São Gonçalo ”tem tudo, é outra
civilização,” tem
até o professor Marcos Guião.
Dona Pandá
recebeu, de sua irmã Mila, o convite para um curso sobre ervas medicinais. Aceitou na hora e, logo, foi procurar onde
fica Bom Despacho. Não é longe de Belo Horizonte. Decidiram ir na sexta feira e
retornar na segunda para mais tranquilidade. O curso seria sábado e domingo.
Dona Pandá
saiu pela manhã, em direção à Lagoa Santa, onde deixou o Valente – seu Celta –
e pegou o Renê – o Renegade da Mila -. Dona Pandá gosta muito de pegar estrada,
mas fica implicando com o belo Renê que tem, segundo a implicante, o grave
defeito de lhe tirar a emoção de dirigir, pois faz tudo sem sequer pedir seu
consentimento, rouba-lhe o direito de prolongar a marcha, até de ligar o rádio!
Mila é muito eficiente em seu papel de co-piloto, comanda direitinho o Waze.
Dona Pandá foi obedecendo aos comandos de em
200m entra a primeira à esquerda (ou à direita), mas logo já estava
reclamando:
- Essa dona
Waze fica repetindo o mesmo comando. Atrapalha a gente, já falou duas vezes
para, em 300 m, entra à direita.
Antes de
sair para a estrada, foram pegar, em Belô, a amável caronista que tem um jeito
seu de passar o endereço, é pródiga em pontos de referência, mas não gosta de
números. Conhecemos, então, a colega do
grupo Vânia, ótima companhia, bem humorada, atenta e sábia no tamanho das
conversas, além, é claro, de ser também amante das plantas.
Chegando a
Bom Despacho, as três mosqueteiras encontraram, na praça, o Gentil Homem Robson que as conduziu ao seu sítio, local onde aconteceria o curso. Sobre a porteira
de entrada, a placa é um aviso: Recanto
dos Pássaros. O objetivo dessa rápida visita ao sítio era apenas para que,
no dia seguinte, soubessem chegar, sem desculpas, no horário certo da primeira
aula.
Voltando à cidade, Vânia se hospedou na casa
de uma residente de Bom Despacho, enquanto Mila e Dona Pandá foram para o
hotel, reservado pelo Gentil Homem. Dona
Pandá teve alguns instantes de indecisão, pois durante o tempo que deveria ser
de seu banho, não sabia se preferia a água pelando ou a fria que, ao cair sobre
suas costas, apresentava uma temperatura próxima do gelo.
Comeram uma pizza, no restaurante, em frente
ao hotel. Dá para desculpar a falta de criatividade. Afinal estavam
cansadinhas! Ou são mesmo preguiçosas? Bem, até o final desta estorinha,
ficaremos sabendo.
No sábado,
lá estavam as duas, às 9 horas, prontas para receber os conhecimentos que
vieram buscar. Encontraram o pessoal ao redor da mesa de um apetitoso café da
manhã: café adoçado e sem açúcar, chá, leite, frutas, pães e quitandas
mineiras.
Depois de
satisfazerem todas as gulas ali despertadas e já perdoadas, o grupo foi
convidado ao trabalho. Robson - o organizador do curso, do café e muito mais,
além de ser o feliz proprietário do Recanto dos Pássaros – apresentou o
professor Marcos Guião. Este, já com seu equipamento a postos, avisou que iriam
focar nas plantas ligadas ao sistema respiratório. Na tela, apresentou o
desenho de um quadro que seria construído coletivamente. Pediu ajuda para a
digitação em seu notebook de modo que o coletivo, com a orientação do professor,
iria “ditando” e a visualização se daria pela tela. Mila assumiu o notebook.
Iniciou-se a construção do quadro que foi fechado ao término dos trabalhos.
Falar do
local é fácil. Lembrando do aviso da placa na entrada do sítio, percebe-se, a
Mãe Natureza no comando, consequentemente, a boa energia se abre num abraço a
seus visitantes. Logo, na entrada, algumas árvores protegem os carros e uma se
destaca, chamando possíveis crianças para brincadeiras na areia cercada de
pneus que amortecem a queda dos pequenos mais ousados nos balanços.
A primeira
construção é um galpão redondo, aberto, onde as cadeiras serão ocupadas pelos
alunos voltados para a tela, o professor e, numa mesa, o notebook pilotado por
Mila. Saindo do galpão-sala de aula, entra-se numa varanda que rodeia a casa.
Neste espaço, sobressai gostosamente a mesa do café. Há uma porta que mostra a
sala, cujo chão é uma belíssima composição de lajotas. Dona Pandá logo mostrou
seu entusiasmo por aquela beleza, cujos créditos foram imediatamente dados à
dona da casa:
- Minha
mulher é arquiteta e gosta de criar – explicou Robson. – Não só gosta, mas tem
talento para o belo. – Alguém completou.
Voltando à
varanda e contornando a casa, passa-se por um fogão a lenha e, de lá, já se
ouvem os bééés vindos do pequeno pasto, onde é o reino das ovelhas e carneiros.
Robson bate palmas e os bééés se intensificam à espera do alimento que,
normalmente, vem em seguida às palmas do dono.
Dava até para ouvir Elis Regina cantando... (“Quero carneiros e cabras
pastando solenes no meu jardim” ...)
Voltando à
varanda, passa-se por um pomar generoso que convida a mais uma degustação e
leva a um tanque com peixes de várias espécies. O tanque é forrado por uma
manta plástica e Dona Pandá quis saber como é o modus operandi para copiar na sua Chácara Xury. O Gentil Homem
ensinou e a estimulou, dizendo que é uma técnica bem fácil. Mais um
conhecimento ganho para nossa amiga.
Depois dos
peixes, os amigos das plantas foram chamados, novamente, ao trabalho. Na
primeira etapa da aula, todos se apresentaram. Grande parte já conhecia o
professor e também a outros membros que formam um grupo de discussão no whatzap. Trata-se de pessoas especiais,
solidárias, convidadas pelo Gentil Homem para formar essa turma de gente do
bem. Como disse Dona Pandá:
- Ora, gente
que ama as plantas não precisa de adjetivos, são filhos do Belo e da Bondade.
O professor mora em São Gonçalo das Pedras de
onde fala tanto e tão bem que desperta a vontade de por lá dar uma passada.
Pensou em Melissa - ela é mel no nome, possui cobre que faz as ligações -, São
Gonçalo tem; pensou em Malva – envolve, acolhe é o acolhimento -, São Gonçalo
tem; pensou em Erva Baleeira – nome que vem da embarcação miúda,
autoendireitável, salva-vidas -, São Gonçalo tem, mas tem também Mulungu –
espinhenta, mal humorada. Ao longo da aula, Marcos Guião deixa as falas
mostrarem sua sensibilidade no conhecimento das plantas. A flor é a
sexualidade. A pessoa segue a planta quando se enfeita com cores – baton,
ruge...- e perfume. A raiz é a parte da planta que pensa e as folhas fazem as
trocas químicas. A planta é o homem na posição invertida. A raiz - a parte
pensante da planta - fica embaixo, enquanto a cabeça do homem – tem a função,
nem sempre exercida, de pensar – fica em cima.
As plantas não saem do caminho, seguem a lei
da Natureza. O homem que nem sempre trilha por onde deveria, sendo amigo das
plantas, é levado de volta por elas ao bom caminho, o da Natureza, da cura.
“Trabalhar com plantas é trabalhar com a esperança alheia”. A que Dona Pandá
retruca: - Iniciante, trabalho com minha própria esperança, pois a ignorância
não permite sugerir a alguém qualquer caminho -. Neste grupo, porém há muitos
que têm conhecimento para tratar os desequilíbrios de outrem.
Encerrados
os trabalhos, Mila e Dona Pandá retornaram ao hotel e ficam sabendo que o
“rapaz não achou defeito no chuveiro”. Pediram, então, para trocar de
apartamento. O calor de Bom Despacho continuava presente, mesmo com o abandono
do Sol, exigindo, pois mudança de qualidade no chuveiro. Dona Pandá partiu para
a guerrilha e depois de muito mexer, conseguiu dominar o equipamento, deu seu
grito de vitória: o banho foi satisfatório.
Saíram para jantar e tomar ciência da cidade. Terminaram onde Dona Pandá
gosta, numa sorveteria.
No dia
seguinte, uma surpresa ao café da manhã, o Professor lá estava. A velha senhora
aproveitou para lhe dizer que havia ficado feliz por conhecê-lo, uma pessoa
bonita.
Durante a
aula de domingo, último dia do curso - dia de Yemanjá – não tendo mar, Guião
liderou uma visita às plantas maiores, no Serrado, além do Recanto dos
Pássaros. Muitas plantas menores, no tamanho físico, também foram identificadas
pelo professor e por alguns alunos sabidos.
Dona Pandá
ganhou do colega de curso, Márcio, duas mudas de Erva Botão – já plantadas e esbanjando vida – e
tinturas do Gentil Homem – estão sendo ingeridas e com bons efeitos. A sortuda pede para lhes passar um recado:
gratidão. Pede para estender o agradecimento a todos os filhos do Belo e da
Bondade.
Dona Pandá
voltou de Bom Despacho, falando do que passou a ser sua fantasia predileta. Ir
a São Gonçalo das Pedras para um curso do Guião e chegar até Diamantina. Na realidade,
esta de ir a Diamantina é quase tão velha, quanto a dona do sonho.
Míriam minha nova amiga,fiquei encantado. Uma verdadeira poesia,história real e muito bem contada. Fico feliz por ter dentro desta alma, visões tão maravilhosas. E realmente foi tudo maravilhoso. Principalmente ter conhecido você e Mila.grande abraço.
ResponderExcluirPois é Maninha, espero que seja o primeiro de um série de bons encontros com essa turma e outras que virão! Conhecer filhos do Belo e da Bondade é "prá lá de bom"!
ResponderExcluirObrigada por me dar a oportunidade de ir, de estar comigo vencendo os medos e desafios, com toda sua paciência, cuidado e carinho.
E... que Diamantina, via São Gonçalo, aconteça!