele. Nunca pude. Nada lhe faz jus. Todas as palavras são
pobres, pequenas e ele as usava tão bem! Em sua boca ou caneta elas se tornavam
grandes, justas, perfeitas. Em mim, elas não passam pela garganta. Sua
lembrança toma conta de mim e me torna muda. Dói não conseguir lhe fazer o
retrato, a homenagem e ele está em mim.
Nada me traz tanta frustração que o
saber do que não vivemos. Ele se foi sem me dar tempo. Eu precisava amadurecer
e ele já sabia tudo. É mais que saudade!
Éramos
crianças e brincávamos tão juntos. Éramos jovens e eu não soube mais brincar.
Era adulta e estava só, ele já se fora, mas ficou, não sai de mim. Fica me
mostrando minha incapacidade, meu tamanho curto.
Na
foto, estamos juntos numa época quando ainda eu poderia ter aceitado seu convite
de vida. A foto está amarelando e sua imagem ficando mais nítida em mim. Nem o
papel me ajuda. Não precisa. A memória é presente. Seu olhar me fala, mas não
me aquece, não me acalma. Quero o que já foi sem ter sido. Ele é o meu futuro
do pretérito, o meu inexorável, sempre.
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